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Serge André, na finalização de seu livro O que quer uma mulher argumenta, que, se para Freud a feminilidade foi um enigma, e se ele fracassou em descobrir seu segredo, é porque a mesma, nos confrontaria com alguma outra coisa que não o recalcado. E, citando Lacan, quando este diz que a mulher não existe, pois isto significa que não há representação significante para a feminilidade, esta, então, “não pode fazer parte do recalcado: alguma coisa ali é impossível de se recalcar”. Serge, ainda se referindo a Lacan e ao seu Seminário Os

Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise, diz que “a feminilidade não se destaca do recalque, mas sim da censura”. Seguindo o desenvolvimento final de Serge, e este citando Lacan:

Lacan leva em conta não apenas o recalque mas também a censura. Pelo significante que ele escreve como S (Ⱥ), indica que o inconsciente tem um limite, que ele não diz tudo – em outras palavras, que o todo não é recalcado nem sexualizado. A feminilidade, na elaboração de Lacan, não é recalcável, a não ser que passe pela via da mascarada.Interrogar a feminilidade exige que se tome em consideração um não interpretável, pelo menos no sentido freudiano de interpretação (ANDRÉ, 1998, p. 286).

Vamos tomar de início, ao dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a significação da palavra Censura.

CENSURA – s.f., ação ou efeito de censurar; exame a que são submetidos trabalhos de cunho artístico ou informativo, ger. com base em critérios de caráter moral ou político, para decidir sobre a conveniência de serem ou não liberados para apresentação ou exibição ao público em geral; juízo desfavorável, desaprovação, discordância; advertência severa, enérgica; exprobração, repreensão; medida disciplinar aplicada a um pecador, com a intenção de corrigi-lo; condenação da igreja a certas obras; fator ou conjunto de fatores que regula, no ego, no ego ideal (sic) ou no superego, a emergência de idéias e de desejos no consciente, reprimindo- os; censor; (DICIONÁRIO HOUAISS, 2001, p. 671).

Vemos, então, que o ato de censurar traz em sua ação a intenção de supressão, às vezes por apagamento, de retirada de circulação, de julgamento, de punição a algo ou alguém em sua ação, que por alguma razão seja considerado atentatório ou nocivo a uma ordem moral, política, religiosa e cultural estabelecida.

A que ordem, então, a censura à feminilidade poderia responder? Vamos retomar desde Freud, o uso de que ele fez da palavra censura em alguns de seus textos.

Na “Carta 79”, já citada no capítulo III deste trabalho, Freud, para dizer da censura, exemplifica o que ocorre a um jornal estrangeiro, via censura, quando este passa pelas fronteiras russas; “Palavras, orações e frases inteiras são obliteradas, de modo que o que resta se torna ininteligível.” (FREUD, 1898, p. 375-6)

Esta definição, dada por Freud à censura, equipara-se à definição acima citada.

No texto Sobre a Introdução ao Narcisismo (1914) no processo de formação do ideal de eu, este decorre da vigilância da consciência moral, ou seja, do superego, representada para a criança, via influência crítica dos pais, que é mediada através da voz e que vai no decorrer do tempo associando-se a todas as outras pessoas do meio em que a criança vive, através de todo tipo de autoridade ou de representações de autoridade. Ou, como diz Freud, “no lugar dos pais é colocada a indefinida multidão dos companheiros”.

Freud, no texto sobre o “inconsciente”, fala de uma censura que atua entre o sistema pré-consciente e o sistema inconsciente, e também de uma censura entre o sistema consciente e pré-consciente.

Na elaboração do que é possível de tornar-se consciente ou não, e de que maneira isto pode ocorrer entre os sistemas consciente, pré-consciente e inconsciente, Freud coloca que a soma dos processos psíquicos se apresenta à consciência sob o domínio do pré-consciente.

