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Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 31/01/2012

Revista nº 6014/09.8TBVLSB.L1.S1 - 7.ª Secção Assunto: Alimentos – união de facto

I - As pensões de sobrevivência sur- gem na sua atual configuração com o DL nº 322/90, de 18-10.

II - Pretende-se, como vem referido no preâmbulo do mencionado De- creto- -Lei, compensar, mediante a concessão de prestações continuadas, o desequilíbrio provocado pela morte de um dos membros do casal. III - Este desiderato legal tem ínsita a ideia de que o casamento, e também uma comunhão de facto consistente, denotam uma comunhão de vida em que cada um dos seus membros contribuía com parte substancial dos seus proventos para a comunidade familiar. Essa situação criou expetati- vas e serviu de base a encargos que o casal assumiu.

IV - A Lei nº 23/2010, de 30-08, veio, entre outras alterações à Lei 7/2001, de 11-05, dispensar a prova da neces- sidade de alimentos para ter direito a uma pensão como membro sobrevivo de uma união de facto e impossibili-

dade da sua prestação por parte dos familiares do requerente e por parte da herança do falecido.

V - As alterações em causa aplicam-se às uniões dissolvidas antes da entrada em vigor da nova lei já que aquelas configuram verdadeiros “estados de facto” que se prolongam no tempo independentemente da sua origem, sendo que esta solução se impõe até por força do “princípio da igualdade” consagrado no art. 13º da CRP. VI - A atribuição da pensão de so- brevivência, de harmonia com o art. 11º da Lei supra referida, que alterou a Lei 7/2001, de 11-05, tem efeito a partir da LOE posterior à sua entrada em vigor.

PeNal

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 11/01/2012

Proc. nº 1928/11.8JAPRT-A.S1 - 3.ª Secção Assunto: Juiz natural - Prisão ilegal

I - A providência de “habeas corpus” constitui um incidente que se destina a assegurar o direito à liberdade cons- titucionalmente garantido – arts. 27º, nº 1, e 31º, nº 1, da CRP –, sendo que visa pôr termo às situações de prisão ilegal, efetuada ou determinada por entidade incompetente, motivada por facto pelo qual a lei a não permite ou mantida para além dos prazos fixados na lei ou por decisão judicial – art. 222º, nºs 1 e 2, als. a) a c), do CPP. II - No caso vem alegado que a medida de coação de prisão preventiva em consequência do qual o peticionan- te se encontra preso foi determinada com violação das regras de compe- tência (em razão do território), viola- ção que constitui nulidade insanável nos termos da al. e) do art. 119º do CPP, por violação do princípio do Juiz natural.

III - Sendo taxativos os fundamentos de “habeas corpus” previstos na lei, esta providência não pode ser utiliza- da para sindicação de outros motivos ou fundamentos suscetíveis de pôr em causa a regularidade e a legalidade da prisão, designadamente a sindicação

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de eventuais anomias processuais situadas a montante ou a jusante da prisão ou a verificação da legalidade da prisão reportada a momentos ante- riores, sindicação que só é admissível através do meio normal de impugna- ção das decisões judiciais, ou seja o recurso ordinário.

IV - A lei ao aludir no art. 222º, nº 2, al. a), do CPP, à ilegalidade da prisão efetuada ou ordenada por entidade incompetente, apenas contempla si- tuações em que a prisão é decretada por outra autoridade que não um juiz, apelidada a prisão de non judice, não abrangendo situações em que a prisão é determinada por juiz incompetente, tanto mais que, de acordo com o nº 3 do art. 33º daquele diploma, as medi- das de coação ordenadas por tribunal declarado incompetente conservam eficácia mesmo após a declaração de incompetência

V - Como se refere no Ac. do STJ de 10- 10-2010, Proc. nº 3777/07, a «incom- petência» a que se refere a al. a) do nº 2 do art. 222º do CPP é essencialmente a falta de jurisdição, ou seja, a situação em que a entidade que decidiu a pri- são é alguém que não detém poder jurisdicional para intervir e decidir no caso concreto. A intervenção de juiz diferente do competente segundo as regras da repartição funcional de competências não envolve nenhuma diminuição de garantias para o argui- do e, por isso, não é fundamento de “habeas corpus”.

