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FATORES FACILITADORES E INIBIDORES NO PROCESSO DE

No documento Agenor Felipe Krysa (páginas 103-137)

TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NA APOMEL

Uma vez apresentada a fase quantitativa da pesquisa, identificando questões do “quanto?” e “com que frequência?”, esta seção procura responder questões de natureza subjetiva, retratando o contexto do caso estudado, por meio da análise temática de conteúdo abordada por Flick (2009). Para isso, busca responder as questões do “como?” e “por quê?” utilizando-se da análise de documentos da APOMEL, transcrição de entrevistas e observações anotadas em diários de campo.

Esta etapa foi estruturada a partir das categorias de análise da fase qualitativa, apresentadas no quadro 13 , seção 3.6, que foram embasadas nas fases do processo de transferência de conhecimento em redes interorganizacionais, a partir de Gilbert e Cordey- Hayes (1996); Szulanski (1996) e Silva (2011), e nos fatores facilitadores e inibidores do processo de transferência de conhecimento, estruturadas a partir Bresman, Birkinshaw e Nobel (1999) e Davenport e Prusak (1998).

A categoria denominada aquisição/iniciação permite compreender o momento em que a decisão pela transferência de conhecimento é tomada, ou seja, o momento em que existe a necessidade ou a oportunidade de obter novos conhecimentos. Sua principal fonte de informações foram as entrevista e o questionário de avaliação Sociométrica (QAS2) questão 1, o que já foi apresentado na seção anterior.

Durante a aplicação do QAS referente à primeira fase do processo de transferência de conhecimento, os atores nominaram suas fontes para obtenção dentro da rede. Ao total foram indicados 29 atores para a primeira fase do processo e 172 laços na rede, onde surge como ator central, o consultor técnico vinculado à entidade de apoio, o ator A33, que presta suporte aos produtores da região. Nesse sentido, 2 atores explicam como o processo ocorre. Um associado relata como procede quando necessita de um conhecimento específico.

Olha, ai que está o negócio, entre nós produtores ainda não acontece. Mais porque a gente não buscou. O povo não conversa, eu corro atrás, eu sou muito assim, eu gosto de conversar, eu vou perguntar. Veja bem, os técnicos, eu fui atrás, eu me apuro eu vou neles, e eles me dizem, faça assim, assim e assim. E eu faço, certinho do jeito que eles disserem e pronto! Dá certo, as coisas funcionam. Uma pessoa que te ajuda assim, merece o que, veja só! O que você aprender com os técnicos aposte, faça! (Entrevistado 7).

Outro associado comentou “[...] sempre que eu preciso eu tenho um técnico 24 horas para me dar suporte, ele fica a minha disposição, é só ligar, mandar mensagens e ele vem com a solução” (Entrevistado 1). Complementou dizendo que após o início dos trabalhos do SEBRAE, da EMATER e da Prefeitura Municipal a realidade de muitas produtores mudou, pois tiveram início as capacitações e o suporte técnico para todos os associados.

Em relação a conhecimentos direcionados à comercialização, outros relatos levam a compreender o papel da diretoria da APOMEL nesse contexto. O Entrevistado 2 relata “[...] em nossas reuniões a gente discute sobre produção, sobre o preço do mel, sobre a cooperativa, é tudo na reunião mesmo”. Dessa forma, a reunião é outra fonte de conhecimento, capaz de gerar aprendizado sobre o mercado e sobre os diversos assuntos relacionados à atividade dos associados.

Essas observações justificam as características estruturais da rede encontradas na primeira fase do processo de transferência de conhecimento, onde surgem como atores centrais os membros da atual diretoria. Isso se dá pela condução das reuniões e pelo nível de conhecimento repassado pelo secretário da APOMEL,o ator A5, A2 e pelo presidente, o ator A18, conforme Tabela 7, da seção 4.3.

Com relação à segunda fase do processo de transferência de conhecimento em redes, a interação/implementação: esta fase trata do estabelecimento das relações entre o transmissor e o receptor dando início à obtenção de conhecimento. Para compreender a relação e as interações entre os membros da APOMEL foi utilizada a medida de densidade da rede. Essa fase do processo apresenta 166 laços (conexões) entre os associados, o que representa que 5,8% dos laços possíveis da rede estão conectados. Dessa forma, as relações de troca estão limitadas ao nível de densidade relacional ocorrida no âmbito da rede, por onde irão fluir informações e conhecimento (GNYAWALI; MADHAVAN, 2001).