Grande parte desse pré-consciente origina-se no inconsciente, tem a natureza dos seus derivados e está sujeita à censura antes de poder tornar-se consciente. Outra parte do Pcs. é capaz de se tornar consciente sem qualquer censura. Ao ventilarmos o assunto do recalque fomos obrigados a situar a censura, que é decisiva para o processo de conscientização entre os sistemas Ics. e Pcs. (...) Agora, passa a ser provável que haja uma censura entre o Pcs. e o Cs. (FREUD, 1915, p. 219-20). Também é observado que na transição de um sistema a outro, uma nova censura deve ser considerada. Entre a fronteira do inconsciente e o pré-consciente, há uma censura que tem como função fazer o rechaço daquele em direção a este, mas, ao mesmo tempo, os derivados do inconsciente podem contornar esta censura, atingindo um alto nível de organização e podendo conseguir um certo grau de investimento no pré-consciente. Ocorre, no entanto, que ao atingirem uma intensidade maior em seu investimento, tentando tornarem-se conscientes, eles “são reconhecidos como derivados do Ics.” e são novamente recalcados pela censura na

fronteira do Pcs. com o Cs. A primeira censura ocorre contra o inconsciente, e a segunda censura contra os derivados do mesmo.

Na Conferência XXXI sobre o superego, Freud nos diz:

O passado, a tradição da raça e do povo, vive nas ideologias do superego e só lentamente cede às influências do presente, no sentido de mudanças novas; e, enquanto opera através do superego, desempenha um poderoso papel na vida do homem, independentemente de condições econômicas (FREUD, 1933, p. 87). Em O Mal-Estar na Civilização, Freud retoma o tema do superego. Fazendo uma analogia entre o processo civilizatório e o percurso do desenvolvimento de um indivíduo, Freud afirma que uma comunidade também pode desenvolver um superego que influência a evolução cultural. Nesta similaridade, tanto o superego cultural, quanto o superego individual, estabelecem “exigências ideais estritas, cuja desobediência é punida pelo “‘medo da consciência’”.

...na realidade, os processos mentais relacionados são mais familiares para nós e mais acessíveis à consciência tal como vistos no grupo, do que o podem ser no indivíduo. Neste, quando a tensão cresce, é apenas a agressividade do superego que, sob a forma de censuras, se faz ruidosamente ouvida; com freqüência, suas exigências reais permanecem inconscientes no segundo plano. Se as trazemos ao conhecimento consciente, descobrimos que elas coincidem com os preceitos do superego cultural predominante. Neste ponto os dois processos, o do desenvolvimento cultural do grupo e o do desenvolvimento cultural do indivíduo, se acham, por assim dizer, sempre interligados. Daí algumas das manifestações e propriedades do superego poderem ser mais facilmente detectadas em seu comportamento na comunidade cultural do que no indivíduo isolado. O superego cultural desenvolveu seus ideais e estabeleceu suas exigências (FREUD, 1929, p. 167).

Leonardo S. Rodriguez desenvolve em seu texto O supereu maternal arcaico, como Freud e Lacan abordaram teoricamente o tema que dá nome a seu texto; o supereu maternal arcaico, que como ele argumenta “é uma função do supereu, que enquanto instância e tal como Freud o definira atende a mais de uma função”.

O autor observa que na obra de Lacan, proposições e referências ao supereu embora não estejam sistematizadas, “são precisas e bem desenvolvidas, nas quais as funções do supereu estão implícitas ou afetadas, mesmo quando o supereu não está explicitamente nomeado”.

No Seminário 2, no capítulo A censura não é a resistência, Lacan relacionando a censura ao supereu, nos diz que:

O supereu é isso, na medida em que terroriza efetivamente o sujeito, que constrói nele sintomas eficientes, elaborados, vivenciados, que prosseguem e que se encarregam de representar este ponto onde a lei não é compreendida pelo sujeito, mas é desempenhada por ele. Eles se encarregam de encarná-la como tal, eles lhe fornecem sua figura de mistério (LACAN, 1985, p. 167).

A censura e o supereu, segundo Lacan, devem ser colocados no mesmo registro da lei, é o discurso em sua concretude, é cultural.

