• Nenhum resultado encontrado

A performance numa dada modalidade desportiva está sempre dependente de diversos fatores. Em função disso Matveev (2001), apresentou um esquema que define os fatores que influenciam a participação no desporto adaptado, nomeadamente o fator social, o fator biológico, o fator psicológico e o fator específico da modalidade. Mais tarde, Silva et al. (2013), adaptou esse

Revisão da Literatura

20

esquema e tentou perceber o que levava o atleta a ser influenciado por esses mesmos fatores, como é possível observar na figura 1.

Figura 1- Esquema dos fatores que influenciam o desporto adaptado

(adaptado de Silva et al., 2013).

Existem diversos fatores que influenciam o rendimento desportivo, independentemente do desporto praticado e do tipo de deficiência apresentado por cada atleta. A redução ou desconsideração de algum dos componentes do modelo resulta em prejuízos para o resultado que se pretende atingir (Silva et al., 2013).

O aspeto biológico ao ser trabalhado no treino pode promover uma melhoria da composição corporal (Kelly et al., 2010; Sutton et al., 2009), da função cardiorrespiratória (Jacobs et al., 2001; Janssen et al., 2002), da força muscular (Dallmeijer et al., 1994; Jacobs et al., 2001; Noreau & Vachon, 1998), dos níveis de tolerância do sistema energético anaeróbio (De Groot et al., 2012; Turbanski & Schmidtbleicher, 2010), e das habilidades motoras (Silva et al., 2011). •Como a deficiência influencia? •Qual o perfil requerido para a prática? •Aspetos fisiológicos, biomecânicos, percepto-motor; •Representação social do desporto para a pessoa com deficiência; Fatores sociais Fatores biológicos Fatores psicológicos Fatores específicos da modalidade

Revisão da Literatura

21

Em relação o aspeto psicológico é de grande importância saber a origem da deficiência do atleta (Shearer & Bressan, 2010). Silva et al. (2013), referem que a questão ambiental pode interferir no estado psicológico do atleta. Neste ponto os autores citados anteriormente afirmam que a acessibilidade e os transportes nem sempre estão garantidos por parte dos clubes, trazendo assim inúmeros constrangimentos para os atletas. No que diz respeito à relação treinador-atleta, o treinador tem que conhecer muito bem os fatores que podem afetar psicologicamente os atletas, com o objetivo de obter o melhor desempenho por parte deles. O aspeto psicológico do atleta é fundamental para a melhoria da sua performance. Silva et al. (2013), descrevem que o processo de avaliação psicológica é uma ferramenta indispensável para a equipa técnica, pois irá melhorar o funcionamento psicológico dos atletas. Esta avaliação será tida em conta na planificação dos treinos mais assertivos e de acordo com as capacidades individuais de cada atleta.

Os aspetos específicos da modalidade desportiva também são um dos fatores que influenciam a performance do atleta, pois cada modalidade têm as suas particularidades que irão direcionar o planeamento e a sua condução. Um princípio primordial a ser observado é que em função da classificação funcional, os atletas irão apresentar diferentes potenciais funcionais. Um exemplo disso é o caso do râguebi em cadeira de rodas, onde em função da classificação funcional surge dois grupos, nos quais os atletas são divididos. Um designado “pontos baixos”, cuja a classificação varia de 0,5 a 1,5 e são jogadores cuja a característica é de ação defensiva através de bloqueios nas situações de ataque e defesa, e o outro grupo é designado por “pontos altos”, onde a classificação funcional varia de 2,0 a 3,5 e são jogadores que desempenham funções mais agressivas e têm a responsabilidade de carregar a bola nas situações de ataque (Silva et al., 2013). Cabe ao treinador conhecer o sistema de classificação funcional nas suas particularidades, pois um erro de julgamento pode fazer com que um atleta seja treinado para uma função que não coincide com o potencial do atleta. Isto porque a lesão do atleta vai influenciar a sua posição em campo. Um atleta tetraplégico não tem tanta capacidade de executar habilidades que exigem muita manipulação da bola, mas têm uma boa capacidade para realizar bloqueios e marcações. Enquanto um atleta amputado, ou mesmo um atleta paraplégico têm mais capacidades para realizarem habilidades que exigem

Revisão da Literatura

22

manipulação de bola, bem como deslocamentos rápidos juntamente com uma boa capacidade de finalização (Silva et al., 2013).

O aspeto social é um fator determinante, pois é através da prática desportiva adaptada que existe uma inclusão social, que possibilita aos atletas fazerem parte de um grupo com as mesmas condições, e é aqui que os seus feitos são valorizados (Goodwin et al., 2009). Cunha (2006), refere que o aspeto social tem uma enorme importância no desporto adaptado, pois desta forma o individuo sai de casa ajudando assim a combater o isolamento, aumenta a confiança nas suas deslocações, melhora a autoconfiança e autonomia, possibilita novos contatos e promove alterações no comportamento. O autor citado anteriormente, refere ainda que o desporto e a atividade física melhoram o equilíbrio psicológico da pessoa com deficiência, ajudando-o a relacionar-se com o mundo exterior, promovendo o desenvolvimento de mais atitudes mentais e éticas, essenciais para o seu desenvolvimento. De forma mais resumida, Wheeler (2011), descreve vários aspetos que podem influenciar o treino desportivo para atletas com deficiência. Nomeadamente, o suporte social, instalações, vizinhança, dor, lesões e doenças, treinadores, classificação e desmotivação.

