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No ambito federal, a principal lei é a 6.766 de 1979. Por ser uma Lei Federal e lidar com um território continental repleto de contrastes, seu texto foi mais genérico e não adentrou em regras urbanísticas específicas. Apenas o Capitulo I e II apresentam regras e requisitos urbanísticos, os demais oito capítulos da lei apresentam requisitos mínimos de desenho técnico, uma série de definições, procedimentos e fluxos básicos para embasar as legislações estaduais e municipais, procurando nivelar, principalmente, os procedimentos cartoriais em todo o Brasil no que se refere ao projeto, aprovação e registro dos novos loteamentos.

Um grande avanço da lei foi definir como sendo de responsabilidade dos empreendedores a execução da infraestrutura básica, composta pelos equipamentos urbanos de escoamento das águas pluviais, iluminação pública, esgotamento sanitário, abastecimento de água potável, energia elétrica pública e domiciliar e vias de circulação, devendo ainda destinar espaços livres de uso público proporcionais à densidade de ocupação, definição de

usos permitidos e os índices urbanísticos de parcelamento e ocupação do solo. Esses incluem, obrigatoriamente, as áreas mínimas e máximas de lotes e os coeficientes máximos de aproveitamento, devendo estas regras estarem previstas pelo Plano Diretor ou zoneamento municipal.

Por mais que na atualidade possamos ver a lei como simplista, o texto trouxe diversos avanços legislativos, reconhecimento de situações jurídico/urbanísticas consolidadas e uma primeira ferramenta de regularização fundiária e urbanística dos loteamentos irregulares e clandestinos. A lei, que em breve completará 40 anos, continua sendo o principal regramento para regular a expansão urbana nos municípios, isso porque nem todos os estados regulamentaram a lei em seus territórios e no caso dos municípios, as poucas leis existentes são frágeis e modificadas com frequência32, obedecendo, prioritariamente, a interesses privados, pelo menos aqui na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

No que tange o alvo desta dissertação, ou seja, as área e usos rurais, a Lei Federal traz somente uma citação do termo “Rural” em seu artigo 53:

Art. 53. Todas as alterações de uso do solo rural para fins urbanos dependerão de prévia audiência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, do Órgão Metropolitano, se houver, onde se localiza o Município, e da aprovação da Prefeitura municipal, ou do Distrito Federal quando for o caso, segundo as exigências da legislação pertinente.

O artigo que tem como preocupação clara a aplicação de maior rigor sobre as conversões de áreas rurais para urbanas não teve, a meu ver, aplicabilidade e abrangência que resultassem maior controle das expansões urbanas. Isso porque o artigo cita somente a “audiência”, ou seja, a tomada de conhecimento pelo INCRA e pelo orgão metropolitano.

Na prática, pelo que pude perceber quando estive na coordenção da Diretoria de Regulação Metropolitana na Agência RMBH, é que nenhuma solicitação deste teor teve como

32 Atesto esta frase com base no meu trabalho realizado na Agência RMBH. Durante os mais de 3

anos que trabalhei lá, era comum o envio da documentação mínima para aprovação de parcelamentos do solo em que uma lei específica mais permissiva que a lei geral foi sancionada com repercussão específica a este empreendimento em aprovação. Quando não era uma lei específica, mudavam a própria lei geral. Além disso, a equipe da Diretoria de Regulação Metropolitana da referida Agência tinha dificuldades de acompanhar os processos legislativos municipais com impactos no dia a dia da diretoria.

base de análise consequências urbanísticas, isso porque, não existe nenhuma regulamentação de critério e diretrizes a nível federal, estadual, metropolitano e municipal para novas expansões urbanas.

As análises existentes partem exclusivamente do exame de pertencimento ou não das glebas em áreas urbanas e/ou de expansão urbana com base nas legislações municipais (aspecto que também define a análise da Agência RMBH). O INCRA, por sua vez, não questiona as legislações municipais que definem os perímetros urbanos e rurais. Logo, a permissividade de instalação de novos empreendimentos parte exclusivamente da análise dos gestores municipais, que na maioria das vezes não possuem capacidade técnica e institucional para lidar com os loteamentos e pressões advindas destes processos.

Considerando ainda que a grande maioria dos Planos Diretores Municipais, apresentam áreas de expansão extremamente generosas, a intenção do legislador quando redigiu o artigo 53 da Lei Federal 6.766/79 não logrou êxito.

Figura 7 - PERÍMETRO URBANO, TECIDO URBANO E ÁREAS RURAIS NO MUNICÍPIO DE SANTA LUZIA

FONTE: Elaborado pelo autor - 2019

Legenda: Áreas rurais Tecido urbano Zona de expansão

Figura 8 - PERÍMETRO URBANO, TECIDO URBANO E ÁREAS RURAIS NO MUNICÍPIO DE NOVA LIMA

FONTE: Elaborado pelo autor - 2019

Com base nos dois mapas apresentados, percebemos nitidamente como o tecido urbano é altamente fragmentado e como a delimitação das áreas rurais não foi pensada para direcionar e controlar a expansão urbana e finalmente, como as áreas de expansão urbana são generosas. Dessa forma, considerando que grande parte do território municipal é considerado como urbano ou de expansão urbana, descaracterizações de uso rural para urbano passam a ser possíveis em grande parte do território.

Um abertura legal importante fornecida pela Lei Federal 6.766/1979 está em seu artigo 15°, em que possibilita aos Estados regulamentarem por decreto o parcelamento do solo quando localizados em áreas de interesse especial33, quando localizados em áreas limítrofe de

33 Tais como as de proteção aos mananciais ou ao patrimônio cultural, histórico, paisagístico e arqueológico. Legenda:

Áreas rurais Tecido urbano Zona de expansão

municípios ou que pertença a mais de um município e quando o loteamento abranger área superior a 1.000.000m².

Essa abertura legal é importante tendo que vista que as legislações que regulam o direito de uso dos imóveis sempre encontram grande resistência no legislativo, dessa forma, possiblitar ao executivo legislar e criar novas responsabilidades para os proprietários e empreendedores por decreto, possibilitou mais celeridade a estes processos legislativos.