O entrevistado 4 relata a dinâmica de interação em torno da busca por conhecimento entre os produtores associados:

[...] os cursos, as reuniões, os eventos são locais onde estes produtores se encontram e a partir daí conversam sobre suas experiências e aprendizados. Agora com o avanço que foi dado sobre as questões relacionadas a cooperativa, novas formas de

troca de conhecimento começam a serem necessárias, uma delas é o caderno de campo da apicultura, que descreve as rotinas e práticas do produtor apícola e deverá ser produzido pelo produtores, também como uma forma de disseminar o conhecimento. Então desta forma, eu acredito que sim, há momentos de trocas de conhecimento entre os produtores e entidades envolvidas inclusive fora da reunião (Entrevistado 4).

O comentário do entrevistado 4 apresenta mecanismos de interação, entretanto são interações organizadas pela direção e pelas entidades de apoio, retratando os momentos em que o conhecimento é compartilhado. As interações em torno do conhecimento ficam centralizadas nas entidades de Apoio e nos mecanismos organizados pela APOMEL, conforme relato dos entrevistados.

Nas reuniões que nós temos. Neste momento a gente usa para trocar ideia, lá é sempre comentado, cada um fala o que foi bom para ele, o que que não foi, é assim, conta o que tá dando certo. Eu mesmo já aprendi um monte de coisa, tipo: onde comprar caixas, onde vender o mel, quem contratar, como fazer o serviço, e também já compartilhei o que deu errado (Entrevistado 1).

O comentário expôs o papel da governança na condução da disseminação do conhecimento na rede, e o importante papel exercido tanto pela diretoria quanto pelas entidades de apoio, na criação e condução de mecanismos que proporcionem a troca de conhecimento entre os produtores. Nesse sentido, as reuniões e capacitações são momentos importantes para o estabelecimento das relações de troca entre os membros da associação, além de oferecerem tanto acesso ao conhecimento de forma coletiva, quanto de fortalecerem as relações entre os produtores por meio do convívio social.

A terceira categoria de análise está relacionada à terceira fase do processo de transferência de conhecimento: a aplicação e aprimoramento. Nesta fase, os conhecimentos adquiridos são reorientados e aprimorados possibilitando a aplicação do novo conhecimento em seu contexto. Em relação à adaptação do conhecimento, o entrevistado 10 afirmou:

a gente precisa aprender, e depois refinar. Eu mesmo, sempre escuto uma coisa aqui, outra ali e vou ajustando no meu apiário. O fulano me falou, as caixas tem que ficar assim, mas o lugar dele é diferente do meu. O consultor estes tempo foi lá e viu o tipo que eu tinha feito e ficou impressionado, estava diferente, mais deu certo. (Entrevistado 10).

Ele contou que sempre que aprimora seu conhecimento e obtém os resultados, tenta de alguma forma compartilhar com sua fonte de conhecimento, no sentido de validar a prática, e até mesmo, transmitir as adaptações para contribuir com os demais.

Nessa fase do processo de transferência, as características estruturais não sofrem alterações, e o ator central A33 permanece com sua posição estrutural, assim como os demais membros da diretoria. Os relatos apontam para o acompanhamento do técnico no aprimoramento das técnicas no trabalho de campo e as visitas de outros produtores a suas propriedades para gerar interação, aplicação e aprimoramento dos conhecimentos obtidos, conforme relato do entrevistado 4.

[...] quando o suporte técnico vem, a gente tem feito as reuniões e tem ido na casa dos produtores e tem feito almoço, um churrasco e então fica mais informal, porque se ficar muito formal, os mais tímidos não participam, não falam nada. O objetivo destas reuniões é ver como que o companheiro aplicou as técnicas, como que ele fez, como que não fez. E ai a gente aprende com as inovações do outro. (Entrevistado 4)

Sendo assim, além de existir a prática de aprimoramento e adequação das técnicas aprendidas, há momentos para o compartilhamento destas práticas aprimoradas, proporcionando a evolução dos saberes e discussão sobre as inovações implementadas no processo de produção. É evidente que pelas características estruturais observadas na seção anterior, essas técnicas, conhecimentos e aprimoramentos não são compartilhados de forma direta com todos os atores da rede, entretanto, pelos fatores de conectividade, os demais apicultores recebem de seus pares os conhecimento desenvolvidos nos trabalhos de campo. Relata o entrevistado 9: “[...] a gente não fica sabendo de tudo, as vezes não tem como ir nos encontros de campo, e nem na casa familiar rural, mais um companheiro vem e conta e ai a gente aprende”.

