• Nenhum resultado encontrado

“A memória é o instante de repouso; e a saudade, o clarão enorme que recebemos”.

Alexandre Dumas

Na pesquisa anterior que teve como objeto a história do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem no período de 1937 a 1953, para a discussão do conceito de classe social, nos valemos do pensamento de autores como THOMPSON (2004) e BOURDIEU (1989, 1997). Esses autores contribuíram para ampliar a operacionalidade do conceito de classe social ao indagar sobre a importância de considerar a história e as lutas políticas no processo de formação das classes. No entanto, para dar conta dos objetivos propostos para a atual pesquisa é necessário elaborar uma discussão que relacione o conceito de memória e o conceito de classe social, o que faremos neste capítulo. Primeiramente, examinaremos como essa relação aparece em alguns dos textos de HALBWACHS (1950, 1990, 2004), para depois examinar alguns períodos da história do Sindicato dos Trabalhadores das indústrias de Fiação e Tecelagem e do Sinditêxtil à luz desses conceitos.

O Sindicato e a Construção da Classe

A história do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem apontou que, entre os tecelões, no período estudado a luta pela lei e pelos direitos trabalhistas e benefícios sociais foi o principal objetivo dos sindicalistas. O sindicato constituiu-se como um espaço de interiorização da racionalidade e da impessoalidade da lei por parte dos trabalhadores. Desse modo, ação política do sindicato contribuiu para o desenvolvimento da cidadania entre os trabalhadores têxteis (VIANA-TELLES, 2004).

Na década de 1950, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem também contribuiu para a construção de uma posição de classe, essa entendida como um grupo mobilizado para luta, com interesses muitas vezes, diametralmente opostos aos interesses de um

73 outro grupo social, a classe patronal. O acirramento dos conflitos sociais e econômicos na década de 1950, a luta pela previdência social, pelo salário mínimo foram fatores contribuíram para esse processo.

Essa compreensão de classe social está referenciada em THOMPSON (2004) e BOURDIEU (1989, 1997). Thompson a pensava como um fenômeno histórico, não como uma categoria analítica, como uma estrutura ou conseqüência do desenvolvimento das forças produtivas ou determinismo econômico. Para ele, a classe decorre da ação humana e processo de constituição de classe está diretamente ligado, de um lado, às experiências comuns que levam a uma articulação de uma identidade entre os homens e, também, contra outros às quais um grupo é submetido como a de exploração, repressão, e, também, a solidariedade e a partilha. Este autor procura distinguir entre experiência de classe (determinada) e consciência de classe (o tratamento cultural dado à experiência) e confere a categorias como tradição e identidade um papel fundamental para compreender o fenômeno da classe:

“Ademais, a noção a noção de classe traz consigo a noção de relação histórica. Como qualquer outra relação, é algo fluido que escapa à análise ao tentarmos imobilizá-la num dado momento e dissecar a sua estrutura. A mais fina rede sociológica não consegue nos oferecer um exemplar puro de classe, como tampouco um do amor ou da submissão. A relação precisa estar sempre encarnada em pessoas e contextos reais (...) A classe acontece quando, alguns homens, como resultado de experiências comuns herdadas ou partilhadas, sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si e contra outros homens cujos interesses diferem (e geralmente se opõem aos seus. A experiência de classe é determinada, em grande medida, pelas relações de produção em que os homens nasceram – ou entraram involuntariamente. A consciência de classe é a forma como essas experiências são ratadas em termos culturais: encarnadas em tradições, sistemas de valores, idéias e formas institucionais. Se a experiência aparece como determinada, o mesmo não ocorre com a consciência de classe” (2004 p.9-10). BOURDIEU (1989, 1997) entende classe como um grupo politicamente mobilizado para a luta em prol de objetivos comuns – e em oposição a grupos que tem interesses contrários aos seus - e como é o resultado de um processo histórico e de lutas que unem agentes cuja posição no espaço social é bastante próxima. Bourdieu (1996) referencia-se em Thompson para elaborar o

74 seu conceito de classe, procurando dar a articulação de diferenciados níveis da realidade social como o econômico, o político e, sobretudo, o cultural. Afirma que a depender da posição em espaço social55 determinado, um agente vincula-se homologamente a um conjunto de atividades, havendo uma relação entre as posições socais, as disposições (habitus) e as tomadas de posição, as escolhas feitas por diferentes agentes sociais em suas diversas práticas.

