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FATORES GEOLÓGICOS, PEDOGÊNESE E CARACTERÍSTICAS DA VEGETAÇÃO

SUMÁRIO

4. BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MARRECAS E A PROBLEMÁTICA DAS INUNDAÇÕES URBANAS EM FRANCISCO BELTRÃO

4.2 FATORES GEOLÓGICOS, PEDOGÊNESE E CARACTERÍSTICAS DA VEGETAÇÃO

De acordo com o Relatório Final do “Projeto Riquezas Minerais: avaliação do potencial mineral e consultoria técnica no município de Francisco Beltrão”, elaborado pelo Mineropar (2002), a constituição geológica de Francisco Beltrão é representada por rochas basálticas da Formação Serra Geral. O estudo relata que, durante o processo de alteração das rochas basálticas para a formação do solo, restam fragmentos de rocha que vão se escamando em característica de alteração esferoidal, comumente observada nas encostas do município.

Os basaltos da Formação Serra Geral cobrem todo o território do município de Francisco Beltrão, ocorrendo diferenciações de natureza mais ácida, representadas por basaltos pórfiros, dacitos, riodacitos e riolitos (Membro Nova Prata). Em função da geologia apresentada, o potencial mineral da região aponta para os seguintes tipos de recursos: água subterrânea, água mineral, basaltos para blocos e brita e algumas argilas para indústria cerâmica (MINEROPAR, 2002).

A combinação da geologia homogênea, restrita ao basalto e suas variedades, com o clima mesotérmico, brando e úmido, sem estação seca, é o fator responsável pela presença de um perfil de intemperismo pouco variado em todo o município. Ao analisar o solo da região de Francisco Beltrão, os técnicos do Mineropar identificaram a presença predominante de latossolo roxo, com

profundidade elevada principalmente nas porções aplainadas do relevo. Também foi registrada a presença de terra roxa, estruturada nas encostas de maior declividade.

Os latossolos constituem uma categoria de solos maduros que apresentam horizonte B bem desenvolvido, de composição argilosa, homogêneo, poroso e de cor arroxeada. Eles são quimicamente estáveis devido à baixa capacidade de troca de cátions das suas argilas, que são dominantemente cauliníticas, bem como à abundância de óxidos e hidróxidos de ferro (limonitas vermelhas e amareladas) e alumínio (gibbsita branca). As limonitas concentram-se na base deste horizonte, formando crostas de laterita, geralmente com 1-2 cm de espessura. (MINEROPAR, 2002, p. 10).

A característica física mais evidente destes solos é a grande espessura, que excede geralmente 3 metros, mas pode passar dos 10 metros nas regiões de relevo plano. Estes solos são típicos dos relevos com declividades de 2% até 8%, ocorre com menos frequência até 12% e raramente até 15% (FIGURA 17).

FIGURA 17 – FRANCISCO BELTRÃO – HORIZONTE DE LATOSSOLO

FONTE: MINEROPAR (2002).

Nas áreas íngremes e escarpadas, observa-se uma grande quantidade de afloramentos de rocha basáltica, cobertos por uma camada pouco espessa de solo novo (FIGURA 18), além da presença de grande quantidade de pedras, denominados solos litólicos (FIGURA 19). As várzeas e cabeceiras de drenagens são áreas com predomínio de alta saturação de água e ocorrência de solos hidromórficos ou gleyssolos. Nas várzeas mais extensas e junto aos sopés das

encostas mais íngremes surgem os colúvios e aluviões, muitas vezes misturados no que se denomina cobertura colúvio-aluvial (MINEROPAR, 2002).

FIGURA 18 – FRANCISCO BELTRÃO – SOLO POUCO DESENVOLVIDO SOBRE BASALTO ALTERADO

FONTE: MINEROPAR (2002).

FIGURA 19 – FRANCISCO BELTRÃO – SOLOS LITÓLICOS PEDREGOSOS

FONTE: MINEROPAR (2002)

Quanto à vegetação nativa da região Sudoeste do Paraná foi classificada, por Alonso (1977, p. 88-89), como “floresta subcaducifólia subtropical com

araucária”, por MAACK (1981, p. 290-291) como “matas araucária” e pela Embrapa (1984) como “floresta subtropical perenifólia”. Esse tipo de vegetação é encontrado em locais elevados e nas encostas dos rios de 1ª. ordem.

