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3 MATERIAL E MÉTODOS

4.8 FATORES ANTINUTRICIONAIS NA FRAÇÃO ALBUMINA DA LINHAÇA

Os ensaios de inibição de enzimas digestivas pela fração albumina mostraram a presença de grande quantidade de inibidores de tripsina, que resultou em 100% de inibição desta enzima. A presença de inibidores reduziu em 28,3% a atividade da quimotripsina, enquanto que as demais enzimas, elastase pancreática e α-amilases, tiveram baixa redução em sua atividade na presença das albuminas de linhaça (Figura 11). Não foi detectada atividade hemaglutinante nas albuminas com nenhum dos eritrócitos utilizados.

100,0 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0 In ib ã o d a a tiv id a d e e n z imá tic a % 28,3 14,5 10,8 1,5

tripsina quimotripsina elastase

pancreática

amilase salivar amilase

pancreática

Enzimas digestivas

5 DISCUSSÃO

Atualmente, há um crescente interesse da população em incluir nos seus hábitos diários o consumo de alimentos que promovam benefícios à saúde, os chamados alimentos com propriedades nutracêuticas ou funcionais. Dentre eles tem se destacado a linhaça, que é utilizada geralmente na forma crua, como suplemento alimentar. A composição da farinha de semente de linhaça analisada neste estudo apresentou altos teores de lipídios (35,3%) proteínas (23,2%) e fibras (13,4%), que foram similares aos encontrados em outros estudos (MADHUSUDHAN; SINGH, 1983, TREVINO et al., 2000, COSKUNER; KARABABA, 2007).

No fracionamento das proteínas da semente foi verificada a predominância de proteínas do tipo globulinas, compreendendo 82% do total de proteínas da linhaça, 12% de albuminas, 5% de glutelinas e 1% de prolaminas. O teor elevado de globulinas na linhaça foi descrito por Madhusudhan e Singh (1985b), que mostraram que a linhaça possuía de 70 a 85% deste tipo de proteína de reserva e Sammour (1999) que publicou percentuais mais baixos em torno de 40% de globulinas. Essas divergências em relação à literatura podem ser justificadas pelas variações proporcionadas pelo método de análise utilizado e pela variedade de linhaça estudada. Portanto, a linhaça, assim como a aveia, possui como proteínas de reserva predominante as globulinas, assemelhando-se às leguminosas e não aos cereais que possuem ou prolaminas ou glutelinas como suas principais proteínas de reserva (SHEWRY, 1995).

Análise das frações protéicas por eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de SDS mostrou que a fração albumina possui bandas protéicas de massa molecular em torno de 21 kDa, característica de inibidores de tripsina e outras com massas moleculares menores (RYAN, 1973, RICHARDSON, 1991). Nas globulinas foram visualizadas predominantemente 04 bandas mais intensas, uma de alta massa molecular, possivelmente aglomerado de proteínas, e 3 bandas protéicas de massa molecular entre 40 e 55 kDa. Madhusudhan e Singh (1985b) isolaram a principal proteína da fração globulínica e verificaram que a proteína 12S da linhaça mostrou em SDS-PAGE pelo menos cinco subunidades não idênticas com massas moleculares de 11 kDa, 18 kDa, 29 kDa, 42 kDa e 61 kDa, sendo as bandas de 18 kDa e 42 kDa mais intensas. O estudo de Chung, Lei e Li-Chan (2005) constatou a presença de pelo menos 15 bandas protéicas dentre as quais se destacaram proteínas de 40 e 48 kDa, apresentando perfil eletroforético bastante semelhante ao reportado. Alguns autores verificaram que em condições redutoras as globulinas de linhaça apresentam bandas de menor massa molecular, que não aparecem em condições não-redutoras, sugerindo a dissociação de cadeias ligadas por pontes dissulfeto (OOMAH; MAZZA, 1998, SAMMOUR, 1999, CHUNG; LEI; LI-CHAN, 2005). Esse comportamento é típico de proteínas de reserva 11S compostas por cadeias ácidas e básicas S-S ligadas que caracterizam as proteínas tipo-leguminas (SAMMOUR, 1999), uma vez que as vicilinas são desprovidas de pontes dissulfeto (KHAN; GATEHOUSE; BOULTER, 1980, CASEY et al., 1988, PEDALINO et al., 1992, MACEDO et al., 1995, SHEWRY; NAPIER; TATHAM, 1995, CARBONARO, 2006).