A proximidade de determinados agentes no espaço social não os constitui uma classe no sentido marxiano, ou seja, enquanto um grupo mobilizado por objetivos comuns e contra uma outra classe. A proximidade social não engendra automaticamente essa unidade. A passagem da classe teórica à classe real só é possível graças a um trabalho político de mobilização. Ela se dá como o produto de uma luta simbólica e política para impor uma visão do mundo social.

A perspectiva bourdieusiana mostrou-se bastante rica, possibilitando-nos apreender a heterogeneidade constituinte do espaço sindical no período entre os anos 1937 e 1953, iluminando os diversos critérios de distinção e hierarquização que constituía o operariado têxtil de Salvador, a saber: a partir de sua posição no processo produtivo, de suas diferenças sexuais, dos seus grupos de idade, do seu local de residência, das suas orientações posições políticas, da sua inclusão ou exclusão na instituição sindical. Dentre eles, a variável de gênero se mostrou um elemento fundamental. Os documentos administrativos do Sinditêxtil como as fichas de afiliação e, também, a sua correspondência como os inquéritos administrativos, nos permitem avaliar a circulação dos trabalhadores no sindicato. Se eles não distinguem a raça ou a idade, ao menos, nos fornecem indicações precisa sobre o sexo dos associados no final da década de 1930, na década de 1940 e no início da década de 1950.

A mão de obra feminina era predominante não só na indústria têxtil, como também enquanto número de afiliados ao Sindicato. No entanto, a afiliação não era acompanhada da participação política nos quadros diretivos da instituição. A Secretária Maria Aquillina dos Reis, entre 1937 e 1952, foi a única mulher a integrar a diretoria do Sindicato. Até 1943, podemos acompanhar o movimento de filiações através dos inquéritos administrativos enviados ao Ministério do Trabalho. O primeiro deles data de 1936. É interessante notar que, em 1935, o

55 Para Bourdieu, o espaço social é Esses princípios de diferenciação aproximam e separaram os agentes que são distribuídos de acordo com volume global e a estrutura do seu capital. Essas oposições são base para as tomadas de posição, ou na probabilidade de tomar uma determinada posição política.

75 número de mulheres filiadas ao sindicato não era apenas expressivo, mas excedia o número de homens. Dos 287 sindicalizados, 198 eram mulheres e apenas 89 homens.

A participação das mulheres nas assembléias sindicais também era expressiva. Acompanhamos a participação das associadas no cotidiano sindical, a partir das listas de presença das assembléias que vão de 1946 até 1956. Computando o número de mulheres e homens que nelas se fizeram presentes, observamos uma oscilação nas freqüências tanto de homens como de mulheres, sendo que, nos anos 1940, a presença feminina foi sempre inferior à masculina. No entanto, comparando as médias anuais dos percentuais de mulheres no total de presentes nas assembléias do período, observa-se que, na década de 50, manifesta-se um nítido crescimento da participação feminina nessas atividades sindicais.

Nas assembléias extraordinárias, as que tratavam de temas ditos mais “políticos” ou de ordem mais prática referentes à categoria – tais como dissídios coletivos, eleição de representantes, etc. – havia um aumento considerável na freqüência de mulheres, em particular, nas “grandes assembléias”, ou seja, naquelas com mais de 150 assinaturas nas listas de presença, e cuja ordem do dia era deliberar sobre questões como dissídio coletivo para aumento de salários ou nas assembléias de associados de determinada fábrica, com o objetivo de tratar de questões específicas - e normalmente urgentes – também tinham suas freqüências mais elevadas. Porém, na década de 1950, houve assembléias em dias “comuns” (não festivos, dias de trabalho) nas quais a presença feminina se equiparou ou mesmo superou a masculina, a exemplo da assembléia extraordinária realizada em 13 de agosto de 1956, onde as mulheres representaram 79,0% de um total de 243 participantes.

