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3.2 O P ROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE R EFORMA A GRÁRIA

3.2.2 Fase II Análise Técnica

Esta fase desenvolve-se internamente na Divisão Técnica e também em campo. O núcleo desta fase é a elaboração do Laudo Agronômico de Fiscalização que consiste em levantamentos de informações e dados sobre a exploração agrícola realizada no imóvel selecionado.

Estão previstos os seguintes passos:

QUADRO 2 – FASE II - ANÁLISE TÉCNICA -

Passos Duração

(em dias)

4. Notificação do proprietário; 10

5. Realização da Vistoria de Fiscalização; 5

6. Elaboração do Laudo de Fiscalização: 15

7. Se improdutivo (processo prossegue); 1

8. Se produtivo (processo encerra) 1

9. Comunicação ao Proprietário (aguarda o recurso); 15 10. Desbloqueio do Cadastro, resultado é produtivo; 1 11. Acolhimento de recurso administrativo do proprietário; 1

12. Análise do recurso pela Equipe Técnica; 2

13. Análise pela Procuradoria Jurídica; 5

14. Parecer da Divisão Técnica sobre o recurso; 1

15. Comitê de Decisão Regional – CDR, para decisão sobre o recurso do

proprietário; 3

16. Recurso deferido, processo encerra. 1

17. Recurso indeferido, o processo prossegue o seu curso. 1

Esta fase apresenta características peculiares porque envolve o enquadramento da propriedade enquanto cumpridora ou não da função social. Por exemplo, a notificação do proprietário, dos passos iniciais do processo de desapropriação, é aquele onde surgem, da parte desses proprietários, muitos questionamentos.

São querelas jurídicas sobre a inviolabilidade do direito de propriedade, manifestações passionais, políticas e, quando não, ideológicas na tentativa de impedir a

realização do trabalho do órgão de terras. Isto porque, não aceitando serem fiscalizados, os proprietários evitam ser notificados, escondem-se, homiziam-se em outras propriedades, cidades etc, no afã de ludibriar a notificação e conseguir posteriormente, na justiça, a anulação dos atos do INCRA por não ter sido notificado corretamente.

A notificação está prevista na Lei 8.629/93, em seu artigo 2º que diz no parágrafo 2º o seguinte:

“Para os fins deste artigo, fica a União, através do órgão federal competente, autorizada a ingressar no imóvel de propriedade particular para levantamento de dados e informações, mediante prévia comunicação escrita ao proprietário, preposto ou seu representante”. (grifamos).

A razão da notificação, segundo alguns juristas, é a garantia do princípio do contraditório e da ampla defesa que constam da Constituição Federal artigo 5º, item LV, embora o levantamento preliminar não produza nenhuma lesão ao direito do proprietário. Dessa forma, ele não pode se opor ao ingresso dos técnicos na propriedade porque estes estão amparados na lei.

Quando não é encontrado o proprietário, a mesma lei, através do parágrafo 3º permite a notificação por edital “em jornal de grande circulação na capital do Estado de localização do imóvel”. É preciso esclarecer que esse parágrafo não constava da edição original dessa Lei. Foi introduzido por Medida Provisória em 2001, ou seja, nove anos após sua promulgação.

Uma vez notificado o proprietário, o órgão federal de terras, ou ainda, o órgão estadual que por convênio com o órgão federal esteja apto a realizar o trabalho, poderá realizar os levantamentos previstos que irão reunir informações e dados sobre as condições técnicas em que se acham a exploração agropecuária no imóvel.

O objetivo desse levantamento é, já o dissemos, a elaboração do Relatório Agronômico de Fiscalização, peça técnica fundamental para o enquadramento da propriedade nos termos da Constituição Federal e da Lei 8.629, ou seja, na determinação e classificação da propriedade em produtiva ou improdutiva.

Esse enquadramento é regido pela Lei 8.629/93 que estabelece no seu artigo 6º os critérios para considerar-se a propriedade produtiva quando ela atinge, simultaneamente, os graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo os índices fixados pelo órgão competente. Para tanto, estabelece os graus de comparação dos índices, ou seja:

“§ 1º O grau de utilização da terra, ..., deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total do imóvel”.

“§ 2º O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e será obtido de acordo com a seguinte sistemática:

I – para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea;

II – para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea;

III – a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamente utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração.” (grifamos)

Aqui, em geral, é onde ocorre o fulcro da discordância do proprietário. O levantamento de dados e informações realizado na vistoria de fiscalização é utilizado para a realização desses cálculos. É contra essa metodologia que os proprietários insurgem-se, alegam, por exemplo, que não foram consideradas as produções em áreas suscetíveis de restrições, como por exemplo, as de proteção permanente e reserva legal.

Enfim, uma sucessão de argumentos técnicos, quanto ao rendimento dos fatores envolvidos, sejam animais ou vegetais, a quantidade de terra utilizada para a produção, o controle e o domínio dessas terras, a pertinência na execução de projetos que não foram apresentados no momento da vistoria etc. Essa é uma questão que necessitaria um aprofundamento, tendo em vista que os parâmetros técnicos de rendimento das

Microrregiões Homogêneas foram alterados sobremaneira nos últimos vinte anos, principalmente considerando-se o padrão tecnológico adotado desde então.

Dessa forma, se os atuais parâmetros ou índices de rendimento estão defasados e considerando que os imóveis são analisados por esses índices, as propriedades assim consideradas improdutivas o seriam mais ainda, na eventual atualização dos índices de rendimento para valores maiores. Por isso, é a prática dos latifundiários quando recorrem nesse item, a sustentação de que os parâmetros ou índices utilizados não são os mais adequados para serem utilizados para a sua propriedade, chegando ao absurdo de inventarem um índice que a atenda especificamente.21.

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