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5. RESULTADOS

6.3 Fatores de risco para otite média com efusão

Os fatores de risco para OME foram avaliados nos pacientes deste estudo e encontram-se nas TAB. 2 e 3 e na FIG. 6. A análise da associação entre cada fator e o resultado final na orelha média encontram-se na TAB. 17.

6.3.1 Idade do início das otites e tempo decorrido até o procedimento cirúrgico A idade média do início dos episódios de otites nos 55 pacientes estudados foi 21,6 ± 15,2 meses, com idade mínima de três e máxima de 70 meses (Tab. 2). O intervalo entre 6,4 a 36,8 meses (± um desvio-padrão) compreendeu 67% das crianças avaliadas, coincidindo com a idade de pico de incidência de OME da literatura que se encontra entre seis e 13 meses de idade (WECKX, 1999).

O tempo decorrido entre o diagnóstico da OME e o procedimento cirúrgico foi maior que 12 meses em mais da metade dos pacientes (TAB. 5). A diferença entre a média de idade de início das otites e a média de idade à época do ato operatório foi de 26,2 meses (TAB. 1 e 2), revelando um atraso médio de mais de dois anos na realização dos procedimentos cirúrgicos. Não se observou, entretanto, associação entre o atraso no ato cirúrgico e o resultado final na orelha média, nos pacientes estudados (p= 0,374, TAB. 17).

As correlações tanto entre a idade média de início das otites quanto da idade dos pacientes à época dos procedimentos não revelou associação com o resultado final – normal ou alterado – na orelha média (p=0,382 e 0,332, TAB. 16).

ambos os grupos estudados. A distribuição pouco assimétrica da mediana para baixo, dentro da caixa central, revela uma mediana pouco menor que a média. As observações 9, 14 e 22 apresentaram-se discrepantes ou dispersas para cima em relação aos outros 52 pacientes, com idades de início das otites em 70, 60 e 66 meses, respectivamente. A literatura os considera como discrepantes, dispersos, aberrantes ou outliers por serem observações que se afastam demasiadamente das restantes de um conjunto de dados, parecendo que foram geradas por um mecanismo diferente (FIGUEIRA, 1998). O novo cálculo da média sem considerar os três pacientes outliers foi de 19,0 ± 11,2 meses (TAB. 2).

6.3.2 Sexo

Os pacientes apresentaram-se bem distribuídos quanto ao sexo, sendo 28 (50,9%) e 27 (49,1%) dos sexos masculino e feminino, respectivamente (TAB. 3). Não se observou, na amostra estudada, maior prevalência da OME em crianças do sexo masculino como observado em alguns estudos (KLEIN, 1994; ALHO et al., 1995; POEHLMAN, 1996 e PARADISE et al., 1997). A variável sexo não se mostrou associada ao resultado final de normalização na orelha média nos pacientes deste estudo (p= 0,504, TAB. 17).

6.3.3 Classificação socioeconômica familiar

A classificação socioeconômica, conjugada com o número de irmãos (TAB. 3), revela que 25 (45,4%) dos pacientes são provenientes de famílias

que percebem menos de cinco salários mínimos, enquanto 49 (89,1%) têm, no mínimo, um irmão, ficando a família constituída por quatro indivíduos.

O artigo 7º, inciso IV dos Direitos Sociais, capítulo II, da Constituição da República Federativa do Brasil, determina que o salário mínimo necessário é “fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às necessidades vitais básicas do trabalhador e de sua família” (Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, artigo 7, inciso 4, p. 8).

O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócioeco- nômicos - DIEESE – realiza o cálculo mensal das necessidades vitais essenciais e do salário mínimo necessário, com base em uma família composta por dois adultos e duas crianças. A análise do período de novembro de 2000 a novembro de 2002 revela que foram necessários entre cinco a sete salários mínimos para que cada família pudesse ter atendidas suas necessidades vitais básicas1. A correlação desse dado com a classificação socioeconômica familiar

dos pacientes estudados mostra que quase metade desses últimos se apresenta abaixo dos vencimentos salariais mínimos necessários. O resultado final de normalização na orelha média nos pacientes estudados, entretanto, não foi influenciado pelas variáveis classe socioeconômica ou número de filhos na família (respectivamente, p= 0,167 e p= 0,244, TAB. 17).

