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Estudos sugerem que as Asteraceae tiveram origem na América do Sul, no Eoceno Superior com posterior migração para a América do Norte (DEVORE & STUESSY, 1995).

Grande número de espécies vegetais pertencentes a esta família é empregado na medicina popular há muito tempo (CUATRECASAS,1969) e com isso desperta a atenção de pesquisadores devido a suas inúmeras propriedades medicinais que lhes são atribuídas, principalmente antiinflamatória, expectorante, antitussígena, anti-hipertensiva e no tratamento de problemas hepáticos (EVANS, 1996).

2.3.1 Aspectos botânicos

Considerada uma das maiores famílias, representando cerca de 1/10 de todas as Angiospermas, Asteraceae possui aproximadamente 23.000 espécies distribuídas em 1.535 gêneros (BREMER & ANDERBERG, 1994).

Estudos sugerem que as Asteraceae tiveram origem na América do Sul, no Eoceno Superior com posterior migração para a América do Norte (DEVORE & STUESSY, 1995).

Possui distribuição cosmopolita sendo encontrada em todos os continentes, com exceção do Antártico, e seus representantes normalmente apresentam adaptações às várias condições ambientais e ecológicas (BARROSO, 1991; JUDD et al., 1999).

A América Latina é considerada um centro de diversidade de Asteraceae, sendo que na América do Sul, em algumas regiões semi-áridas e na Patagônia, os representantes de Asteraceae correspondem a 20% da flora (CABRERA, 1978). Para o Brasil são estimados aproximadamente 180 gêneros e 3.000 espécies com distribuição desde as regiões mais frias e úmidas, como as serras do Sudeste e Sul, até as áreas secas na região do semi- árido nordestino, sendo menos freqüentes em formações florestais (HIND, 1993).

São plantas com hábito variável abrangendo desde ervas até arbustos, mais raramente árvores; podem ser monóicas, dióicas ou poligamo-dióicas. As folhas são alternas ou opostas, raramente verticiladas, pecioladas ou sésseis, simples, inteiras, lobadas ou dissectas, distribuídas ao longo dos ramos, em rosetas basais ou ausentes; estípulas geralmente ausentes. O indumento é variável, constituído de tricomas multicelulares unisseriados ou multisseriados, composto de células uniformes ou células basais e terminais modificadas (BREMER & ANDERBERG, 1994).

Geralmente apresentam tricomas tectores que podem ser simples, estrelados, malpiguiáceos ou escamiformes, também são comuns tricomas glandulares depressos na face abaxial das folhas, e neste caso, aparecem como pontos pretos, translúcidos ou estrias alongadas. Sua secreção é responsável pela aparência envernizada das folhas de alguns gêneros, em especial de Baccharis L., Eupatorium L. sensu lato, Gochnatia Kunth e

Symphyopappus Turcz. (Metcalfe & Chalk, 1950). Tricomas unicelulares são raros, sendo

exclusivos da subfamília Barnadesoideae (BREMER & ANDERBERG, 1994).

Quanto à anatomia, a principal característica é a ocorrência de canais laticíferos e resiníferos, sendo que sua distribuição nos membros da família tem valor taxonômico, uma vez que canais ou cavidades de látex são característicos de Cichorioideae, especialmente na tribo Lactuceae, enquanto que canais ou cavidades de resinas são comuns nos representantes de Asteroideae (BREMER & ANDERBERG, 1994).

Asteraceae é facilmente reconhecida pelas flores reunidas em capítulos, formando um pseudanto, que podem ser isolados ou agrupados nas mais diversificadas inflorescências, formando capitulescências corimbiformes, paniculiformes, tirsóideo- paniculadas, racemiformes, espiciformes, fasciculadas, glomeruliformes ou até mesmo formando capítulos envoltos por invólucro secundário (CRONQUIST, 1981).

