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WANG et al. (2019) também encontraram maior risco de introdução precoce de guloseimas e bebidas açucaradas em crianças que foram amamentadas por quatro meses ou menos e/ou que nunca foram amamentadas.

Uma gravidez não planejada pode influenciar o comportamento da mãe durante e após a gestação em relação ao cuidado da criança, podendo resultar em desfechos não desejados para mãe e para criança como depressão materna, menor prevalência de aleitamento materno, menor prevalência de acompanhamento pré-natal entre outros (KARAÇAM et al., 2011; MERCIER et al., 2013; KOST e LINDBERG, 2015; LINDBERG et al., 2015; FAISAL-CURY et al., 2017; HAJIZADEH e NGHIEM, 2020). Sabendo que a

adesão às recomendações nutricionais e de estilo de vida saudável durante a gestação é baixa entre mães que planejaram a gravidez, é esperado que entre mães que não planejaram a gravidez essa adesão seja ainda menor, logo os cuidados relacionados à alimentação da criança pode ser comprometido (INSKIP et al., 2009).

KOH et al. (2010) também encontram, na Austrália, maior risco de introdução de guloseimas e bebidas açucaradas no primeiro ano de vida entre mães multíparas (KOH et al., 2010). O autor sugere que a razão para esse achado pode ser a demanda deste tipo de alimentos por parte dos filhos mais velhos e também o aumento das responsabilidade dos cuidados maternos, além disso os fatores associados a introdução precoce da alimentação complementar podem influenciar indiretamente na introdução precoce de guloseimas e bebidas açucaradas à criança (KOH et al., 2010).

O maior risco de introdução inadequada de guloseimas e bebidas açucaradas na alimentação das crianças por mães mais jovens encontrado neste estudo corrobora com os achados de outros estudos (SCHREMPFT et al., 2013; WANG et al., 2019). Uma coorte de nascimento de base populacional na Austrália, investigou os fatores associados à introdução precoce de guloseimas e bebidas açucaradas e encontraram maior risco para introdução precoce entre mães mais jovens (HA et al., 2017).

A etnia materna foi um importante determinante para introdução inadequada de guloseimas e bebidas açucaradas, para este último todas as etnias apresentaram maior risco de introduzir estes alimentos quando comparada à etnia europeia. A etnia também é considerada um determinante social, no entanto alguns pesquisadores consideram que a desigualdade no acesso a recursos e condições de saúde acontece para o que seria um grupo social - definido por raça, cultura, estrutura familiar e gênero (BAKER, METZLER e GALEA, 2005; HALFON, LARSON e RUSS, 2010; QUANSAH et al., 2016). A etnia é um

eixo importante de desigualdade em saúde na Nova Zelândia, com os grupos maori e de etnia do pacífico apresentando claramente um estado de saúde mais precário comparado ao grupo étnico europeu (HOWE et al., 2015). As presença de disparidades entre grupos étnicos ainda nos primeiros mil dias de vida, como a menor duração do aleitamento materno e a introdução precoce da alimentação complementar em virtude de fatores econômicos, culturais e de estilo de vida, e caso não atenuadas ou eliminadas, essas desigualdades levam a um ciclo que manterá esses grupos em condições mais vulneráveis, e uma consequência preocupante é maior risco de obesidade na infância e após se tornarem adultos, entre outros desfechos de saúde e sociais (KUMANYIKA, 2008; TAVERAS et al., 2013; SHACKLETON et al., 2019).

Outros estudos também encontraram maior risco de introdução precoce de guloseimas e bebidas açucaradas nas crianças de mães com menor escolaridade (SCHREMPFT et al., 2013; HA et al.,2017; WANG et al., 2019).

O índice de privação da vizinhança foi um importante determinante de introdução inadequada de guloseimas e bebidas açucaradas, residir nos bairros com menor infraestrutura aumentou o risco de oferta destes alimentos para as crianças. Um recente estudo na Austrália encontrou maior risco de introdução de alimentos não recomendados no primeiro ano de vida em crianças de mães com menor renda (MANOHAR et al., 2020). Estes achados são interessantes, pois o índice de privação da vizinhança foi um importante fator associado à introdução de guloseimas e bebidas açucaradas, alimentos não recomendados no primeiro ano de vida, mas não para os grupos de alimentos recomendados pelo guia alimentar infantil neozelandês. A menor renda esta diretamente ligada à aquisição e consumo de alimentos ricos em açúcar, e os achados deste estudo confirmam que crianças de famílias com menor renda têm maior risco de receberem este alimentos no primeiro ano de vida, além do fato de

que essa desigualdade pode aumentar ao longo da vida com consequências indesejáveis na saúde (BRAVEMAN e BARCLAY, 2009).

Como levantado por outros autores, o tabagismo durante a gestação está associado a não adesão da mãe à recomendação de introdução oportuna dos alimentos complementares, logo o risco de introduzir alimentos inadequados no primeiro ano de vida também se torna maior entre mães fumantes (DONATH e AMIR, 2004; KOH et al., 2010; IGUACEL et al., 2018).

SCHREMPFT et al. (2013) também encontraram maior risco de introdução inadequada de guloseimas e bebidas açucaradas entre mães com IMC pré-gestacional elevado corroborando com o achado neste estudo.

A elevada oferta de guloseimas e bebidas açucaradas encontrada neste estudo é preocupante pois o consumo destes alimentos precocemente está associado à preferência por alimentos ricos em açúcar, e consequentemente, manutenção de maus hábitos alimentares (BIRCH e DOUB, 2014; HA et al., 2017). O consumo precoce destes alimentos está associado também com condições adversas no curso da vida como doenças cardiovasculares, diabetes, síndrome metabólica, hipertensão, sobrepeso e obesidade (ZALEWSKI et al., 2017). O consumo de guloseimas e bebidas açucaradas aos nove meses de idade foi associado ao maior consumo deste alimentos nove meses depois (LIORET et al., 2013). Os fatores associados à introdução precoce destes alimentos foram em geral os mesmos associados à introdução precoce da alimentação complementar e dos grupos alimentares recomendados pelo Ministério da Saúde neozelandês. Dessa forma, observa-se que a vulnerabilidade social é determinante para a saúde da criança em diferentes aspectos pois terá impacto no estado nutricional e pode ser associar a ocorrência de doenças crônicas no curso da vida (HALFON,

LARSON e RUSS, 2010; QUANSAH et al., 2016).

6.3 IMPORTÂNCIA DOS ACHADOS PARA A NUTRIÇÃO INFANTIL E