VI - Carece, igualmente, de fundamen- to, no âmbito da presente providência, o pedido efetuado pelo requerente de reapreciação das medidas de coação que lhe foram aplicadas pelo tribunal a seu ver incompetente.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 11/01/2012

Proc. nº 522/11.8GCBNV-A.S1- 3.ª Secção Assunto:“habeas corpus”

I - A providência de “habeas corpus” é uma providência urgente e expedita, com uma celeridade incompatível com a prévia exaustão dos recursos ordinários e com a sua própria tramita-

ção, destinada a responder a situações de gravidade extrema, visando reagir, de modo imediato, contra a privação arbitrária da liberdade ou contra a manutenção de uma prisão manifes- tamente ilegal, ilegalidade essa que se deve configurar como uma violação direta, imediata, patente e grosseira dos seus pressupostos e das condi- ções da sua aplicação.

II - Resulta do art. 219º, nº 2, do CPP, que mesmo em caso de recurso de decisão que aplicar, mantiver ou substituir medidas de coação legal- mente previstas, inexiste relação de dependência ou de caso julgado entre esse recurso e a providência de “habeas corpus”, independente dos respetivos fundamentos. Com efeito, a excepcionalidade da providência não se refere à sua subsidiariedade em relação aos meios de impugnação ordinários das decisões judiciais, mas antes e apenas à circunstância de se tratar de providência vocacionada a responder a situações de gravidade estrema, com uma celeridade in- compatível com a prévia exaustação dos recursos ordinários e com a sua própria tramitação.

III - O peticionante solicita a sua ime- diata restituição à liberdade alegan- do a ilegalidade da sua detenção e subsequente prisão por excesso de prazo de apresentação ao juiz, consi- derando que a mesma foi decretada sem que previamente tivesse sido constituído arguido, e sem que tivesse sido previamente ouvido, não tendo a respetiva defensora legitimidade para, em nome do arguido, prescindir do que quer que fosse, uma vez que nem sequer conheceu o arguido ou falou com ele.

IV - Conforme se extrai do art. 194º, nº 2, do CPP, a aplicação de medida de coação não implica necessária ou obrigatoriamente a audição prévia do arguido, ressalvando-se no nº 3 os ca- sos de «impossibilidade devidamente fundamentada, e que pode ter lugar no ato de primeiro interrogatório ju- dicial, aplicando-se sempre à audição o disto do nº 4 do art. 141º».

V - Embora o nº 1 do art. 192º do CPP refira que a aplicação de medidas de coação e de garantia patrimonial de- pende de prévia constituição como arguido após referir que «desde o mo- mento em que uma pessoa adquirir a qualidade de arguido é-lhe assegu- rado o exercício de direitos e de de- veres processuais», acrescenta: «sem prejuízo da aplicação de medidas de coação e de garantia patrimonial e de efetivação de diligências probatórias, nos termos da lei». Por outro lado, e relativamente à representação do arguido por defensor, há que ter em conta que o art. 63º, nº 1, do CPP, que o defensor exerce os direitos que a lei reconhece ao arguido, salvo os que ela reservar pessoalmente a este. VI - Dos elementos constantes dos autos, resulta que a prisão do arguido foi decretada por despacho datado de 16-09-2011 e, na sequência de inter- rogatório judicial, foi reexaminada em 10-11-2011, e revista pelo despacho de 03-01-2012. Além disso, aquando do despacho de 16-09-2011, em que se decidiu pela aplicação de medida de coação, sem a sua audição prévia face às razões de saúde atestadas no processo, e sem prejuízo de o mesmo vir a ser ouvido logo que o seu estado o permitisse, o arguido estava repre- sentado pela sua defensora.

VII - Não se verificou situação de abuso de poder ou de erro grosseiro e rapi- damente verificável no decretamento da prisão preventiva. Não consta que o arguido impugnasse, em recurso, o despacho que lhe aplicou a prisão preventiva.

VIII - Uma vez que o arguido se encon- tra em prisão preventiva à ordem dos autos desde 16-09-2011, determina- da por decisão judicial, por indícios da prática de crime de homicídio qualificado, o seu prazo máximo de duração de duração só terminará em 16-03-2012, se até lá não for deduzida acusação.

