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Capítulo III – Enquadramento teórico

3.2. Fases de desenvolvimento da escrita

Tal como acontece para o desenho também na escrita a criança tem necessidade de tempo e de maturação para aprender. A apropriação da linguagem escrita é um processo complexo que envolve tanto o domínio do sistema alfabético- ortográfico como a compreensão e o uso efetivo da língua escrita em práticas sociais diversificadas.

Segundo Mata (2008), em idade pré-escolar as crianças já se apercebem e referem múltiplas funções da linguagem escrita. Conhecendo as funções da linguagem escrita, contactando com ela, a criança adquire motivação para aprender a escrever. Quando a criança é valorizada naquilo que sabe, sente mais prazer em aprender.

Ao chegar ao ensino formal, a criança possui conceções sobre o desenho e a escrita. Normalmente, já consegue diferenciar os símbolos da escrita de desenhos, O contato com diferentes suportes e tipos de textos permite que as crianças percebam que as letras não são apenas marcas no papel e sim objetos que representam alguma coisa.

A partir dos quatro anos a criança começa a diferenciar o desenho da escrita. O desenho passa a representar a forma dos objetos e a escrita representa o nome deles. Os desenhos que a criança realizava anteriormente, de acordo com o realismo intelectual, começam a não satisfazer o seu espírito crítico desenvolvido e sente-se incapaz de fazer desenhos como quereria fazer.

Até à entrada no 1º CEB, a criança deve contactar com a escrita como se esta fosse um jogo que contém regras, para desta forma a escrita deixar de ser uma representação mental e passar a ser uma representação gráfica.

Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1999) concluíram que na escrita também existem níveis de desenvolvimento na aprendizagem, apontando as autoras quatro fases:

- Pré-silábica, a criança acredita que escrever é reproduzir ou imitar os traços da escrita do adulto. Nesta etapa a criança pode ter a intenção de produzir marcas diferenciando desenhos de letras, mas a sua escrita ainda não pode funcionar como um veículo informativo.

- Silábica, a criança começa a escrever como uma produção controlada pela segmentação silábica da palavra. A escrita neste nível constitui um grande avanço e traduz-se num dos mais importantes esquemas construídos pelas crianças.

- Silábica-alfabética, a criança abandona a hipótese silábica e descobre a necessidade de fazer uma análise, que vá para além da sílaba.

- Alfabética, pode considerar-se que a criança venceu as barreiras do sistema de representação da linguagem escrita.

Segundo Frith (1984, cit. In Vidal & Manjón, 2000) podemos identificar três processos distintos e progressivos na escrita:

- a segmentação em fonemas, processo que diz respeito à consciência de que as palavras se podem segmentar em sílabas e fonemas;

- a conversão de fonemas em grafemas, a aprendizagem destas regras de conversão é um processo fundamental para a escrita nos sistemas alfabéticos;

- a escrita ortográfica, em que a criança aprende a utilizar o seu léxico ortográfico.

A aprendizagem da escrita envolve diferentes processos psicológicos e neurológicos, a escrita começa com uma ideia ou intenção de comunicar que tem origem no cérebro e finaliza num ato psicomotor.

Em termos cognitivos podemos distinguir quatro grandes processos implicados na escrita (García, 1998):

Módulo de Planificação:

Esta é a primeira etapa da escrita de um texto e é, nesta fase, que se tomam decisões acerca do objetivo e do conteúdo do que se pretende escrever. Na planificação além de se selecionarem os conteúdos também se organizam as ideias.

Módulo sintático:

A escrita de um texto exige a construção de frases tendo em conta as regras e estruturas gramaticais, que vão depender da finalidade do texto.

Módulo léxico:

Diz respeito à escolha das palavras adequadas ao tipo de texto que se pretende escrever.

Módulo motor:

Este é o módulo, que nesta investigação, mais importância terá para podermos avaliar as crianças em estudo.

Na escrita manual é necessária muita coordenação grafomotora fina para dirigir o traçado das letras e é imprescindível que os processos motores que implicam que os padrões motores das letras e os seus alógrafos estejam armazenados na memória a longo prazo e que determinam a forma, direção, sequência e tamanho dos traços das letras.

Escrever e copiar são processos completamente distintos, visto que, a cópia implica simplesmente uma atividade viso-motora que pode estar alheia a processos linguísticos simbólicos, ou seja, apesar de ser necessário um certo nível de

desenvolvimento a nível de coordenação motora, da perceção visual e da capacidade de transformar o percebido em movimento, o significado pode estar completamente ausente.

No caso do ditado existe uma transposição dos signos linguísticos que se faz do percebido de forma auditiva para os gestos motores, enquanto que na escrita espontânea é exigida uma verbalização adequada do curso das ideias e, só depois, a transposição das palavras em gestos. (Mondero, 1984)

Estas duas dimensões constituem o objeto da aprendizagem inicial da escrita, por um lado conhecer as propriedades gráficas dos diversos caracteres e as convenções da escrita e, por outro lado, a relação entre linguagem escrita e falada no que diz respeito às unidades que estão a ser representadas – fonemas, sílabas ou morfemas (Citoler, 1996).

Também para aprender a escrever, o aluno tem que se sentir motivado e essa motivação, como já referi anteriormente, tem de partir inicialmente do professor. É o professor com a sua própria motivação, gostando de ensinar, que transmite à criança a vontade e o gosto de aprender.

Normalmente a criança ao entrar no 1º ciclo leva já uma grande vontade e entusiasmo para aprender a escrever visto que, hoje em dia, as crianças estão expostas cada vez mais cedo a muita informação, tecnologia que lhes desperta curiosidade e ajuda a adquirir várias conceções sobre a escrita mesmo antes da entrada na escola.

O professor deve aproveitar esta motivação inicial e arranjar estratégias adequadas para manter os alunos motivados, como, por exemplo, utilizar temas do interesse dos alunos para lhes transmitir os conteúdos a abordar, procurar elevar a autoestima do aluno, utilizar atividades desafiadoras…

Podemos assim perceber que a linha de evolução quer do desenho, quer da escrita é faseada, sendo importante respeitar o ritmo de aprendizagem de cada criança, possibilitando-lhe sempre formas de contato e exploração diversificadas.

3.3. Relações entre a capacidade de desenhar e a capacidade de

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