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II. Enquadramento Teórico

5. Lesões músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho

5.2. Fatores de Risco de Ocorrência de LMELT

5.2.4. Fatores de origem individual

Os fatores individuais podem contribuir para a génese das LMELT (Malchaire, & Cock, 1999). A variabilidade do Ser Humano reflete-se a vários níveis, nomeadamente, nas características pessoais (género, idade, características antropométricas), nos estilos de vida, e situação de saúde (Marras, 2000).

5.2.4.1.

Idade

A idade tem uma forte relação com o desenvolvimento de LMELT. Com a idade verificam-se mudanças degenerativas naturais no sistema músculo-esquelético, agravadas pela exposição ao risco por períodos prolongados de tempo, o que torna os trabalhadores de idade mais avançada mais suscetíveis de sofrer LMELT (Buckle & Devereux, 1999).

A idade parece ser um fator determinante na ocorrência de LMELT. O pico do risco de ocorrência de LMELT nos homens é cerca dos 40 anos de idade, enquanto a maior prevalência de incidência para mulheres ocorre entre os 50 e 60 anos de idade (W. S. Marras, 2000).

O aumento da idade pode limitar a capacidade de executar tarefas de MMC devido a serem tarefas fisicamente exigentes, que impõem elevada coordenação muscular e articular. No entanto, a relação entre a limitação da capacidade física do trabalhador e o aumento da idade não é consensual nos estudos científicos realizados na temática da MMC. Estudos psicofísicos com o objetivo de comparar os pesos máximos aceitáveis na MMC por uma população jovem (18-35 anos de idade) e uma população mais velha (55-74 anos de idade) não chegaram a diferenças significativas entre as duas populações (Wright & Mital, 1999). Os autores dos estudos afirmam que a idade do trabalhador não deve ser um fator de risco que deva ter uma preocupação exagerada, desde que a população mais velha tenha capacidade física para realizar a MMC. Por outro lado, ao aumento da idade está associado o aumento da experiência de trabalho. De acordo com os estudos desenvolvidos por Plamondon, et al., (2014) e por Gagnon (2005), em tarefas de MMC os trabalhadores mais experientes, em comparação com os menos experientes, evitam fletir a coluna vertebral, têm a carga mais junto ao corpo e inclinam a carga para iniciar a movimentação. Segundo estes autores, a adoção destas posturas e técnicas podem estar relacionadas com a experiência devido ao aumento da idade. Contudo, deve ter-se em conta que o aumento da idade implica o aumento do risco de lesões

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músculo-esqueléticas como é o caso das lombalgias e, por essa razão, sempre que seja possível os trabalhadores mais velhos, especialmente com mais de 50 anos de idade, não devem executar tarefas de MMC (Mital, Nicholson, & Ayoub, 1997). Além disso, o aumento da idade provoca mudanças físicas no sistema músculo-esquelético e no sistema cardiovascular que se manifestam na diminuição da força muscular, da flexibilidade das articulações e da resistência do corpo a desgastes crónicos e degenerativos (Shephard, 1999).

5.2.4.2.

Sexo

Widanarko et al. (2011) referem que a diferença de prevalência de distúrbios músculoesqueléticos entre mulheres e homens pode ser explicada por quatro teorias. A primeira teoria, afirma que homens e mulheres são expostos de forma diferente (Bernard et al., 1994; Burdorf e Sorock, 1997; Hooftman et al., 2009, cit. por Widanarko et al., 2011) pois 77% dos trabalhos pesados são realizados por homens, enquanto 62% dos trabalhos leves são dominados pelas mulheres. Desta forma, a exposição ocupacional parece, ser específica para cada género, sendo a movimentação manual de cargas, efetuada preferencialmente pelos homens enquanto as mulheres realizam tarefas mais exigentes em termos de repetitividade e motricidade fina (Widanarko, et al., 2011).

A segunda teoria está relacionada com a dimensão do corpo e capacidades de ambos os géneros. Sendo as mulheres mais pequenas e com menor capacidade física do que os homens, apresentam uma maior carga de trabalho para a mesma tarefa (Widanarko, et al., 2011).

A terceira teoria corresponde às diferenças na perceção da dor devido a mecanismos biológicos (Aloisi e Bonifazi, 2006; Craft et al., 2004; Fillingim e Ness, 2000, cit. por Widanarko et al., 2011). E a quarta teoria está relacionada com os estereótipos, ou seja, a expectativa do papel social,

