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A fama alcança o território nacional

No documento paulodeoliveirarodriguesjunior (páginas 87-92)

1. E NASCE O MISS BRASIL GAY

1.6. A fama alcança o território nacional

Na caminhada para o final dos anos 2000, o ano de 2009 seria marcante para a história do Miss Brasil Gay. A notoriedade do concurso já tinha se estabelecido nacionalmente. Contudo, não poderíamos dizer que teria em termos de importância ultrapassaria eventos LGBTQ+ como a Parada do Orgulho da capital paulista ou do Rio de Janeiro. Era algo importante, porém restrito a drag queens e transformistas que disputavam entre si as premiações de beleza e acabava por arrastar suas comitivas. Desde 2007, como aponta o pesquisador Marcelo C. Rodrigues, a cobertura jornalística ao evento se alastrava, chegando a

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150 jornalistas credenciados e a gravação do programa Pânico na TV, da emissora RedeTV!, no evento, que foi ao ar no dia 18 de agosto de 2007.152

Do adiamento da data de agosto para novembro devido a um surto de gripe A (gripe suína/H1N1), tudo mudou para o concurso. Enquanto a ganhadora do Miss Brasil Gay em 2009, Ava Simões, representante do Espírito Santo, cedia uma entrevista para a filial do canal de televisão SBT, a TV Alterosa, ela teve sua peruca e a coroa arrancadas pela miss do estado de São Paulo, causando uma bagunça no backstage do evento, com gritaria e agressões. O mais interessante na construção da própria reportagem é a fala da jornalista que pontua e provoca:

(...) nossa equipe gravava uma entrevista exclusiva com ela quando houve o ataque. A candidata de São Paulo chega por trás e arranca a peruca e a coroa de Ava. Veja de novo a cara de raiva da derrotada (grifo nosso) ao cometer a violência. O palco vira um cenário de guerra (...)153

O modo que a jornalista profere a palavra derrotada para se referir à candidata de São Paulo e a repetição da cena para que o público enxergasse a cara de raiva nos propõe a pensar mais numa questão cômica do que de violência à situação sofrida pela Miss Espírito Santo. De modo que após todo o alvoroço, ela aparece cercada de seguranças, recomposta e dizendo que com ou sem coroa, ela era a Miss Brasil Gay.

O Tribuna de Minas estampa na sua capa o ocorrido como vemos na imagem 19 a foto do momento em que a peruca foi arrancada. Na edição da semana seguinte ao evento, o acontecido ainda reverberava. No dia 18 de novembro de 2009, o artista Bello cria uma charge satirizando com caricaturas das misses o ocorrido e nomeando a vencedora de “Miss Gana”, um jogo de palavras e sons para dizer “me esgana”.

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RODRIGUES, M. C. Miss Brasil Gay, polêmica na passarela: eventos como instrumento de comunicação

alternativa. Dissertação (Mestre em Comunicação Social). Faculdade de Comunicação da Universidade Federal

de Juiz de Fora. 2008, p. 129. 153

87 Figura 23. Charge criada pelo artista Bello para o Tribuna de Minas sobre a polêmica no Miss Brasil Gay. 18 de

novembro de 2009.

Fonte: Tribuna de Minas. Acervo da Biblioteca Municipal Murilo Mendes.

Em 2010, o organizador do evento, Marcelo do Carmo, relatou ao Tribuna de que cerca de 120 jornalistas de diversas emissoras haviam se credenciado para acompanhar o Miss Brasil Gay e que o ator global Miguel Falabella estaria no corpo de jurados, uma maneira de dar maior visibilidade ao evento. Os principais programas esperados seriam todos inclinados para o humor: o CQC, da emissora Band; o Casseta&Planeta, da Rede Globo; e o Pânico na

