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Os modelos de desenvolvimento de LMERT consideram a existência de fatores de risco de diversas naturezas. Fator de risco profissional é um elemento da situação de trabalho, suscetível de provocar um efeito adverso no homem de um modo geral (Uva et al, 2004). Pombeiro (2011) acrescenta, é qualquer atributo, experiência ou exposição que aumente a probabilidade de desenvolvimento de uma doença ou lesão. A presença destes fatores não significa que o trabalhador vá sofrer algum problema de saúde como resultado da exposição, no entanto, o tempo de exposição deve ser limitado ou mesmo evitado, de forma a obter-se um ambiente de trabalho saudável e seguro (Pombeiro, 2011).

A exposição aos fatores de risco varia consoante o tipo de atividade profissional e depende das condições em que a atividade é desempenhada (Uva et al., 2004). Logo, torna- se relevante o fator de risco e se o trabalhador se encontrar exposto acima de valores considerados aceitáveis.

A variável “tempo de exposição” também possui uma importância significativa dado que os efeitos desfavoráveis podem não ser imediatos mas sim originados pela acumulação de diversas situações no contexto do trabalho (Uva, 2006). Em suma, a exposição deve ser avaliada em função da duração, face ao tempo de trabalho e/ou frequência da exposição.

Com base no modelo descrito no capítulo anterior, podemos observar no quadro os vários tipos de fatores de risco de LMELT.

Quadro 4 – Fatores de risco de ocorrência de LMELT

Fonte: EU-OSHA. (2007). Introdução às lesões músculo-esqueléticas. Facts, 71.

Como a avaliação da exposição aos fatores de risco (qualitativa ou quantitativa) é determinante para uma avaliação do risco destas lesões, apresenta-se seguidamente uma descrição sobre alguns dos principais fatores de risco das LMELT.

 Fatores de risco relacionados com a atividade

No decurso da atividade de trabalho, o trabalhador faz uma gestão, em tempo real, dos constrangimentos e das suas próprias capacidades e limitações (Brandão, 2003).

Os fatores de risco físico são o subconjunto dos fatores relacionados com o trabalho que compreendem os fatores biomecânicos e ambientais, nomeadamente, a postura ou posições extremas, a aplicação de força, a repetição, a vibração, etc. (Nunes, 2005).

Para definir a postura temos que considerar: o alinhamento biomecânico, a orientação espacial das várias zonas corporais, a posição relativa dos vários segmentos anatómicos e a atitude corporal assumida durante a atividade de trabalho (Serranheira, 2007). Na postura estão incluídos, aspetos como: ação (estática/dinâmica), postura (neutra/aceitável/extrema), duração de tempo em que a postura se mantém e a existência de alternância desta (Uva et al., 2008). A Ergonomia considera que a postura é influenciada pela tarefa a realizar, pelo posto de trabalho e suas características, pelas ferramentas, utensílios ou ajudas necessárias

e, naturalmente, pelas capacidades e limitações dos trabalhadores, incluindo as características antropométricas (Serranheira, 2007). As posturas extremas e certos movimentos articulares (mantidas por longos períodos de tempo), a má conceção de postos de trabalho e a realização de tarefas que exigem do trabalhador a adoção dessas mesmas posturas, provocam tensão e compressão dos tendões, aumentando o risco potencial de lesão. Alguns autores defendem que a postura é considerada um fator de risco de LMELT quando esta ultrapassa, metade da amplitude de movimento da articulação envolvida na atividade (amplitude articular) e quando se verifica por mais de 2 horas, num período diário de 8 horas considerado dia de trabalho habitual (Serranheira et al., 2008).