Diferente de outros cereais, o teor de proteínas da linhaça foi comparável ao das leguminosas (SHEWRY; NAPIER; TATHAM, 1995, NAVES et al., 2004). Para verificar essa qualidade protéica da linhaça como única fonte de aminoácidos, foi realizado um experimento de avaliação dos seus efeitos no crescimento de ratos recém-desmamados. Os resultados obtidos mostraram que em todos os parâmetros analisados (índices biológicos), não apenas o consumo de alimentos foi determinante para a redução do crescimento dos animais usados nos estudos. Trabalhos de mesma natureza também verificaram déficit no ganho de peso de ratos alimentados com ração tendo como fonte protéica a linhaça, onde foi atribuído baixa qualidade nutricional deste alimento devido aos índices de crescimento insatisfatórios dos animais (LEITE et al., 2006, LENZI et al., 2006, MUNIZ et al., 2006). Arora e Rajni (2006) asseguraram a inocuidade da incorporação da linhaça à dieta, onde a inclusão de até 25% de linhaça na ração de ratos mostrou alto valor biológico, mas outros estudos demonstraram efeitos adversos na utilização de linhaça como suplemento na alimentação de animais.

Após o ensaio de avaliação do crescimento dos ratos alimentados com ração a base de linhaça, foi realizada a morfometria de epitélio intestinal do segmento ileal dos ratos testados, sendo demonstrado que o consumo de linhaça crua provocou diminuição no trofismo intestinal dos vilos quando comparado ao do grupo que consumiu caseína. No entanto, não foi observada hiperplasia compensatória das criptas, fazendo com que a relação vilo:cripta tenha se mantido semelhante a do grupo protéico (caseína), o que não foi verificado no grupo aprotéico. Rangel et al. (2004) descreveram aspectos histológicos normais em epitélio intestinal de ratos alimentados com isolado

protéico de feijão, mesmo tendo observado diminuição na taxa de crescimento dos animais.

A relação entre o baixo crescimento dos ratos associado à diminuição no trofismo intestinal dos vilos poderia ser um indicativo do efeito deletério da linhaça crua, entretanto não explica totalmente este efeito. Para isso foi analisada a relação entre os fatores protéicos antinutricionais (inibidores de enzimas digestivas de mamíferos e lectinas) presentes na fração albumina da linhaça e a digestibilidade in vitro e in vivo da fração globulina (proteína de baixa digestibilidade) com a taxa de crescimento dos ratos, a fim de elucidar este efeito deletério.

Avaliações de qualidade nutricional de diversas leguminosas e cereais comumente chamam atenção para os efeitos lesivos que os compostos antinutricionais (proteínas deletérias e indigestas) podem causar, principalmente quando esses alimentos são utilizados na forma crua. Experimentos realizados com diferentes cultivares brasileiros de soja atribuíram o efeito negativo no crescimento dos ratos a presença de lectinas e inibidores de tripsina, além de outros compostos tóxicos (VASCONCELOS et al., 2001). Leguminosas do gênero Canavalia alcançaram coeficientes ainda menores que os encontrados para linhaça, mesmo ofertando grãos cozidos e torrados aos animais; eles identificaram a presença de altos teores de compostos fenólicos e lectinas na leguminosa crua, e embora a submetessem a tratamentos térmicos, constataram uma ação deletéria dos compostos antinutricionais que permaneceram ativos (SEENA; SRIDHAR; RAMESH, 2005, SEENA et al., 2006). Até mesmo o uso de isolados protéicos de feijão (Vigna unguiculata) foi capaz de acarretar prejuízos ao crescimento de ratos, mostrando efetivamente

a interferência da presença de inibidores de tripsina nos índices de crescimento (RANGEL et al., 2004). Lee, Olomu e Sim (1991) reportaram diminuição do crescimento e redução na eficiência alimentar em frangos que se alimentaram com dietas com 10 e 20% de linhaça; a inclusão de linhaça de 10 a 30% na dieta de frangos resultou em significante redução na taxa de crescimento e o resultado foi relacionado a fatores antinutricionais. Treviño et al. (2000) afirmaram que, apesar de boa qualidade aminoacídica, a adição de linhaça como fonte protéica na ração de frangos provocou redução na retenção de nitrogênio e aminoácidos, provavelmente causada pela presença de compostos antinutricionais.