Provavelmente a maior contribuição das Asteraceae para o homem é a ecológica, uma vez que são responsáveis pela grande diversidade de espécies e, portanto, favorecem a estabilidade e sustentabilidade produtiva das vegetações em áreas secas do mundo, tais como os cerrados, capoeiras, campos e semi-áridos, especialmente nas regiões tropicais e

subtropicais. Economicamente são pouco utilizadas na alimentação; tem potencial medicinal, toxicológico e alergogênico, destacando-se sem dúvida como planta ornamental ou daninha (HEYWOOD, 1979).

Os caracteres ecológicos que distinguem as Asteraceae das demais famílias são os pseudantos, o mecanismo especializado de apresentação do pólen e a diversidade de armas químicas presentes em todos os membros da família (CRONQUIST, 1981). Por isso, segundo alguns autores como Cronquist (1981) e Bremer & Anderberg (1994) o grande sucesso de Asteraceae se deve à associação dos compostos químicos com a morfologia especializada, pois apenas a morfologia especializada, como as flores reunidas em capítulos e o mecanismo secundário de apresentação do pólen também são encontrados em outras famílias, porém estas não apresentam a grande diversidade de Asteraceae.

Mesmo sendo um táxon com numerosas espécies, Asteraceae sempre foi considerada como um grupo natural bem sustentado por caracteres sinapomórficos, tais como: lactonas sesquiterpênicas, cálice altamente modificado em pápus, anteras conatas com deiscência introrsa formando um tubo ao redor do estilete; mecanismo secundário de apresentação de pólen com estilete modificado funcionando como uma escova; ovário bicarpelar com apenas um óvulo de placentação basal e fruto com endosperma constituído de apenas uma camada inconspícua (BREMER & ANDERBERG, 1994).

2.3.2 Aspectos químicos

Uma das principais características das Asteraceae é a diversidade de seus metabólitos secundários, dentre eles os poliacetilenos, terpenóides (sesquiterpênóides, diterpenóides e triterpenóides), alcalóides (CRONQUIST, 1981), óleos essenciais (AGOSTINI et al., 2005), antocianinas (HEYWOOD et al., 1977), flavonóides (MARKHAM, 1982), cumarinas, benzofuranos e benzopiranos (EMERENCIANO et al., 1998). Entretanto seus constituintes característicos são as lactonas sesquiterpênicas, às quais se têm atribuído grande parte de suas atividades farmacológicas, dentre elas citotóxica, antitumoral, antiinflamatória, bactericida, fungicida e antiúlcera (RODRIGUEZ, 1977; PICMAN, 1986, ROBLES et al., 1995; HEINRICH et al., 1998).

Flavonóides pertencentes à família Asteraceae têm se apresentado como marcadores taxonômicos, permitindo que algumas espécies sejam classificadas sistematicamente pelos flavonóides que estas produzem (EMERENCIANO et al., 2001; SHARP et al., 2001).

2.3.3 Gênero Melampodium

O gênero Melampodium é representado por cerca de 40 espécies distribuídas no Sul dos Estados Unidos, México, América Central, Colômbia e três delas no Brasil (TURNER,1993; BREMER & ANDERBERG, 1994).

As espécies deste gênero são herbáceas, anuais ou perenes, com folhas simples ou opostas. No capítulo, as brácteas involucrais apresentam-se dispostas em duas séries, dimórficas. O receptáculo é convexo ou colunar. As flores do raio, de coloração amarelada ou branco-amarelada, são muito pequenas. As flores do disco são funcionalmente masculinas, liguladas, de coloração amarelo-esverdeada ou amarelo-alaranjada (BREMER & ANDERBERG, 1994).

A maioria das espécies do gênero Melampodium floresce durante os meses de agosto e setembro, entretanto algumas apresentam um tempo de floração muito mais amplo, podendo florir do início ao fim do ano (SUNDBERG & STUESSY, 1990).

Apenas duas espécies constam como empregadas na medicina popular a

Melampodium divaricatum (Rich. In Pers.) DC e Melampodium camphoratum (L.f.) Backer.