Outro aspecto importante da vida sindical experienciado de forma distinta por homens e mulheres se dava na relação com a Justiça do Trabalho. As primeiras notícias de disputas legais entre o sindicato e os industriais têxteis datam de 1945. Em 13 de agosto de 1945, ocorreu a Primeira Convenção Coletiva do Trabalho de que temos registro nos arquivos do Sindicato, entre a Companhia Progresso e União Fabril e a Companhia Empório Industrial Norte. A maior parte das queixas era contra a Companhia Progresso e União Fabril. A documentação relativa às queixas encaminhadas à Justiça do Trabalho revela que, enquanto as mulheres usualmente prestavam queixas em grupo, os homens o faziam individualmente.

O local de residência era um outro importante elemento de diferenciação. Inicialmente era pouco comum que os trabalhadores residentes nas vilas operárias lançassem mão dos mecanismos

76 legais, que recorressem ao Sindicato para fazerem valer os seus direitos56. Era mais comum que os trabalhadores contratados mais recentemente, ou de menor idade, como também os que não residiam nas vilas operárias prestassem queixas na Justiça do Trabalho, procedimento que se tornam mais comuns a partir de 1948.

No entanto, a própria fábrica, em seu interior já produzia diversas segmentações naturalizando a divisão sexual do trabalho, distribuindo as tarefas e ocupações de acordo com as supostas determinações biológicas dos sexos, aos homens eram reservados as funções de comando e as que envolviam os trabalhos mais pesados. Às mulheres cabiam as tarefas repetitivas e monótonas, ou que exigissem maior destreza e atenção e, também, o treinamento de menores e aprendizes. Além disso, padrões distintos de punição também eram aplicados a homens e mulheres, havendo uma atitude maior de tolerância para com os homens. Acreditava-se que eles eram naturalmente mais indisciplinados. Enquanto as mulheres eram punidas com demissão sumária aplicada, no caso dos homens, as demissões só eram utilizadas para punir as faltas tidas como graves.

Outros critérios de distinção e determinação, a exemplo da cor, também se impunham originando posições e, conseqüentemente, pontos de vista e interesses não só variados como conflitantes e em permanente disputa no espaço fabril, tornando-o um todo extremamente segmentado e heterogêneo. Seria possível, referir-se a esse contingente de trabalhadores enquanto uma classe, no sentido político – união em torno de objetivo político comum - ou econômico do? Que papel deteve o Sindicato na construção dessa classe?

Uma visita à teoria das classes sociais de Halbwachs nos auxilia a iluminar esse problema. Na produção acadêmica de Halbwachs há duas obras de referência para discussão das classes sociais. São elas, respectivamente, “As classes Sociais” e “Os Marcos Sociais da Memória”. Ambas consistem em desdobramentos de sua tese, publicada em 1928, intitulada “A classe trabalhadora e seus níveis de vida: um estudo sobre a hierarquia das necessidades na sociedade industrial contemporânea”. Na mesma linha situa-se o seu artigo “A evolução das necessidades das classes trabalhadoras” (1933). A discussão sobre as tradições que constituem as classes sociais, que aparece nos “Marcos”, é tão somente um desdobramento das teses que desenvolvidas em “As Classes Sociais”.

77 Estamos nos servindo da primeira edição espanhola datada de 1950. Sua edição original em francês, data de 1938 e foi publicada com o nome de “Análise das Motivações Dominantes que Orientam a Atividade dos Indivíduos Através da Via Social57”. Em 1955, recebeu uma nova edição francesa com o título de “Esboço de uma psicologia das classes socais58”, traduzida para o inglês em 1958 com o nome de “Psicologia das Classes Sociais59”. A obra possui um prefácio no qual Georges Friedmann apresenta a trajetória acadêmica de Halbwachs como situada em uma área intermediária entre Psicologia e a Sociologia, não sendo fortuita a sua indicação para ocupar a cadeira de Psicologia Social do Colégio de France. De acordo com Friedmann, a tese de 1928 foi o grande trabalho de Halbwachs em Psicologia Social, no qual postula uma relação entre a posição social do indivíduo e os gastos que realiza.