Muitos estudos com animais monogástricos têm relacionado os efeitos deletérios, principalmente alterações metabólicas do pâncreas (aumento da secreção enzimática, hipertrofia e hiperplasia) e redução da taxa de crescimento, à presença de inibidores de tripsina na alimentação (ALWESALI et al., 1995). Nitsan e Liener (1976) estudaram o efeito de dietas com farinha de soja crua e aquecida sobre os níveis de tripsina, quimotripsina e amilase no pâncreas de ratos. Estes autores concluíram que a ingestão de soja crua, ao contrário da soja cozida, estimulou a secreção das enzimas pancreáticas. Neste caso, o inibidor de tripsina bloqueia a ação da tripsina resultando em aumento excessivo da concentração plasmática de colecistocinina, e desta forma, o pâncreas é continuamente estimulado a liberar mais enzima, provocando hipertrofia pancreática (LIDDLE; GOLDFINE; WILLIAMS, 1984). Bender (1987) relatou que existem discordâncias entre autores sobre a hipertrofia de pâncreas em animais, uma vez que, alguns pesquisadores observaram aumento do número de células e outros aumentos do tamanho das

células ou ambos fenômenos. Os resultados da pesquisa de Grant et al. (1988), com ratos alimentados com proteína de soja, mostraram considerável aumento do tamanho do pâncreas dos animais. Diferentemente de ratos e galinhas, a ingestão de farinha de soja e feijão crus por porcos da Índia, bezerros, cachorros e porcos não provocou hipertrofia pancreática, contudo, observou-se hiposecreção das enzimas pancreáticas e sérica, depressão do ganho de peso corporal ou perda de peso de animais (HASDAI et al., 1989). A inibição do crescimento em animais jovens alimentados com leguminosas cruas é provocada pela excessiva perda fecal de proteína secretada pelo pâncreas, visto que as enzimas pancreáticas são ricas em aminoácidos sulfurados e esta perda endógena não pode ser compensada pela ingestão de proteína de leguminosas (RACKIS; GUMBMANN, 1982).

Outro fator antinutricional associado a baixas taxas de crescimento, quando presente na dieta, é a indigestibilidade de proteínas. As globulinas e outras proteínas de reserva são altamente indigestas devido a sua complexa forma estrutural que é bastante refratária à ação de enzimas digestivas de mamíferos (SHUTOV et al., 1995).

Os experimentos de digestibilidade in vitro mostraram que a fração globulínica de linhaça nativa tem baixa digestibilidade por quimotripsina e tripsina isoladamente e alta digestibilidade quando submetida à ação com pancreatina. A resistência de globulinas nativas à degradação por tripsina e quimotripsina é mostrada para esta classe de proteínas em diversas sementes (SEIDL; JAFFÉ; JAFFÉ, 1969, SATHE; VENKATACHALAM, 2007), embora algumas vezes a tripsina atue melhor que a quimotripsina na sua digestão (NEVES; LOURENCO, 1995, ARAUJO et al., 2002). Oliveira et al. (2004)

também verificaram baixa digestibilidade por tripsina e quimotripsina de globulinas de oito cultivares brasileiros de feijão (Vigna unguiculata) que, no entanto, quando submetidas à digestão por pepsina, apresentaram grande degradação. Uma melhor digestibilidade da faseolina (globulina de Phaseolus vulgaris) foi observada quando realizada uma digestão seriada com pepsina e pancreatina (GENOVESE; LAJOLO, 1996a). Isto foi igualmente verificado por Sathe e Venkatachalam (2007) para globulinas de Vigna aconitifolia, que afirmaram que o fato se deve a uma menor especificidade de hidrólise da pepsina em relação à tripsina e quimotripsina, e porque o pH ideal da pepsina (entre 1 e 2) usado nos ensaios de digestibilidade pode provocar a desnaturação das proteínas, aumentando a susceptibilidade do substrato à proteólise. Apesar da fração nativa não ter sido submetida à hidrólise por pepsina, acredita-se que a digestibilidade poderia ser melhorada na presença dessa enzima, embora alguns autores certifiquem pouca susceptibilidade à hidrólise por pepsina de globulinas nativas (LIENER; THOMPSON, 1980, DESHPANDE; NIELSEN, 1987, ARAÚJO et al., 2002). Essas divergências de resultados provavelmente se devem a diferenças de conformação estrutural nas proteínas estudadas (leguminas, vicilinas e ou proteínas semelhantes a estas), que conferem maior ou menor suscetibilidade à degradação pelas enzimas digestivas de mamíferos.

