• Nenhum resultado encontrado

Fases da investigação: técnicas e instrumentos de recolha de dados

3. Metodologia

3.4. Fases da investigação: técnicas e instrumentos de recolha de dados

Uma das principais caraterísticas de uma investigação de caráter qualitativo é o investigador constituir a principal fonte de recolha de dados (Bogdan & Biklen, 1991). Assim sendo, perante uma variedade de procedimentos e técnica de recolha de dados, a escolha foi realizada tendo em conta as fases da investigação e os objetivos a que nos propusemos alcançar em cada uma delas, uma vez que, a concretização destes depende das técnicas de recolha de dados utilizadas (Aires, 2011).

64 Segundo Turato (2003), a escolha dos instrumentos de recolha de dados, dependerá dos objetivos que se pretendem alcançar com a investigação em questão e do universo a ser investigado, ou seja, terá que haver coerência entre uns e outros.

De acordo com Bogdan e Biklen (1994), Tuckman (2002) e Quivy e Campenheoudt (2003), existem três grandes grupos de métodos de recolha de dados que podem ser utilizados como fontes de informação nas investigações qualitativas: observação, inquérito, o qual pode ser oral-entrevista-ou escrito-questionário e análise de documentos. O investigador ao utilizar diferentes métodos para a recolha de dados, permite-lhe recorrer a várias perspetivas sobre a mesma situação, bem como obter informação de diferente natureza e proceder, posteriormente, a comparações entre as diversas informações, efetuando assim a triangulação da informação obtida (Igea et al,1995).

Posto isto, o quadro seguinte sintetiza os procedimentos, as técnicas e os instrumentos de recolha de dados adotados em cada fase da investigação.

Da análise do quadro 3, podemos constatar que a presente investigação se desenvolveu em duas fases, as quais sistematizamos abaixo.

1

Os registos efetuados foram registados numa folha e, ao final do dia organizava-os em forma de texto numa tabela, de modo a não me esquecer de nenhum dado.

Fases da investigação Calendarização Técnicas de recolha de dados Instrumentos de recolha de dados Fase I 7 de dezembro a 15 de dezembro de 2016 Notas de campo 121 registos do comportamento da criança na hora de acolhimento e estratégias utilizadas pelo adulto para as acolher, através de observação participante

Fase II 13 de fevereiro a 20 de fevereiro de 2016 Entrevista

Documento escrito elaborado pela educadora com as respostas às questões da entrevista

65 Assim, a fase I da investigação consubstanciou-se na recolha de dados do comportamento das crianças e estratégias utilizadas pelo adulto para as acolher no momento de transição do contexto familiar para o contexto educativo, ao longo da Prática de Ensino Supervisionada, no ano letivo 2015/2016 tendo como intervenientes a educadora/auxiliar da ação educativa, os pais e as respetivas crianças. A intervenção neste contexto teve início em outubro de 2015 e termo em janeiro de 2016, ocorrendo com a periodicidade de dois dias por semana (segunda e terça feira), no entanto, a investigação só se iniciou em dezembro. Ao longo desta fase de investigação e, procurando confrontar o máximo de reações das crianças, recorreu-se às notas de campo através da observação participante, no sentido de compreender tanto quanto possível o que se estava a passar, sem influenciar o decorrer dos acontecimentos. Os dados recolhidos durante o processo de observação participante, foram registados como mencionado anteriormente sob a forma de notas de campo que, posteriormente, foram incorporadas numa tabela21 construída para esta fase de investigação, procedendo-se à descrição dos acontecimentos/fenómenos observados, mais concretamente ao comportamento das crianças no momento de acolhimento e estratégias utilizadas pela educadora/auxiliar e à sua interpretação (Lessard-hébert, Goryette & Boutin, 2008). As notas de campo foram escritas para registar o que era visto, ouvido, experienciado e refletido durante o processo de recolha de dados (Bogdan & Biklen,1991). É de salientar que, os registos foram realizados à medida que as crianças iam chegando, havendo deste modo, distinção entre o número de registos de cada criança.

No que concerne à II fase da investigação, esta desenvolveu-se entre o dia treze e o dia vinte de fevereiro de 2016.

Na presente fase da investigação, o procedimento metodológico adotado incidiu sobre uma entrevista à educadora, de modo a conseguir recolher as opiniões, perceções e testemunhos desta relativamente à questão problema.

3.4.1.1. Observação (participante)

“Não há ciência sem observação, nem estudo cientifico sem um observador” (Pardal e Correia, 1995 p. 49)

Ora, num estudo desta natureza cremos, tal como Ludke e André (1986), que a observação é um dos instrumentos básicos para a recolha de dados na investigação

66 qualitativa. De facto, é uma técnica de recolha de dados, utilizando os sentidos, de modo a obter informação de determinados aspetos da realidade, pois “(...) permite o conhecimento direto dos fenómenos tal como eles acontecem num determinado contexto [e] ajuda a compreender os contextos, as pessoas que nele se movimentam e as suas interações” (Máximo-Esteves, 2008, p.87).

A escolha revelou-se crucial, dado que se trata de uma técnica de investigação qualitativa adequada ao nosso estudo, porque nos permite perceber, num dado meio, um fenômeno que lhe é exterior e que lhe vai permitir integrar-se nas atividades ou vivências das pessoas que nele vivem, executando desta forma o trabalho de campo (Sousa,M & Batista,C.,2011).

