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Fatores relacionados ao esquema terapêutico para a adesão ao tratamento

3. OBJETIVOS DO ESTUDO

4.9 Aspectos Éticos

6.3.4 Fatores relacionados ao esquema terapêutico para a adesão ao tratamento

No tocante ao tratamento medicamentoso e à adesão, evidencia-se a influência da necessidade de mudanças na rotina de vida diária imposta pelo tratamento, da presença de efeitos colaterais e da utilização de outros medicamentos para tratamento das co-morbidades. Pela complexidade do regime terapêutico para o controle do diabetes, os pacientes necessitam utilizar esquemas terapêuticos cada vez mais complexos para atingir um bom controle glicêmico.

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Em relação à necessidade de mudanças na rotina de vida diária, ao introduzir o tratamento medicamentoso para o diabetes, obteve-se que 80,4% não referiram mudanças e que 19,6% as referiram. Desses 19,6%, 8,7% referiram que as mudanças ocorridas dificultaram o uso do medicamento para o diabetes. Assim, para a população estudada, a prevalência da adesão ao tratamento medicamentoso foi maior (81,1%) nos indivíduos que negaram a necessidade de mudanças, embora não tenha sido estatisticamente significativa.

A necessidade de mudança na rotina de vida diária do paciente diabético relaciona-se ao tipo de medicamento prescrito. A introdução de determinados medicamentos, tal como a insulina, requer que o paciente faça uma adequação de alguns de seus hábitos diários, principalmente os horários das refeições e da atividade física. Em especial a insulina é um medicamento que requer vários cuidados quanto ao manuseio e ao armazenamento. Isso pode constituir, no início do tratamento, um problema para aqueles que exercem atividades laborais fora e longe de casa. Também, devido ao mecanismo de ação dos medicamentos para o controle do diabetes, tanto os horários da atividade física quanto os das refeições precisam ser adequados aos horários de administração da insulina e/ou antidiabético oral.

Nessa direção, as dificuldades enfrentadas pelos pacientes diabéticos em uso de terapia medicamentosa para o controle do diabetes acarretam mudanças na rotina de vida diária, o que pode interferir na adesão do paciente ao tratamento medicamentoso proposto.

No que se refere à presença de efeitos colaterais, 65,2% dos sujeitos referiram efeitos colaterais relacionados ao medicamento para o controle do diabetes. Os sujeitos que referiram efeitos colaterais apresentaram uma prevalência de adesão de 70%; e, para aqueles que não referiram efeitos colaterais, a prevalência de adesão ao tratamento medicamentoso foi de 93,8%. Pode-se inferir que houve influência da presença de efeitos colaterais sobre a adesão do paciente à terapêutica medicamentosa na população estudada, embora essa associação não tenha sido estatisticamente significativa.

Os efeitos colaterais, muitas vezes, são atribuídos à falta de adesão ao tratamento medicamentoso, entretanto raramente são questionados durante a consulta médica.

Ao analisar os fatores que interferem na adesão ao tratamento medicamentoso em diabéticos tipo 2, Grant et al. (2003) obtiveram que a maioria dos pacientes, 58%, referiu a presença de efeitos colaterais como um dos fatores limitantes à adesão. Desses, apenas 23% relataram ao seu médico a presença desses efeitos. Dos medicamentos que os pacientes referiram como causadores de efeitos colaterais, 83% apresentaram esses efeitos há mais de um mês. Assim, é preciso considerar que os efeitos colaterais podem se cronificar e

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permanecer por muito tempo, interferindo na adesão do paciente à terapêutica medicamentosa.

Já no estudo de Chao, Nau e Aikens (2007), que também investigou a presença de efeitos colaterais dos medicamentos em pacientes diabéticos em uso de terapia medicamentosa, mostrou que apenas um terço dos pacientes apresentou efeitos colaterais referentes aos medicamentos para o controle do diabetes e que esses efeitos foram relatados ao médico pela maioria dos pacientes. Ainda, nesse estudo a associação entre a adesão à terapia medicamentosa para o diabetes e a presença de efeitos colaterais foi estatisticamente significativa (p<0,01).

Na prescrição de medicamentos para o controle do diabetes, possíveis efeitos colaterais que podem surgir no início e ao longo do tratamento devem ser descritos ao paciente. A cada retorno à consulta médica, o paciente deve ser questionado quanto à presença de efeitos colaterais e quanto à interferência destes na sua utilização, e ajustes no esquema terapêutico devem ser realizados conforme a necessidade. Essa preocupação dos profissionais de saúde em garantir o bem estar do paciente favorece o seu retorno às consultas, o que contribui para um adequado seguimento (OSTERBERG; BLASCHKE, 2005; RUBIN, 2005).

Assim, o profissional de saúde, ao orientar efetivamente o paciente acerca dos riscos e dos benefícios do tratamento medicamentoso para o controle do diabetes, pode favorecer uma maior adesão ao tratamento medicamentoso e, conseqüentemente, melhorar o controle glicêmico do paciente.

No presente estudo, ao considerar que 58,7% dos sujeitos investigados fazem uso de medicamento para hipertensão arterial, a prevalência da adesão ao tratamento medicamentoso para o diabetes foi de 84,2% nos indivíduos que referiram não fazer uso de anti-hipertensivos e de 74,1% nos que referiram uso. Essa diferença, embora presente na população estudada, não foi estatisticamente significativa.

A maior prevalência da adesão nos indivíduos que não fazem uso de anti-hipertensivos pode estar associada ao número de comprimidos de que o paciente faz uso. Os pacientes que utilizam anti-hipertensivos, na maioria das vezes, utilizam um número maior de comprimidos, pois, além dos medicamentos para o controle do diabetes, ainda usam medicamentos para o controle da hipertensão arterial.

Vários estudos referem que o número de comprimidos que o paciente utiliza exerce influência na adesão ao tratamento medicamentoso (DAILEY, 2001; MELIKIAN et al., 2002; OMS, 2003a).

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No estudo de Grant et al. (2003), os pacientes diabéticos investigados utilizavam uma média de 5,8 comprimidos de medicamentos para outras co-morbidades associadas ao diabetes, sendo uma delas a hipertensão arterial. No entanto, encontrou-se uma baixa correlação entre o número total de comprimidos e a adesão ao tratamento medicamentoso, sugerindo-se, assim, que os médicos devem se sentir à vontade para prescrever vários medicamentos para o paciente diabético a fim de atingir um adequado controle metabólico.

Segundo Rubin (2005), os pacientes devem ser questionados quanto à presença de problemas que dificultam a adesão devido à complexidade do tratamento medicamentoso. O médico pode oferecer um tratamento mais simples adaptado às necessidades do paciente a fim de ajudá-lo a compreender melhor o regime terapêutico.

Assim, os fatores relacionados ao paciente, à relação profissional-paciente e o esquema terapêutico, ainda, não são suficientes para explicar os problemas enfrentados pelos pacientes na adesão à terapia medicamentosa para o controle do diabetes. Os fatores relacionados à doença também exercem influência na adesão.

6.3.5 Fatores relacionados à doença para a adesão ao tratamento

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