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2.1.1 Influxo de ar no silo

Segundo Savoie e Jofriet (2003) os efeitos danosos do ar na qualidade da silagem são manifestados por dois caminhos, o primeiro ocorre na camada superficial durante o armazenamento, freqüentemente visível pelo crescimento de fungos, e o segundo está ligado à estabilidade aeróbia durante o período de remoção e fornecimento da silagem, usualmente manifestado pelo aquecimento da massa.

As trocas gasosas durante o período de estocagem são fundamentadas, segundo o modelo de McGechan e Williams (1994), por dois efeitos físicos: o fluxo volumétrico e a difusão. O fluxo volumétrico é dependente dos gradientes de pressão, sendo que estes são influenciados principalmente pelo movimento de CO2 (principal gás produzido na fermentação) entre o silo e o ar (HONIG, 1991). Após o término da fermentação, a concentração interna de CO2 é de 90%, muito superior à externa (McGECHAN; WILLIAMS, 1994). Se o silo apresenta algum ponto de escape, ocorre saída de CO2, o qual é substituído por O2 e N2 (ASHBELL; LISKER, 1988). A intensidade do fluxo é dependente dos gradientes de temperatura, presença de fendas na parede do silo, do filme plástico utilizado na vedação e da porosidade da silagem (WEINBERG; ASHBELL, 2003).

2.1.2 A vedação e a penetração de ar

A lona que veda o silo protegida com terra, areia ou cascalho aumenta a adesão entre esta e a massa e diminui a incidência de raios solares e as trocas gasosas com o ambiente. Porém, podem representar grande demanda de mão-de-obra, seja durante a vedação ou na retirada da silagem, principalmente quando o silo é de grande porte. Por estes motivos, quando materiais extras não são adicionados na cobertura, a lona passa a assumir uma contribuição mais expressiva na etapa de vedação do silo, objetivando a redução da penetração de ar do ambiente externo para o interior.

Em silos do tipo superfície, a presença da lona também se torna relevante, devido à falta de paredes laterais para proteção (SAVOIE; JOFRIET, 2003), e a demanda por filmes mais espessos (0,18 a 0,2 mm) acaba sendo mais significativa, segundo o modelo proposto por Savoie (1988).

Os filmes de polietileno utilizados na cobertura de silos apresentam permeabilidade ao oxigênio, a qual tende a aumentar notavelmente com a elevação da temperatura ambiental (DEGANO, 1999). Isto significa que durante o período do verão as silagens podem se tornar mais propensas à deterioração aeróbia, devido ao aumento da permeabilidade das lonas, com o conseqüente movimento gasoso devido à diferença de temperatura e pressão.

Kuzin e Savoie (2001) desenvolveram um modelo com o objetivo de estudar diferentes espessuras de filmes de polietileno e qual o impacto que os diversos níveis de permeabilidade ao oxigênio poderiam exercer sobre as perdas da silagem. Considerando a profundidade de 3 m ao longo do perfil, o filme com espessura entre 0,1-0,2 mm (comumente comercializado) promoveu menos de 2% de perdas de matéria orgânica após 7000 horas de armazenamento, enquanto que na espessura de 0,001 mm verificou-se 10% de perdas. Segundo os autores, quando o período de estocagem for próximo de 125 dias pode-se utilizar filme com espessura de 0,1 mm e se o tempo for estendido para 300 dias a espessura deverá ser de 0,2 mm.

Snell et al. (2002) utilizaram silos experimentais (0,3 m3) para avaliar a influência de variações na coloração e na espessura do plástico sobre as condições de preservação e qualidade da silagem, sendo comparados cinco tipos de filmes plásticos: a) branco/0,09 mm, b) transparente/0,15 mm, c) branco/0,15 mm, d) preto/0,15 mm, e e) branco/0,2 mm. As características de fermentação da silagem não foram afetadas pelo tipo de filme. Houve diferença na temperatura da superfície externa dos plásticos, sendo que as silagens cobertas por plásticos preto e transparente tiveram valores superiores. Foi observada diferença de temperatura na camada de silagem próxima ao filme (0 a 20 cm), porém esta foi insuficiente para influenciar as condições de desenvolvimento de microrganismos.

Segundo as normas da American Society for Testing and Materials Standards (AMST D3985-81), com a elevação da temperatura de 23 a 50 °C, a permeabilidade ao

ar dos filmes plásticos aumentam de 3 a 5 vezes. Na escolha da lona é preferível optar pela cor branca, pois filmes de outras cores, especialmente os escuros, aumentam a permeabilidade ao O2 pela característica de absorver calor (TABACCO; BORREANI, 2002).

2.1.3 O desabastecimento do silo e o influxo de ar

Após a quebra da vedação, a face frontal do silo que não é rapidamente removido permanece exposta ao O2. A partir deste evento, o principal fator que determina a estabilidade da silagem (anaerobiose) é perdido e a massa se torna potencialmente instável (WEINBERG; ASHBELL, 2003). O influxo do O2 na face do silo é influenciado pela densidade alcançada durante a fase de enchimento (HONIG, 1991; PITT; MUCK, 1993; WEINBERG; ASHBELL, 2003). Assim, nas regiões mais porosas da massa (áreas periféricas) os riscos de deterioração aeróbia aumentam (D’AMOURS; SAVOIE, 2005).

O processo de deterioração aeróbia é originado pela atividade de microrganismos aeróbios. Desse modo, as perdas durante o desabastecimento também serão influenciadas pela disponibilidade de nutrientes, pela temperatura ambiental (ASHBELL et al., 2002) e pelo tempo de exposição da silagem ao O2 (WEINBERG; ASHBELL, 2003) e, segundo Ohyama; Masaki e Hara (1975), estes três fatores são interdependentes.

Teoricamente, a rota fermentativa mais desejável durante a conservação da forragem na forma de silagem é a do tipo homolática (conversão de uma molécula de glicose em duas de ácido lático), pois não propicia perdas de MS ou de energia, o que pode resultar em maior consumo de silagem pelos animais (McDONALD; HENDERSON; HERON, 1991). Entretanto, o perfil de fermentação desejável nem sempre evita as perdas após a abertura dos silos, ou em alguns casos pode aumentá- las (KUNG; STOKES; LIN, 2003). A alta concentração e predominância de ácido lático em silagens necessariamente não representam efeito positivo na estabilidade aeróbia. Silagens adequadamente fermentadas, com altas concentrações de ácido lático e açúcares remanescentes, são mais afetadas pela deterioração aeróbia (WEINBERG; MUCK, 1996). Os fungos, as leveduras e algumas espécies de bactérias promovem a

assimilação aeróbia de lactato da silagem, reduzindo o seu potencial de conservação (PAHLOW et al., 2003).

Portanto, a estratégia de restringir a formação de ácido acético aumenta os riscos de silagens serem instáveis durante a aerobiose (NUSSIO; PAZIANI; NUSSIO, 2002). O conceito de que a concentração de acetato menor que 2% MS classifica a silagem como excelente, como proposto no trabalho de Dulphy e Demarquilly (1981), é questionado na atualidade. A habilidade em se estimar os riscos de deterioração aeróbia, de acordo com o perfil de fermentação, ainda é incerta. Porém, além de todos os cuidados relacionados com o manejo, a maior chance em obter sucesso na ensilagem está na premissa que as silagens devem conter ácido acético em associação ao ácido lático.