O tratamento térmico das globulinas de linhaça melhorou a digestibilidade tanto para tripsina e quimotripsina quanto para a pancreatina, mostrando que a desnaturação é eficaz no aumento da proteólise. Na digestão das globulinas aquecidas a 100ºC por 15 minutos foram observadas bandas de baixa massa molecular que possivelmente seriam degradadas com o aumento

do tempo de incubação com as enzimas. Numerosos estudos comprovam o uso de tratamento térmico como meio de melhorar a digestibilidade de globulinas (SALES; MACEDO; XAVIER-FILHO, 1992, SATHE; IDOURAINE; WEBER, 1994, NEVES, LOURENCO; DA SILVA, 1996, ARAÚJO et al., 2002, LIMA et al., 2004, GUO; YAO; CHEN, 2007, SATHE; VENKATACHALAM, 2007).

Ainda que verificada uma grande proteólise das globulinas da linhaça termicamente tratadas, a digestibilidade in vivo da fração nativa foi verificada para auxiliar na elucidação dos efeitos negativos no crescimento dos ratos quando linhaça crua foi adicionada à dieta. Quando avaliada a degradação das globulinas nativas durante a digestão em ratos, foi constatado um alto percentual de digestibilidade (93,2%), similar ao da proteína padrão (91,7%). Santoro, Grant e Pusztai (1997) ofertaram faseolina com alto grau de purificação para ratos e constataram apenas 37,5% de digestibilidade; Rangel et al. (2004) encontraram um percentual de digestibilidade de 86,9% para um isolado protéico de feijão de corda (Vigna unguiculata); já para globulinas de grão de bico (Cicer arietinum) foi determinada uma digestibilidade de 83,6% (RUBIO et al., 1998). O resultado obtido para as globulinas de linhaça é bastante interessante, visto que valores tão adequados de digestibilidade para uma fração ou isolado protéico de sementes são raramente encontrados na literatura (Rubio et al., 1994), até mesmo em se tratando de alimentos ou proteínas processadas termicamente (COELHO; SGARBIERI, 1995, OLGUIN et al., 2003, MUKHOPADHAY; RAY, 2005, SEENA; SRIDHAR; RAMESH, 2005, SEENA, et al., 2006). Os resultados obtidos comprovam a boa qualidade protéica da fração globulínica da linhaça, pois sabe-se que alta digestibilidade

das proteínas de um alimento é uma característica que atesta sua qualidade nutricional.

Uma vez demonstrado que a fração globulínica da linhaça possui uma boa digestibilidade, tanto in vivo quanto in vitro (pancreatina), foi feita a verificação da presença de fatores antinutricionais protéicos na fração albumínica, onde foi detectada a presença de alto teor de inibidores de enzimas digestivas, com destaque aos inibidores de tripsina e, em menor relevância, para inibidores de quimotripsina. Madhusudhan e Singh (1983) também observaram a presença de inibidores de tripsina, no entanto eles analisaram extratos protéicos de farinha de linhaça processada (descascada, delipidada e isenta de mucilagens); em seu estudo não foi detectada atividade inibitória para α-amilase salivar, e assim como no presente trabalho, não foi detectada atividade hemaglutinante. Os inibidores de proteases são os maiores constituintes protéicos de sementes incluindo cereais, feijões e tubérculos (5 a 15% das proteínas), pois os níveis de inibidores excedem os níveis necessários para o controle da proteólise celular, tornando-se assim, fatores antinutricionais que afetam negativamente o crescimento de animais jovens (KLOSE; HILL; FEVOLD, 1946, JONGSMA; BOLTER, 1997). Alguns autores descreveram uma inativação de inibidores de proteinases após o trânsito pelo estômago, demonstrando que a digestão gástrica é capaz de destruir os inibidores da família Kunitz, enquanto que os da família Bowman-Birk retêm sua atividade; isso acontece devido a maior quantidade de pontes dissulfeto presente nessa família de inibidores, que proporciona maior estabilidade à sua estrutura (ALARCON; MOYANO; DIAZ, 1999). Experimentos feitos com animais de laboratório indicam que a ingestão de inibidores de tripsina tem como

conseqüência imediata a hipertrofia pancreática, havendo assim uma limitação de aminoácidos para a síntese protéica normal nos demais tecidos, reduzindo então o crescimento e desenvolvimento de cobaias e larvas de insetos (BROADWAY, 1995).