IX - Desta forma, não ocorre qualquer fundamento previsto no art. 222º, nº 2, do CPP para o decretamento da providência de “habeas corpus”.

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Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 11/01/2012

Proc. nº 1111/11.7YFLSB - 3.ª Secção Assunto: Extradição

I - Nos termos do art. 58º, nº 1, da Lei 144/99, de 31-08, estipula-se que o MP e o extraditado podem recorrer da decisão final no prazo de dez dias, cabendo o julgamento do recurso à secção criminal do STJ (art. 49º, nº 3). Por sua vez, no art. 47º, nº 1, do citado diploma, a intervenção do Es- tado requerente da extradição é a de mero «participante» e «tem em vista possibilitar (…) o contato direto com o processo (…), bem como a fornecer ao tribunal os elementos que entenda solicitar».

II - Assim, a posição do Estado reque- rente à luz do preceito em causa é a de cooperar e não dificultar o an- damento dos autos, restringindo a sua esfera interventiva à de trazer ao tribunal os elementos de que careça dentro desse espírito de colaboração. Tem, pois, uma posição de subalter- nidade em requerido e ao Estado requerido.

III - A norma do art. 58º da Lei 144/99, de 31-08, rege, apenas, para o recurso da decisão final ordenando a extradi- ção é omissa quanto à admissibilidade dos recursos interpostos após essa fase processual, mas se a lei é bem expressa em vedar a legitimidade do Estado requerente da decisão que ordena a extradição, por maioria de razão, enquanto elemento lógico in- terpretativo da lei (art. 9º do CC), que essa proibição se imponha quanto a decisões da Relação proferidas após aquela fase.

IV - O processo de extradição compor- ta uma fase administrativa e uma fase judicial, nos termos dos arts. 47º e 49º ss., respetivamente, iniciando-se a últi- ma mediante a apresentação do pedi- do de elementos documentais que o acompanharam ao MP junto do Tribu- nal da Relação competente. A questão da violação pelo Estado requerente do princípio da especialidade é um inci- dente da entrega, regulada no art. 60º da Lei 144/99, de 31-08, e em conexão

com a extradição decretada, ainda dentro da fase judicial, tanto assim que a sua resolução é desencadeada ante a entidade judiciária.

V - Não pode fundamentar a atri- buição de legitimidade ao Estado requerente para recorrer a afetação de direitos nos termos do art. 401º, nº 1, do CPP. Efetivamente, o Estado requerente não é detentor de quais- quer direitos fundamentais ou parce- la de liberdade individual afetados, decorrentes de tratado internacional, desrespeitados por Portugal, deman- dando, por isso mesmo, a utilização de correspondentes instrumentos para realização, em forma célere e ajustada, pela via do recurso.

VI - A interpretação que veda o recur- so ao Estado requerente não atropela qualquer direito constitucional, desig- nadamente por ofensa aos arts. 2º, 7º, nº 1, 20º, nº 4, e 32º, da CRP.

VII - A cooperação internacional regu- lada em matéria penal releva do prin- cípio da reciprocidade, princípio que extravasa transversalmente todo o processo, impregnado de um sentido de moral geral e ética próprios, com o alcance de permitir-se a aplicação dos efeitos jurídicos em determinadas relações de direito sempre que esses mesmos efeitos são aceites por Esta- dos estrangeiros.

VIII - O princípio da especialidade é um dos princípios estruturantes de todo o processo de cooperação inter- nacional e que não se limita, apenas, à extradição, nos termos da abran- gência alargarda a outras formas de cooperação definidas no art. 1 da Lei 144/99, de 31-08. Esse princípio faz parte daquele conjunto de axiomas impostos pela simples coexistência relevante da comunidade internacio- nal no sentido de que a entrega por extradição de u, delinquente obriga o Estado requerente a conter o seu procedimento, a sua perseguição pe- nal, nos precisos limites da acusação específica pelo crime predefinido e não por qualquer outro.

IX - A especialidade desempenha uma função de garantia sucessiva, ou seja,

garantia da extradição efetuada, des- tinada a assegurar o cumprimento das obrigações que os Estados, com o pe- dido de extradição, de modo implícito mas inequívoco, se comprometem a observar (o Estado para o qual uma pessoa tenha sido extraditada não pode ser julgada, salvo consentimen- to do Estado requerido, senão pelo cri- me pelo qual tenha sido extraditado). X - A violação da clausula da especia- lidade por parte do Estado que viu a sua pretensão satisfeita integrará um ilícito, como tal censurável ao nível das relações entre os Estados.