1 Salário mínimo nominal e necessário de agosto de 2000 a agosto de 2002. Departamento

Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos. Disponível em < http://www.dieese.org.br/rel/rac/racset02.htm> . Acesso em: 22 out. 2002.

6.3.4 História familiar positiva para otites e alergia

A história familiar positiva para otites e alergia (TAB. 3) nos pacientes estudados foi de 9 (16,4%) e 16 (29,1%), respectivamente, ao contrário do esperado com base nos trabalhos de Klein (1994) e Sassen et al. (1997) que valorizam essas variáveis como valor preditor positivo para a prevalência de OME. A prevalência de alergia na população brasileira varia de acordo com o local e a faixa etária estudada, com dados estimados entre 5 e 22% da população geral (MIYAKE, 1998; OLIVEIRA et al., 1998), 20 e 30% da população da cidade de São Paulo (MIYAKE, 2000) e 34% em crianças de seis a sete anos (CAMPOS, 2000) confirmando a representatividade da amostra estudada. Neste estudo, não se observou uma associação estatisticamente significativa entre o resultado final de normalização na orelha média e as variáveis presença ou não de história familiar para otites ou alergia (respectivamente, p=0,325 e p= 0,135, TAB. 17).

6.3.5 Aleitamento materno

O aleitamento materno foi relatado por 53 (96,4%) das mães das crianças avaliadas (TAB. 3) não sendo possível definir a importância de sua ausência na predisposição para a OME nos pacientes deste estudo.

6.3.6 Creches ou escolas

A entrada para creches ou escolas antes dos três anos foi observada em 26 (47,3%) das crianças deste estudo (TAB. 3). A repetida exposição a um grande número de crianças é considerada um fator

desfavorável na instalação da OME (KLEIN, 1994; ALHO et al., 1995; POEHLMAN, 1996 e PARADISE et al., 1997). Esta pesquisa revelou não haver uma associação estatisticamente significativa entre o resultado final de normalização na orelha média e a entrada ou não em creche antes dos três anos de idade (p= 0,391, TAB. 17).

6.3.7 Tabagismo passivo

A ocorrência de tabagismo passivo, por pais fumantes no domicílio, foi de 17 (30,9%) dentre os 55 pacientes avaliados (TAB. 3). Apesar de o tabagismo passivo ser valorizado como fator desfavorável na instalação e manutenção da OME (KLEIN, 1994; BLUESTONE & KLEIN, 1995; POEHLMAN, 1996; PARADISE et al., 1997), neste estudo, não foi observada associação significativa entre o resultado final na orelha média e a exposição ou não de crianças ao tabagismo passivo (p= 0,372, TAB. 17). Nos países tropicais, ao contrário dos climas temperados onde o frio predispõe ao ambiente fechado e à concentração de pessoas, a influência do tabagismo passivo poderia não ser tão importante.

6.3.8 História pessoal positiva para alergia

A história pessoal positiva para alergia foi detectada em 28 (50,9%) dos pacientes (TAB. 3), que é acima da prevalência média da alergia na população mundial da mesma faixa etária (CAMPOS, 2000). Essa alta prevalência de alergia nos pacientes com OME deste estudo corrobora os trabalhos de Matucci & Greenfield (1995), Martín (1995) e Hurst (1996) que

valorizam a associação entre alergia e OME.

A história pessoal positiva para alergia não apresentou associação significativa com o resultado final de normalização na orelha média (p= 0,504, TAB. 17).

6.3.9 Fatores de risco e critérios de exclusão

Vários fatores de risco para a OME ou fatores de confusão descritos na literatura mundial foram considerados critérios de exclusão, por poderem influenciar negativamente os resultados pós-operatórios das duas técnicas cirúrgicas a serem avaliadas. Foram excluídos deste estudo todos os pacientes que apresentaram qualquer dos critérios de exclusão, como: idade menor que seis meses e maior de 12 anos; presença de processos otológicos infecciosos agudos (OMA ou OMAR) nos últimos três meses; imunodeficiências congênitas ou adquiridas; diabetes; discinesias muco-ciliares; inserção prévia de TV; alterações estruturais de MT como perfurações, colesteatomas, atelectasias ou otite média adesiva; disacusia neurossensorial prévia; dismorfias craniofaciais e/ou alterações palatais como fenda palatina, corrigidas ou não e síndrome de Down.

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