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1.4. A rede social

1.4.2. A família

No entender de Pimentel (2005, p.67), a família surge como “a rede alargada de parentes, como um grupo de parentes com os quais o idoso mantém um conjunto de trocas e interacções mais ou menos intensas”. Os parentes são os indivíduos com os quais o idoso se relaciona por laços de sangue ou aliança, embora, em determinados casos, se possa incluir pessoas que estão apenas próximas afectivamente do idoso (afilhados). Torna-se, assim, pertinente, clarificar o conceito de rede de parentesco objectivo, que é composta por todos os parentes que o idoso identifica como pertencentes à sua árvore genealógica, e a rede de parentesco subjectivo, que

inclui os parentes com os quais o idoso mantém interacções mais próximas e intensas e que ele vê como sendo a sua família verdadeira (Pimentel, 2005).

“A rede familiar é “involuntária” e baseada no sentido da obrigação” (Litwak, 1981, in Paúl, 2005, p.287).

Pimentel (2005) identifica o tipo de trocas mais frequentes entre os elementos das redes de parentesco recorrendo a uma tipologia proposta por Finch (1989): apoio económico, habitação, cuidados pessoais, pequenas ajudas e cuidar de crianças, apoio emocional e moral.

No entanto, a imagem do idoso só, abandonado e sem recursos, tem vindo a tornar-se comum. “Mas, a par desta imagem, vulgarizou-se também a ideia de que, há alguns anos atrás, quando a família era uma instituição forte e estável, o idoso não era alvo de discriminação e de abandono” (Pimentel, 2005, p.33).

Segundo Pimentel (2005), o cenário ideal para qualquer idoso que pretenda viver de forma equilibrada e sem grandes descontinuidades é a permanência no meio familiar e social, mesmo porque o apoio dado pelos familiares e/ ou amigos é, geralmente, o mais adequado às necessidades de cada indivíduo.

A família é, geralmente, o centro do apoio recebido e prestado, mas o seu carácter “não voluntário” tem, por vezes, efeitos complexos e mesmo negativos na qualidade de vida dos idosos (Paúl, 2005).

No seu estudo, Pimentel (2005) concluiu que, por vezes, existe uma relação de conflito com os filhos que leva a que os idosos estabeleçam relações mais intensas com outros membros da família.

“O cuidado familiar prestado a idosos continua a ser de extrema importância para o bem-estar dos mais velhos, mesmo nas sociedades desenvolvidas actuais, onde

continua a ser a família a assumir a imensa maioria das tarefas de apoio” (Tennstedt & Mckinlay, 1989, in Paúl, 2005, p.283).

Mas, embora a família ocupe um lugar privilegiado no contexto da sociedade- providência, é importante não esquecer os condicionalismos a que esta está sujeita actualmente. Hoje, a família rege-se por valores como a autonomia e individualismo, estando a realização pessoal e a privacidade em primeiro lugar. Por outro lado, há alguns factores estruturais que não permitem que as relações familiares e sociais se desenvolvam (Treas & Bengston, 1978, in Pimentel, 2005): a mobilidade geográfica e social favorece o afastamento entre os membros da família; as condições materiais precárias que levam a que as famílias habitem em casas pequenas não permite, muitas vezes, a coexistência de várias gerações no mesmo agregado; a nova condição da mulher, que entrou para o mundo do trabalho, conduziu a uma menor disponibilidade para tarefas relacionadas com a vida doméstica.

A partir do momento em que o declínio da família se estendeu para as relações intergeracionais, verificou-se que a família deixou de poder atender às necessidades dos idosos, perdendo, assim, a sua função anterior.

Na opinião de Ogburn (1938), o declínio da co-residência intergeracional assinalou o declínio da função da família como uma fonte de segurança na velhice (Silverstein & Bengston, 1997).

Por outro lado, os sociólogos da família sugeriram que a família mantém a coesão intergeracional, através da comunicação e tecnologias modernas de transporte que permitem o contacto, apesar das forças centrífugas de distância social que os membros da família têm (Bengtson & Black, 1973; Litwak, 1960; Sussman & Burchinal, 1962; Troll, 1971;).