XI - No caso concreto, a extradição foi requerida não com base em con- vénio bilateral entre os Estados, mas pelo facto de existir uma convenção internacional – a Convenção Interna- cional para a Repressão de Atentados Terroristas à Bomba – e se mostrarem reunidos os pressupostos enunciados no art. 6º da Lei 144/99, de 31-08. O pedido de extradição foi instruído, ainda, com base numa declaração de garantia formal de que a pessoa reclamada não será julgada por fac- tos diversos dos que fundamentam o pedido e lhe sejam anteriores ou contemporâneos.

XII - Assim, se o Estado requerente, após investigação dirigida contra o extraditado, alargou o âmbito da acusação, imputando-lhe novos fac- tos anteriores aos que integram o ato de extradição, ocorreu uma violação do princípio da especialidade. Com efeito, o alcance do princípio da es- pecialidade de forma alguma se pode conformar à luz da sua formulação, extensão e conformação jurídicas com o julgamento por crimes distin- tos daqueles por que foi autorizada a extradição.

XIII - A nossa lei de cooperação in- ternacional não prevê a hipótese de infração à regra da especialidade, assumida pelo Estado requerente em compromisso internacional casuisti- camente ajustado. Contudo, o Estado Português, como estado soberano, não pode ficar imune ao incumpri- mento evidente e frontal de uma sua

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decisão, emanada da sua mais Alta Instância.

XIV - Nestes termos, encontrando- se a extradição concedida sujeita a condição resolutiva, que o Estado requerente incumpriu, declara-se a sua resolução.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 18/01/2012

Proc. nº 4/10.5PATNV.C1.S1 - 3.ª Secção Assunto: Dupla conforme

I - O art. 400º, nº, al. f ), do CPP, na sua versão atual, introduzida pela Lei 48/07, de 29-08, veio vedar o recurso para o STJ das decisões condenató- rias da Relação, que confirmando o decidido em l.ª instância, apliquem pena não superior a 8 anos de prisão. A dupla conforme mostra-se válido instrumento de realização de celeri- dade processual sobretudo na zona de pequena e média criminalidade além de exprimir a crença de que a coincidência do decidido pelo acerto decisório ostentado não justifica mais do que um grau de jurisdição, ou seja um terceiro e um segundo de recurso, sendo suficiente um.

II - O TC, em constância jurispruden- cial, tem vindo a afirmar que o recurso em triplo grau para o STJ, deve ser reservado aos casos de maior me- recimento penal (cf. o Ac. do TC nº 640/2004), não sendo irrazoável, des- proporcionado ou arbitrário restringir o recurso a um único grau; o acesso à Relação constitui já garantia consti- tucional de defesa (cf. Acs. do TC nºs 32/2006, 20/2007, 424/2009, 49/2003, 255/2005, 487/2006 e 682/2006). III - A dupla conforme é tanto a total como a parcial, in mellius, ou seja nos casos em que o tribunal de recurso reduz a pena, dizendo o STJ, quase una voce, que não deixa de haver confir- mação nos casos em que, in mellius, a Relação reduz a pena: até ao ponto em que a condenação posterior eli- mina o excesso resulta a confirmação da anterior.

IV - O TC, por decisão sumária sua, nº 600/2011, no Proc. 800/2011, declarou e fez questão de sublinhar, expressa-

mente, ser jurisprudência uniforme sua que não é inconstitucional a in- terpretação da norma do art. 400º, nº 1, al. f), do CPP, no sentido de não admitir recurso para o STJ da decisão da Relação, que aplicando pena de prisão não superior a 8 anos, reduz a pena aplicada em 1.ª instância, preci- samente porque o direito de defesa do arguido se mostra salvaguardado.

