• Nenhum resultado encontrado

3 PRINCÍPIOS DA ARQUITETURA VERNÁCULAR

3.4 FATORES DE INFLUÊNCIA SOBRE A CONSTRUÇÃO VERNACULAR

VERNACULAR

De acordo com estudos de Oliver (2005) alguns fatores estão diretamente relacionados com a tipologia, a forma e as técnicas empregadas na arquitetura vernacular, sendo os principais aqui destacados, a saber: o clima, a cultura, o tempo de permanência nas residências – se seus habitantes são nômades ou não – e os materiais de construção. Além destes, existem outros elementos que igualmente afetam as construções, os quais são abordados, de forma específica, no estudo de caso.

3.4.1 Clima

O clima é um fator de significativa influência sobre os locais onde serão instaladas as moradias vernáculas. As construções realizadas em climas frios devem ter significativo isolamento. Normalmente, são seladas para impedir a perda de calor

e as aberturas são pequenas ou quase inexistentes. Já as construções feitas em locais quentes tendem a ser executadas por materiais mais claros e que permitam a ventilação cruzada com grandes aberturas teladas (HEAT, 2009).

A arquitetura vernacular Iraniana localizadas em clima seco e quente apresenta algumas estratégias para melhoria do conforto interno das residências como: jardins internos com espelhos de água para maximizar a brisa e diminuir o calor; forma da arquitetura quadrada para minimização da superfície de contato com o exterior; telhado com grandes espessuras que auxilia no isolamento; telhados com platibandas para sombreamento da cobertura e nas regiões de deserto os telhados apresentam-se de forma curva com o intuito de proteção solar durante o dia e radiação de calor para o interior durante a noite (MOHAMMADABADI e SHIMAOSSADAT, 2011)

Mohammadabadi e Shimaossadat (2011) destacam também que em algumas regiões de clima quente a arquitetura vernacular fez uso de chaminés de ventilação e de paredes com espessuras de um metro com o objetivo de atraso térmico.

Djalilian e Tahbaz (2011) constataram que a utilização de telhados curvos foram utilizados em construções vernaculares do deserto para melhorar as condições de conforto, uma vez que essa forma armazena mais calor – inércia térmica. Além disso, destaca que as construções apresentavam uma porção subterrânea.

Por outro lado Meir et. al (2004) destacam que em alguns casos as construções vernaculares podem apresentar soluções que não estão de acordo com o clima local e isso pode levar a soluções errôneas ao se reproduzir esse tipo de arquitetura. Meir et. al (2004) em estudo sobre as soluções de projeto para construções no deserto Nev em Israel constatou que a maioria das construções vernaculares nessa região apresenta massa térmica muito grande e aberturas pequenas e essa solução não contribui para o conforto além de piorar a qualidade do ar interno. Em função disso o autor destaca que deve-se estudar profundamente as soluções realizadas anteriormente com a finalidade de se reproduzir somente as soluções realmente adequadas.

Por outro lado Zhai e Previtali (2010) identificou que as soluções de matérias e técnicas construtivas vernáculas estão de acordo com o clima de inserção. Em

seus estudos destaca que a solução de vedação com alta massa térmica é utilizada em locais muito frios e também em locais de deserto, e destaca que essas soluções suprem as necessidades de conforto no interior da edificação.

Gautam (2008) confirma em seus estudos sobre arquitetura vernacular de Jharkhand-India, que as construções vernaculares conseguem um conforto interno através de estratégias passivas de resfriamento e que essas idéias devem ser levadas para projetos contemporâneos no local de estudo.

3.4.2 Cultura

A maneira de vida dos ocupantes e o modo como usam seus abrigos são igualmente importantes para a conformação das edificações vernaculares. O tamanho da família, a forma como os ocupantes dividem os espaços, as coisas de que se alimentam e como se relacionam entre si são fatores que influenciam diretamente na maneira de dispor o layout e o tamanho das moradias (OLIVER, 2005).