Desenvolveu-se, assim, uma teoria da solidariedade entre pais e filhos durante a vida adulta da família. Apresentam uma taxonomia de seis dimensões de coesão familiar intergeracional, reflectindo contribuições conceptuais da teoria social clássica, psicologia social e sociologia da família.

Uma pesquisa permitiu codificar seis principais dimensões da solidariedade entre gerações (Bengtson & Schrader, 1982; Roberts, Richards & Bengtson, 1991). Estas dimensões incluem: a solidariedade estrutural (factores como a distância geográfica podem restringir ou reforçar a interacção entre os membros da família); solidariedade associativa (frequência de contacto social e actividades compartilhadas entre os membros da família); solidariedade emocional (sentimentos de proximidade emocional, afirmação e intimidade entre os membros da família); solidariedade consensual (real ou percebida em acordo de opiniões, valores e estilos de vida entre os membros da família), solidariedade funcional (intercâmbio de assistência instrumental e financeira e de apoio entre os membros da família ); e solidariedade normativa (força de obrigação sentida em relação a outros membros da família) (Bengston & Roberts, 1991).

Almeida et al. (1998, in Pimentel, 2005) referem que se regista actualmente uma redução contínua da dimensão dos agregados domésticos, a par de um grande número de famílias complexas, estando a fecundidade a sofrer um declínio; também as taxas de divórcio, casamentos civis, uniões livres e filhos fora do casamento, têm vindo a aumentar. Estes fenómenos, em conjunto com o aumento da esperança de vida e decisão de muitos jovens de viverem sozinhos, originam um aumento do número de agregados domésticos superior ao crescimento da população.

De acordo com os dados do INE, a repartição de pessoas que viviam sós em 2001, por grupos etários e sexos, demonstra que 54% tinham 65 ou mais anos, sendo a proporção de mulheres (42,4%) superior à dos homens (12,1%); 39,7% enquadravam- se na faixa etária dos 65-79 anos (31,0% de mulheres e 8,7% de homens); 14,7% tinham 80 ou mais anos (11,4% de mulheres e 3,3% de homens). Mais de metade (50,1%) de pessoas que viviam sós encontrava-se no estado civil de “viúvo” (40,8% de mulheres e 9,3% de homens); dos 40,8% de mulheres viúvas que viviam sós, 8,0% tinham 65 ou mais anos. É, assim, de destacar a proporção superior de mulheres a viver sós, sobretudo idosas reformadas e viúvas (Magalhães, 2003).

“Os resultados de estudos elaborados especificamente para a população idosa revelam que os agregados constituídos por idosos a viver sós registam as taxas mais elevadas de pobreza” (INE, 2002).

Note-se que o aparecimento dos agentes especializados levou a família a desresponsabilizar-se, embora alguns familiares apresentem “como razões para cuidar dos pais ou parentes idosos um misto de dever, obrigação, amor e afecto” (Pimentel, 2005, p.73). Nota-se, de qualquer forma, uma maior intervenção das instituições públicas numa área que era basicamente da responsabilidade da família, uma vez que quando o idoso precisa de uma ajuda efectiva há necessidade, por parte das famílias, de recorrer a alternativas institucionais.

Assim, e com o objectivo de melhorar as condições de vida dos idosos cujas redes de solidariedade primárias são inexistentes ou insuficientes, o Estado tem criado um conjunto de serviços e equipamentos, de forma a abranger as diferentes necessidades e níveis de carência. Os lares de terceira idade têm sido os equipamentos de maior implementação, tendo sido durante muito tempo a única possibilidade de

apoio formal. O conhecimento de que o internamento trazia um corte radical do idoso com o meio e mesmo um sentimento profundo de solidão, deu origem à criação de estruturas e serviços de âmbito comunitário que visam facilitar o quotidiano dos idosos e dos seus familiares, retardando ou evitando o recurso à institucionalização: centros de dia, serviços de apoio domiciliário, acolhimento familiar, centros de convívio (Pimentel, 2005).

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