Neste registo, corroboramos Amendoeira (1999), ao referir que na observação participante, o investigador é o principal instrumento da investigação, sendo uma vantagem, uma vez que, se encontra disponível para recolher dados ricos e detalhados, através da observação de contextos naturais e nos quais é possível ter acesso aos conceitos que são utilizados diariamente, por se conhecer a linguagem dos intervenientes.

No que concerne a este trabalho, a observação realizada foi acompanhada de notas de campo. A este propósito Bogdan e Biklen (1994), consideram que as notas de campo passam pela “(…) descrição das pessoas, objectos, lugares, acontecimentos, actividades e conversas”, assim como, o registo de “ (…) ideias, estratégias, reflexões e palpites”, ou seja, “ (…) o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiência e pensa no decurso da recolha e reflectindo sobre os dados de um estudo qualitativo” (p.150). Corroborando Esteves (2008, p.88), cremos que as notas de campo têm como objetivo “(...) registar um pedaço da vida que ali ocorre, procurando estabelecer as ligações entre os elementos que interagem nesse contexto”. Assim, neste processo é fundamental dedicar atenção às palavras usadas por quem é observado, pois estas são imprescindíveis para compreender e interpretar os fenómenos em análise. Esta ideia vai ao encontro do que Spradley (cit. por Esteves, 2008) refere a propósito de notas de campo, já que “incluem registos detalhados, descritivos e focalizados do contexto, das pessoas (retratos), suas ações e interações (trocas, conversas), efetuados sistematicamente, respeitando a linguagem dos participantes nesse contexto” (p. 88). Assim, as notas de campo tiveram um papel fundamental ao longo das observações realizadas.

67 3.4.1.2. Entrevista

Segundo Fortin (2003), a entrevista é um dos instrumentos de recolha de dados mais utilizado na investigação, caracterizando-se por ter inerente a interação. Esta técnica “é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo” (Bogdan & Biklen, 1994, p.134).

De acordo com Sousa e Baptista (2011), este instrumento possui as seguintes caraterísticas:

• Proporciona diversidades relativamente às questões e respostas; • Maior eficácia de resposta;

• Reformulação constante;

• Papel ativo do entrevistador e oportunidade para aprofundar;

Segundo Pardal e Lopes (2011) as entrevistas podem ser estruturadas, não estruturadas e semiestruturadas.

“Nas entrevistas estruturadas, cada entrevistado responde a um conjunto de questões, preestabelecidas; nas entrevistas não estruturadas, a interação verbal entre o entrevistador e o entrevistado desenvolve-se à volta de temas ou grandes questões organizadoras do discurso, sem perguntas especificas e respostas codificadas” (Afonso, 2006, p.98). As entrevistas semiestruturadas permitem que os temas sejam abordados sem uma ordem específica por parte do entrevistador, se o entrevistado não responder a um ou mais temas das questões previamente preparadas pelo entrevistador, este deve indicar-lhe o tema (Ghiglione & Matalon,1993).

Face ao que foi dito, e atendendo aos propósitos do trabalho, optou-se por uma entrevista estruturada, a qual se aplicou à educadora. Começou-se com a elaboração de um guião 22no qual se colocaram as questões a serem realizadas e os aspetos considerados mais relevantes e potenciadores de obter informação relativamente a este assunto. Segundo Pardal & Lopes (2011), para se proceder à realização de entrevistas, o entrevistador tem que ter um conhecimento prévio do objeto de estudo, elaborar um mapa conceptual e definir variáveis.

Após a conclusão do guião, contactou-se a educadora, a qual, apesar de se mostrar logo disponível, ressalvou que a disponibilidade se circunscrevia em responder à entrevista por escrito via e-mail. Assim sendo, foi-lhe enviado o referido guião por e-mail

68 sem limite de tempo, de modo a não lhe causar pressão e deixá-la responder livremente e sem condicionalismos23. A entrevista realizada de forma online através de via e-mail é

um dos métodos utilizados para recolher informações. Apesar das vantagens que este meio nos oferece, este também possui desvantagens. Assim e, de acordo com o estudo realizado por Shepherd (2003, cit.Alves et al, 2009), as entrevistas realizadas por via e- mail apresentam algumas vantagens, nomeadamente:

• Facilitam a comunicação dos entrevistados mais tímidos; • Potencia a resposta narrativa;

• Os entrevistados não se sentem pressionados com o tempo de resposta;

• Alguns entrevistados refletem sobre o tema em questão, de forma a enriquecerem as respostas;

• O fator geográfico deixa de ser uma barreira; • Não implica a dificuldade de agendamento.

No que concerne às desvantagens, o mesmo autor, elenca as seguintes:

• O facto de os entrevistados não se sentirem pressionados, muitos deles tendem a responder de forma sucinta;

• Erros ortográficos e gramaticais; • Fraca emotividade;

• Pode perder a espontaneidade, uma vez que, as pessoas para escreverem pensam. Todavia, pode-se afirmar que, a realização de entrevistas através deste meio pode trazer vantagens para a investigação qualitativa, oferecendo assim, uma opção às tradicionais técnicas de investigação qualitativa.

Documentos relacionados