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CAPÍTULO 3 METODOLOGIA

3.2. Estudo I – Exploratório e qualitativo

3.2.2. Fase 2 Nominal Group Technique

Pela necessidade de sistematizar, clarificar e priorizar parte da informação recolhida na fase anterior, recorreu-se também a entrevistas grupais mas agora num

80 formato bastante mais estruturado como a Nominal Group Technique (NGT), no sentido de obter informação estruturada e ordenada por prioridades face às questões colocadas pelo investigador (Macphail, 2001).

Esta técnica favorece a participação de todos os elementos do grupo, minimizando a influência do moderador (Ginsburg et al, 2002b). Pode evitar uma das possíveis desvantagens do focus group no que diz respeito à liderança da discussão por alguns elementos do grupo, impedindo outros de expressarem a sua opinião. A NGT descrita por Van de Ven & Delbecq (1972) é um processo de tomada de decisão em grupo que permite a expressão das ideias dos diferentes elementos assim como a obtenção de consenso no grupo, de forma democrática, por via da estrutura e sequência de um conjunto de etapas que devem seguir-se no decorrer da reunião. Trata-se de uma discussão, bastante estruturada, em torno de um tema proposto pelo investigador.

Tem sido também uma técnica utilizada com adolescentes (Macphail, 2001), particularmente sobre questões relacionadas com a saúde e, por vezes, em associação com o focus group (e.g., Ginsburg et al., 1995; Ginsburg et al., 2002b); Laenen, 2009; Vo, Pate, Zhao, Siu & Ginsburg, 2007).

O objetivo foi o de obter informação estruturada, com clarificação de alguns indicadores, sobre as características e atitudes mais valorizadas nos profissionais de saúde pelos adolescentes.

Participantes

Nesta fase participou uma amostra com características semelhantes à da primeira fase, mantendo-se os critérios de inclusão e exclusão. Foram realizadas quatro entrevistas de grupo onde participaram 31 adolescentes organizados em quatro grupos mistos (raparigas e rapazes). Dois grupos entre os 13 e 15 anos e dois entre os 16 e 18 anos, cuja composição variou entre 6 a 9 participantes por grupo.

Sucintamente, 14 (45,2%) dos adolescentes eram rapazes e 17 (54,8) raparigas. Cerca de 55% tinham idades compreendidas entre os 13 e 15 anos e 45% entre 16 e 18 anos. Do total, cerca de 90% eram portugueses, 6,5% africanos e 3,5% ucranianos. Na sua maioria pertenciam a um nível socioeconómico médio e médio baixo, cerca de 10% dos pais e 12,9% das mães possuíam uma licenciatura. Treze (42%) dos estudantes tinham os pais divorciados. Cinco (16%) eram portadores de uma doença (fórum respiratório e oftalmológico) e 11 (35,5%) já haviam estado internados numa unidade

hospitalar, na sua maioria por motivos cirúrgicos. Todos se sentiam saudáveis, entre os quais 58% referiram sentir-se “muito ou muitíssimo saudável”. Quinze (48,4%) utilizaram os serviços de saúde no último ano, sobretudo o hospital. Quanto aos gabinetes de apoio ao aluno, apesar de existirem nestas escolas, 10 (32%) adolescentes referiram desconhecer e apenas um os tinha utilizado.

Procedimentos

No início de cada grupo seguiu-se um procedimento idêntico ao da fase anterior do estudo. Aplicou-se o mesmo questionário (apêndice A) para uma breve caracterização da amostra e um guião especificamente elaborado para a condução destas reuniões, onde constavam as orientações necessárias à sua realização (apêndice D) com uma grande questão orientadora destas discussões: “Quais as características e atitudes que vocês acham importantes num profissional de saúde?” Construiu-se material para os respetivos registos escritos solicitados, de acordo com a técnica.

Seguiram-se os passos e as orientações propostas por Van de Ven e Delbecq (1972) e descritas em vários estudos que utilizaram esta técnica (Castiglioni, Shewchuk, Willett, Heudebert & Centor, 2008; Macphail, 2001; Tuffrey-Wijne, Bernal, Butler, Hollins & Curfs, 2007).

Os autores referem um conjunto de cinco a seis etapas, que foram seguidas durante a realização dos nominal group e que passam a descrever-se. Após a introdução e a atividade “quebra-gelo foi introduzido o tema.

O moderador expôs ao grupo as questões relacionadas com o tema em discussão e os adolescentes pensaram em silêncio nas respostas às questões e registaram individualmente as suas ideias numa folha de registo preparada para o efeito. Posteriormente cada um, por sua vez, apresentou ao grupo uma das ideias que tinha escrito e, seguindo a ordem pela qual estavam sentados, foram apresentando uma a uma todas as suas ideias; o moderador ia registando a informação no quadro negro sendo visível a todos os participantes. Passou-se à discussão em grupo para clarificação das ideias obtidas; o moderador teve a preocupação de promover a participação de todos os elementos do grupo. Após a clarificação, cada elemento, individualmente e em silêncio, selecionava cinco dos aspetos que considerava mais importantes, entre a totalidade da lista obtida em grupo, e atribuía uma pontuação a cada aspeto selecionado, ordenando-os pelo grau de importância que lhes conferia.

