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Na análise do problema da criança / jovem, a família é uma dimensão importante no tendo em conta a sua formação, estrutura, condições de vida, necessidades, relações entre e inter-familiares, factores culturais, bem como os vínculos relacionais e os afectos estabelecidos. A ausência de políticas de apoio às famílias, é uma das questões mais pertinentes na actualidade, não bastam políticas de “manutenção” de pobreza das famílias (ou sejam políticas protectoras). São necessárias e urgentes políticas que reforcem as competências das famílias e as valorizem como pessoas e cidadãos comuns de qualquer sociedade.

A diversidade de famílias e formas de agregados familiares tornou-se um traço comum na sociedade actual. Mas não foi apenas a família e a composição do agregado familiar que sofreram alterações, estas verificam-se também na mudança nas expectativas criadas pelas pessoas nas suas relações com os outros (ex: o acesso fácil a bens de luxo e por consequência a novos endividamentos).

De acordo com os dados do estudo, registamos uma diferença entre as famílias biológicas e as famílias de acolhimento no que respeita ao tipo de família. A família biológica é maioritariamente nuclear, embora mais de 50% dos participantes no estudo refiram a existência de um aumento da família monoparental feminina. A família de acolhimento é maioritariamente ou quase na totalidade do tipo nuclear com filhos, sendo referido em número mínimo a família alargada e a família em união de facto.

A família contemporânea insere-se no quadro da nova sociedade, que impõe necessariamente traçar uma nova tipologia de família, não apenas consentânea com a pós-modernidade, mas também com as ideias de coerência filosófica e ética do ser humano. Na modernidade podemos identificar diferentes formas de família (Giddens, 2004), nomeadamente:

As famílias monoparentais, têm aumentado nas últimas três décadas, caracterizadas por agregados familiares unipessoais, sendo na sua maioria cerca de 90% constituídos por mulheres. Segundo G. Crow e M. Hardey (1992) estes agregados têm como vias de entrada, os seguintes indicadores: morte de um progenitor; separação fim de coabitação com crianças dependentes; divórcio de um casal com crianças dependentes, mulher solteira com crianças dependentes. Este tipo de famílias, apresentam como vias de saída, os indicadores: reconciliação com o antigo marido; novo casamento ou situação de coabitação; morte de um progenitor; crianças que deixaram de ser dependentes. Os autores referem que “a diversidade de caminhos para entrar ou sair das famílias monoparentais significa que os progenitores solitários como um todo não são um grupo unificado ou coeso. Embora estas famílias partilhem em comum algumas desvantagens sociais e materiais, apresentam uma identidade colectiva difusa”. (Giddens: 2001:184).

As famílias recompostas, constituem hoje uma nova tipologia de família. Uma família recomposta é definida como uma família em que pelo menos um dos adultos tem filhos de um dos matrimónios anteriores. A família recomposta assume também uma tipologia de família numerosa ou família extensa. Este tipo de família apresenta por vezes, dificuldades resultantes do distanciamento de residência em que cada progenitor se encontra em especial, o progenitor que reside com os filhos descendentes do casal. Outra dificuldade reside na dimensão de “aculturação” em que o novo agregado (família recomposta) se encontra, nomeadamente na situação em que cada progenitor tenha descendentes e passem a viver em comum. Embora este agregado fique condicionado pela relação de visita dos filhos ao progenitor exterior. Verificam-se também dificuldades no reconhecimento que os filhos de cada progenitor fazem do outro que assume o papel de “madrasta” ou “padrasto”. Este tipo de família, está a desenvolver novas relações familiares e de parentesco na modernidade. Um outro elemento a

considerar nesta análise reflexiva e atendendo à história portuguesa no que respeita à descolonização de África com a vinda dos designados “retornados”, é a questão social das famílias negras.

As famílias negras, identificadas com um tipo de família associada à bigamia, reconhecida como questão cultural aceitável e comum, bem como os agregados mono parentais também são mais comuns neste tipo de famílias, do que noutros grupos “minoritários”. Este tipo de famílias está mais concentrada em bairros sociais e bairros degradados, onde as melhorias das suas condições de vida foram menores. A maioria tem empregos pouco qualificados e mal remunerados, bem como são empregos temporários e pouco permanentes. Nestas famílias, verificamos uma característica de solidariedade familiar, pouco comum nos outros grupos familiares, nomeadamente os irmãos mais velhos apoiam os irmãos mais novos, manifestando maior solidariedade e reforço das relações sociais de grupo de pertença.

Na actualidade assistimos à emergência e debate de um novo tipo de família, definido como famílias em união de facto. Este é um novo tipo de família, reconhecido recentemente na sociedade moderna, nomeadamente em Portugal só na última década foi legislado sobre a união de facto (Lei nº 7/2001). Este tipo de família consiste na união entre duas pessoas ou também designada de coabitação prolongada.

