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3 INJEÇÃO DE DEJETOS LÍQUIDOS DE SUÍNOS NO SOLO E INIBIDOR DE

3.4 Resultados e discussão

3.4.3 Fator de emissão de N-NH 3

No trabalho de Tao et al. (2008) foi calculado um fator de emissão ou volatilização, o qual foi definido como sendo a razão entre a quantidade acumulada de N-NH3 volatilizado em cada tratamento ao final do experimento e a quantidade

aplicada de N-NH4+ com os dejetos. O fator de volatilização encontrado foi de 0,570

para os dejetos aplicados na superfície do solo e de 0,599 para essa mesma modalidade de uso dos dejetos, porém com a adição de DCD. Quando os dejetos foram incorporados ao solo, os fatores de emissão diminuíram para apenas 0,007 e 0,014 para os tratamentos sem e com DCD, respectivamente. A multiplicação desses fatores de emissão por 100 possibilita o cálculo da porcentagem do N aplicado que foi volatilizado, conforme é feito na maioria dos trabalhos (MISSELBROOK et al., 2002; ROCHETTE et al., 2009) e também nos experimentos

1 (Figura 9a) e 2 (Figura 9b) do presente trabalho. Assim, a emissão de 57% do N- NH4+ aplicado, relatado por Tao el al. (2008) para os dejetos aplicados na superfície

do solo e sem DCD, é 10,7 e 6,0 vezes superior ao valor encontrado para essa mesma condição de uso dos dejetos no experimento 1 (5,3 % do N-NH4+ aplicado,

Figura 9a) e no experimento 2 (9,4 % do N-NH4+ aplicado, Figura 9b),

respectivamente. Quando a DCD foi adicionada com os dejetos na superfície do solo, 59,9% do N-NH4+ aplicado foi volatilizado no trabalho de TAO et al. (2008)

contra apenas 16,8% no presente trabalho (Figura 9b). Tais diferenças devem estar relacionadas principalmente, ao tipo de dejetos avaliados em cada situação (bovinos x suínos), às quantidades de N-NH4+ adicionadas ao solo (192 x 83 kg ha-1), às

condições experimentais (laboratório x campo) e às metodologias empregadas na avaliação da NH3 emitida (com x sem circulação de ar).

O fator de emissão de NH3, calculado por Tao et al. (2008) e tendo como

base a adição de N-NH4+ com os dejetos, também pode ser calculado em relação ao

N total adicionado. No presente trabalho, o fator de emissão de NH3, calculado

relativamente às quantidades de N-NH4+ e de N total aplicadas com os dejetos, e

convertido em porcentagem do N aplicado que foi volatilizado, é mostrado nas figuras 9a e 9b. Observa-se que, sem a adição de DCD e com aplicação dos dejetos na superfície do solo, a porcentagem do N total aplicado que foi volatilizada como N- NH3 foi de 3,2 e 5,5% (4,85 kg N-NH3 e 8,1 kg) nos experimentos 1 e 2,

respectivamente. Considerando-se o N-NH4+ aplicado com os dejetos, a perda dessa

fração de N foi de 5,5 e 9,9%, respectivamente.

Essas proporções do N aplicado com os dejetos e que foram emitidas como N-NH3 estão situadas no nível inferior de perdas observado na maioria dos trabalhos

em que essa avaliação foi realizada, tanto sob condições de campo como de laboratório. Ao utilizarem dispositivo semelhante ao do presente trabalho para quantificar a volatilização de NH3 após aplicação de dejetos líquidos de suínos em

plantio direto e sob condições similares de solo e clima, Port et al. (2003) e Basso et al. (2004) constataram que a porcentagem do N-NH4+ emitida como N-NH3 em 156

horas e 144 horas foi de 9,6 e 18,8 %, respectivamente. Em condições de laboratório, a uma temperatura média de 14,5 ºC, dejetos líquidos de suínos, em dose equivalente a 30 Mg ha-1, foram adicionados por Sommer et al. (2006) na superfície de um solo arenoso (4,1 % de argila) e de um solo franco arenoso (19% de argila). Os dejetos foram adicionados nos dois tipos de solo, em caixas (26,5 cm

de largura, 34,8 cm de comprimento e 14,5 cm de altura) e a amônia volatilizada foi coletada em uma solução diluída de H2SO4, semelhante ao que foi feito no presente

trabalho, porém em um sistema de câmaras dinâmicas, com circulação de ar. A porcentagem do N-NH4+ aplicado e que foi volatilizado como NH3 em 96 horas foi de

aproximadamente 13% no solo franco arenoso de 7% no solo arenoso.

DLSInj DLSSup N -N H 3 p er d id o ( % d o N a d ic io n ad o ) 0 1 2 3 4 5 6 N-NH4+ N Total Tratamentos

DLSSup DLSInj DLSSup+Agrot. DLSInj+Agrot.

