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3.5 Sistema de talhadia

3.5.2 Fatores que afetam a rebrota

A capacidade de rebrota e sobrevivência dos tocos depende de vários fatores. Primeiramente, varia em função da idade e da espécies (NYLAND, 1996; SMITH ET AL., 1997). Stape (1997) menciona que entre os fatores que influenciam a produtividade da brotação das cepas estão, altura do corte, época de corte, danos às cepas e ao solo durante a colheita.

A época do ano em que se realiza o corte para a regeneração por meio da rebrota influencia o resultado final, de modo que, se o corte for realizado em uma época desfavorável, poderá causar a mortalidade dos tocos, uma vez que, temperaturas extremas, ausência de chuvas, insolação excessiva ou inadequada, podem reduzir o número de brotos obtidos, bem como a sua qualidade (FERRARI et al., 2004). As árvores cortadas durante o período de dormência brotam mais vigorosamente do que aquelas cortadas durante o final da primavera e verão. Isto ocorre pois as reservas de carboidratos nas raízes estão no nível máximo durante o inverno e, no mínimo, imediatamente após a formação das novas folhas e brotos (KRAMER; KOSLOWSKY, 1972).

Assim, a época de corte deve ser programada para evitar períodos secos e geadas fortes, que podem provocar o desprendimento da casca das cepas. Esta época pode variar para diferentes locais, havendo a necessidade de conhecer o regime climático da região de estudo. Em regiões frias, o princípio do crescimento depois do período das geadas fortes é, provavelmente, a melhor época, já que os brotos se estabelecerão bem antes do inverno seguinte. Se há uma estação muito seca, o corte deverá ser feito no princípio da estação das chuvas, para assegurar bastante umidade no solo (FAO, 1981).

Mesmo realizando o corte na época adequada, Ferrari et al. (2004) alertam que as operações de colheita de madeira podem gerar perdas para as áreas a serem conduzidas em regime de talhadia. Os danos causados na casca dos tocos acabam por eliminar as gemas potenciais para a formação das brotações. Neste sentido, a exploração florestal deve ser planejada cuidadosamente.

O corte deve ser realizado de modo a deixar a superfície lisa e inclinada para que não ocorra acúmulo de água, evitando o apodrecimento do toco (HAWLEY; SMITH, 1972; SMITH et al., 1997). Além disso, o corte não deve, de maneira nenhuma, separar a casca da madeira, pois de acordo com Smith et al. (1997), se a conexão entre medula de uma gema dormente até a medula do caule original for quebrada durante o crescimento da árvore, ou durante a colheita, a gema perde a capacidade de se desenvolver em um novo broto. Em geral, são indicadas ferramentas que possibilitem o abate da árvore por meio de cortes, como o machado, para árvores finas, ou a motosserra para árvores maiores (DUCREY; TURREL, 1992; FERRARI et al., 2004; SMITH et al. ,1997; TROUP,1966).

A altura de corte do tronco das árvores condiciona o número de gemas ativas remanescentes na touça, com possibilidade de rebrota (FERRARI et al., 2004). As brotações na parte mais alta do toco tendem a se desenvolver mais rapidamente do que as da parte de baixo que serão suprimidas. Estas brotações surgidas na parte superior de tocos altos são menos estáveis do que as de tocos cortados à altura recomendada de 12 cm ou menos. O calo que se forma em tocos altos é mais frágil e não pode dar boa fixação ao novo tronco como dará o calo de um corte baixo (FAO, 1981). Por isso, para a condução da brotação normalmente se realiza o corte próximo do solo.

Ainda em relação a altura do toco remanescente, Fang et al. (2011) testaram o efeito de três alturas de corte (5 cm, 50 cm e 100 cm) e verificaram que no primeiro ano após o corte, houve uma diferença significativa no número de brotações, com maior número de brotações nos tocos mais altos. Mas a partir do terceiro ano, essa diferença deixou de ser significativa, indicando a ocorrência de autodesbaste entre as brotações.

A melhor altura de corte varia em função de condições ambientais e das características das espécies. Em regiões áridas, deixar um toco muito baixo pode causar o fracasso da rebrota, enquanto que tocos mais altos garantem o sucesso. Isso foi verificado em regiões secas da Índia, e ocorreu porque depois do corte o toco secou de cima para baixo, e nos casos onde o corte foi feito próximo ao solo, matou todas as gemas dormentes existentes. Para Quercus ilex, em regiões secas do Mediterrâneo, o corte era realizado abaixo do nível do solo, e os tocos ainda eram cobertos com terra, para prevenir a perda excessiva de água (TROUP, 1966).

Nascimento Filho et al. (1983), estudando a influência da altura de corte sobre a sobrevivência de touças de Eucalyptus sp., encontraram diferenças na capacidade de rebrota para diferentes alturas de corte das espécies estudadas. Eucalyptus grandis e Eucalyptus cloeziana mostraram comportamento semelhante quanto à sobrevivência das touças, indicando que o corte deve ser feito a uma altura de 15 cm, enquanto que Corymbia citriodora não respondeu positivamente em termos de sobrevivência com o aumento da altura de corte, indicando que o mesmo deve ser feito a uma altura variando de 5 a 10 cm.

O diâmetro é outra variável que pode influenciar na capacidade de rebrota de um toco. De acordo com informações da FAO (1981), observações realizadas na África do Sul, no primeiro corte de um povoamento de Eucalyptus grandis com sete

anos de idade, mostraram que existem variações na sobrevivência entre tocos de diâmetros menores e maiores. Os tocos menores (3 a 10 cm) e as muito grandes (20 a 38 cm) apresentaram elevada mortalidade, enquanto que os tocos com diâmetro de 10 a 20 cm apresentaram baixa mortalidade. Quanto mais uniforme for a plantação e quanto menor a variação entre diâmetros dos tocos, maior será a sua sobrevivência e maior será a produção em volume do plantio conduzido em regime de talhadia.

Outro fator que afeta a rebrota e a sobrevivência dos tocos é a cobertura por galhadas. Segundo Ferrari et al. (2004), a permanência dos resíduos da colheita sobre os tocos foi responsável por até 15,6% das falhas em plantios de eucalipto conduzidos em regime de talhadia simples. Esta cobertura dificulta a emergência das brotações por formar uma barreira física, além de sombrear e abafar o toco. Para resolver este problema, a galhada deve ser removida, ou então amontoada de modo que os tocos permaneçam descobertos, com boa incidência de luminosidade sobre os mesmos.