Na sociedade actual assistimos a uma evolução dos jovens viverem em comum durante um período de tempo antes de decidirem o rumo que vão dar à sua relação (casamento/união de facto/...). Wilkinson e Mulgans (1995), “prevê-se que, no ano 2000, quatro em cada cinco casais que formalizaram a sua relação através do casamento já tenham vivido em coabitação antes do mesmo”.

Identificamos também na sociedade contemporânea a família Gay (casais homossexuais). Actualmente assistimos ao reconhecimento público e político da família gay ou casais homossexuais, refira-se o caso de Espanha com a aprovação recente da lei sobre o casamento homossexual. Neste tipo de família a relação é baseada no compromisso pessoal e na confiança mútua, dado que a sua constituição fica logo à partida excluída da norma pública sobre o casamento. Os autores Weeks, Heaply e

Donovan (1999)9, distinguem três padrões significativos nos casais homossexuais em qualquer dos sexos. Existe uma maior oportunidade de igualdade entre os parceiros, dado que não estão sujeitos às normas culturais e sociais que definem os papéis do género numa relação. Os casais homossexuais negoceiam os parâmetros e o funcionamento das suas relações. As relações homossexuais demonstram ser uma forma particular de compromisso para o qual não existe um enquadramento institucional e em muitos países não existe enquadramento legal. No presente continuamos a assistir a comportamentos intolerantes face às famílias homossexuais, por ex: se uma mãe ou um pai se envolver numa relação homossexual, a dificuldade de obter a Regulação do Exercício do Poder Paternal dos filhos pelo tribunal fica dificultada.

Na sociedade contemporânea e com o avanço da investigação médica no domínio da reprodução humana, verificamos, existirem hoje possibilidades que permitem a famílias Gays desempenharem a função de reprodução através da inseminação artificial que veio garantir um direito à mulher lésbica, criando a possibilidade de engravidar e ser mãe. Neste tipo de família continuamos a verificar uma descriminação no acesso aos direitos sociais, em conformidade com outro cidadão, tais como: direito aos benefícios sociais da Segurança Social; direito à herança; direito à reforma/Pensão do(a) parceiro(a) e outros.

As famílias nucleares continuando a estar no topo da pirâmide apresentam novos comportamentos sociais no que respeita ao modo de vida, papéis entre conjugues e educação dos filhos. Este tipo de família é na actualidade mais instável, abrangem uma percentagem da população cada vez mais pequena do ciclo de vida das pessoas. Este processo é influenciado pelo sistema de emprego no que respeita à garantia de um salário fixo e um vínculo contratual efectivo.

Os diferentes Estados membros têm, procurado soluções alternativas, nomeadamente – Suécia, com a extensão dos serviços públicos, Estados Unidos da América com a generalização do trabalho precário acompanhado de elevada mobilidade, Itália e Alemanha, com adaptações inovadoras das microempresas e de segregação doméstica das mulheres.

      

A flexibilidade, precariedade, empregos com baixos salários, afectam cada vez mais a estabilidade de vida familiar e as formas de integração social, promovendo pelo contrário desintegração e desprotecção social.

Actualmente em Portugal confrontamo-nos com um novo marco no que respeita à estabilidade da vida familiar influenciado pela lei actual do Trabalho em matéria de prolongamento do tempo de trabalho e por outro lado pelo tempo de esperança de vida. Neste quadro social, político e económico assistimos à utilização mais efectiva da comunidade local, da solidariedade familiar ou das relações de vizinhança, contrapostos com os contextos sociais, culturais e étnicos, cujos cidadãos apresentam aspirações de custos de vida elevados e de mobilidade social. Identificamos neste quadro o papel e atribuições das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens no que respeita à sua modalidade alargada Lei nº 147/99, art.º 17º, 18º e 19º).

As transformações sócio demográficas também contribuem para a instabilidade familiar e em particular na família nuclear. Entram na análise e leitura do problema as variáveis relacionadas com a baixa taxa de fertilidade e a instabilidade do casamento, provocando alterações no interface entre o apoio familiar e a vida profissional.

As famílias nucleares, baseadas no casal com filhos pequenos ocupam uma percentagem cada vez menor do ciclo de vida, porque estas constituem cada vez mais uma parcela decrescente da população. A redução da taxa de fertilidade enfraquece as redes de parentesco, aumentando o recurso ao estabelecimento de microempresas do tipo familiar. Assistimos, à crescente heterogeneidade e diversidade do tipo de famílias, com o aumento das famílias monoparentais, das famílias reconstituídas e de pessoas que vivem sozinhas.

Neste quadro, temos famílias que vivem de um único salário, outras de vários salários e outras que estão excluídas do trabalho e estão obrigadas a recorrer à assistência do Estado.