mostrando que as mulheres tendem a relatar mais a dor do que os homens (Widanarko, et al., 2011). No que se refere ao sexo do trabalhador, existem diferenças significativas tanto na sua representatividade a executar tarefas de MMC como na capacidade de as executar. Segundo o 6º IECT, na UE-28, 40% dos trabalhadores do sexo masculino e 23% do sexo feminino executam tarefas de MMC, pelo menos ¼ do tempo. Em Portugal os valores são de 32% para os trabalhadores do sexo masculino e 17% para o sexo feminino, no mesmo período (EU-OSHA, 2017). Nas tarefas de MMC o sexo masculino também apresenta pesos máximos aceitáveis/recomendados de carga mais altos que o sexo feminino (Ciriello, Maikala, Dempsey, & O'Brien, 2011). No entanto, o sexo feminino demonstra ter maior resistência física a executar tarefas de MMC repetitivas (Hidalgo, et al., 1997). De acordo com Marras, Kermit, & Jorgensen, (2002), o maior Índice de Massa Corporal (IMC) do sexo masculino, em termos gerais, provoca maiores forças compressivas na coluna lombar comparativamente com o sexo feminino quando executam tarefas de MMC, contudo no sexo feminino os valores dessas forças estão mais próximos dos limites de tolerância, estando por isso sujeitas a um risco mais elevado de contrair lesões lombares. Além disso, as alterações hormonais das mulheres (por exemplo: gravidez e menopausa) e a execução de tarefas domésticas também contribuem para a sobrecarga do sistema músculo-esquelético e para o desenvolvimento de lombalgias (Hoogendoorn, van Poppel, Bongers, Koes, & Bouter, 1999).

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5.2.4.3.

Características antropométricas e constituição física

As características antropométricas dos trabalhadores também têm sido largamente estudadas como um fator de risco de ocorrência de LMELT. Embora haja pouco consenso entre os vários estudos, Marras (2000) mostrou que existe uma associação entre o fator estatura e o risco de ocorrência de LMELT. As diferenças das variações das estaturas e do peso, podem contribuir para a génese de LMELT.

Outro fator de risco, muitas vezes associado e reportado ao risco de LMELT, é o tabagismo. No entanto, a análise da literatura revela que o tabagismo está associado ao aumento dos sintomas, mas não ao aumento do absentismo (Ferguson & Marras, 1997).

A realização de atividades diárias, nomeadamente atividades desportivas, atividades com exposição a vibrações, como a condução, atividades de ocupação dos tempos livres e a quase totalidade das atividades domésticas, são exemplos de situações onde, com frequência, se verificam exposições fora do trabalho a fatores de risco de LME. Estas exposições também podem contribuir para influenciar o estado de saúde do trabalhador (Cole & Rivilis, 2004). No entanto, um estilo de vida sedentário também pode levar a uma má condição física e consequentemente a uma má preparação para a atividade ocupacional com maior carga física.

O nível de experiência profissional pode influenciar o aparecimento de LMELT. Os trabalhadores mais jovens e/ou inexperientes em situações com exigências de aplicação de força, têm mais dificuldades, exercem mais força, apresentam fadiga precoce e, consequentemente, apresentam maior prevalência de lesões, comparativamente aos trabalhadores experientes (Vezina & Chatigny, 1996). A adaptação do posto de trabalho e das tarefas às diferentes características antropométricas dos trabalhadores (por exemplo: altura, dimensão de diferentes segmentos corporais) têm constituído um desafio para as empresas. Trabalhadores com percentis que se afastam das dimensões médias da população têm dificuldade em executar as tarefas sendo, por vezes, obrigados a adotar posturas inadequadas. A altura dos trabalhadores pode constituir uma desvantagem na execução de tarefas de MMC. Os trabalhadores mais altos podem estar em desvantagem em relação aos mais baixos em situações em que é necessário levantar ou baixar cargas junto ao chão, uma vez que precisam de fletir mais a coluna vertebral, situação que provoca forças biomecânicas maiores na mesma (Splittstoesser, et al., 2007).

A constituição física do trabalhador também se assume como uma característica individual que pode afetar a execução de tarefas de MMC. Trabalhadores com maior força muscular são mais capazes de executar tarefas de MMC e têm tendência a contrair menos lesões que trabalhadores com menor força muscular (Mital & Kumar, 1998). Contudo, os trabalhadores com maior força muscular podem sobrestimar a sua força e adotar uma estratégia de movimentar maior quantidade de cargas por deslocação, implicando maior peso, em vez de dividir o peso das cargas por várias deslocações (Barlett, Li, & Zhang, 2007).

A obesidade dos trabalhadores (IMC ≥ 30 kg/m2) pode ter consequências negativas nas atividades de trabalho como, por exemplo, no aumento do absentismo e na diminuição da produtividade. Na execução de tarefas de MMC os trabalhadores obesos apresentam dificuldades locomotivas, cansam- se mais rapidamente e têm tendência a contrair mais lesões (Mital & Kumar, 1998). Na elevação ou no abaixamento de cargas o excesso de gordura dos trabalhadores demostrou ser responsável por maiores picos de forças biomecânicas na coluna lombo-sagrada (Corbeil, Plamondon, Teasdale, & Handrigan, 2013). No entanto, de acordo com a revisão sistemática desenvolvida por Lebouef-Yde

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(2000), não existe evidência clara entre o aumento do peso corporal e o desenvolvimento de lombalgias.

De acordo com Mital, Nicholson & Ayub (1997) os trabalhadores mais altos, obesos ou com menor força muscular apresentam desvantagens na execução de tarefas de MMC, particularmente nas repetitivas.

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