N -N H 3 p er d id o ( % d o N a d ic io n ad o ) 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 N-NH4+ N Total a b c a b c

Figura 9 - Porcentagem do N-NH4+ e do N total aplicado com os dejetos líquidos de suínos (DLS) e

que foi emitida como N-NH3 no experimento 1 (a), com os dejetos aplicados na superfície

(DLSSup) e injetados no solo (DLSInj) e no experimento 2 (b) com os dejetos na superfície e injetados, com (DLSSUp + Agrot. e DLSInj + Agrot.) e sem (DLSSup e DLSInj) Agrotain Plus.

a)

Perdas maiores de N por volatilização com a aplicação superficial de dejetos líquidos de suínos são relatadas em diversas situações. No trabalho de Chantigny et al. (2009), realizado no Canadá, a perda média acumulada de N-NH3 em 10 dias

correspondeu a 22,3% do N total e 34% do N-NH4+, aplicados ao solo com dejetos

líquidos de suínos, em dose equivalente a 150 kg de N total ha-1. Em trabalho anterior, Chantigny et al. (2004) aplicaram, na superfície do solo, dejetos líquidos de suínos (90 m3 ha-1) com elevada concentração de N, o que resultou numa adição de 873 kg de N total ha-1 e 603 kg de N-NH4+ ha-1. Dessa quantidade de N amoniacal

aplicada, 35% foi perdida por volatilização de NH3 nos primeiros 2 dias e 40% após 9

dias. Nesses dois trabalhos, a volatilização de NH3 foi avaliada em túneis com

circulação de ar. Quando dejetos líquidos de suínos (140 kg de N total ha-1) foram adicionados na superfície do solo, Rochette et al. (2009) verificaram que aproximadamente 25% do N total e 50% do N amoniacal contidos inicialmente nos dejetos foram emitidos como NH3 em 29 dias, sendo que as maiores perdas

ocorreram nos primeiros 5 dias.

As diferenças observadas na proporção do N aplicado com os dejetos na superfície do solo e que é perdida por volatilização de NH3 pode ser explicada pelas

condições predominantes em cada estudo, com destaque para as metodologias empregadas na avaliação da NH3, (métodos estáticos ou dinâmicos), às

características intrínsecas aos dejetos (pH, matéria seca e concentração em N) e as doses aplicadas, aos atributos químicos e físicos do solo (pH, textura, umidade e estado de adensamento), ao estado da superfície do solo (presença e quantidades de resíduos culturais) e às condições atmosféricas (temperatura do ar e velocidade do vento). A influência desse conjunto de fatores, que atuam de forma interativa sobre a emissão de NH3, implica na necessidade de avaliar a emissão de NH3 sob

condições específicas e impossibilita a extrapolação de resultados para condições distintas de solo, clima e tipo de dejetos.

Quando os dejetos foram aplicados na superfície do solo, o uso de DCD aumentou a porcentagem do N amoniacal perdido com os dejetos de 9,9% para 17,6% (Figura 9b). Por outro lado, a injeção dos dejetos no solo tanto na presença de DCD (Figura 9b) como na sua ausência (Figura 9a) reduziu as perdas de N por volatilização de NH3 para valores inferiores a 1% do N amoniacal aplicado. Nota-se

envolvendo, principalmente, o uso de DCD com dejetos líquidos de suínos. Há necessidade de intensificar os trabalhos de pesquisa envolvendo tanto a injeção de dejetos líquidos de suínos em plantio direto como o uso de inibidores de nitrificação do N dos dejetos, uma vez que quando são aplicados, acima de 50% do N encontra- se na forma amoniacal (NH3 + NH4+) (SCHERER et al., 1996).

Apesar da injeção dos dejetos líquidos de suínos no solo ter reduzido significativamente a emissão de NH3, enquanto a adição de DCD aumentou a perda

por volatilização dessa forma de N, é necessário avaliar o impacto direto dessas estratégias técnicas sobre outros aspectos como, por exemplo, a emissão de gases de efeito estufa, com destaque para o CO2 e o N2O. A maior mobilização do solo

pelo equipamento injetor dos dejetos e a manutenção por mais tempo do N na forma amoniacal pela ação DCD podem intensificar as emissões destes GEE. O foco dos trabalhos nessa área deve incluir, portanto, questões agronômicas, energéticas e ambientais. Do ponto de vista econômico é preciso avaliar todos os custos decorrentes da injeção e compará-los com os eventuais ganhos de produtividade das culturas, em função da manutenção de maior quantidade de N disponível no solo. Também é preciso quantificar e comparar a demanda adicional de energia e a conseqüente emissão de GEE entre a aplicação tradicional de dejetos na superfície do solo e a sua injeção em diferentes tipos e condições de solo.