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3. EVASÃO DISCENTE NO ENSINO SUPERIOR

3.3. Fatores da evasão

A literatura científica sobre a incidência da evasão no ensino superior apresenta a existência de uma diversidade de fatores que são rotineiramente divididos em internos e externos. Soecki et al. (2018), corroboram essa informação ao afirmarem que a evasão é resultado de vários fatores que atingem os estudantes de IES públicas e privadas. Segundo Dias, Theóphilo e Lopes (2010), os fatores internos são ligados ao curso (infraestrutura, corpo docente e assistência socioeducacional) e os fatores externos estão associados ao aluno (vocação, aspectos socioeconômicos e questões de cunho pessoal.

A Comissão Especial de Estudos sobre Evasão na Universidades Públicas Brasileiras realizou em 1996 um estudo com cursos de graduação de 53 IES públicas, objetivando apresentar dados sobre o desempenho das universidades públicas referentes aos índices de diplomação, retenção e evasão dos estudantes de graduação. Como resultado do estudo foi elencada uma série de fatores, classificada em três categorias, i) individuais do estudantes; ii) internos às instituições e; iii) externos às instituições, conforme demonstrado no Quadro 4. Estes fatores isoladamente ou inter-relacionados contribuem para a ocorrência da evasão discente nas IES.

Quadro 4 – Fatores da Evasão

Categoria Fatores

Características individuais do estudante

Relativos a habilidades de estudo; Relacionados à personalidade;

Decorrentes da formação escolar anterior; Vinculados à escolha precoce da profissão;

Relacionados a dificuldades pessoais de adaptação à vida universitária;

Decorrentes da incompatibilidade entre a vida académica e as exigências do mundo do trabalho; Decorrentes do desencanto ou da desmotivação dos alunos com cursos escolhidos em segunda ou terceira opção;

Decorrentes de dificuldades na relação ensino-aprendizagem, traduzidas em reprovações constantes ou na baixa frequência às aulas;

Decorrentes da desinformação a respeito da natureza dos cursos;

Decorrente da descoberta de novos interesses que levam à realização de novo vestibular.

Internos às instituições

Peculiares a questões académicas; currículos desatualizados, alongados; rígida cadeia de pré- requisitos, além da falta de clareza sobre o próprio projeto pedagógico do curso;

Relacionados a questões didático-pedagógicas: por exemplo, critérios impróprios de avaliação do desempenho discente;

Relacionados à falta de formação pedagógica ou ao desinteresse do docente;

Vinculados à ausência ou ao pequeno número de programas institucionais para o estudante, como Iniciação Científica, Monitoria, programas PET (Programa Especial de Treinamento), etc; Decorrentes da cultura institucional de desvalorização da docência na graduação;

Decorrentes de insuficiente estrutura de apoio ao ensino de graduação: laboratórios de ensino, equipamentos de informática, etc;

Inexistência de um sistema público nacional que viabilize a racionalização da utilização das vagas, afastando a possibilidade da matrícula em duas universidades.

Externos às instituições

Relativos ao mercado de trabalho;

Relacionados ao reconhecimento social da carreira escolhida; Afetos à qualidade da escola de primeiro e no segundo grau; Vinculados a conjunturas econômicas específicas;

Relacionados à desvalorização da profissão, por exemplo, o "caso" das Licenciaturas; Vinculados a dificuldades financeiras do estudante;

Relacionados às dificuldades de atualizar-se a universidade frente aos avanços tecnológicos, económicos e sociais da contemporaneidade;

Relacionados a ausência de políticas governamentais consistentes e continuadas, voltadas ao ensino de graduação.

Fonte: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Superior (1996)

Outras pesquisas foram realizadas almejando diagnosticar os fatores que motivam os alunos a abandonarem seus cursos antes da conclusão. Cordasso et al. (2016) em estudo realizado com IES públicas e privadas do Mato Grosso identificaram a insatisfação com o curso, o descontentamento com a qualidade do ensino, as dificuldades financeiras e a mudança de domicílio como principais motivadores da evasão nas IES pesquisadas.

Sabendo que os motivos podem variar de acordo com o curso matriculado, visto que cada curso possui características particulares, Barbosa, Mezzomo e Loder (2011) identificaram, ao realizar estudo com alunos evadidos do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), motivos como: dificuldade de conciliar trabalho e estudo, desinteresse pelo curso, falta de apoio, didática e interesse por parte dos professores e falta de infraestrutura física como motivadores para a evasão dos alunos.

Castro, Souza e Sá (2018) ao realizarem investigação nos cursos de licenciatura em física, matemática e química da Universidade Federal de Goiás (UFG) identificaram como causa da evasão a forma como se dá a atuação docente, as didáticas desatualizadas, precariedade do sistema de avaliação, falta de identificação com o curso e desatenção da coordenação.

Ferreira (2019), realizou estudo com os alunos evadidos do curso de agronomia da Universidade Federal do Cariri (UFCA), no período de 2013 a 2017, e constatou que fatores anteriores ao ingresso do aluno no curso contribuíram de forma indireta para a ocorrência da evasão, tais como a condição econômica da família e a escolaridade dos pais. No entanto, entre os fatores principais, indicados pelos evadidos, que influenciaram diretamente na sua decisão estão: dificuldades financeiras, escolha equivocada do curso e falta de apoio pedagógico/financeiro por parte da instituição. O Quadro 5 apresenta outras pesquisas realizadas na área da evasão discente no ensino superior que objetivaram identificar as causas dessa problemática.

Quadro 5 – Estudos sobre as causas da evasão.

Autor (ano) Causas

Amaral (2009) Condições socioeconômicas e interesses pessoais.

Rodriguez (2010) Estratégias utilizadas pelas instituições, problemas financeiros, de adaptação, incompatibilidade de horário de trabalho e estudo.

Assis (2013) Condições socioeconômicas e necessidade de trabalhar. Amaral (2013)

Necessidade de trabalhar, condições socioeconômicas, insatisfação com o curso, ausência de ações institucionais de combate à evasão e dificuldade de acesso à benefícios.

Silva e Fossatti (2014) Integração acadêmica, família e trabalho, disciplinas dos cursos, situação financeira e gestão das instituições.

Martins, Melo e Utta (2015)

Falta teste vocacional de qualidade, não adaptação à estrutura curricular do curso, má atuação docente, aprovação em outro curso, escolha do curso como segunda opção, falta de estrutura física e de material pedagógico na instituição. Araújo (2016)

Desempenho acadêmico, indefinição da escolha profissional, área de conhecimento do curso, tempo de matrícula no curso, condição financeira, expectativa diferente com relação ao curso.

Feitosa (2016) Localização da instituição, horário das disciplinas, necessidade de trabalhar, desmotivação com o curso.

Continua

Autor (ano) Causas

Castro, Souza e Sá (2018)

Atuação dos professores e da coordenação, metodologias de ensino ultrapassadas, aulas desmotivadoras e falta de identificação com o curso.

Bonnas (2019)

Cenário econômico desfavorável, formação prévia do estudante, falta de vocação, desprestígio da carreira, rigidez no currículo do curso.

Fonte: Elaborado pela autora (2020).