Halbwachs procura estudar as classes sociais a partir da teoria das representações sociais de Durkheim. Em sociedade, o homem é impulsionado por motivações originadas pelos grupos aos quais pertence. Os grupos confessionais lhe fornecem sentimentos religiosos; o grupo doméstico, sentimentos familiares. As “motivações” a que faz referência não são, portanto, interesses individuais, são motivações coletivas. Para conhecê-las é preciso observar os diversos grupos humanos e “reconhecer as representações coletivas dominantes, qual é sua força e sua extensão, quais seus limites” (1950, p.37). Elas inspiram os homens na vida social, explicam as diferenças substancias nas formas de agir e sentir que percebemos ao observarmos o passado das sociedades e assumem comumente a forma de diversas classes sociais, a forma coletiva mais “ampla e natural” imposta a todos os homens em sociedade. As classes sociais são, portanto, uma forma de representação social. Em sua obra, Halbwachs trata, ao todo, de quatro classes sociais: camponeses, empresários e burguesia, trabalhadores da grande indústria e a classe média.

De acordo com Halbwachs, enquanto nos camponeses há o desejo de se estabelecer por sua conta, possuir sua própria empresa ou seu negócio, saindo de uma situação de dependência, na classe operária esse desejo é escasso, a maioria dos indivíduos preferem o trabalho na grande industria. Aqui estava dialogando com o Cours d’ économie politique de Simiand (1938,1929), para quem o trânsito de operário a trabalhador independente é mais numeroso em período de

57 Analyse dês móbiles dominantes qui orient l’activiê dês individus dans l avie sociale”, 58 “Esquisse dúne psychologie des classes sociales”.

59

78 prosperidade econômica do que quando os preços baixam ou se estabilizam. Nos períodos de crise ocorre o contrário, muitos artesãos são obrigados a trabalhar nas fábricas. Sendo muito qualificados encontram trabalho, apesar da falta do mesmo. Os operários não pensam em realizar trabalho autônomo, pois vêem o quanto sofrem os independentes com a dureza dos tempos. A perspectiva dos grandes riscos e a responsabilidade e a segurança de uma situação que eles e aos seus proporcionaria regularmente os meios de vida lhes pesa mais que seu gosto pela independência.

Já os operários são um grupo social submetido a uma disciplina em minas ou equipes em redor de máquinas. Cumprem funções de execução e estão afastados das funções de comando, podendo, de certo modo, escolher a indústria para a qual querem trabalhar. Nesse sentido, cada homem deseja ocupar um emprego onde suas qualidades e aptidões sejam utilizadas do melhor modo. Porém, na indústria, as condições são contrárias: é a mão de obra que deve adaptar-se às tarefas, pois “o operário se inspira nas circunstâncias”.

Os operários querem conservar os mesmos ganhos. Em uma “sociedade econômica dominada pelas representações monetárias” (HALBWACHS, 1950, p.114), não vêem o trabalho como uma mercadoria submetida à lei da oferta e da procura, nem entendem o contrato de trabalho como mais uma operação comercial, defendendo o princípio “trabalho igual, salário igual”. Também não querem aumentar a duração da jornada de trabalho de uma função “monótona e desanimadora”. Sabem que os patrões podem conservar o salário e aumentar a jornada de trabalho, diminuindo o preço do trabalho. A maior parte do tempo, os operários têm contato somente com a matéria inerte, estando isolado do mundo a maior parte do tempo, diferente de todos os demais agentes da vida econômica. Ainda que trabalhe em grupo, trata-se de uma cooperação meramente técnica, uma associação de forças e movimentos físicos dos homens, relações maquinais, onde o pensamento e o sentimento estão em grande medidas ausentes.