É importante enfatizar que apesar da detecção de alta atividade inibitória de tripsina, que constitui um potencial fator antinutricional causador do retardo no crescimento dos animais, não se pode descartar a ação de outros compostos antinutricionais (os quais não foram alvo de análises no presente trabalho) – antagonista de vitamina B6 (linatina), glicosídios cianogênicos, ácido fítico, taninos, alérgenos, metais pesados e goitrógenos – que possam atuar sinergisticamente, causando os efeitos deletérios quando a linhaça é consumida na forma crua (MADHUSUDHAN; SINGH, 1983, ALONSO et al., 1996, NIEDZWIEDZ-SIEGIEN, 1998, OOMAH; MAZZA, 1998, BATTHY, 1995, apud TREVIÑO et al., 2000, ALZUETA et al., 2002, RODRIGUEZ- RODRIGUEZ; LEON; CUEVAS, 2003, ANGELOVA et al., 2004, MUKHOPADHAY; RAY, 2005, CONNORS; YANG; LACUESTA, 2006).

Deste modo, embora a linhaça possua substâncias com alegação de propriedade funcional e traga em sua composição elevado teor de proteínas de boa qualidade nutricional, a presença de inibidores de tripsina e outros fatores antinutricionais limitam a sua utilização como única fonte de proteína na alimentação sob a forma crua, representando um perigo para a saúde. A denominação da linhaça como “alimento funcional” é então questionada, uma vez que essa classificação, segundo resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (BRASIL, 2002), é direcionada a nutrientes presentes nos alimentos, sendo atribuída propriedade funcional aos compostos

e não ao alimento como um todo; além disso, o alimento deve ser seguro para o consumo humano, sem necessidade de orientação e ou acompanhamento médico (BRASIL, 1999a, BRASIL, 1999b, BRASIL, 1999c). Os resultados encontrados demonstram a necessidade de estudos complementares que possam auxiliar na determinação da quantidade e formas seguras de consumo da linhaça com o intuito de isentá-lo de riscos à saúde.

6 CONCLUSÕES

Ó A composição centesimal da linhaça crua corroborou os altos teores de lipídios (35,3%), proteínas (23,2%) e fibras (13,4%) descritos na literatura;

Ó O fracionamento das proteínas da linhaça resultou em 82% de globulinas, 12% de albuminas, 5% de glutelinas e 1% de prolaminas;

Ó A eletroforese das principais frações mostrou que nas albuminas há bandas de massa molecular semelhante à de inibidores de proteinases encontrados em sementes, e que as globulinas apresentaram padrão eletroforético semelhante ao de vicilinas;

Ó Os ensaios biológicos demonstraram déficit no crescimento de animais alimentados com linhaça crua, efeito observado tanto através dos parâmetros nutricionais quanto na diminuição do trofismo dos vilos intestinais;

Ó A digestibilidade in vitro das globulinas nativas da linhaça foi efetiva apenas sob a ação da pancreatina, porém após o tratamento térmico o uso das enzimas tripsina e quimotripsina isoladamente foi capaz de promover boa digestão das globulinas.

Ó A análise da digestão in vivo das globulinas comprovou a alta digestibilidade das mesmas, atingindo um percentual de 93,2% semelhante ao da proteína padrão (91,7%);

Ó A fração albumínica da linhaça apresentou alta de inibição da atividade tríptica (100%), assim como inibição menos significativa de quimotripsina (28,3%); a inibição de elastase pancreática (14,5%), α-amilase salivar (10,8%) e α-amilase pancreática (1,5%) foi considerada baixa, e não foi detectada atividade hemaglutinante;

Ó A linhaça é um alimento que possui substâncias com propriedades funcionais que, no entanto, apresenta em sua composição fatores antinutricionais, os quais podem acarretar danos ao organismo, devendo, portanto, ser recomendada para consumo na sua forma crua apenas mediante estudos que ratifiquem a sua qualidade nutricional.

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