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3. A teoria da decisão judicial e as contribuições de Dworkin e Popper para aproximação da

3.4. A resposta judicial ativista sob a perspectiva de Popper: o mundo 3 e o

3.4.2. O falsificacionismo

Considerando as teorias da verdade e da aproximação à verdade, Popper traz à lume o embate entre a linha de pensamento filosófico que chama de verificacionista e os falsificacionistas, entre os quais se inclui.

Os verificacionistas buscam a defesa do racionalismo, contra a superstição e contra a autoridade arbitrária. Uma teoria somente seria aceitável caso pudesse ser justificada por provas positivas; isto é, caso seja provada ou, no mínimo, sumamente provável (probabilisticamente confirmada) (Popper, 2010, p. 186).

Para Popper (2010, p. 186), no entanto, não é possível fornecer razões positivas que assegurem que uma teoria é verdadeira. O conhecimento é conjectural. A racionalidade científica não reside na busca de evidências empíricas que confirmem teorias, mas na !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

102 É premissa do pensamento popperiano a inexistência de problemas plenamente resolvidos. Essa premissa é

explicada, de modo bastante elucidativo, pelo esquema denominado por quadripartido, que será analisado adiante. Popper ressalta, ainda, que novos problemas não são criados deliberadamente, eles emergem autonomamente, independente de qualquer ato de vontade (2010, p. 69).

103 Vem a calhar a literatura de Saramago (2000, p. 26), que enfrentou, ainda que soslaio, o tema: “[S]aberíamos

muito mais das complexidades da vida se nos aplicássemos a estudar com afinco as suas contradições em vez de perdermos tango tempo com as identidades e as coerências, que essas têm a obrigação de explicar-se por si mesmas”.

104 Popper (2010, p. 61) sustenta que a epistemologia tradicional, com sua concentração no Mundo 2 – e no saber

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abordagem crítica de testes voltados a refutar hipóteses. A ciência, portanto, não se relaciona com a certeza (ou com a verdade), mas com a crítica e a testabilidade das teorias ou hipóteses investigadas, sempre em busca de erros que permitam um aprendizado, concebendo melhores teorias que serão novamente testadas e criticadas na busca por outros desvios, vieses ou erros. Logo, os cientistas não deveriam perseguir a confirmação de hipóteses, aglomerando instâncias positivas. Ao contrário, deveriam tentar falsear suas teorias na busca por contraexemplos. Ou seja, o falsificacionismo persegue a refutação de hipóteses, o que inevitavelmente acontece (até que a ciência esteja “completa” – um estado não sujeito a aferição), em um processo possivelmente interminável.

Teorias e hipóteses testadas e ainda não falseadas, com redução gradual das margens de incerteza a cada verificação, ainda assim não correspondem à verdade. São hipóteses corroboradas, mas não verdadeiras (Rosenberg, 2009, p. 157-58). Estão mais próximas da verdade por serem provavelmente menos falsas e, por isso, consubstanciam-se na melhor opção de escolha até que sejam falsificadas e substituídas por novas hipóteses.

Para que a falseabilidade possa ser aplicada como critério de demarcação científica e metodológica, é preciso que se tenha em mãos enunciados singulares que possam servir como premissas das inferências falseadoras (Popper, 1980, passim). Há, portanto, um distanciamento do empirismo verificacionista, fundado no método indutivo105, e uma aproximação definitiva da refutação (ou falseamento) como elemento distintivo de uma metodologia verdadeiramente empírica106. Logo, qualquer hipótese ou teoria que pretenda ter dignidade científica deve ser passível de refutação.

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105 O falsificacionismo questiona a validade científica da indução: seguidas confirmações não tornam uma

hipótese verdadeira, ainda que a tornem potencialmente menos falsa do que hipóteses testadas e afastadas. Daí o clássico exemplo: ainda que todos os cisnes observados ao longo de muito tempo sejam brancos, não há justificativa para que se conclua que todos os cisnes são brancos; um único cisne negro falsificaria a indução proposta. Eis a lição de Popper (1980, p. 27): “Es corriente llamar «inductiva» a una inferencia cuando pasa de enunciados singulares (llamados, a veces, enunciados «particulares»),tales como descripciones de los resultados de observaciones o experimentos, a enunciados universales, tales como hipótesis o teorías. Ahora bien, desde un punto de vista lógico dista mucho de ser obvio que estemos justificados al inferir enunciados universales partiendo de enunciados singulares, por elevado que sea su número; pues cualquier conclusión que saquemos de este modo corre siempre el riesgo de resultar un dia falsa: así, cualquiera que sea el número de ejemplares de cisnes blancos que hayamos observado, no está justificada la conclusión de que todos los cisnes sean blancos”.

106 Popper (1980, p. 81) explica que “[s]e llama «empírica» o «falsable» a una teoría cuando divide de modo

inequívoco la clase de todos los posibles enunciados básicos en las dos subclases no vacías siguientes: primero, la clase de todos los enunciados básicos con los que es incompatible (o, a los que excluye o prohibe), que llamaremos la clase de los posibles falsadores de la teoría; y, en segundo lugar, la clase de los enunciados básicos con los que no está en contradicción (o, que «permite»). Podemos expresar esta definición de una forma más breve diciendo que una teoría es falsable si la clase de sus posibles falsadores no es una clase vacía. Puede

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Sob as luzes de Popper (1980, p. 41), o sistema/teoria investigado deve ser exposto à falsificação e testes de todas as maneiras possíveis imagináveis, em uma verdadeira luta pela sobrevivência na busca pela hipótese comparativamente mais apta.

Popper, portanto, não abdica da verdade; aproxima-se dela. A eliminação de teorias falsas leva ao crescimento do conhecimento humano – do conhecimento em sentido objetivo de que trata o mundo 3.

O falsificacionismo torna as hipóteses mais verossímeis e, com isso, possibilita a aproximação à verdade (Popper, 2010, p. 75). Uma hipótese menos refutada (ou não refutada), ainda que não compatível com a noção de verdade absoluta, é melhor opção que outra hipótese ou teoria seguidamente falseada: uma teoria potencialmente menos falsa aproxima-se mais da verdade do que uma teoria testada e reiteradamente refutada107.