O comentário do entrevistado 9 expôs a prática dos produtores de transmitir a seus contatos os conhecimento adquiridos. Essa prática está relacionada à propriedade de acessibilidade, ou conectividade dos atores em rede, que para essa fase do processo apresenta o índice de 23%, ou seja, para conectar ou transmitir o conhecimento para toda a rede basta acessar, aleatoriamente, 5 produtores. As reuniões de campo, retratadas pelo entrevistado 4 ainda são uma prática recém iniciada pela associação, porém, por suas características informais têm chamado a atenção de muitos produtores, que além de aprender, vão descontrair e visitar-se entre si. Há relatos que as participações nesses eventos estão aumentando, e atualmente cada encontro conta com a presença de 20 a 25 produtores.

As visitas, portanto, possibilitam a obtenção de conhecimento aprimorado pelos produtores e o desenvolvimento das técnicas aprendidas, e a partir da participação de 20 a 25 produtores, e com base nos níveis de acessibilidade e conectividade da rede, é possível

afirmar que esses conhecimentos são difundidos por meio da estrutura social da APOMEL, chegando a todos os produtores.

A quarta fase do processo de transferência de conhecimento assimilação/incorporação é o momento em que o conhecimento adquirido é incorporado pelo receptor. Nesta fase, os conhecimento obtidos alteram as rotinas do receptor, combinando a realidade objetiva e aceita pela organização com as práticas e saberes desenvolvidos durante o processo de obtenção do novo conhecimento (SZULANSKI, 1999; SILVA 2011).

Os conhecimentos obtidos pelos associados da APOMEL transformaram e estão transformando a produção de muitos associados. Há relatos que por meio das técnicas aprendidas pelos produtores houve aumento significativo de produção e qualidade no produto final. O entrevistado 1 relata a mudança ocorrida na sua forma de manejo dos apiários, em virtude dos conhecimentos obtidos.

[...] Veja só. Nós pegávamos os enxames no verão, quando vinha o inverno nos perdíamos quase tudo. Nós íamos lá no apiário e víamos aquelas caixas mortas, “Meu Deus do céu e agora” (levantou o boné em sinal de reverência). As vezes sobrava algum enxaminho lá, daí aquele lá as vezes sobrevivia. [...] daí eu chamei o professor para ir lá no apiário, quando ele viu ele disse, "Se você não alimentar estás abelhas que sobraram vão morrer todas, elas já não tem mais o que comer. Eu vou te passar como que faz o xarope, e você chegar aqui e alimentar firme por três dias. (Entrevistado 1)

O entrevistado 9, relata a absorção de conhecimento ocorrido de forma seletiva por ele durante os cursos, consultorias ou reuniões da APOMEL.

[...] tem alguma coisa que sim, tem outras que não. Por que às vezes o que eles falam não bate, mais em 80% dos casos funciona. O que é mais custoso eu deixo de lado e vou para o mais fácil. (Entrevistado 9).

No trabalho de campo se observaram muitas situações como a apresentada pelo entrevistado 1, onde as dificuldades são repassadas para o técnico que presta serviço de apoio aos associados, o qual apresenta as soluções que são adaptadas, assimiladas e passam à rotina dos produtores. Outro relato apresenta como resultado da incorporação o aumento de produtividade em seu apiário.

O que você aprender com os técnicos aposte, faça!! Eu estava desistindo da apicultura. Não tinha conhecimento, não conhecia muita gente aqui na cidade, não tinha equipamento, mais quando os técnicos começaram. Meu Deus do Céu, minha vida mudou! Minha produção aumentou. E tem gente aqui que saiu de 25 kg por caixa e foi para 50 a 60 kg por caixa. Devo muito sabe, estes homens estão ajudando muito o povo aqui da APOMEL. (Entrevistado 7)

Outro aspecto observado no trabalho de campo está relacionado à influência dos resultados obtidos pelos produtores que atingem a quarta fase do processo de transferência nos demais produtores. Uma vez que um produtor atinge uma marca de produção superior à média do grupo, a governança e os técnicos apresentam esse resultado para o grupo, como forma de sensibilizar os demais para a necessidade de buscar implementar o que é visto nos cursos, e recebido como indicação nas visitas de campo. O entrevistado 4 relata, “[...] tem vezes que as pessoas mudam sua forma de trabalhar pela inveja mesmo. Sempre que alguém consegue aumentar a produção, ou diminuir as perda no inverno todo mundo segue”.

