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MAPA DO CONTRABANDO DE ARMAS

B. “AS FRONTEIRAS SÃO UM SUPERMERCADO DE ARMAS” Situação

A. Falta de Integração

Da quase unanimidade das autoridades da Polícia Federal encarregadas da vigilância de portos e aeroportos convidados a depor nessa Comissão, ouvimos que um dos maiores problemas é a da falta de integração entre os diferentes órgãos, principalmente da Receita Federal. Com sua visão puramente comercial, sem preocupações quanto ao risco representado por certos produtos, pouca importância daria ao contrabando de armamento. “A Receita Federal domina, não deixa Polícia Federal trabalhar e não colabora. Exemplo: o que vê nos contêineres, não informa. Assim, a PF não sabe o que a Receita vê dentro dos contêineres. A precedência da Receita sobre os demais órgãos é um caso sério nos portos e aeroportos”, afirmou o presidente da CONPORTOS. E ainda: “Não há trabalho integrado e articulação entre a Polícia Federal, a Receita, a Capitania dos Portos, a PM e a Polícia Civil. No caso da Receita, as armas apreendidas não são inseridas no sistema SINARM. A Receita trabalha sozinha, não colabora com ninguém. Se encontra arma, não reporta”. Conforme admitiu o Sr.

Ronaldo Lázaro, responsável da Receita Federal pelo controle de fronteiras, em depoimento a esta CPI em 07.06.2006: “A nossa preocupação está totalmente voltada para garantir o comércio exterior brasileiro”. Conforme o Sub-Relatório do deputado Josias Quintal sobre Portos e Aeroportos desta CPI, a COMPORTOS só tem caráter normativo. Os órgãos executivos são as 21 Comissões Estaduais (CESPORTOS), que apesar de integradas pela PF, Marinha, Receita Federal, PM e Polícia Civil do Estado, Corpo de Bombeiros e autoridade portuária, não trabalham de forma integrada.

B. Scanners

Pressionando as autoridades brasileiras, os Estados Unidos exigiram uma pesquisa sobre o uso de scanners, que é o Raio –X moderno usado para inspeção de contêineres, onde é transportada a maioria das mercadorias, considerando-se que 86% do produto mundial circulam pela via marítima. Foi feita uma amostragem em 100.000 contêineres, e constatado que apenas 2% são escaneados nos portos brasileiros. Levando-se em conta que 1,8% dos scanners são abertos para inspeção, conforme admitiu em seu depoimento, o presidente da CONPORTOS, conclui-se que a regra é não haver inspeção de mercadorias. Uma aberração.

O uso de scanners é uma história de desperdício e omissão. Na década de 90, teriam sido comprados 15 scanners, ao preço de 2,5 milhões de dólares cada um. Alguns foram postos em funcionamento por pouco tempo. O deslocamento de funcionários treinados para usá-los para outros cargos, a omissão de novos chefes, e a cumplicidade com os contrabandistas, explicam porque em pouco tempo nenhum desses scanners estava mais em

funcionamento. O presidente em exercício da CONPORTOS afirmou-nos

que “Não se usa os poucos scanners que ainda funcionam sob a alegação de que atrapalha o fluxo do comércio”. Argumento desmentido pelo responsável da Receita Federal pelo controle de fronteiras, que afirmou que “um scanner leva apenas 30 segundos para escanear um contêiner, e não se justifica dizer que há morosidade no seu uso. Hoje, existem scanners mais baratos e mais eficientes, que permitem a visão através de qualquer mercadoria, ao contrário dos aparelhos antigos”. Em seguida, afirmou que, por exemplo, o scanner do posto alfandegário de Uruguaiana estava em pleno funcionamento. O deputado Paulo Pimenta, Relator desta CPI, imediatamente pediu uma ligação telefônica com o mencionado posto, comprovando à frente de todos que “o aparelho não estava em funcionamento”.

A CPI também apurou que, em 1997, foram comprados 13 caminhões scanners, para controle rodoviário, ao preço de 6,5 milhões de dólares. Durante anos não foram utilizados e, quando em 2003, resolveram colocá-los em funcionamento, foram considerados “ultrapassados”. Por isto, o presidente em exercício da CONPORTOS admite: “Que eu saiba, não existe nenhum porto no Brasil em que se esteja usando scanners; só em alguns dos terminais de cargas dos aeroportos”.

A inspeção de contêineres obedece a uma classificação de “canais” de cor: verde, amarela ou vermelha. A verde não é fiscalizada, a amarela deve ser fiscalizada por amostragem (como vimos, em 2% dos casos) e a vermelha tem que obrigatoriamente ser fiscalizada. Como arguiu, diante dessa explicação, o deputado Josias Quintal, “ se o traficante manda uma carga de fuzis, e escreve flores, não vai ser fiscalizado”. E já sabemos que apenas 1,8% dos contêineres, sejam eles amarelos ou vermelhos, são abertos em nossos portos e aeroportos.

A DFPC respondeu de maneira ambígua a respeito da necessidade da implantação de scanners para o controle dos contêineres que entram pelos portos de Paranaguá e Santos com destino a paises limítrofes de risco, como Paraguai e Bolívia. É preciso que tanto a DFPC como a Receita Federal e o Departamento da Policia Federal elaborem um plano conjunto, consistente e durável, para a detecção e apreensão, mediante o uso dessa tecnologia, de armas e munições que poderiam transitar pelo Brasil escondidas entre outro tipo de mercadorias, em contêineres em trânsito para esses países vizinhos.