No que se refere aos fatores de performance diretamente relacionados com ACR destacam-se os fundamentos técnicos da modalidade. Gorla et al. (2010), definem como fundamentos técnicos do Andebol em cadeira de rodas o manuseamento da cadeira de rodas, o passe e receção, a condução e controlo da bola, o lançamento e remate, o bloqueio ofensivo e defensivo. Os autores citados anteriormente definem ainda como fundamentos táticos a defesa individual, a defesa por zona, as linhas ofensivas, os sistemas ofensivos, as linhas defensivas e os sistemas defensivos.

Em relação aos fundamentos técnicos do ACR, o manuseamento da cadeira de rodas é um fator determinante no desempenho em jogo. Esta ação implica a utilização de capacidades físicas inerentes à realização do esforço mecânico, juntamente com raciocínio lógico e noção espaço temporal. A progressão através da cadeira de rodas é dividida em três fases: propulsão, deslize e travagem. A propulsão corresponde à aplicação da força manual com o intuito de deslocar a cadeira para a frente e para trás. O deslize corresponde ao aproveitamento da força aplicada na fase da propulsão, de modo a aproveitar

Revisão da Literatura

23

um espaço maior de deslocamento com as mãos livres. A travagem consiste em parar o movimento da cadeira segurando o aro que se encaixa na roda da cadeira (Gorla et al., 2010).

O passe e a receção no ACR são muito semelhantes aos do andebol convencional. A receção da bola deve ser realizada com os braços e dedos ligeiramente flexionados e estes devem acompanhar a trajetória da bola. Existem dois tipos de receção: a receção com uma mão e a receção com as duas mãos, que pode ser alta, média ou baixa. Em relação ao passe existem três tipos: o passe de ombro, onde o braço deve formar um angulo reto de 90º com o tronco e antebraço, e este tipo de passe é o mais veloz; o passe picado onde a trajetória do movimento é direcionada para o chão para facilitar assim a receção da bola por parte do atleta; e, por último, o passe parabólico onde a trajetória da bola é realizada em altura de forma a passar por cima dos adversários. Este tipo de passe é muito utilizado nos contra-ataques (Gorla et al., 2010).

Na condução da bola o atleta não pode transportar a bola em cima do colo. Esta condução exige uma relação direta com o controlo da cadeira e pode ser realizada de duas maneiras: com uma mão ou com alternância das mãos (Gorla et al., 2010). O remate deve ser realizado pelo atleta na melhor posição possível para ter a eficácia desejada e deve ser realizado de uma forma rápida. Existem três tipos de remate: i) remate frontal; ii) remate lateral ou rasteiro; iii) remate parabólico. No remate frontal são aplicados os mesmos princípios biomecânicos do passe de ombro. O atleta neste tipo de remate deve aproveitar a aceleração da cadeira para conseguir obter a maior potência possível. O remate lateral ou rasteiro tem como principal propósito surpreender o guarda- redes. E, por fim, o remate parabólico é muito utilizado quando os guarda-redes estão avançados no terreno de jogo (Gorla et al., 2010). O bloqueio ofensivo consiste em bloquear o movimento da cadeira de rodas do adversário e é determinado pela antecipação do movimento do atacante pelo defensor (Gorla et al., 2010). O bloqueio defensivo consiste na elevação dos braços, impedindo assim a trajetória da bola em direção à baliza (Gorla et al., 2010).

Em relação aos fundamentos táticos destaca-se a defesa individual, a defesa por zona, as linhas ofensivas, os sistemas ofensivos, as linhas defensivas e os sistemas defensivos. A defesa individual pode ser realizada de quatro formas, nomeadamente: i) defesa individual por dissuasão que tem por objetivo

Revisão da Literatura

24

impedir a movimentação dos atacantes; ii) defesa individual por interceção que tem por objetivo roubar a posse de bola antecipando-se; iii) defesa individual por pressão meio-campo, mais conhecida por defesa em “cima” que tem por objetivo marcar o adversário no seu meio-campo defensivo; e, a iv) defesa individual de pressão por todo o campo que tem por objetivo marcar a saída da bola adversária (Gorla et al., 2010). A defesa por zona caracteriza-se pela utilização das áreas de seis e nove metros como elementos referenciais (Gorla et al., 2010).

Em relação às linhas ofensivas estas são caracterizadas essencialmente pela criação de duas linhas: a primeira linha aos nove metros onde se situam os jogadores maiores e mais fortes, com capacidade de finalização de longa distância, e a segunda linha aos seis metros onde se situam jogadores rápidos e ágeis e com capacidade de finalização (Gorla et al., 2010). Os sistemas ofensivos podem ser divididos em três: o sistema 3:3, sistema 4:2, sistema 2:4 (Gorla et al., 2010).

As linhas defensivas são caracterizadas essencialmente pela criação de três linhas: a primeira linha aos seis metros onde se encontram defensores com menor mobilidade, a segunda linha aos nove metros onde se encontram defensores com grande mobilidade e boa execução do bloqueio defensivo, e a terceira linha mais à frente onde se encontram os jogadores com alta capacidade de mobilidade e antecipação (Gorla et al., 2010). Os sistemas defensivos podem ser divididos em seis: o sistema 3:3, sistema 1:5, sistema 5:1, sistema 4:2, sistema 6:0, e defesa mista (Gorla et al., 2010).

Por último podemos concluir que os fatores de performance ligados ao Andebol em cadeira de rodas são idênticos ao Andebol convencional ou a qualquer outra modalidade desportiva. O único fator que difere de uma modalidade convencional para uma modalidade adaptada ocorre ao nível dos fundamentos técnicos da modalidade, nomeadamente no manusear da cadeira de rodas, sendo este um fator essencial para o desempenho dos atletas de uma modalidade adaptada.

Revisão da Literatura

25

2.5. Caracterização da tipologia da deficiência nos praticantes de

Documentos relacionados