A segunda categoria de análise foi em relação à Falta de Empoderamento/ Autoconhecimento/ Autoconfiança. Kabeer (1999) afirma que o empoderamento pode ocorrer em diferentes níveis, cobrindo assim, diferentes dimensões em uma variedade de processos, sendo difícil de medir, com um conceito impreciso, e por isso tem valor. Não existe consenso quanto ao conceito de empoderamento, nem a respeito dos processos e ações que contribuem para que o empoderamento ocorra (SARDENBERG, 2018). O sucesso de um projeto de empoderamento das mulheres, depende da atitude no setor público e da assertividade individual no setor privado (KABEER, 1999). A assertividade individual fica evidente na atitude da entrevistada E19, que agiu diretamente pra alcançar seu objetivo quando, mesmo enfrentando seus medos internos se ofereceu para candidatar-se à presidência da associação que fazia parte, se tornando, assim, a primeira mulher presidente da entidade, conforme a entrevistada afirma: [...] quando o presidente da entidade perguntou na reunião de diretoria quem estava disposto a enfrentar a eleição para presidente da associação eu disse que estava. Foi uma tarefa difícil pra mim [...] eu era a primeira mulher a tomar essa atitude e ter a oportunidade. [...] mesmo com muita dificuldade de as palavras saírem eu falei que estava disponível. [...] e no final deu certo (E19). Concomitante a esse pensamento, Sardenberg (2018) defende que o processo de empoderamento da mulher precisa do alicerce coletivo e da organização das próprias mulheres. Nota-se no comportamento da entrevistada E2, que, num momento de crise, visitou pessoalmente várias cidades que não faziam parte da sua abrangência para conseguir viabilizar o curso que estava promovendo: [...] aí eu procurei todos os polos (educacionais), até do Rio Grande do Sul. [...] visitei todas as cidades próximas [...] e consegui 51 alunos, viabilizando o curso (E2). As entrevistadas E6 e E14, tomaram a decisão de pedir demissão do emprego que tinham para empreender no seu próprio negócio: [...] Falei: Antes que tenha conflito eu estou saindo e vou montar o meu (negócio). [...] fiz o que tinha que fazer, [...] tomei uma decisão para não ficar “pedalando” em cima de uma situação que eu não estava contente (E6). [...] Pedi demissão. [...] Chamei meus patrões na sala de reunião e falei: tomei a decisão de abrir meu próprio negócio. Naquele momento eu estava com uma sensação muito boa, minhas pernas tremiam e minha barriga tinha borboletas dentro. [...] eu queria empreender então, não podia ser diferente (E14). E7 tinha dificuldade de falar em público e num momento de necessidade, enfrentou seus medos, subiu no palco e fez uma palestra para 2 mil pessoas e diz: Eu tinha dificuldade de falar em público. Precisei fazer uma palestra pra contar o case da marca. [...] e aquilo foi um grande desafio. [...] então me deparei com 2 mil pessoas me olhando e eu estava num palco enorme. [...] Pensei: Eu sou capaz sim! [...] E aí comecei a acreditar mais em mim, acho que foi a partir desse momento que aflorei (E7). E8 errou nos cálculos das compras e gastou mais que o recomendado para seu estoque, mas teve atitude, montou uma estratégia para reverter a situação assim que chegou na loja, e dessa maneira obteve um retorno muito maior: [...] (pensei) agora vou ter que vender tudo até final do ano. Conversei com a equipe. Estabeleci uma premiação. E fiz acontecer (E8). Ao entrevistar E13, ficou evidenciado em sua fala que assumiu a área de compras da empresa mesmo sem saber como funcionava, enfrentou o desafio e hoje a área está muito bem, quando diz: [...] assumi a parte de compras [...] tive que parar e pensar como ia ser feito. [...] aprendi a fazer e hoje gosto muito (E13). Para a E16 foram vários momentos, em especial quando ainda era bem jovem decidiu empreender e abrir uma agência de turismo, depois, quando era sócia do irmão, além de ser a executiva principal da empresa, coordenou a expansão do negócio para seis sedes e hoje em dia, no seu atual empreendimento, tem que ter ideias e agir todas as semanas para inovar em seu negócio atual: [...] quando abri meu primeiro negócio. Minha primeira agência. Fui atrás do meu sonho de trabalhar com agências de turismo. Comecei bem novinha (E16). [...] a expansão do “negócio” (no ramo de entretenimento) exigiu bastante esforço e dedicação. Na busca de fazer as coisas acontecerem (E16). [...] acordo diariamente pensando o que vou inventar (para o negócio atual) no final de semana, o que vou fazer de diferente, buscar uma