Sob o aspecto químico, cerca de 15% das espécies do gênero foram estudadas, observando a predominância de lactonas sesquiterpênicas e diterpênicas e também a presença de cumarinas, flavonóides e alcalóides (SAITO, 2003).

2.3.3.1 Melampodium divaricatum Rich. In Pers.

Melampodium divaricatum é uma planta anual, ereta, herbácea, ramificada, de 80 –

160 cm de altura, nativa da América do Sul e propaga-se apenas por sementes. É uma planta daninha medianamente freqüente em quase todo o país, onde infesta principalmente lavouras anuais, pomares, cafezais e beira de estradas. Apresenta preferência por solos argilosos e com boa fertilidade. É bastante variável no tamanho e forma de suas folhas (LORENZI, 2000). As características macroscópicas de seus órgãos estão apresentadas nas figuras 2-4.

Pedro Tenorio Lezama

Figura 3. Aspecto macroscópico da folha de Melampodium divaricatum.

Figura 4. Aspecto macroscópico do caule de Melampodium divaricatum.

Conhecida popularmente como falsa-calêndula (VARANDA et al., 2006), flor- amarela, estrelinha, flor-de-ouro (LORENZI, 2000); picão-da-praia (AGRA et al., 2007); fel da terra e salsa da praia (BOTSARIS, 2007) Melampodium divaricatum é uma espécie comumente empregada na medicina popular (GIRÓN et al., 1991), principalmente na América Latina.

Na Guatemala, tem suas folhas utilizadas como antimalárica e no tratamento de problemas estomacais; a planta inteira é empregada contra resfriados (GIRÓN et al., 1991). No México, a embolia é tratada com a administração oral de uma infusão da planta inteira, sendo usada também como antidisentérico e anticonvulsivante (HÜTHER et al., 1999). No Brasil é empregada popularmente no tratamento da malária como também em casos de inflamações, febre, flatulências, dores estomacais, cólicas, icterícia, dores comuns, dores musculares, palpitações, vertigens, reumatismo, anúria e também como diuréica e carminativa (BOTSARIS, 2007) e no Nordeste o chá de suas folhas e inflorescências bem como da planta inteira tem sido é utilizado como diurético e no tratamento da leucorréia (AGRA et al., 2007).

Estudos químicos realizados nos Estados Unidos da América, no México e em El Salvador caracterizaram a presença de diversos metabólitos secundários como cumarinas, flavonóides (canferol e quercetina), alcalóides pirrolizidínicos bem como compostos comumente presentes em óleos essenciais como o cariofileno, espatulenol e guaiacol como apresentado na tabela 1.

Tabela 1. Compostos químicos identificados na espécie Melampodium divaricatum

Compostos Químicos Órgão

Vegetal

Local da Coleta

Referências

Cumarinas Folhas Panamá BORGES-DEL-CASTILLO et al., 1984

Cariofileno e Espatulenol

Guaianol e Colavenol Caules e Folhas

El Salvador

HUBERT & WIEMER, 1985

Estigmasterol Flavonóides glicosilados

Folhas El Salvador

ALONSO-LÓPEZ et al., 1985 BOHM & STUESSY, 1991 Canferol

Quercetina

Planta inteira

México HÜTHER et al., 1999

Derivados de hidroxitimol Alcalóides pirrolizidínicos Partes Aéreas Planta Inteira Estados Unidos

São conhecidas algumas sinonímias científicas da espécie, a saber: Alcina minor Cass., Dysodium divaricatum Rich. ex Pers., Eleutheranthera divaricata (Rich. ex Pers.) Millsp., Melampodium berterianum Spreng., Melampodium copiosum Klatt, Melampodium

divaricatum var. macranthum Schltdl., Melampodium flaccidum (Benth.) Benth., Melampodium paludosum Kunth, Melampodium panamense Klatt, Melampodium pumilum

Benth., Melampodium tenellum var. flaccidum Benth., Melampodium brachyglossum Donn. Sm (LORENZI, 2000).

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