TV, na época, RedeTV!.154 Entretanto, posterior ao evento, o jornal Tribuna de Minas

noticiaria que apenas o programa da Eliana, do SBT e o Pânico na TV estavam presentes e que Miguel Falabella não pode comparecer.155 Aqui desconfiamos de algumas estratégias adotadas pelo concurso para atrair os olhos das pessoas a ele. Não seria a primeira vez que eles lançam o nome de atores e atrizes famosos para dar uma ansiedade quanto ao concurso. Quando Tônia Carrero e Roberta Close faziam sucesso e eram capas das principais revistas, a organização do Miss Brasil Gay lançou seus nomes como convidadas especiais e no dia nenhuma notícia ou foto era divulgada sobre elas, pois, provavelmente, elas não apareceram, o que nos leva a pensar que, ainda que houvesse os convites, a aceitação delas pouco importava, o importante era divulgar os nomes.

A mídia juiz-forana a partir desta década participou incisivamente nos eventos LGBTQ+ da cidade. Em relação ao Miss Brasil Gay, que já vinha dividindo seu espaço nas

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Tribuna de Minas. O povo quer brilho. Caderno Dois. 14 de agosto de 2010, p. 1. 155

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páginas do jornal com a Rainbow Fest, a cobertura tentava aprofundar nos mínimos detalhes do evento, trazendo fotos e reportagens sobre personagens do concurso, como por exemplo, o próprio fundador, Chiquinho Motta. As próprias chamadas das notícias já figuravam o papel do jornal em sedimentar uma imagem potente e grande do evento: “Grandiosidade e purpurina”156, “Vitória do glamour e da irreverência”157, “A noite é das ‘Divas’”158

. De tal modo como os anos de 1990 é marcado pela ascensão das drag queens e de muitas vezes elas representarem toda a euforia do Miss Brasil Gay, o decênio de 2000, as próprias misses vão se tornar os sujeitos principais do concurso, estampando as matérias relacionados ao evento.

À vista disso, observamos nas imagens abaixo o desdobramento das informações relacionadas do Miss Brasil Gay, que ultrapassam o dia do evento e narram toda a programação que envolve o concurso, apresentando fotografias e a programação. Na figura 24, a foto da miss ganhadora encontra-se em ampliada e individualizada, evidenciando seu vestido e sua produção como mulher. A matéria também traz todas as misses juntas, dando visibilidade, principalmente, ao glamour daqueles trajes que sempre eram notícia devido ao preço que custavam. Também, em ambas as imagens (figuras 24 e 25), as fotos dos artistas famosos como parte do júri (a cantora Preta Gil e a ex-apresentadora e atriz Adriane Galisteu, respectivamente) compõe a notícia no intuito de dar um tom de importância ao evento, já que pessoas da televisão se encontravam no mesmo ambiente.

156

Tribuna de Minas. Grandiosidade e Purpurina. Caderno Dois. 23 de agosto de 2005, p. 1. 157

Tribuna de Minas. Vitória do glamour e da irreverência. Caderno Dois, 29 de agosto de 2006, p.1 158

89 Figura 26. Detalhe das reportagens das figuras 24 e 25. Preta Gil no lado esquerdo e Adriane Galisteu, de

vermelho, na imagem ao lado.

Fonte: Tribuna de Minas. Acervo da Biblioteca Municipal Murilo Mendes.

Ainda na figura 25, vemos que o repertório das festas relacionadas ao Miss Gay aumentaria. Uma exposição com as roupas de Chiquinho Motta (ou Mademoiselle Debret Le Blanc) ilustrava a página do Tribuna de Minas, juntamente com uma festa de almoço no dia após o concurso. Em 2010, a agenda LGBTQ+ na cidade de Juiz de Fora se consolidava como

Figura 25. Todos os detalhes do evento que a

cada ano crescia na cidade. 14 de agosto de 2007, p. 1

Figura 24. A página principal do caderno de

cultura estampa uma vasta matéria sobre o Miss

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uma parte do calendário municipal. Com uma Parada do Orgulho LGBTQ+ que alcançava entre 70 a 100 mil pessoas, trocas mútuas entre o Miss Brasil Gay e os eventos paralelos transformaram a cidade numa capital gay, como muitas vezes noticiado pelos próprios jornais.159

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