Ao esforço biomecânico que o trabalhador aplica para realizar determinada ação ou sequência de ações, é denominado de força. A força pode ser descrita como externa ou interna. A externa é força aplicada e a interna é a tensão desenvolvida no músculo, tendão e tecidos envolventes. A necessidade de desenvolver força durante a realização de uma tarefa pode estar relacionado com o transporte e movimentação de objetos e ainda na manutenção de uma parte do corpo, numa determinada posição (Colombini et al., 2001, citado por Uva et al., 2008). Pombeiro (2011) refere que Simões (2003) defende que é essencial fazer a distinção entre o peso do objeto manipulado e a força necessária para a sua manipulação. O modo como a força é aplicada é importante pois a força estática (constante e/ou sem movimento) e a força dinâmica (alternada e/ou com movimento) não representam o mesmo risco. A força estática é sempre mais penosa do que a dinâmica, logo também mais grave (Uva et al., 2008). Um exemplo, onde frequentemente a força exercida atinge níveis superiores aos recomendados é a movimentação de cargas. A movimentação de cargas está sobretudo associada ao risco de lesão músculo-esquelética da coluna lombar. Quando as cargas são demasiado pesadas (>23Kg) ou de dimensões elevadas este risco aumenta pois, neste caso, não é possível aplicar as regras básicas de elevação e transporte, nomeadamente a exigência de manter a carga mais próxima possível do corpo de forma a manter o centro da gravidade do objeto o mais próximo do trabalhador. Se as cargas forem difíceis de agarrar provocam uma distribuição irregular da carga pelos músculos, logo um maior cansaço e a aplicação de força em posições extremas (EU-OSHA, 2007).

Numa situação de trabalho, considera-se repetitiva, quando se realizam movimentos idênticos durante mais de duas a quatro vezes por minuto, executados acima de 50% do tempo de ciclo de trabalho, em períodos de duração inferior a trinta segundos ou realizados durante mais de quatro horas, no total de um dia de trabalho (Serranheira, 2007). A avaliação deste fator de risco obriga a averiguar se existem ciclos de trabalho ou tarefas nas quais se utilizem movimentos idênticos e posturas que comprometem as mesmas regiões anatómicas, pois a invariabilidade gestual também pode ser um fator de risco de LMELT (Uva et al., 2008). Outro, fator de risco profissional de lesões músculo-esqueléticas é a força. Está relacionada

com o modo em que é aplicada: a sua intensidade, duração, distribuição e repetitividade (Costa et al, 2015).

A exposição às vibrações é outro fator também a considerar, visto ser capaz de provocar danos ao organismo, mesmo em frequências baixas. As vibrações transmitidas ao sistema mão-braço são vibrações mecânicas que, quando transmitidas, implicam riscos para a saúde e para a segurança dos trabalhadores, que se traduzem especialmente em perturbações vasculares, lesões osteoarticulares, perturbações neurológicas e alterações musculares (Serranheira, 2007).

Por ultimo, quer as variações da temperatura, quer as variações da humidade são suscetíveis de conferir desequilíbrios à saúde dos trabalhadores na medida em que, ambientes com temperatura elevadas ou demasiado baixas e/ou humidades relativas extremas, obrigam o organismo a defender-se de forma a manter o equilíbrio metabólico (Veiga,2005).

 Fatores de risco individuais

Os fatores de risco individual, também designados como co-fatores de risco devido às suas particularidades, também contribuem, para a génese das LMELT. Cada indivíduo é único e apresenta “variações” aos mais diversos níveis que podem ser relacionadas com a presença de LMELT, designadamente: características antropométricas, hábitos/estilos de vida e antecedentes clínicos. Também, o género e a idade são elementos que podem eventualmente contribuir para a génese destas patologias, mas que estão principalmente associados a aspetos do cariz cultural. Com efeito, podem ser cautelosamente considerados como fatores de risco destas lesões em contextos onde a sua análise seja assertiva (Serranheira, 2007).

As diferenças antropométricas dos trabalhadores, nomeadamente as variações em altura e peso, podem contribuir para a génese de lesões músculo-esqueléticas, principalmente quando se tratam de indivíduos com uma morfologia que se afasta dos “valores médios” da população em geral. Frequentemente, somos confrontados com situações em que, trabalhadores de percentis altos ou baixos estão sujeitos a postos de trabalho sem ajustes e dimensionados para a média da população. A abordagem ergonómica possibilita aos extremos da população, percentil 5 e 95, uma interação confortável e segura com o meio de trabalho ao mesmo tempo que promove a eficácia do sistema (Rebelo, 2004).

Relativamente aos hábitos/estilos de vida são atividades que realizamos diariamente mas que influenciam o estado de saúde do trabalhado, pois contribuem para situações onde se verificam exposição a fatores de risco das LMELT, tais como: atividades desportivas, condução de veículos (atividades com exposição a vibrações) e a quase generalidade das atividades domésticas (Cole & Rivilis, 2004, citado por Serrenheira,2007).

As Situação de saúde, segundo Serranheira (2007) que contribuem para algumas alterações fisiopatológicas, particularmente a nível articular. As limitações da mobilidade articular em doentes com diabetes Mellitus tipo II (Balci, Balci & Tuzuner, 1999), também são muito comuns. A gravidez é outro exemplo de uma situação que pode contribuir para o aumento da vulnerabilidade a nível músculo-esquelético (Weimer, Yin, Lovelace & Gooch, 2002).