Existe uma diversidade de soluções espaciais que podem ser encontradas em todo o mundo, nas diversas regiões etnográficas, que podem coexistir em um mesmo país, como é o caso das tribos indígenas brasileiras, que têm uma grande diversidade de cultura e, consequentemente, de organização espacial das aldeias. Para cada tipo de organização das tribos, há diferentes formas de espacialização, tanto do conjunto das moradias como de cada unidade.

As construções indígenas brasileiras, que serão apresentadas no item 3.5.1, são um exemplo de como a cultura influencia seu modo de vida e, consequentemente, seu espaço habitativo. As interrelações sociais, coletivas e familiares, influem nos espaços, assim como na aparência dos edifícios vernaculares, porque os ocupantes frequentemente decoram os edifícios de acordo com costumes locais e crenças.

O tempo em que a edificação será ocupada também influencia em sua conformação, ou seja, a permanência – se longa, curta ou esporádica – acaba por conduzir a soluções diferenciadas de arquitetura vernacular. Existem no mundo muitas culturas que incluem alguns aspectos da vida nômade no seu modo de vida e essas apresentam soluções vernaculares específicas para as necessidades do abrigo, as quais incluem respostas igualmente apropriadas ao clima e aos costumes de seus habitantes (OLIVER, 2005).

Os esquimós ou inuits, por exemplo, possuem uma arquitetura vernacular nômade, cuja forma está adaptada ao meio e recebe o nome de iglu ou igloo (Fig. 3.1). Esta habitação polar tem forma de cúpula e é construída com blocos de neve compacta, encaixados em espiral. Outros exemplos são: a habitação em forma de tenda dos berberes nômades do deserto, os quais vivem no Saara, Mali ou Níger, na África; e o tipi ou teepee (do sioux thípi = “habitar”), que é uma tenda cônica dos índios norte-americanos das grandes planícies, de hábitos nômades, sendo feita de galhos cruzados recobertos com pele de bisão e decorados (CASTELNOU, 2009).

Os nômades utilizam materiais comuns da região onde irão se instalar para confeccionar suas moradias transitórias, sendo que o tipo de estrutura e material empregados variam conforme o tempo de permanência estimado para seus habitantes. As estruturas leves são menos duráveis do que as pesadas, porém muitas vezes não se adaptam ao meio e, caso venha a ventar muito ou inundar a região, as casas pesadas quando caem tendem a ferir mais fatalmente do que as casas em estruturas leves.

3.4.4 Materiais de construção

Os materiais disponíveis nas regiões onde será erguida determinada moradia definem as características essenciais de arquitetura vernacular local. Em áreas ricas em árvores, desenvolver-se-á uma arquitetura vernacular em madeira, enquanto locais sem matas e florestas permitirão o aparecimento de uma arquitetura de lama ou pedra, conforme o material que estiver à mão. No Extremo Oriente, bastante comum é o uso do bambu, porque além de ser abundante na região, trata-se de um

material leve e bastante versátil (OLIVER, 2005). Esses condicionantes demonstram novamente o caráter sustentável desse tipo de arquitetura.

Dili et.al (2010) destacam que através do uso de materiais vernáculos as construções vernaculares de Querla apresentam um controle passivo de conforto térmico. Nessa região as construções são executadas de materiais como: adobe, pedra, madeira, bambu, folhas de palmeira, ferro e cimento feito com argamassa de limão; areia e água. Além dos materiais as construções apresentam outros elementos para auxiliar o conforto térmico como muxarabis e volumes gerando sombras sobre as áreas de permanência das pessoas.

Singh et. al (2011) destacam que em regiões frias e nebulosas o material utilizado para vedação externas pelas residências vernaculares são paredes de pedras com 25cm a 30cm; já as paredes internas são feitas de bambu com duas camadas de areia e cimento. Junto a isso as residências apresentam um forno à lenha com dutos espalhados pela casa para passagem da fumaça e aquecimento dos cômodos.

Documentos relacionados