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2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE CONTENÇÃO

2.2.3 Feminicídio – Crime Hediondo

O homicídio, crime contra a vida, consta no Código Penal (CP) brasileiro, em seu art. 121, sendo definido como o ato de matar alguém. Nos casos de homicídios de mulheres, se decorrentes de conflitos de gênero, utilizava-se a expressão femicídio, termo de cunho político e legal (MENEGHEL & HIRAKATA, 2011). Como mencionado anteriormente, nos diversos países onde há estudos sobre o homicídio de mulheres, tanto há a utilização do termo femicídio quanto feminicídio. Para Campos (2015) mesmo existindo diferenças conceituais entre os termos devido ao contexto histórico em que foram formulados, tanto nas legislações latino-americanas quanto na literatura feminista, ambos são utilizados como sinônimos.

De acordo com Campos (2015), no Brasil, foi a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que inicialmente apresentou um projeto de lei para tipificar o feminicídio, após realizar uma investigação sobre a violência contra a mulher no Brasil. O Projeto de Lei

PLS 292/2013 foi protocolado no Senado Federal e sofreu algumas modificações, primeiramente pela Procuradoria da Mulher do Senado Federal, depois na Câmara dos Deputados, tramitando como PL 8305/2014, sendo então aprovado pelo parlamento e dando origem à Lei n. 13.104/2015 (Brasil, 2015a).

A promulgação da Lei n. 13.104 (Brasil, 2015a) aconteceu em 09 de março de 2015 e ficou definido o uso do termo feminicídio, que trata do homicídio de mulher que ocorre por razões de condição de sexo feminino, ou seja, pelo fato de ser mulher, sendo circunstância qualificadora do crime de homicídio e inserindo-o no rol de crimes hediondos. A lei descreve que considera-se que há razões de sexo feminino quando o crime envolver violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Ainda no ano de 2015, a Lei n. 13.142 (Brasil, 2015b) incluiu também como feminicídio quando o homicídio de mulher ocorrer contra autoridade ou agente descrito nos art. 142 e 144 da Constituição Federal, sejam eles integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou ainda contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até o terceiro grau, em razão dessa condição.

Com relação à pena, ela será de reclusão, de doze a trinta anos. Algumas situações serão consideradas agravantes e a pena será aumentada em 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado durante a gestação, nos três meses posteriores ao parto, contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência ou ainda na presença de descendente ou ascendente da vítima.

A tipificação penal do feminicídio reflete o reconhecimento político-jurídico de uma violência homicida que tem características específicas, diferente das mortes masculinas, e que é reconhecida como uma violação dos direitos humanos. Não é um tratamento paternalista, que coloca a mulher como sexo frágil, mas é a qualificação de uma motivação baseada no gênero, em duas circunstâncias específicas trazidas pela lei e a não a toda e qualquer morte de mulher. (CAMPOS, 2015) Por ser relacionado ao gênero, Tristan (2005) afirma que os crimes de feminicídio estão inseridos num clima social de discriminação e violência, em uma sociedade que ainda tolera linguagem abusiva referente às mulheres e onde as práticas sociais historicamente atentam contra a liberdade, saúde, integridade e contra a vida das mulheres.

Há inúmeras controvérsias sobre esta lei, que foi alvo de muitas críticas por parte dos operadores do direito e também de movimentos sociais (WAISELFISZ, 2015). Não entraremos no mérito da questão, pois esta análise não é objetivo deste estudo.

Por ser a Lei n. 13.104/2015 (Brasil, 2015a) recente, as estatísticas no país sobre o feminicídio são praticamente inexistentes, por isso elaborar uma pesquisa utilizando este critério seria praticamente impossível pela ausência quase absoluta de informação sobre o tema. Todavia espera-se que em alguns anos, tenhamos uma fonte de análise a partir da tipificação dos boletins de ocorrência e dos inquéritos policiais (WAISELFISZ, 2015).

Por meio dos estudos apresentados é possível constatar o quão grave é a violência contra mulher, pois gera prejuízos físicos e psicológicos às vítimas e familiares, podendo culminar em um homicídio. Foi possível destacar ainda algumas das políticas públicas que foram ou estão sendo implementados no sentido de conter a violência, como a criação das DEAMs, a promulgação da LMP e da lei que torna o feminicídio um crime hediondo.

Observa-se ainda que a violência contra a mulher necessita de uma abordagem distinta da violência comum, visto que envolve dimensões diferenciadas pois na maioria dos casos, as agressões são realizadas por pessoa conhecida, no âmbito familiar e envolvem questões de gênero. É importante ressaltar que, conforme Soares (2005), a violência doméstica segue geralmente um ciclo, composto por três fases, que começa com agressões mais brandas e tendem a se agravar.

Diante do exposto, verifica-se ainda que há uma carência de estudos relacionados às políticas públicas de contenção da violência contra a mulher no estado da Paraíba. A presente pesquisa tem por objetivo analisar óbitos de mulheres por agressão ocorridos nos estado da Paraíba entre os anos de 2003 e 2013, e relacionar com as políticas de contenção que foram implementadas no estado. A partir do levantamento dos conceitos que fundamentam este estudo, o próximo capítulo tratará a trilha metodológica que orientou esta pesquisa.

3 METODOLOGIA

Este tópico descreve o caminho metodológico no qual a pesquisa baseou-se para atingir os objetivos propostos. Será apresentada a caracterização, o contexto e sujeitos da pesquisa, técnicas de coleta e análise dos dados.