A variável idade é considerada um co-fator de risco de LMELT, muito importante. O aumento da vida média da população trabalhadora, o aumento da idade da reforma, o decréscimo da taxa de natalidade e a melhoria das condições de segurança e saúde no trabalho, prolongando a vida laboral às pessoas (Lida, 2000 citado Serranheira, 2007). Com o aumento da idade ocorre um decréscimo funcional e consequentemente uma perda de força, que contribui para aumentar a probabilidade e severidade das lesões, logo maior a probabilidade de se desenvolver uma lesão músculo-esquelética. Os trabalhadores mais jovens (ou inexperientes) em situações, com exigência de aplicação de força têm mais dificuldades, exercem mais força, consequentemente apresentam fadiga precoce, o que os leva a terem maior prevalência de lesões, comparativamente com os trabalhadores mais velhos que apresentam um nível de experiência superior (Serranheira, 2007).

Também o género é considerado um fator modificador na génese das LMELT. De acordo com Hagberg e outros autores (1995), a diferença na prevalência de lesões músculo- esqueléticas entre homens e mulheres pode ser explicada pelas suas diferenças estruturais e anatómicas. Contudo, atualmente continua a existir, a subsistência de “tarefas para homens” e “para mulheres”. Para a maioria das mulheres esta dicotomia associada à participação substancial nas tarefas domésticas conduz com frequência a sobrecarga física e reduz a oportunidade de recuperação após o dia de trabalho, constituindo mais um contributo para aumentar a suscetibilidade das mulheres a estas doenças (Lundberg, Mardberg & Frankenhaeuser, 1994). Apesar disso, existem investigadores que defendem que nas sociedades passadas e ainda nas atuais, ainda são atribuídas ao homem e à mulher, diferentes tarefas, nomeadamente “pesado-difícil” para o homem e “ligeiro-fácil” para a mulher (Messing, Chatigny & Courville, 1998). As tarefas “ligeiras-fáceis” atribuídas as mulheres, do ponto de vista da necessidade de aplicação de força são “fáceis”, todavia exigentes a nível da repetitividade e de motricidade fina. No entanto os homens encarregam-se dos trabalhos “pesados”, “difíceis”, exigentes em força mas, com repetitividade ligeira e pouco exigentes em coordenação motora fina (Messing et al., 1998). Assim, apesar das conhecidas diferenças, ambos apresentam grande incidência deste tipo de lesões, embora com origens diferentes.

 Fatores de Risco Organizacionais/Psicossociais

Hagberg e seus colaboradores (1995) afirmam que estes fatores de risco têm a sua origem na forma como o trabalho é organizado e gerido. Este autor realçar o papel contributivo deste fator de risco. A organização do trabalho, em particular a forma como o trabalho é disposto, supervisionado e como é conduzido influencia o estado de saúde dos trabalhadores. A National Occupational Research Agenda (NORA), menciona num dos documentos de referencia, que a organização do trabalho compreendendo seis grandes áreas das quais resultam os consequentes fatores de risco (NIOSH, 1996): horário de trabalho (ex.: horas de trabalho, pausas, turnos), tipologia de tarefa (ex. complexidade, monotonia, controlo do processo), relações interpessoais (ex. relacionamento com os superiores hierárquicos e com colegas), progressão profissional (ex. oportunidades de carreira), estilo de chefias (ex. trabalho em equipa, gestão participativa), caraterísticas organizacionais (ex. cultura de trabalho).

Segundo Serranheira e colaboradores (2008), estes fatores de risco das LMELT têm origem no modo como o trabalho é organizado, supervisionado e conduzido, pode influenciar o estado de saúde dos trabalhadores. Algumas respostas às elevadas exigências do trabalho podem resultar em alterações fisiológicas que, quando repetidas ou mantidas, podem contribuir para o aparecimento e agravamento dos sintomas das lesões músculo-esquelética. (Feng, Chen & Mao, 2007). Neste contexto é essencial efetuar o estudo das situações reais de trabalho (perspetiva da ergonomia), identificar a exposição a fatores de risco, caracterizar a exposição ao risco (avaliação do risco), analisar e estabelecer medidas de eliminação ou controle das situações de risco e, por fim, delinear as estratégias e programas de prevenção (Uva et al., 2000).