A topografia ao longo dos rios e depressões não favorecia o desenvolvimento da Araucária angustifólia e, devido às condições físico-ambientais, a espécie tinha porte reduzido. Ferretti (1998, p. 73), relata que “em todas as associações, sobressaiam as copas dos pinheiros, formando uma cobertura arbórea não muito fechada.”

Além da floresta de Araucária angustifólia, Alonso (1977) revela que também podiam ser observadas, no estrato arbóreo superior, espécies como imbuia, cedro rosa e canela; no estrato médio, destacavam-se espécies como erva-mate, xaxim bugio, bragatinga e Guaramirim; e, no estrato arbóreo inferior, foram identificadas espécies de arbustos e gramíneas, como a samambaia-açu.

De acordo com Santis (2000), desde o início, o rápido processo de colonização e desenvolvimento das atividades agrícolas na região, precedidas de grandes e regulares queimadas, interrompeu o avanço dessa vegetação e um acelerado processo de desmatamento acometeu a evolução da mata nativa. A

FIGURA 20 mostra o vale, antes coberto pela mata nativa, sendo utilizado para o cultivo de milho nas encostas do município de Francisco Beltrão, em 1966.

FIGURA 20 – FRANCISCO BELTRÃO – VALE COM CULTURA DE MILHO NAS ENCOSTAS (1966)

FONTE: IBGE (2017).

O relato de Martins (1986, p. 03) revela que no município de Francisco Beltrão havia uma “imensa reserva florestal que, aos poucos, cederia lugar às lavouras de trigo, feijão, milho e mandioca. As queimadas se faziam aqui e ali indiscriminadamente, consumindo, às vezes, árvores seculares.”

Ferretti (1998) complementa que, na década de 1960, apenas uma década e meia após o início do processo de colonização, já predominava a vegetação do tipo secundária em toda a região do município, com abundância de samambaias nas áreas de araucárias. Naquela época, “na parte Sul, nas nascentes do rio Verde, predominavam campos limpos com capões e matas ciliares ao longo do rio e dos arroios, também zonas de araucárias” (FERRETTI, 1998, p. 75).

No início, a economia de Francisco Beltrão baseava-se na extração vegetal e, posteriormente, em uma economia agrícola. Nesse panorama, o município acabou perdendo extensas áreas de pinheiros, assim como praticamente todo o território do estado do Paraná. Atualmente, existem pouquíssimas áreas e espécies preservadas, com vegetação nativa. Fatores como a urbanização e implantação da infraestrutura viária contribuíram para o acelerado processo de desmatamento. Hoje, os tipos de vegetação encontrados no município são: capoeira, capoeirão, matas naturais, reflorestamento de araucária, reflorestamento de espécies exóticas (eucalipto, pinus, etc.) (IAP, 1997 apud SANTIS, 2000, p. 91).

Ao analisar as relações entre a cobertura vegetal e o clima predominante na região de Francisco Beltrão, Monteiro (1968, p.156) revela que:

Em suas relações com o revestimento vegetal, pode-se observar que a predominância das formações florestais está em perfeito acôrdo com as condições de umidade da região. O caráter subtropical mesotérmico responde pelas variações dêstes tipos de formações florestais [...] A mata que ocorre no interior, ao longo dos vales do Paraná e Uruguai, a par das diferenciações criadas pelos solos de decomposição basáltica, é uma formação nitidamente subtropical. Dentre outros fatôres, a diminuição da temperatura imposta pela altitude salienta-se na existência da mata de araucárias.

A partir do levantamento das características físico-ambientais da bacia hidrográfica do rio Marrecas, podem ser observadas as interações entre os aspectos da hidrografia, relevo, solo, vegetação e clima. O conhecimento desse conjunto de elementos possibilita, sob uma perspectiva sistêmica, uma melhor compreensão sobre a dinâmica dos atributos da natureza que integram o sistema ambiental urbano de Francisco Beltrão e que, por sua vez, interferem na rede hidrológica local.

Portanto, na sequência, são apresentadas as características regionais do clima e um breve histórico das precipitações registradas no município, com ênfase na caracterização das precipitações máximas. A estimativa das precipitações máxima é um parâmetro de quantificação da entrada de água no sistema hídrico local, utilizado para obter a modelagem hidrológica proposta no Item 5.2 desta tese.