D. Aeroportos

Temos a segunda maior frota de aviões particulares pequenos do mundo. Segundo informou a esta CPI a INFRAERO, ela é responsável pela administração de 66 aeroportos no país. Desses, apenas 24 contam com Raio – X, e metade conta com scanners de bagagem, segundo nos afirmou o responsável pelo Controle de Fronteiras da Receita Federal em seu depoimento, acrescentando que foram comprados ultimamente mais 60.

Nada está sendo feito quanto aos demais aeroportos que fogem ao controle da INFRAERO, e que são centenas de pequenas pistas, a maioria clandestina. Segundo depôs o Coordenador de Operações Especiais de Fronteira, delegado Mauro Spósito, já citado, “Mato Grosso é uma pista atrás da outra”.

A implantação da chamada “Lei do Abate” foi um tema controverso nas audiências públicas desta CPI. Por esta nova lei, a Força Aérea está autorizada a derrubar aviões que se recusem a se identificar no ar, como forma de combater o contrabando que durante décadas foi transportado por essas aeronaves. Para alguns, não está funcionando, mesmo porque o SIVAM (que agora responde pelo nome de SIPAM, Sistema de Proteção da Amazônia), sistema de radar que monitora as fronteiras da Amazônia, e que nos custou rios de dinheiro, operaria de forma precária, demonstrando-se essa inoperância com o fato de até hoje nenhum avião pirata ter sido abatido no Brasil. Segundo outros depoimentos, a Lei do Abate está funcionando, e a sua mera existência teria levado o tráfico feito por aviões pequenos a alterar a buscar outra alternativa de ingresso no país. Agora, o contrabando de armas e munições atravessaria as fronteiras transportado por caminhões, carros e barcos, até cerca de 50 quilômetros adentrando o Brasil. Daí, utilizando inúmeras pistas construídas em fazendas cúmplices do tráfico, seguiria de avião até pistas próximas do grandes centros de receptação e distribuição.

D. Portos

A situação de descontrole nos portos brasileiros consegue ser pior que a dos aeroportos.

Comecemos com o singular “corredor” alugado pelo governo do Paraguai no porto paranaense de Paranaguá, denominado Porto Franco de Paranaguá, para escoar o seu comércio marítimo, já que o país não tem mar. Os contêineres entram e saem sem a fiscalização das autoridades brasileiras. Esta situação foi confirmada pelo Secretário de Segurança do Paraná, Dr. Delazari, em seu depoimento a esta CPI. Outros relatos a esta Comissão acrescentaram que contrabando proveniente da China passa pelo porto de Montevidéu, antes de ingressar no “corredor paraguaio” do porto de Paranaguá.

Quanto aos outros grandes portos brasileiros, como o de Santos. Conforme um depoente afirmou a essa CPI, é “comum de ver estivador em soleira de armazém fumando maconha e bebendo cachaça”, acrescentando: “Os roubos de cargas no Porto de Santos é muito grande. A carga nem chega às rodovias Anchieta e Imigrantes. É desmanchada em locais que ficam num raio máximo de 2 km do porto. Existe uma cadeia logística criminosa que vai desde o motorista até alguém dentro do porto. E eles não erram, só seqüestram contêineres com carga valiosa, por exemplo, com componentes eletrônicos, recheados de drogas e armas”. Segundo informações que

chegaram a esta CPI, de forma confidencial, a situação no porto do Rio de Janeiro não é diferente, “com uma descarada cumplicidade dos fiscais da Receita Federal com contrabandistas, que pagam para não terem seus contêineres abertos”. No comentário do Presidente da CPI, deputado Moroni Torgan, “Se os portos continuam abertos, da forma que estão, de que adianta controlar as fronteiras?”

Problema adicional nos portos são os chamados “portos secos”, ou Estações Aduaneiras Interiores (EADIs) - cujo nome recentemente passou a ser Centros Logísticos Industriais Aduaneiros (CLIAs) -,para onde são transportadas as mercadorias que chegam aos portos, de forma a agilizar o uso destes últimos. A sua fiscalização deficiente é outro ponto de escoamento de contrabando.

Para fiscalizar os 7.367 quilômetros de mar, “e o triplo em águas doce”, com que conta o Brasil? A costa dos Estados Unidos é vigiada por uma guarda costeira de 14 mil homens. O Brasil, só em 1995, através do Dec. 1.507, criou os Núcleos Especiais de Polícia Marítima (NEPONS), num total de 11 unidades, com algumas lanchas pilotadas por poucos policiais da Policia Federal. Não temos guarda costeira especializada no controle de nossa gigantesca geografia aquática, que fornece infindáveis entradas ao país. Ademais do pequeno contingente da PF, as demais forças, como a Capitania dos Portos, da Marinha, a Polícia Civil, isentam-se, com o argumento de que “nós não fiscalizamos cargas”, na constatação do deputado Luiz Couto. Construído pelo homem, o imenso lago de Itaipu foi formado por uma das maiores hidrelétricas do mundo. Para sua construção, contribuíram milhares de trabalhadores que migraram de outras partes do Brasil. Finda a obra, conheceram o desemprego. Se estabeleceu, então, às margens do novo lago, uma população de cerca de 40 mil pessoas, cuja principal atividade, segundo depoimentos a esta CPI dos representantes da PF no Paraná, é o contrabando. À noite, centenas de botes fazem a travessia do Paraguai para o Brasil, e armas e munições são apenas alguns dos componentes do intenso tráfico fluvial.

1.1.2.3.2.1 - Propostas (Portos e Aeroportos)

A. Recomenda-se que sejam permitidas as importações de armas e munições por no máximo 2 aeroportos, devidamente fiscalizados. [PL e Indicação]

B. Recomenda-se a instalação de Raio-X em todos os aeroportos do país,