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Fatores impulsionadores do desenvolvimento

4.2 DA OCUPAÇÃO AÇORIANA ATÉ A DÉCADA DE 1960

4.2.2 Fatores impulsionadores do desenvolvimento

Autores considerados clássicos defendem, em suas teorias, princípios básicos para o desenvolvimento de uma determinada região a partir da localização de atividades industriais especializadas em determinadas localidades. Pioneiro nesses estudos, Marshall (1982), afirma que são vários os fatores que levam à determinação da localização industrial: as condições físicas, desde o clima e solo, até a presença de recursos minerais e o acesso por terra e mar; ou ainda, a presença de artesões ou operários altamente qualificados e capazes de influenciar no aprendizado dos trabalhadores locais.

A combinação de uma ou de outra condição existente como causa para a localização da primeira atividade, permite, assim sucessivamente, condições e atrativos para a localização de nova iniciativa do mesmo ramo, desencadeando um processo de atração sobre uma mão de obra mais especializada, bem como de consumidores e de outras atividades que podem ser de caráter suplementar, inicialmente, porém importantes para a consolidação da atividade produtiva principal.

Além disso, os trabalhos de Weber e Losch procuraram compreender os fatores responsáveis pelo deslocamento locacional de uma unidade produtiva que contribuíssem para a diminuição dos custos finais de determinada firma. Esta se fundamenta no estudo dos fatores transporte e área de mercado como os responsáveis pela localização das unidades industriais. Tais fatores tenderiam a influenciar na maximização dos lucros dos custos produtivos. Essas análises sofreram certas abstrações. Por um lado, as diferenças no custo efetivo dos produtos, a natureza destes, a influência exercida pelos níveis salariais, as economias de escala, por outro lado, tais análises reforçam a idéia de equilíbrio, levando em consideração as condições uniformes de transporte e mercado (ESPÍNDOLA, 2002).

A partir da leitura das principais obras sobre o processo de industrialização de Santa Catarina, o entendimento é que, tais condições básicas destacadas por Marshall, tiveram participação importante na gênese de vários ramos industriais do sul catarinense, não obstante influenciados por uma conjuntura mais complexa. Para Beltrão (2001), a origem da indústria cerâmica pautada na presença de depósitos de argila vermelha e branca e a própria indústria do carvão mineral são exemplos dos condicionantes naturais como fator determinante da localização

industrial. A presença de artesãos qualificados por sucessivas gerações no trabalho com o couro e transplantados da Europa para o Sul do Brasil foi responsável pela gênese da manufatura calçadista, por exemplo. Da mesma forma, recentemente, a presença da mão de obra feminina, foi fundamental para a consolidação do polo vestuarista do sul enquanto indústria suplementar, ao menos em sua gênese.

Perroux (1967), em sua obra clássica a “Economia do século XX”, destaca que o crescimento econômico elege certos centros que funcionam como motores, os chamados polos de desenvolvimento. Eles surgem a partir da instalação de atividades manufatureiras, que atuam como motivadoras para o surgimento de outras atividades, mais conhecidas como forças motrizes, responsáveis pela especialização e a diversificação setorial da região em que atuam.

Num espaço econômico determinado, uma determinada unidade diz-se motriz quando o resultado de todos os esforços que gera é positivo, [...] pois induz na totalidade do conjunto um crescimento de volume de produção global muito maior do que o seu próprio volume de produção. Para além dos efeitos assinalados, a unidade motriz gera efeitos de aglomeração: reúne atividades complementares que dão lugar a conjunturas cumulativas de ganhos e custos localizados. A realização de meios de transporte e de comunicação provoca entre as unidades efeitos de junção: aumenta cumulativamente a oferta e a procura, alarga o campo de possibilidades dos produtores locais. (PERROUX, 1967, p. 193).

A região sul catarinense, onde se insere Tubarão e que vai até os limites com o Rio Grande do Sul, é produto desse processo desempenhando em algumas situações mais e, em outras, nem tanto. Para Goularti Filho (1995, p. 2-3), inicialmente, o complexo da indústria carbonífera cumpriu este papel, “[...] como indústria motriz, impulsionando o desenvolvimento da metalurgia, atacados de ferragens, e outras pequenas atividades urbanas. Num segundo momento, as cerâmicas serão as impulsionadoras de outras atividades industriais, além de novas metalúrgicas [...] e indústrias químicas. E, por último, as indústrias do vestuário também desempenham papel de impulsionadoras, [...].”

Especificamente sobre o papel da indústria motriz em Tubarão cabem indagações: ela cumpriu esse papel? Qual foi efetivamente a

responsável pela formação econômica e social? Se cumpriu, quais os novos setores (atividades) que surgiram a partir dessa acumulação? A partir de que época as causas da expansão e consolidação da acumulação não mais se encontram apenas regional e localmente? Quem passa a ser o fator e/ou fatores determinantes? Quais as múltiplas determinações e combinações geográficas que se destacam? Essas indagações serão retomadas para uma análise, discussão e exemplificação mais aprofundada.

Para Chardonnet (1965), a localização de um complexo industrial forte sobre um espaço geograficamente restrito acontece a partir da consolidação de vários ramos, diretamente ou indiretamente interligados. A importância se traduziria, entre outros, pelo valor da produção em relação ao conjunto da produção industrial nacional (ou mundial, para o mesmo setor) e pela amplitude dos capitais investidos e da mão de obra que ali trabalha. No caso do sul catarinense, como já apontado, a expressão nacional se deu, historicamente, tanto pela importância da indústria do carvão, como mais recentemente da indústria cerâmica (de competitividade internacional) e do ramo vestuarista (terceiro maior polo do País).