Assim, os resultados até aqui apresentam os elementos que permitem afirmar que a APOMEL é um lócus de transferência de conhecimento entre seus atores. Essa condição está caracterizada por dois fatores, o primeiro é pela troca de informações que estão associadas a um significado e transmitidas para se adquirir uma habilidade específica, uma competência capaz de transformar a realidade atual (TOMAÉL, 2005; SACOMANO NETO; CORRÊA; TRUZZI, 2015); o segundo é o movimento onde a experiência de um produtor afeta outro produtor, e ocorre tanto de forma implícita quanto explícita (LIMA, 2016).

Os fatores inibidores do processo de transferência de conhecimento são atritos que ocorrem no ambiente social, podendo ser barreiras que dificultam ou impossibilitam que os atores se relacionem, e que por meio da rede compartilhem informações e conhecimento (DAVENPORT; PRUSAK,1998). Esses fatores estão relacionados a comportamento, práticas, cultura e até mesmo ao ambiente onde os relacionamentos são estruturados (BRESMAN; BIRKINSHAW; NOBEL, 1999).

Em relação à confiança entre os produtores associados na APOMEL, há relatos de que existe confiança em torno da troca de experiências, porém em nível de relações de comerciais não há confiança entre os membros da APOMEL; se verificam casos de roubos, relatos de ameaças entre produtores, incluindo até mesmo casos que foram necessários processos judiciais e intervenção policial. O entrevistado 9 afirmou que

para trocar experiência sim, para fazer negócio e contar da produção e do lucro não. Veja, já teve roubo de caixa de abelha, já mataram o rapaz que brigava ai com um povo pelo certo. Já roubaram dinheiro, já ameaçaram de morte. Depende do que, e de quem eu confio, algumas coisas eu fico meio quieto para não me complicar. (Entrevistado 9).

No trabalho de campo se observou a presença do medo entre os associados para tratar de assuntos relacionados à confiança. Muitos deram respostas abertas e alguns até demonstraram alteração de comportamento, conforme relato do entrevistado 1.

Existe sim confiança entre as pessoas, principalmente daqueles que participam. Veja só, eu não vou contar um segredo meu, eu não vou contar o que não pode ser contado. Eu vou falar como produzir mais e melhor. (Entrevistado 1).

Ao comentar sobre confiança, o entrevistado 1 demonstrou muita apreensão e buscou mudar de assunto. Outro elemento observado e que inibe o processo de transferência de conhecimento está ligado ao problema com a antiga diretoria da APOMEL. Nos trabalhos de campo restou evidente a influência e o controle exercido por essas pessoas sobre o grupo, assim, em aspectos de confiança, a APOMEL demonstra possuir fatores limitadores.

[...] tem um grupo aí que é parceiro da antiga presidente, e eles ficam de leva e traz. O povo tirou ela daqui meio na marra, e agora você imagina. Ela é uma pessoa boa, mais é muito encrenqueira e gosta de arrumar confusão, daí ela ameaça, diz que não vai mais comprar o mel da turma. Então todo mundo fica meio ressabiado com estás coisas aqui. E por isso eu acho que não posso confiar em todo mundo. Sabe, é daquele jeito, confia desconfiando. (Entrevistado 6)

Essa condição leva a questionar sobre as relações de poder existentes entre os membros da associação. Conforme evidenciado na seção 4.2, Figura 15, a APOMEL possui três clusters, ou seja, três grupos distintos. Segundo o entrevistado 4, há um grupo formado pela diretoria da associação, outro grupo formado pela antiga diretoria e oposição aos trabalhos da atual, e um grupo composto por produtores que participam pouco e não possuem envolvimento com as questões de governança. E nesse sentido, sobre as diferenças de poder:

[...] nós temos a diretoria da APOMEL, montada, temos organização, mas a influência da antiga presidente, e dos produtores mais antigos e dos maiores influencia muito. (Entrevistado 4)

Durante o processo de transferência de conhecimento também há grupos formando clusters na estrutura da rede e permanecem em 3 grupos, porém sua estrutura é alterada em relação a estrutura de cluster apresentadas na subseção anterior. A atual diretoria forma um grupo, outro grupo pela antiga diretoria e um grupo mais denso composto pelo técnico de apoio e demais associados. Dessa forma, as diferenças de poder permanecem presentes nas estruturas sociais da APOMEL. O entrevistado 4 levanta outra questão relacionada às mudanças e à influência do poder nas decisões.

