Em meio às atividades econômicas, a agricultura é a que proporciona maior conexão das condições climáticas. O clima, na escala regional, é o primeiro fator a ser avaliado por causa da sua condição de fator praticamente imutável (ALFONSI et al, 1987).
Segundo RODRIGUES (1995), sendo a cana-de-açúcar uma planta C4, as altas
eficiências fotossintéticas devem-se às altas intensidades luminosas. Com elevadas taxas de energia, os colmos são mais grossos, mas mais curtos; as folhas mais longas e mais verdes e o perfilhamento mais intenso.
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MANZATTO et al. (2009), descreveram que para fins da avaliação da aptidão climática para a cana-de-açúcar no Brasil, foram utilizados quatro variáveis: temperatura média do ar, deficiência hídrica anual, índice de satisfação das necessidades de água (ISNA) e o risco de geada, possibilitando assim a classificação de áreas segundo a análise de risco climático para o cultivo da cana-de-açúcar, em cinco diferentes classes, conforme Tabela 1.
Tabela 1. Legenda e critérios para a classificação da aptidão climática no Zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar para o Brasil.
CLIMA DESCRIÇÃO
A
Baixo Risco – Sem limitação ao cultivo – Área indicada Temperatura média anual > 19º C
ISNA > 0,6 Geada < 20%
Deficiência hídrica < 200 mm
B
Baixo Risco – Irrigação de salvamento indicada – Área indicada Temperatura média anual > 19º C
ISNA > 0,6 Geada < 20%
Deficiência hídrica > 200 mm e < 400 mm
C
Carência Térmica ou alto risco de geada – Área não indicada Temperatura média anual < 19º C ou geada > 20% ISNA > 0,6
Geada < 20%
Deficiência hídrica < 200 e 400 mm
D Irrigação intensiva imprescindível – Área não indicada ISNA < 0,6 e Deficiência hídrica > 400 mm
E Excesso de água com prejuízo para maturação e colheita – Área não indicada Período seco < 3 meses
16 2.1.2.1.1 Temperatura do ar
A temperatura do ar é fundamental para o cultivo da cana-de-açúcar, neste contexto, salienta-se que de uma forma geral, quando se está abaixo de 20ºC de temperatura, a brotação, o perfilhamento e o crescimento são quase nulos, e entre 25ºC e 30ºC são ótimos; acima de 35ºC regressam a ser quase nulos. Na maturação, a temperatura média do ar necessita ser menor que 20ºC. No período do frio, o desenvolvimento vegetativo é estacionado e a planta passa a preparar mais sacarose que será acumulada como substância de reserva, elevando seus teores no colmo (ANDRADE, 2004).
RODRIGUES (1995) afirma que, um dos graves problemas para a cultura da cana-de- açúcar na região Centro-Sul do Brasil seria a geada, tanto, a “ ranca” como a “negra”. “ ranca” é quando o ponto de orvalho está a ai o de 0ºC, normalmente em condições de alta umidade relativa. Quando a umidade está baixa e a temperatura cair abaixo de 0ºC, ocorre a geada “ egra”, nome devido ao surgimento de tecido vegetal escuro, sem a presença de gelo, após o período da geada. Sendo que, dependendo das condições do tempo e da exposição, a geada “negra” pode ser mais prejudicial que a “ ranca”, possivelmente devido à li eração de energia, que ocorre quando a água passa do estado líquido para o sólido, retardando o abaixamento da temperatura.
Segundo BRINHOLI (1972), os danos às folhas de cana-de-açúcar se dão na faixa de 2,2ºC a -5,0ºC; o congelamento do colmo de -1,1 a -7,7ºC; a rachadura do colmo em temperaturas iguais ou inferiores à -5,0ºC; a gema apical, na média morre sob temperaturas em torno de -2,2ºC por cerca de 3 horas, enquanto que temperaturas de 0ºC a -6,0ºC por 54 horas matam todas as gemas laterais.
2.1.2.1.2 Umidade
Alfonsi et al.(1987), enfatiza que:
A cana-de-açúcar acha suas melhores condições para o crescimento perante clima quente e úmido, com intensa radiação solar. Na fase de maturação e colheita, é melhor um período de restrição hídrica e térmica. No Brasil, em função de sua extensão territorial, existem as mais variadas condições edafoclimáticas e, possivelmente, é o único país que proporciona duas colheitas
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anuais: de setembro a abril no nordeste, e de maio a dezembro no centro-sul, correspondendo às épocas secas nessas regiões.
2.1.2.1.3 Energia
Vale lembrar que por ser uma planta do tipo C4, a cana é analisada de alta eficiência
fotossintética na conversão de energia radiante em energia química, com taxas calculadas em até 100 miligramas de CO2 por dm-2 de área foliar por hora. Com a fotossíntese acontece a
produção de carboidratos, utilizados primeiramente no desenvolvimento de folhas e raízes e, em seguida, na formação de matéria seca estrutural e acúmulo na forma de açúcares no colmo; quanto maior for o ponto de saturação lumínico, mais fotossíntese será realizada colaborando para o aumento da sacarose acumulada durante a maturação dos entrenós (MAGALHÃES, 1987).