A interligação destes setores por uma dependência técnica, uma complementaridade produtiva, a indústria motriz (indústria carbonífera) atraiu para o sul catarinense um grande número de outras atividades que expressam uma dependência econômica denominada por Chardonnet ao se referir às indústrias de serviços. Estas indústrias consistem em empresas ou oficinas de produção e reparos mecânicos e de equipamentos e, ainda, as indústrias de consumo, pela presença de um grande volume de população. A atividade carbonífera é grande absorvedora de mão de obra, sentindo-se os efeitos sobre inúmeros outros setores, entre eles, destaca-se o das indústrias/comércio de vestuário.

Especificamente em relação a Tubarão e seu entorno, a década de 1950-60, é marcada por um período de pouco dinamismo nas suas atividades principais e secundárias, com pouca complexidade e praticamente nenhuma combinação e complementaridade. Segundo a Fundação Educacional do Sul de Santa Catarina (1976) a partir dos estudos do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da FESSC, a região pôde visualizar-se em suas carências e recursos, antes confusamente conhecidos. Entre os principais problemas e obstáculos da época, o Estudo destaca: baixa oferta de empregos (incremento pouco superior a 1% ao ano, no período de 1940-60); predomínio do minifúndio (94% dos imóveis rurais têm 19,9 ha, em média); elevada taxa de desemprego (20% em relação à população acima de vinte anos);

êxodo seletivo da população (a juventude emigra, ou para estudar, ou para trabalhar em outros centros); péssimo uso do solo (apenas 2/6 das terras são férteis e planas, sendo que 50% destas são alagadas ou inundáveis (em torno de 35 mil ha); fraca captação de poupanças e fraca canalização de projetos multiplicativos; predominância maciça de ramos industriais tradicionais, sem diversificação; empresas familiares, estilo “fundo de quintal”, na sua maioria; primarismo gerencial e organizacional; ausência completa de informações científica e tecnológica; dificuldade de mercado e de acesso às funções de crédito; carência de lideranças políticas progressistas que aceitam novos desafios.

A limitação quanto à disponibilidade de dados estatísticos oficiais sobre as atividades primárias, com destaque para a agropecuária, na área objeto deste estudo e no Brasil como um todo são muito precários. Os órgãos oficiais em todos os níveis de governo ainda não estavam devidamente estruturados para fazer essa coleta sistemática como a conhecemos hoje, porém, em setembro de 1920, foi realizado um recenseamento para contagem dos estabelecimentos rurais e suas respectivas bem feitorias como máquinas e instrumentos agrários existentes no estado de Santa Catarina.

Conforme consta deste recenseamento46, Tubarão apresentava as seguintes posições: número de estabelecimentos rurais recenseados foi de 2.558; se destaca como maior fabricante de açúcar; 3° lugar na produção de café; maior produtor de arroz, milho, mandioca, algodão e cana de açúcar; 1° lugar em animais abatidos da espécie suína com 14.565; maior produtor em farinha, polvilho e aguardente de várias espécies no Estado de Santa Catarina; maior produtor de algodão em Santa Catarina; Tubarão possui o maior número de estabelecimentos onde existem máquinas (maquinismos) para beneficiamento de produtos agrícolas em Santa Catarina; e, Tubarão é o maior produtor de aves domésticas em 1920 no Estado, (VETTORETTI, 1992).

Apesar dos números serem amplamente favoráveis sob o aspecto quantitativo, do ponto de vista qualitativo, deixava muito a desejar, principalmente nas áreas mais planas do terreno com emprego de técnicas primitivas de manejo do solo e de melhoramento genético e de sementes. Fato este, bem caracterizado quando da chegada à Tubarão de Júlio Boppré, imigrante de uma família burguesa da Alemanha, chegou

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Nesta época os atuais municípios de Braço do Norte, São Ludgero, Rio Fortuna, Santa Rosa de Lima, Armazém, Gravatal, Treze de Maio e Pedras Grandes ainda pertenciam ao município de Tubarão.

em 1890, para evitar o serviço militar. Pioneiro no desenvolvimento do gado leiteiro e aves, importado da Alemanha e também na modernização da cultura do arroz com irrigação mecânica, algo inimaginável para os ocupantes das várzeas da época. Seus descendentes infelizmente não avançaram no melhoramento genético das raças européias. Além dessa ocupação, Boppré foi engenheiro civil e tenente da guarda nacional, (VETTORETTI, 1992).

Para este período, observamos em sua estrutura geral, que as atividades econômicas em Tubarão se limitam principalmente a setores ligados de forma direta com a extração e beneficiamento do carvão no lavador de Capivari e as oficinas que prestam algum tipo de serviço a esta cadeia. Atividades relacionadas aos setores primário e terciário, com destaque para agricultura e comércio ainda eram consideradas economicamente fracas e, muito mal estruturadas, passando a ter uma importância maior a partir dos anos 60 (Souza Cruz) com utilização de técnicas produtivas e manejo do solo mais adequado.

4.3 DE 1961 A 1991: SINAIS DE ESGOTAMENTO,

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