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O significado da palavra família no sentido popular e nos dicionários é “pessoas aparentadas que vivem em geral na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos. Ou ainda pessoas de mesmo sangue, ascendência, linhagem, estirpe ou admitidos por adoção” (PRADO, 1988, p. 7).

Para Saraiva de Loreto (2000), família é a unidade de pessoas íntimas ou unidas entre si, que sejam interdependentes e compartilhem valores, metas, recursos, responsabilidade e decisões, tendo comprometimento uns com os outros, ao longo do tempo.

Muitas são as definições de família, fato ocasionado principalmente pelo momento caracterizado por discussões em relação a uma “crise” instaurada na unidade familiar, crise essa que se fez presente devido às sucessivas mudanças em torno de sua constituição inicial ou modelo nuclear. Singly (2007, p. 9) acredita que essa crise é fruto da “baixa taxa de fecundidade, do aumento da esperança de vida e, consequentemente, da crescente proporção da população de mais de 60 anos, mas, também, do declínio da instituição do casamento e da espraiada aceitação social do divorcio”. Porém, o autor afirma não se tratar de um enfraquecimento da instituição familiar, e sim do surgimento de novos modelos familiares provenientes da adequação das famílias aos fenômenos sociais que perpassam, “sobretudo, das transformações nas relações de gênero, que se exprimem através do maior controle de natalidade, da inserção intensiva da mulher no mercado de trabalho, das mudanças ocorridas na esfera da sexualidade, entre outros fatores” (SINGLY, 2007, p. 9).

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Segundo Carvalho et al. (2002, p. 24, 25) o contexto histórico de família é baseado “na hierarquia, subordinação, poder e obediência” estando a figura masculina no topo e onde se delimita o mundo externo como espaço masculino e a casa como espaço feminino. As famílias que não se enquadram nesse contexto “são consideradas ‘incompletas’ e ‘desestruturadas’” e comumente associadas a problemas emocionais, delinquência e fracasso escolar. A autora afirma haver um modelo familiar tido como o “certo” imposto pela mídia, por profissionais e por instituições, os que não conseguem seguir o modelo convivem com a “sensação de ser ‘diferente’, ‘menos do que’ e ‘incompetente’”.

Porém, o que se vê são famílias criando uma “cultura” própria “com seus códigos, com uma síntese própria para comunicar-se e interpretar comunicações, com suas regras, ritos e jogos”, cercados de significados visíveis nas ações do cotidiano, e que devem ser “interpretadas num contexto de emoções entrelaçadas com o crivo dos códigos pessoais, familiares e culturais mais amplos. Tais emoções e interpretações geram ações que vão formando um enredo cuja trama compõe o universo do mundo familiar” (CARVALHO et al., 2002, p. 25).

Para Wagner et al. (2011, p. 20) já não existe parâmetros para definir de forma precisa o conceito de família, nem sua composição e funcionamento, sendo de vital importância um conhecimento mais profundo das famílias atuais, visto que “as mudanças ocorridas na estrutura e configuração familiar estão diretamente relacionadas com a evolução da sociedade e vice-versa”.

De acordo com Wagner et al. (2011, p. 23) “é importante desconstruir a ideia de que a configuração determina a estrutura da família. Isto é, que famílias monoparentais, recasadas, homoafetivas, entre outras, possuem um funcionamento típico devido a sua composição” e acrescenta que a configuração familiar não explica as formas de funcionamento da unidade doméstica, tendo essa uma hierarquia bem nítida que encontra dificuldades para manter bons níveis de funcionamento e saúde familiar. Assim, a autora trata a estrutura familiar como um sistema, ou seja, “pode ser compreendido como um grupo de pessoas que interagem a partir de vínculos afetivos, consanguíneos, políticos, entre outros, que estabelece uma rede infinita de comunicação e mútua influência”.

Para Montali (1990) ao se estudar família é importante conhecer o ciclo de desenvolvimento em que essa se encontra. Isso porque,

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[...] os diferentes momentos da trajetória de vida da família articulam nos núcleos domésticos composição familiar distinta e situações individuais heterogêneas, tanto no que se refere a seus lugares na família, como no enfrentamento de barreiras de natureza objetiva e simbólica para inserção no mercado de trabalho, dentre outras especificidades (MONTALI, 1990, p.60).

Montali (1990, p. 59) acrescenta que o ciclo de desenvolvimento da família “oferece como possibilidades, além de incorporar a dimensão temporal, a de estabelecer elos entre a dinâmica interna da família e o contexto social”. Oliveira (1982) apud Montali (1990) afirma que o conceito de ciclo de vida possibilita visualizar a evolução da família por meio de uma sequência de fases que correspondem a mudanças expressivas na sua composição e dinâmica internas.

O referido autor considera os seguintes ciclos de vida da família: fase de formação, constituída pelo casal sem filhos ou com filhos menores de 12 anos; fase intermediária ou de maturação, presença de filhos adolescentes maiores de 12 anos; fase de dispersão, caracterizada pelo casal com filhos maiores de 18 anos e parte deles fora de casa.

Já Cerveny e Berthoud (1997) propõem uma nova forma de categorizar o ciclo de vida da família, sendo essa proposta comprovada e analisada por uma pesquisa com 1.105 famílias da classe média paulista nos anos de 1996/1997. Essa nova categorização é composta pela família na fase de aquisição que compreende o nascimento da família pela união formal ou informal, chegada do primeiro filho e convivência com os filhos pequenos; família na fase adolescente, momento em que pais e filhos vivem a adolescência; família na fase madura que se inicia quando os filhos atingem a idade adulta; família na fase última caracterizada pelo envelhecimento dos pais e mudanças na estrutura familiar.

Considera-se que o ciclo de vida da família interfere na tomada de decisão, distribuição de tarefas, estabelecimento de prioridades, inserção e permanência no mercado de trabalho, aquisição de bens e em outras esferas que envolvem a família como um todo ou seus membros de forma individual.

Dessa forma, as famílias desenvolvem-se de muitas maneiras, por meio de valores e crenças sociais, que originam as normas que as auxiliam na criação dos filhos. Seus membros individuais estão em constante desenvolvimento, biológico e psicológico, e essas áreas de desenvolvimento são afetadas e afetam o desenvolvimento da família. Portanto, a família não é um sistema isolado, pois

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interage com o meio assim como é influenciada pelo mesmo. Ela constitui a unidade doméstica, que é uma unidade social que reúne e partilha recursos com a finalidade de satisfazer as necessidades e o bem estar dos seus membros. Para o atendimento de suas necessidades básicas, seus objetivos e suas metas, as famílias procuram administrar seus recursos materiais e humanos, sejam eles internos ou extrafamiliares, visando, em última instância, a melhoria da qualidade de vida do sistema familiar.

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