A classe operária é, portanto, caracterizada pelo fato de entrar em contato com coisas, não com homens, enquanto outras profissões são exercidas no interior de meios humanos, criando situações para as relações de homem a homem. Deste modo, os trabalhadores são limitados tanto quando vão ao trabalho, como quando regressam, deixando de exercer em ambos os casos a natureza da sua vida social. O operário sente que ao entrar na fábrica entre em outro mundo sem comunicação com sua esfera familiar em que se relaciona com pessoas. Já o juiz ou o advogado não se sentem excluídos ou separados, mesmo durante as audiências, pois sua função não se

79 baseia em atividades ou pensamentos técnicos, mas “puramente sociais” (HALBWACHS, 2004). Há uma oposição entre a fábrica e a casa do operário, oposição essa mediada pela rua. O alojamento é o lugar da família:

“O grupo dos seus no qual as relações homem a homem são vivas e coloridas e não mecânicas e privadas de calor como na fábrica. O indivíduo é julgado por si mesmo, segundo a sua natureza e qualidades (...) A família, grupo que existe para si mesmo não tem nenhuma finalidade exterior, senão ela mesma, não é como na empresa, como uma fábrica qualquer” (HALBWACHS, 1950, p.152).

Nos locais industriais, o operário perde parte de sua personalidade e é considerado uma coisa. O homem é obrigado a permanecer, cada dia, durante muito tempo na fábrica e perde o sentimento do que deveria ser seu lugar. O meio mais natural para o operário não é a casa, mas a rua. Nas grandes cidades essa é a zona intermediária entre a casa e as fábricas. É um meio mais mecanizado e dessocializado que os grupos familiares em relação a qual a rua é aquilo que está “fora”. Muitos trabalhadores, ao saírem da fábrica, não voltam à casa, mas deixam-se absorver pelas imagens da rua que lhes oferece um grau de vida social satisfatório: “É como uma região do universo social na qual a vida está mais disseminada e toda ela carregada de influências mecânicas” (HALBWACHS, 1950, p.153).

Os operários procuram utilizar o seu salário para satisfazer às suas necessidades básicas. Se os salários são bastante elevados, deixam um excedente disponível para atividades de lazer. Além disso, outras duas importantes motivações coletivas são a tendência à manutenção e à melhoria de suas condições de vida por regras coletivas e formação de organizações profissionais e de associações próprias para desenvolver e satisfazer seu espírito social. Essas últimas características levaram Halbwachs a discutir o problema das relações entre sindicatos, associações e a construção da classe operária. Para ele, os sindicatos são uma expressiva manifestação da solidariedade e espírito social dos grupos operários.

Halbwachs entende o sindicato como uma associação de trabalhadores com o objetivo de manter ou melhorar as condições da classe trabalhadora. Se as máquinas e a concentração industrial podem ajudar no desenvolvimento dos sindicatos, a condição necessária para que os

80 sindicatos se formem e funcionem é a “separação duradoura entre patrões e empregados” (HALBWACHS 1950, p.129).

Historicamente, os sindicatos surgiram inicialmente, entre os trabalhadores de nível elevado (tipógrafos, vidreiros, etc). Na época vitoriana, o sindicalismo inglês era considerado uma aristocracia operária, buscando condições privilegiadas para os seus membros e não direitos gerais que se estenderiam à toda classe trabalhadora. Trabalhadores qualificados reuniam-se em

trade unions para excluir de sua profissão os não afiliados e manter, desse modo, os salários altos.

No entanto, após a organização sindical se estendeu ao conjunto dos trabalhadores esforçando-se para chegar a ser “uma imagem e como a cópia exata e completa do conjunto da classe trabalhadora”.

Através dos sindicatos, o progresso realizado por uma categoria situada no ponto mais alto da escala dos salários é aproveitado por todo o conjunto, assegurando a todos, não um mesmo nível, mas garantias idênticas, possibilitando a libertação da arbitrariedade da exploração. O que precisamente Halbwachs entende por arbitrariedade da exploração? Para ele, o trabalhador, uma vez que o contrato de trabalho só é individual em aparência. No capitalismo, antes do aparecimento dos sindicatos, o trabalhador não contava com nenhum apoio e dispunha somente do seu ponto de vista individual para oferecer ao patrão. Possuía, portanto, um conhecimento muito limitado das necessidades que poderiam ser discutidas, conhecendo não as necessidades de um grupo, mas a da sua pessoa.

Documentos relacionados