82 Esse registo foi feito em folha de papel preparada para o efeito. A escala de tipo likert para atribuição da pontuação variava entre 1 e 5, do menos ao mais importante.

Por fim, partilhavam-se os resultados finais, mais uma vez registados no quadro negro e após discussão, na maioria dos grupos, muito participada e disputada, encontrava-se o consenso em relação ao conjunto de ideias mais importantes para o grupo em questão. Os participantes assistiam à contagem da pontuação e tinham a oportunidade de confirmar e manifestar mais uma vez a sua concordância com o resultado final.

As entrevistas decorreram nas próprias escolas dos participantes. Na abordagem das escolas e professores, na constituição dos grupos e respetivos consentimentos informados, assim como na condução da parte inicial de cada nominal group seguiram-se procedimentos idênticos aos da primeira fase do estudo.

As sessões foram gravadas em áudio com a permissão dos participantes e decorreram, em média, entre 90 e 95 minutos. No final foram distribuídos os brindes à semelhança da fase anterior.

Perante a saturação dos dados, após a realização de quatro grupos, terminou-se a recolha dos dados e passou-se à sua análise.

Tratamento e análise dos dados

Seguiram-se os métodos de análise e de cotação preconizados para esta técnica conforme clarificados em estudos que a utilizaram (e.g., Castiglioni, Shewchuk, Willett, Heudebert & Centor, 2008; Tuffrey-Wijne, Bernal, Butler, Hollins & Curfs, 2007). Um processo qual-quantitativo, conforme anteriormente descrito.

Este processo envolveu a transcrição das gravações e respetiva validação através da informação escrita pelos adolescentes. De seguida procedeu-se à organização da listagem das características e atitudes dos profissionais consideradas como mais importantes por cada grupo de adolescentes, com a respetiva cotação atribuída individualmente e validada em grupo para cada afirmação produzida. Para a atribuição de uma pontuação segundo o grau de importância foi utilizada uma escala tipo likert com cinco pontos, do menos importante (1) a muitíssimo importante (5). Construíram- se quatro quadros, um por grupo, com a informação produzida e hierarquizada por cada grupo de adolescentes. Posteriormente agruparam-se os dados por grupo etário, construindo-se um quadro com os dados produzidos e priorizados (por ordem

decrescente de pontuação) pelos adolescentes mais novos e outro pelos adolescentes mais velhos.

Síntese dos principais resultados

Nos quatro grupos nominais foi produzido um conjunto de características e atitudes valorizadas em relação aos profissionais de saúde, num total de 116 registos (53 nos dois grupos dos mais novos e 63 nos grupos dos adolescentes mais velhos).

Analisando o conjunto dos resultados dos grupos nominais verificamos que foram priorizadas 13 características pelos adolescentes mais novos e 11 pelos mais velhos, havendo seis caraterísticas comuns a todos embora com um posicionamento diferente no ranking final: ser competente/ter profissionalismo, esclarecer/explicar, ser simpático, ser compreensivo, ser atencioso, ser bem-disposto, considerando-se globalmente 18 características diferentes escolhidas e priorizadas pelos adolescentes.

Tabela 5. Características/Atitudes mais importantes nos profissionais de saúde Grupo + Novos N=17 Cotação Grupo + Velhos N=14 Cotação Ser Competente 11 72 Ter Profissionalismo 11 54 Esclarecer/linguagem

clara 9 45

Explicar de forma

clara 9 42

Ser Compreensivo 9 37 Ser Responsável 9 37

Ser Simpático 8 36 Ser Disponível 7 28

Ser Prestável 6 28 Confidencialidade

Segurança 7 29

Ser Atencioso 6 28 Ser Simpático 7 25

Ser Educado 6 26 Ser Compreensivo 5 18

Boa interação/ relação 6 27 Bom Humor/ Boa

Disposição 4 16

Ser divertido 6 18 Ter vontade de ajudar

Empenho 3 14

Mostrar interesse 4 18 Dar voto de confiança 4 15

Preocupar-se 4 18 Ser atencioso 2 7

Tratar bem /sem

arrogância 3 15

Ter postura profissional 2 8

As caraterísticas que os adolescentes valorizam vão desde a competência e experiencia profissional, à necessidade de informação e esclarecimento de dúvidas, às

84 questões relacionadas com a confidencialidade e a confiança, passando sempre por uma atitude amigável, compreensiva e facilitadora da relação.

Como já foi referido nos objetivos delineados para este primeiro estudo, os temas, categorias e subcategorias que emergiram da análise de conteúdo dos discursos dos adolescentes nos focus groups, bem como o conteúdo produzido e priorizado nos nominal groups, trouxeram um importante contributo para a construção do questionário a utilizar no segundo estudo, designadamente para a construção do conjunto de indicadores das diversas escalas que o compõem.

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