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3 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

3.3 O papel dos fatores externos na variação nós/a gente X se+infinitivo

3.3.1 O fator classe social

No Capítulo 2, Omena (2003) e Lopes (1998) afirmam que a escolarização foi um importante fator no emprego de estratégias de indeterminação do sujeito. Deste modo, baseando-nos no Critério Brasil, que associa escolarização e classe social, consideramos a classe social como um fator relevante no emprego das estratégias nós, a gente e se+infinitivo, de modo que, conforme a classe social a que pertençam, os informantes pode preferir indeterminar o sujeito através de uma ou outra estratégia.

O Gráfico 3 mostra os resultados do cruzamento entre as variantes e a classe social dos informantes. 0 20 40 60 80 100

Alta Média Baixa

nós a gente se+inf.

GRÁFICO 3 – Percentagem de ocorrência de nós, a gente e se+infinitivo em função da classe social no PB

77

Na análise dos fatores sociais, os resultados apresentados a seguir dizem respeito somente ao PB, uma vez que, conforme já afirmamos, não tivemos acesso aos dados sociais dos informantes do PE.

De um modo geral, em todas as classes sociais, a estratégia de indeterminação que se fez mais presente foi a gente, seguida de nós e se+infinitivo. Isto quer dizer que a gente foi a estratégia mais utilizada por falantes da classe alta, como no exemplo (96) e por informantes pertencentes às classes média e baixa, como nos exemplos (97) e (98), nesta ordem.

(96) Isso é natural, é de processo humano, mas eu acho que o que muda é a situação das pessoas que lidam com o idoso né, hoje em função, acredito eu, em função dessa... é... dificulta mesmo o que a gente tem de ambição, de conquista, de beleza, de manutenção de uma vida que a gente hoje tem como padrão né, distanciou mais do idoso, porque ele é o oposto de tudo isso que a gente vê. (U- 15-1-26)

(97) O povo vai muito do que a mídia fala, então hoje a mídia, a gente tem aí uma Globo defendendo, de certa forma, o governo. (U-21-1-11)

(98) O pai e a mãe... como, eu vou falar de mim também, porque eu passei por esse farto, é muito difícil porque a gente quando observa que o jovem usa, se faz uso da droga, a gente perde a noção, a gente procura ajuda e tem medo de se magoar porque o jovem que mexe com droga ele tem todo o apoio da pessoa que serve a droga pra ele, a família então se torna inimiga. Eu creio que a gente precisa de está ajudando. (U-31-1-8).

Mediante a observação das classes sociais, foi possível verificar que, na fala de informantes da classe alta, a estratégia a gente apareceu em 89% dos dados, nós apresentou a freqüência de 9% e se+infinitivo de 2%. Como se pode notar, a estratégia se+infinitivo não foi privilegiada nesta classe social, foi favorecida a estratégia a gente, a qual apresentou a diferença de 80 pontos percentuais em relação ao emprego de nós, e de 87 pontos percentuais em relação à utilização de se+infinitivo.

Na classe média, a estratégia a gente correspondeu a 82% dos empregos, se+infinitivo apresentou o índice de 2% e nós equivaleu a 16% dos casos, ou seja, a estratégia pronominal a gente foi novamente favorecida, haja vista a diferença significativa de 66 pontos percentuais entre seu emprego e o uso de nós, e também em relação do emprego de se+infinitivo, 80%.

Resultados semelhantes a estes encontrados entre falantes das classes alta e média foram verificados na análise da fala de informantes da classe baixa, pois nós, a gente e se+infinitivo ocorreram nesta classe social com os índices de 10%, 87% e 3%, respectivamente. Estes porcentuais evidenciam que também na classe baixa ocorre mais a estratégia a gente do que o pronome nós e o clítico se seguido de infinitivo, tendo em vista a diferença significativa encontrada entre a estratégia a gente e o pronome nós (77 pontos percentuais) e entre a gente e se+infinitivo (84 pontos percentuais).

Em síntese, todas as classes sociais favoreceram a forma a gente em vez de nós e se, e houve poucas ocorrências de nós e se+infinitivo, que não apresentaram diferença significativa entre si em nenhuma das classes sociais.

Além desta análise, consideramos relevante observar verticalmente os resultados. Assim, obtivemos o Gráfico 4, que mostra as ocorrências das estratégias pelas diferentes classes sociais. 0 20 40 60 80 100 nós a gente se+inf.

Alta Média Baixa

GRÁFICO 4 – Distribuição de nós, a gente e se+infinitivo por classe social no PB (leitura vertical)

O Gráfico 4 nos permite verificar que, de todas as ocorrências de nós, esta forma ocorreu mais na classe média, onde se deu 60% das ocorrências desta estratégia, a qual

apresentou uma diferença significativa do emprego nas classes alta (36 pontos percentuais) e baixa (44 pontos percentuais), onde apareceu em 24% e 16% dos casos, respectivamente, que não apresentaram diferença significativa entre si.

Um quadro semelhante ocorreu com a forma a gente, pois, de todas as suas ocorrências, esta estratégia ocorreu nas classes média e alta com os índices de 45% e 34%, respectivamente, e na classe baixa com a porcentagem de 21%. Diferentemente de nós, a estratégia a gente não apresentou diferença considerável entre as classes média e alta (11 pontos percentuais), classes sociais nas quais a gente apareceu mais frequentemente do que na classe baixa.

Dentre as ocorrências da estratégia se+infinitivo, 45% se deu na classe média, 30% na classe baixa e 25% na classe alta. Estes resultados nos permitem verificar que a referida estratégia aparece preferencialmente entre informantes de classe média, aparecendo menos entre informantes das classes baixa e alta, já que a diferença entre o emprego desta estratégia na classe média e baixa foi de 15 pontos percentuais e entre as classes média e alta foi de 20 pontos percentuais. Não houve diferença significativa entre o emprego de nós nas classes baixa e alta, (5 pontos percentuais).

Com base nesses resultados, podemos afirmar que nós e se+infinitivo, de todas as suas ocorrências, aparecem mais entre informantes da classe média, enquanto a gente aparece mais nas classes média e alta.

Consideramos que o fato de nós e se+infinitivo ocorrerem mais frequentemente na classe média poderia ser uma indicação de maior prestígio dessas formas, uma vez que nesta classe social, sob pressão social e exigências do mercado profissional, os falantes fazem uso de formas “com alta cotação no mercado” (cf. MOLLICA, 2003b, p.30).

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