Segundo RODRIGUES (1995), com elevadas taxas de energia, os colmos são mais grossos, mas mais curtos; as folhas mais longas e mais verdes e o perfilhamento mais intenso. Em condições de baixas irradiâncias os colmos são mais finos e longos, as folhas estreitas e amarelas.
RODRIGUES (1995) afirma ainda que o fotoperíodo também é importante, afetando o comprimento do colmo. Em fotoperíodos de 10 a 14 horas há aumento do colmo; no entanto; há redução dos colmos em fotoperíodos longos, entre 16 e 18 horas.
Segundo ALEXANDER (1973), a cana-de-açúcar absorve mais fortemente a energia relativa ao comprimento de onda do azul (0,48 µm) e, também, ocorrem picos embora menores, na faixa do vermelho (0,62 µm a 0,64 µm).
2.1.2.2 Fatores edáficos
Segundo CASTRO & KLUGE (2001), a cana-de-açúcar se desenvolve melhor em solos de boa fertilidade, profundos, argilosos, com boa capacidade de retenção de água, mas sem encharcamento e com pH de 6,0 a 6,5. Os solos ácidos são mais prejudiciais à cana-de- açúcar do que os alcalinos (HUMBERT, 1974).
Segundo BENVENUTI (2005), a cana-de-açúcar, devido aos diferentes cultivares, se mostra uma cultura bastante adaptável, sendo cultivada em solos de fertilidade e textura bastante distintas, desde arenosas até muito argilosas.
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As condições edáficas, ou seja, as características e propriedades físicas e químicas do solo influenciam de maneira significativa a profundidade do sistema radicular (FAUCONNIER & BASSEREAU, 1975).
2.1.2.2.1 Nutrientes
Destaca-se que em meio aos minerais, carece ser destacado o nitrogênio, por seu envolvimento com o florescimento. No entendimento de Humbert (1974), elevadas doses de nitrogênio alteram a relação carbono/nitrogênio, diminuindo o florescimento, igualmente como os demais minerais também têm relações com o florescimento na cana-de-açúcar. Um crescimento forte da cana-de-açúcar antes da indução é preciso para se alcançar o máximo florescimento na cultura. Contudo, doses altas de nitrogênio, especialmente no momento da indução, diminuem o florescimento. Berding et al. (2004) confirmaram que o dobro da dosagem de nitrogênio diminuiu a emergência das panículas. Em Edgecombe Mount, no Sul da África, o florescimento foi reduzido por 25 dias em razão da quantidade exagerada de nitrogênio no solo (HUMBERT, 1974).
Cabe frisar que em relação ao fósforo, a quantidade ótima exigida para um apropriado crescimento da cana-de-açúcar é de 3 a 5g kg-1 de matéria seca de planta durante o estádio vegetativo. A perspectiva de toxicidade com fósforo amplia com quantidades maiores que 10g kg-1 de matéria seca (BELL et al, 1990).
No que diz respeito ao potássio, Humbert (1974) notou que a variação da cana-de- açúcar tem variado em relação à variedade usada. Doses altas de potássio acrescem o índice de florescimento da variedade H42-8596, porém abrandou para a variedade H38-2915 e outras variedades não apontaram qualquer sensibilidade.
2.1.3 O cultivar RB855156
O cultivar RB855156 é fruto dos trabalhos do Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar (PMGCA), desenvolvido pelo Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), tendo como genitores os cultivares RB72454 e TUC71-7.
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Como aspectos gerais, o cultivar apresenta elevado touceiramento, principalmente na cana-soca, com colmos eretos, mas decumbentes na fase adulta, empalhados, de diâmetro fino a médio e cor verde-clara, e com presença de rachaduras (HOFFMANN et al., 2008).
De acordo com o catálogo de cultivares elaborado por HOFFMANN et al. (2008), o cultivar apresenta produtividade agrícola média, mesmo em ambientes restritivos de produção. O período ideal de colheita é entre abril e maio de cada ano, por se tratar de um cultivar considerado super-precoce (quando apresentam teor de Pol acima de 13% no início de maio e Período de Utilização Industrial (PUI) curto, menor que 120 dias). Apresenta ótima condição de brotação tanto na cana-planta quanto na cana-soca, mesmo quando colhidas manual ou mecanicamente e com ou sem uso de fogo para despalhamento durante a colheita. O perfilhamento é médio tanto na cana-planta quanto na cana-soca, com bom fechamento do dossel e ocorrência de tombamento eventual. O florescimento é frequente, com pouca ocorrência de chochamento dos colmos. O teor de sacarose é alto e o de fibra é baixo. Quanto às doenças e pragas, o cultivar é considerado resistente ao carvão, ferrugem, escaldadura, mosaicos, estrias vermelhas e falsas estrias vermelhas.
Como recomendação de manejo, HOFFMANN et al. (2008) sugere que o cultivar não deve ser plantado como cana de ano, ou seja, entre maio e novembro; e que a colheita deve ser sempre realizada no início da safra, entre abril e maio. O plantio deve ser feito em solos bem preparados e deve-se manter o mínimo intervalo entre as operações de sulcação, distribuição de mudas e cobrição.