Voltando ao tema do supereu materno, no texto Sexualidade Feminina, Freud, fazendo algumas questões sobre o desenvolvimento da sexualidade feminina, diz que o mesmo torna- se mais difícil, pois para a mulher se põe a questão da “troca de seu objeto original – a mãe – pelo pai”. Freud considera então a possibilidade de uma relação inicial da filha para com sua mãe tão intensa, que a mesma impediria que no futuro a filha pudesse direcionar de forma verdadeira seu interesse pelos homens.

Entre estas acha-se a suspeita de que essa fase de ligação com a mãe está especialmente relacionada à etiologia da histeria, o que não é de surpreender quando refletimos que tanto a fase quanto a neurose são caracteristicamente femininas, e, ademais, que nessa dependência da mãe encontramos o germe da paranóia posterior nas mulheres, pois esse germe parece ser o surpreendente, embora regular, temor de ser morta (devorada?) pela mãe. É plausível presumir que esse temor corresponde a uma hostilidade que se desenvolve na criança, em relação à mãe, em conseqüência das múltiplas restrições impostas por esta no decorrer do treinamento e do cuidado corporal, e que o mecanismo de projeção é favorecido pela idade precoce da organização psíquica da criança (FREUD, 1931, p. 261).

Quando Freud está dizendo dos cuidados corporais, treinamentos e múltiplas restrições impostas pela mãe à criança quando destes cuidados e treinamentos em idade precoce, ele está dizendo desta fase pré-edípica, e da presença do supereu materno. Cabe acrescentar, o que Freud aponta sobre esta fase pré-edípica das meninas em relação à mãe, quando ele aponta para as fantasias de sedução desta fase. Neste momento, diz ele, “a fantasia toca o chão da realidade”, pois é a mãe, através dos cuidados de higiene corporal quem estimula, erotiza as zonas genitais da criança. Freud também aponta que, para a menina, desvincular-se de sua tão intensa relação inicial com a figura materna, realizando uma troca objetal em relação ao pai, “não envolve apenas uma simples troca de objeto”.

O afastar-se da mãe, na menina, é um passo que se acompanha de hostilidade; a vinculação à mãe termina em ódio. Um ódio dessa espécie pode tornar-se muito influente e durar toda a vida; pode ser muito cuidadosamente supercompensado, posteriormente; geralmente uma parte dele é superada, ao passo que a parte restante persiste. Os eventos de anos subseqüentes naturalmente influenciam muito isto (FREUD, 1932, p.150, idem).

Voltando ao texto de Rodriguez, toma-se do mesmo duas citações que dizem respeito à figura materna em sua representação superegóica.

Esta função superegóica encarnada por uma figura materna não deve ser reduzida simplesmente a uma identificação com o Outro materno ou o ideal materno. Existe uma distância entre supereu e ideal de eu. A exigência de gozo e o masoquismo induzidos pelo supereu devem ser distinguidos da função do ideal (RODRIGUEZ, 1996, p. 92).

“As encarnações do supereu em figuras maternas estão sujeitas às variações culturais e históricas do gozo, também refletidas nos sintomas. Assim, existem formas modernas (e ainda pós-modernas) do supereu materno, ironicamente chamado de arcaico.” (RODRIGUEZ, 1996, p. 92).

Lacan, em seus Escritos, no texto Diretrizes para um Congresso sobre a sexualidade

feminina, sobre desconhecimentos e preconceitos, referidos a equívocos realizados sobre conceitos psicanalíticos, e por psicanalistas em seus atendimentos à pacientes, nos diz que “talvez esta seja uma oportunidade de distinguir entre inconsciente e preconceito, quanto aos efeitos do significante”.

Faz-se esta colocação, pois, em virtude do desenvolvimento do tema proposto para este trabalho, esta convocação de Lacan torna-se fundamental, e aqui deve também ser observada. Ao tomar-se o tema da censura, e esta como operante sobre a feminilidade, a possibilidade de desvio dos efeitos de significante na linguagem, para o que possa ser da ordem do preconceito no social, pode não ser tão distante.