Veja só. Os mais velhos tentam segurar a inovação, e a diretoria sofre, isto que eu vejo. Tem gente que não quer perder o poder, que já foi presidente, e então fica incomodando todo mundo, apontando os erros e abafando o que dá [...] tem até perseguição de um membro, de dois membros que estão se sobressaindo no grupo, para atrapalhar mesmo. (Entrevistado 4)

Ao destacar a presença da influência dos mais velhos, o entrevistado 4 relata o papel exercidos por alguns fundadores da associação. Há evidências de questionamentos sobre as decisões da atual diretoria em comparação com decisões do passado, e nessa perspectiva, os membros mais antigos também exercem o poder. Segundo Davenport e Prusak (1998), esse poder emerge da experiência e do sentimento de propriedade desses membros.

Outro elemento inibidor presente na APOMEL é a dificuldade em encarar os erros. No âmbito do desenvolvimento das técnicas de produção dos apicultores, a associação desenvolveu o CTTA (centro de transferência de tecnologia apícola) que surgiu como um campo de testes para os produtores aprimorarem suas técnicas e fazer os treinamentos sem comprometer sua produção. Relata o entrevistado 4:

[...]no CTTA Centro de Transferência de Tecnologia Apícola, que é uma área experimental. A ideia é esta, você tem lá um apiário com 10, 15 caixas, colmeia com abelha, e não é de nenhum apicultor é da associação, [...] É uma forma de errar, e aprender sem problema, tipo a gente faz um manejo errado, faz alguma coisa lá fora de época e morre as abelhas, ai não tem problema, ele está lá para isso, e a gente vê o que acontecia e ninguém reclamava. (Entrevistado 4)

Porém, por uma série de problemas de gestão o CTTA deixou de existir, e a partir disso, as técnicas e aprimoramentos do manejo voltaram a ser feitas na propriedade, ocasionando críticas e problemas por parte de alguns produtores, conforme o relato do entrevistado 10.

Aqui não dá para errar, se você erra todo mundo fica feliz e agente com vergonha. Ai você pensa, porque fazer diferente se é para dar tanto problema. Eu já falei para o cara assim, viu vá testar no apiário de outro, aqui eu estou trabalhando para ganhar dinheiro não para ficar treinando. (Entrevistado 10)

Essas observações evidenciam a visão do grupo em torno do erro, ou seja, o sentimento de vergonha do produtor que erra, também a intolerância à experimentação e à tentativa de desenvolver soluções e técnicas no apiário. Ainda sobre fatores que dificultam o processo de transferência de conhecimento, alguns entrevistados relatam a influência de fatores externos, “[...] a fatores externos, lidar com a prefeitura é muito difícil, e a gente precisa deles” (Entrevistado 4), outro apicultor relatou, “[...] a participação da turma é muito pequena e desinteressada, ninguém se envolve como deveria” (Entrevistado 5), destacando os baixos níveis de participação e envolvimento dos associados.

Outro aspecto é levantado pelo Entrevistado 2 “[...] as pessoas acham que sabem tudo, e não querem ajudar a construir nada diferente”, retratando a dificuldade em relacionar-se com os produtores mais antigos e que são a grande maioria dos associados a APOMEL. Por

fim o entrevistado 9 afirma ser a distância entre os grandes inibidores da transferência de conhecimento: “[...] a distância complica muito, eu moro a 30 quilômetros da cidade, e meu vizinho mais próxima fica a 10 quilômetros[...].”

Quanto aos fatores facilitadores da transferência de conhecimento, segundo Bresman, Birkinshaw e Nobel (1999) estão os aspectos relacionais e de gestão no processo, gerando como resultado a acumulação ou assimilação de novos conhecimentos. Nesse sentido apresenta alguns fatores, tais como: comunicação, visitas e reuniões, articulação do conhecimento, passagem do tempo e tamanho da rede, conforme Figura 11.

Por conseguinte, as questões relacionadas às visitas entre os membros da APOMEL dirigidas para a obtenção de conhecimento já foram evidenciadas anteriormente, mais precisamente na fase 2 do aprimoramento do conhecimento obtido, sendo uma prática da associação. Em relação às reuniões e articulação do conhecimento, também já foram discutidas nas seções anteriores o desenvolvimento dos trabalhos em torno das reuniões

No documento Agenor Felipe Krysa (páginas 103-137)