ProCeSSo CiVil

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/01/2012

Revista nº 4674/04.5TBSTS.S1 - 2.ª Secção Assunto: Renovação da prova

I - Constando do acórdão recorrido que o conhecimento de uma deter- minada questão fica prejudicado pelo entendimento nele vertido, não existe omissão de pronúncia; o que há é o entendimento de que tal questão não pode ser conhecida, entendimento esse cuja bondade não pode dar ori- gem a uma nulidade, mas antes ao conhecimento do seu mérito. II - Não sendo a Relação um segundo tribunal de 1.ª instância, mas sim um primeiro tribunal de 2.ª instância – e não sendo caso, por isso, de se realizar um novo julgamento integral – a rea- preciação da matéria de facto que aí é feita incidirá fundamentalmente sobre a apreciação dos meios de prova que o tribunal de 1.ª instância utilizou para fundamentar as respostas, servindo- se, não só dos elementos fornecidos pelas partes, mas também de todos os elementos em que aquele tribunal se tenha fundado – cf. art. 712º, nº 2, do CPC.

III - Não obstante as respostas aos con- cretos pontos impugnados não terem assentado no depoimento da teste- munha cuja depoimento não ficou gravado, acaso a Relação entendesse que o mesmo era absolutamente in- dispensável para o apuramento da verdade (e perante a impossibilidade de o apreciar em gravação) poderia determinar a renovação do mesmo na própria Relação, conforme o permite o art. 712º, nº 3, do CPC.

ProPriedade

HoriZoNtal

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/01/2012

Revista nº 149/2002.L2.S1 - 7.ª Secção

Assunto: Partes comuns

I - O art. 483º do CC vem estabelecer uma cláusula geral de responsabili- dade civil subjetiva, fazendo depen- der a constituição da obrigação de indemnização da existência de uma conduta do agente (facto voluntário), a qual represente a violação de um dever imposto pela ordem jurídica (ilicitude), sendo o agente censurável (culpa), a qual tenha provocado danos (dano), que sejam consequência dessa conduta (nexo de causalidade entre o facto e o dano).

II - O juízo de censura ao agente – apreciação da culpa – pode ser estabe- lecido por duas formas: um primeiro critério aponta para a apreciação da culpa em concreto, exigindo ao agen- te a diligência que ele põe habitual- mente nos seus próprios negócios ou de que é capaz; um segundo critério aponta para a apreciação da culpa em abstrato, exigindo a lei ao agente a diligência padrão dos membros da sociedade, a qual é naturalmente a diligência do homem médio, do bonus pater famílias.

III - O critério adotado no CC, no art. 799º, nº 2, onde se prevê que «a culpa é apreciada, na falta de outro critério legal, pela diligência de um bom pai de família, segundo as circunstâncias do caso», aponta para o critério tradi- cional da apreciação em abstrato se- gundo a diligência do homem médio, que continua a ser definido através da fórmula tradicional do bom pai de família, significando a referência a «circunstâncias de cada caso» que o próprio padrão a ter em conta varia em função do condicionalismo da hipótese e, designadamente, do tipo de atividade em causa.

IV - Este juízo de censura pode resultar de infração de uma norma destinada a proteger interesses alheios produ- zindo um dano, incluindo-se aqui a

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violação das normas que visam pre- venir, não a produção de um dano em concreto, mas sim o simples perigo do dano em abstrato.

V - A relevância jurídica da omissão está ligada ao «dever genérico de prevenção de perigo», querendo-se com isto significar que o criador ou o mantenedor da situação especial de perigo tem o dever jurídico de o remover, sob pena de responder pelos danos provenientes da omissão. VI - Tendo resultado provado que de- vido ao facto de as escadas do prédio onde vivia em fração arrendada a autora caiu no último lance de esca- das – entre a fração da porteira e a porta do prédio –, e que esse mesmo prédio está constituído em proprie- dade horizontal, encontrando-se as mesmas inscritas a favor do réu e dos intervenientes, são os mesmos responsáveis (enquanto compro- prietários dessa parte comum), pela omissão de reparação da instalação geral de água, posto que não só não acautelaram a rutura da canalização, como não procederam à sua repara- ção imediata.

VII - Significa isto que os condóminos poderiam ter evitado a queda da au- tora caso tivessem agido com o dever geral de cuidado, observando as mais básicas regras de segurança, que se limitariam a uma reparação imediata da rutura ou, pelo menos, a alertar a EPAL para fechar a água, sem omitir a necessária limpeza das escadas.

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