Ainda no texto acima citado, Lacan, abordando a homossexualidade feminina e o amor ideal, destaca que a homossexualidade na mulher e, citando o caso da jovem homossexual de Freud, diz mais respeito a “uma substituição de objeto”, do que a uma identificação.

Não é propriamente o objeto incestuoso que ela escolhe às custas de seu sexo; o que ela não aceita é que esse objeto só assuma seu sexo às custas da castração. Isso não quer dizer que ela renuncie, no entanto, ao seu: muito pelo contrário, em todas as

formas, mesmo inconscientes, da homossexualidade feminina, é sobre a feminilidade que recai o interesse supremo (...). (LACAN, 1998, p. 744)

A sexualidade feminina não corresponde a um desejo de passividade do ato, pois ela surge “como o esforço de um gozo envolto em sua própria contigüidade (...), para se realizar

rivalizando com o desejo que a castração libera no macho, dando-lhe seu significante no falo” (LACAN, 1998, p. 744).

Lacan finaliza este seu texto, Direção para um Congresso sobre a sexualidade

feminina, colocando algumas questões que ele sugere devem ser pensadas situando a sexualidade feminina em sua relação com a sociedade.

As questões referem-se à proibição do incesto entre pai e filha, de como situar “os efeitos sociais da homossexualidade feminina” sem reduzi-los às alegorias que foi reduzida a homossexualidade masculina. Sua última questão diz respeito ao lugar de transcendência da mulher que ainda se sobrepõe “à ordem do contrato propagado pelo trabalho”. E, se é como efeito desta transcendência, que o status do casamento se mantém no “declínio do paternalismo”.

Questões, diz Lacan, que não são redutíveis ao campo ordenado pelas necessidades. Não é uma questão de alegorias, é uma questão de linguagem, de significantes, que no discurso vigente determina quem possui, e quem não possui o Falo. Voltando à questão da censura em Lacan, A censura não é a resistência, capítulo desenvolvido no Seminário 2, onde Lacan acentua que “Devolvamos a esta famosa censura, que se esquece por demais, todo seu viço, todo o seu novo – uma censura é uma intenção” (LACAN, 1985, p. 161).

A censura relaciona-se com o supereu, com o discurso interrompido, no que a lei tem como tal, à medida que é incompreendida. A lei, diz Lacan, é incompreendida, pois ninguém pode apreendê-la em sua totalidade.

A relação do homem com a lei difere da relação narcísica, que é a relação com o semelhante, pois relação do sujeito com a lei no seu conjunto não existe, pois não é possível que seja “assumida completamente.” É a partir deste diferencial entre a relação do homem com a lei e a relação narcísica, que a questão da censura e o supereu materno arcaico na sua relação com a feminilidade devem ser pensados, pois como também já foi mencionado

anteriormente, a censura e o supereu colocam-se no mesmo registro da lei, que é o discurso em sua concretude, é cultural.

Aí está onde reencontramos a estrutura basal que torna possível, de modo operatório, que alguma coisa tome a função de barrar, de riscar uma outra coisa. Nível mais primordial, estruturalmente, do que o recalque de que falaremos mais tarde. Muito bem, este elemento operatório do apagamento, é isto que Freud designa, desde a origem, na função de censura. É a podagem com tesouras, a censura russa, ou ainda a censura alemã (...). (LACAN, 1985, p. 31)

O supereu é uma instância simbólica, e não deve ser confundida com a Lei. O supereu é a voz interiorizada da Lei. Rodriguez, citando Miller a respeito do supereu:

O supereu certamente é a lei, mas não a lei pacificadora, socializante, mas a lei insensata, enquanto contém um buraco, uma ausência de justificação. É a lei como significante unário, S1, cuja significação desconhecemos [...] O supereu é a evidência e o paradoxo que resulta de um significante único que, por estar só, é insensato. Por esta causa poderíamos situar, em uma primeira análise, o supereu em S (Ⱥ), que supõe que a suposta lei total do Outro pode ser percebida em sua falha. (RODRIGUEZ apud MILLER, 1996, p. 90)

