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FATORES AMBIENTAIS RELACIONADOS À VARIAÇÃO DA VEGETAÇÃO

2.2.1 Alterações de solo e vegetação em gradiente topográfico

A distribuição de espécies em grande escala é influenciada por barreiras geográficas, salientando-se a temperatura, as barreiras físicas, a natureza física do substrato ocupado pela biota e as características biológicas do grupo (BOLZON; MARCHIORI, 2002). A recorrência de combinações de espécies está obviamente vinculada ao habitat, e uma alteração deste será refletida no devido tempo pela fitocenose (MUELLER-DOMBOIS; ELLEMBERG, 1974 apud PILLAR et al., 1992).

A estrutura da vegetação campestre do Bioma Pampa é bastante variável, em resposta à sua diversidade de fatores como o clima, o solo e o manejo a que esta vegetação está submetida (Dos SANTOS, 2012). Em uma escala local, é possível observar diferenças na vegetação do pampa ao longo de gradientes topográficos.

A topografia tem sido considerada como a mais importante variável na distribuição espacial, pois influencia nas mudanças das propriedades dos solos, particularmente no regime de água e na fertilidade (RODRIGUES et al., 2007). Os solos desenvolvidos ao longo do relevo apresentam feições distintas, que são resultado da ação conjunta dos processos geomórficos e pedogenéticos, ambos condicionados pela dinâmica das águas superficial e subsuperficial (HUGGETT, 1975).

Variações na declividade têm correspondência com a distribuição de espécies e condições de fertilidade do solo (CARDOSO; SCHIAVINI, 2002). Os mesmos autores

complementam que o relevo em conjunto com outras variáveis atua na distribuição das espécies adaptadas, dando-lhes a oportunidade de predomínio.

Conforme Rodrigues et al. (2007), correlação entre distribuição de espécies arbóreas e variáveis de solos e de topografia, vem sendo sucessivamente demonstrada em numerosos estudos de florestas tropicais, tais como os estudos de Clark (2002), Oliveira Filho et al. (2001); Souza et al.(2003); Carvalho et al.(2005).

Porém, de acordo com Juhász et al. (2006) poucos estudos têm abordado as a dinâmica do meio físico no qual a vegetação local está inserida e pelo qual é diretamente influenciada. Como exemplo pode-se citar a escassez de estudos que contemplam a relação solo-vegetação no contexto de paisagens do Bioma Pampa.

2.2.2 Relação solo-vegetação

A vegetação nativa, espécies ou comunidades são indicadores de condições edáficas (TOLEDO et al., 2009). Fatores geomorfológicos, hidrológicos e pedológicos são responsáveis por certa uniformidade nos padrões de estrutura e de fisionomia das diferentes paisagens brasileiras (FERNANDES, 1998).

Nesse contexto, a grande biodiversidade dos campos do RS deve-se, em especial, à diversidade de solos procedentes da grande variabilidade geológica, topográfica, pluviométrica, térmica e de disponibilidade hídrica (BOLDRINI et al., 2010). Reforçando esse embasamento, Duarte (2007) afirma que características edáficas e hidrológicas não só se relacionam com a distribuição dos complexos vegetacionais de uma determinada região, como também dentro de uma mesma formação.

A vegetação reflete o efeito de atributos, como textura, profundidade, disponibilidade de nutrientes e outros (TOLEDO et al., 2009). Relações típicas de solo-vegetação ocorrem de acordo com gradientes de recursos, entre os quais se destaca o grau de fertilidade, hidromorfia e profundidade do solo (ROVEDDER, 2013). Ao estudar o solo em condições naturais, tornam-se conhecidas as propriedades edáficas que subsidiam a vegetação original (JUHÁSZ et al., 2006).

Outros atributos do solo influentes sobre a vegetação são citados por Pillar et al. (1995) como textura, conteúdo de matéria orgânica e a cor do solo, os quais afetam a temperatura do solo, a evaporação e indiretamente as condições hídricas para a flora. A condição hídrica do solo é considerada característica importante na definição do tipo de vegetação local (RUGGIERO et al., 2002).

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Menção também deve ser feita à importância de estruturas geológicas, bem como de solos incipientes como neossolos, em oportunizar a estabilização de sementes florestais e seu desenvolvimento a partir de condições de maior umidade e menor luminosidade em meio ao campo. Os pequenos núcleos florestais comuns em paisagens do sul do Brasil iniciam em locais rochosos (PILLAR, 2003).

Em meio ao campo, afloramentos rochosos e encostas constituem locais propícios à estabilização de sementes e ao crescimento de espécies florestais. Apesar de serem recentes os estudos, autores como Carlucci et al. (2011) denominam essas estruturas geológicas constituintes dos afloramentos rochosos como ―rochas enfermeiras‖.

Muitos estudos atuais estão sendo desenvolvidos a fim de correlacionar a vegetação com fatores ambientais. Porém, no Bioma Pampa, as relações entre os solos e a vegetação nativa ainda são pouco conhecidas em suas especificidades, carecendo-se de mais informações científicas (ROVEDDER, 2013).

Estudos detalhados associando espécies vegetais a fatores ambientais são de grande valia para qualquer iniciativa que vise proteger ou restaurar um habitat (OLIVEIRA-FILHO, 1994). O conhecimento da analogia solo-vegetação é essencial ao manejo de áreas naturais e ao entendimento da dispersão de espécies especialistas, que dependem de condições específicas do ambiente para se desenvolverem (REDIN, 2013).

Análises sobre a composição e estruturação do mosaico campo-floresta são essenciais para recuperação, preservação e manejo do bioma, sobretudo para áreas que apresentam problemas com regeneração, devido a peculiaridades naturais, como alagamentos em florestas ribeirinhas ou solos facilmente erodidos encontrados nas encostas (GIEHL et al., 2007). Solos muito arenosos, também podem ser citados neste caso.

O conhecimento da estrutura fitofisionômica e sociológica da comunidade vegetal associada a variáveis ambientais é o ponto de partida para a implementação de projetos de reabilitação de áreas degradadas (REBELO, 2006). Áreas com solos degradados não sustentam a vegetação de maneira adequada, enquanto que, na mesma proporção, a flora danificada não assegura estabilidade e proteção do solo (REDIN, 2013), reafirmando as fortes relações existentes entre a flora e o solo.

As investigações que tratam sobre padrões complexos da relação vegetação – ambiente, conforme Felfili (2007), utilizam procedimentos estatísticos por meio da Análise Multivariada. Nesse caso, aplica-se técnica de ordenação a fim de explorar a relação existente entre variáveis edáficas e a vegetação natural. Estas técnicas permitem uma análise exploratória das relações entre diversos fatores, o que tem demonstrado potencial no estudo

de ambientes altamente heterogêneos (FELFILI, 2007), como comunidades florísticas naturais campestres e florestais, por exemplo.