novidade. [...] eu tenho uma inquietude dentro de mim. Não descanso, às vezes estou com vários negócios, mas não é suficiente (E16). Nesse sentido, Khera e Malik (2016) também chamam a atenção, que a mudança precisa ser exercida pelas próprias mulheres, redefinindo suas crenças e percepções, e assim abandonando o estereótipo de que são seres secundários ao homem no ambiente dos negócios. A cultura inclusiva se constrói com o desenvolvimento de uma visão comum apoiada pela vontade e esforço de homens e mulheres. A entrevistada, E1, evidenciou o abandono do estereótipo de que a mulher é secundária ao homem quando deu o ultimato no marido e nos filhos que tinham outra empresa, para que viessem trabalhar com ela e ajudar no empreendimento que estava crescendo: [...] então eu cheguei e falei que a partir de hoje vocês vão trabalhar comigo ou eu vou tocar a minha vida sozinha (E1). De acordo com Botelho (2008, p. 125), “o posicionamento pessoal (postura) das executivas diante dos homens (pares, subordinados e superiores), a autoafirmação dessas mulheres” é imprescindível para sejam respeitadas e aceitas. A entrevistada E9 se posicionou fortemente para defender sua ideia e usando os argumentos corretos conseguiu convencer que estava certa: [...] me posicionei de uma maneira forte, muito segura diante de pessoas hierarquicamente superiores e no entanto a minha opinião prevaleceu (E9). A entrevistada E11 diz que convenceu os colaboradores e implantou duas mudanças significativas na gestão da sua empresa que vêm impactando positivamente a empresa até hoje e explanou: [...] precisávamos fazer uma mudança de software na empresa. Uma mudança que há muito era necessária. Era uma atitude que precisava ser tomada. [...] eu falei que daquele momento em diante iriamos trocar de software e optar por esse caminho. [...] e agora estou implantando outro procedimento. Estamos no meio dessa mudança. [...] a partir de janeiro de 2020 não teremos mais papel aqui na empresa (E11). A E12 também usou de seu poder de persuasão para convencer o sócio a mudar a sede da empresa e, em um momento de crise, o convenceu a aumentar a empresa para agregar mais serviços e clientes gerando assim um ótimo retorno. [...] eu tomei a frente, mesmo meu sócio enrolando. Vamos mudar de sede [...] porque é importante mudar. [...] me posicionei e mudamos. [...] em outro momento sugeri que contratássemos mais pessoas para que crescêssemos mesmo na crise. [...] e deu certo (E12). A empreendedora E18 enfrentou opiniões contrárias dentro da empresa para expandir a frota: [...] falei (para os gestores) temos que expandir, comprar mais caminhões. Veio a crise e (mesmo assim) eu comprei 15 caminhões. Ainda estou pagando, foi difícil, tirei forças de onde não tinha em certos momentos (E18). Mas a decisão mais emblemática que tomou, foi quando três dias depois do falecimento do marido e sócio, que era o executivo principal da empresa, foi visitar todos os clientes mostrando que estava à frente do negócio a partir daquele momento, mesmo sendo um setor onde trabalhadores e gestores são homens e existe muito preconceito: [...] ele faleceu em uma quinta feira, na outra semana eu fui visitar todos os clientes (para informar que estava assumindo a empresa) (E18). Nessa proposição, as entrevistadas foram instadas a relatar uma situação de atitude na intenção de alcançar um objetivo, ou seja, uma situação onde a empreendedora teve que agir. Analisando as entrevistas evidenciou-se que essas mulheres empreendedoras, em algum momento da vida empoderaram-se para enfrentar os obstáculos que a carreira de empreendedora apresenta. Ao empoderarem-se, as mulheres empreendedoras obtêm uma maior percepção da sua competência, aumentando o autoconhecimento, expandindo assim, sua autodeterminação, autoconfiança e capacidade de gestão, tornando-se fundamentais para o desenvolvimento da economia. Nota-se que as empreendedoras entrevistadas têm, em maior ou menor grau, autoconfiança para tomar atitudes e gerir seu negócio e agem nas situações adversas, empoderando-se e enfrentando, especialmente seus medos internos. Percebeu-se que a força e as ferramentas para enfrentar as barreiras vêm de dentro. As empreendedoras primeiro enfrentam seus medos, suas próprias barreiras para empoderarem-se e superar os obstáculos externos. No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CAMPUS UNIVERSITÁRIO REITOR JOÃO DAVID FERREIRA LIMA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E GESTÃO DO CONHECIMENTO Melissa Ribeiro do Amaral (páginas 91-95)