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SUMÁRIO

O MOVIMENTO ARMORIAL

4 Atores sociais são pessoas, grupos ou instituições que exercem um papel histórico num determinado contexto.

1.2.2 Fase Experimental (1970 a 1975)

Em 1970, surge oficialmente o Movimento Armorial juntamente com a Orquestra Armorial de Câmara e o primeiro Quinteto Armorial, que Suassuna denominou de Quinteto Primitivo. Nessa época, a literatura também foi uma atividade que atraiu novos adeptos para o Movimento devido às primeiras publicações de jovens poetas da Geração de 65 na revista Estudos Universitários, da UFPE. A esse respeito, o teatrólogo José Antunes Filho (n. 1929) comenta:

Suassuna é isso. Independentemente de suas ideologias, que não me interessam. O que eu quero saber é o seguinte: Suassuna conseguiu, no Armorial, fazer com

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15 Fundado em 1946 por Ariano Suassuna, Hermilo Borba Filho, Capiba, Aloísio Magalhães, entre outros, foi

transformado num lugar de experiências, descobertas e criações artísticas, onde o compromisso seria selado com a cultura popular nordestina. (SANTOS, 1999).

perfeição a síntese do popular e do erudito. E toda obra teatral precisa ser popular. (ANTUNES FILHO, 2006, p. 19).

Antunes Filho (2006) fala da importância da obra O Romance d’A Pedra do Reino, de Suassuna, para a literatura brasileira. Ele também comenta sobre Quaderna, que é o herói desse romance, comparando-o com Macunaíma e Policarpo Quaresma, além de ter sido o responsável por adaptar essa obra aos palcos. Suassuna lançou o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta em 1971, obra que estava sendo escrita desde 1958 e que esgotou em três edições sucessivas. Sobre essa obra, Bráulio Tavares (2007) comenta que “é provavelmente o romance de toda a literatura brasileira que possui o maior número de pontos de exclamação”. Na nota de apresentação do Romance, Rachel de Queiroz declara:

Só comparo o Suassuna no Brasil, a dois sujeitos: a Villa-Lobos e a Portinari. Neles a força do artista obra o milagre da integração do material popular com o material erudito, juntando lembrança, tradição e vivência, com o toque pessoal de originalidade e improvisação. [...] É a sintaxe tradicional, poético-coloquial- -declamatório-literária a que recorrem os cantadores e repentistas e os contadores de romances – naturalmente transfigurada pelo trato que Suassuna lhe dá. [...]. Pois o que há principalmente n’A Pedra do Reino é uma força de paixão, uma gana de recaptura, dentro do elemento criador. (QUEIROZ, 2004, p. 16-17).

Quando Suassuna deixa o Departamento de Extensão Cultural da UFPE, em 1974, lança o livro “O Movimento Armorial” pela Editora Universitária, recebendo a contribuição de outros artistas e escritores nordestinos, artistas esses que já trabalhavam em torno da cultura local. Na bibliografia existente a respeito do Movimento Armorial, esse livro, na opinião desta autora, é um dos mais importantes, pois, nele, Suassuna esboça todo o pensamento armorial em relação às áreas artísticas contempladas pelo Movimento. (SUASSUNA, 1974). Sobre esse livro, Armando Samico comenta:

Um trabalho desse porte havia de merecer sempre todo apoio da Universidade Federal de Pernambuco, como teve no Reitorado do Professor MURILO HUMBERTO DE B. GUIMARÃES e continua tendo sua égide do Reitorado do Professor MARCIONILO DE BARROS LINS. Nesta plaqueta, lançada nas comemorações do 3.º aniversário do Reitorado do Prof. Marcionilo de Barros Lins, pretende a Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários, por seu Departamento de Extensão Cultural apenas fixar, em linhas gerais, atividades daquele Movimento para que, com um disco em lançamento pelo QUINTETO ARMORIAL, possa oferecer uma imagem de sua participação na pesquisa, no amparo, na defesa e na difusão da cultura de um povo, em sua forma mais simples e bela. (SAMICO apud SUASSUNA, 1974, p. 6).

No período de 1975 a 1978, Suassuna assumiu a pasta da Secretaria de Cultura de Pernambuco, ressaltando seu perfil de engajamento político com a gestão de políticas culturais. Segundo Rodrigues apud Santos (1999, p. 29-30):

Se o período 1970-1975 representa uma fase importante na história do movimento, é também um momento de evolução criadora dos escritores e artistas que participaram do seu renome e que lhe deram vida e forma. Mas os caminhos vão divergindo e, depois de 1975, as diferenças acentuam-se.

A fase experimental envolveu, ao mesmo tempo, movimentos de criação e expansão, assim como de restrição. Se, de um lado, significou o lançamento oficial do movimento com importantes construções coletivas e individuais, de outro, devido aos conflitos, explicitaram- -se dissidências e, com elas, afastamentos por distintas razões.

A respeito dessa fase, Newton Júnior (1990) cita esta declaração feita por Suassuna:

Foi assinalada por algumas iniciativas marcantes e de excelente resultado. Outras falharam por diversos motivos, o principal dos quais foi o fato de que, na primeira fase, eu tive que começar várias coisas de qualquer maneira, fechando deliberadamente os olhos para certos adesismos, improvisações, artificialismos e equívocos, algumas vezes graves. Mas um Movimento é assim mesmo: isso era, e é, inevitável; e, em compensação, tivemos também, nessa primeira fase algumas realizações positivas, que foram importantíssimas para a cultura brasileira em geral e para o Movimento em particular. Bastaria o aparecimento de Antônio José Madureira, do Quinteto Armorial e da Orquestra Romançal Brasileira para justificar todo o resto do trabalho. Não esquecer, por outro lado, que Gilvan Samico prestigiou o Movimento, que se engrandeceu com seu nome, respeitado por todo mundo. O tempo vai depurando tudo: uns deixam o Movimento porque, de fato, nunca se interessaram verdadeiramente pela Cultura brasileira; outros porque, mais sensíveis às modas e às críticas, resolveram tomar outros caminhos; outros, porque têm o temperamento mais solitário; e assim por diante. (SUASSUNA apud NEWTON JÚNIOR, 1990, p. 136-137).

A respeito dessa fase, é importante ressaltar que foi a época de inauguração do Movimento e também de estreia da Música Armorial (v. figuras B.3 e B.4, p. 134 e 135), numa excursão de grande repercussão nacional (v. figuras B.7 a B.16, p. 138-147), mas que foi finalizada em razão de algumas divergências entre Suassuna e o Diretor Artístico da Orquestra Armorial de Câmara, o violinista Cussy de Almeida.