Rodriguez, ainda citando Miller:

“O supereu como lei insensata está muito próximo ao desejo da Mãe, antes de que esse desejo seja metaforizado e inclusive dominado pelo Nome-do-Pai. O supereu está próximo do desejo da Mãe como capricho sem lei.” (RODRIGUEZ apud MILLER, 1996, p. 90)

Parece que podemos situar esta fala de Miller ao dito de Lacan, acima citado, o “nível mais primordial, estruturalmente, do que o recalque (...) este elemento operatório do apagamento (...), desde a origem, na função de censura. É a podagem com tesouras, a censura russa, ou ainda a censura alemã”.

Se o supereu pode ser situado como próximo ao desejo da Mãe, como capricho sem lei, anterior à metaforização do Nome-do-Pai, este, como instaurador da lei, da castração portanto e, quando Lacan diz deste nível mais primordial, anterior ao recalque, que opera como censura de apagamento desde a origem, surge aqui a presença do supereu materno arcaico. Supereu materno arcaico como uma função do supereu.

Como diz Rodriguez, é a “lei da mãe” que ao mesmo tempo em sua função superegóica proíbe, produz o mandato de gozar. “Instaura assim um empuxo em direção à

mãe.” Estamos diante de um Outro primordial, anterior ao sujeito, e que é o Outro da linguagem, que, naquilo que pode ser nomeado, mas também naquilo que não pode sofrer efeito de significante, se encarna na figura materna. Figura materna, figura feminina, que no lugar deste Outro, não todo submetido à castração, neste espaço de uma anterioridade onde a lei não opera em sua totalidade, pois como diz Lacan, a lei é incompreendida, pois ninguém pode apreendê-la em sua totalidade. Lugar este, que em situações as mais diversas, pode produzir resultados de diferentes proporções, até à devastação, em relacionamentos de mães com sua filhas. Pois, é neste espaço sem lei, onde a lei é a lei da Mãe, do supereu materno arcaico, onde a censura que aqui pode operar é a desta Mãe, que a posssibilidade para uma filha de poder vir a constituir uma feminilidade, sua feminilidade, pode começar a operar ou não. E, é claro, que a mulher que estiver neste momento ocupando como Outra este lugar também está submetida em sua anterioridade histórica a este lugar. Vai ser, portanto, através desta historicidade atualizada que ela vai responder à sua filha.

Como exemplo, em seu extremo na devastação, sem fazer análise de caso, podemos citar o caso de Camille Claudel, que Elisabeth da Rocha Miranda desenvolveu em seu texto

Camille Claudel: a arte de ser mulher.

A mãe de Camille, Louise, perde seu primeiro filho Charles Henri, quando este estava com apenas quinze dias de vida. Louise permanece neste luto por toda sua vida, e tem Camille um ano e três meses após a morte deste irmão. Segundo a autora, desde o nascimento

Camille foi mal acolhida por sua mãe que esperava um menino para repor a perda do filho. Camille, a menina decepciona e é batizada com um nome que atende aos dois sexos. Para a mãe, ela sempre foi “uma criatura estranha e selvagem” com uma carreira que não era edificante para uma mulher. (MIRANDA, Camille Claudel: A

arte de ser mulher. Disponível em:

http://www.fundamentalpsychopathology.org/anais, 2006)

Sabemos de como a vida de Camille se tornou um processo de destruição permanente, pessoal e de sua obra, de como seu relacionamento com Rodin também foi devastador, e que a manteve internada por trinta anos em uma Casa de Saúde. A internação, foi solicitada pela mãe de Camille, Louise, que nunca mais quis ter contato algum com a filha, nem permitiu que a mesma saísse da internação, apesar dos insistentes pedidos de Camille, de amigos e inclusive de médicos para que isto pudesse ocorrer.

Miranda relata sobre a mãe de Camille:

“Ela mesma órfã de mãe aos três anos, tornou-se “o contrário de uma mulher do mundo, o dia todo costurando, modelando roupas, cozinhando, ocupando-se do jardim, dos animais; nem um momento para pensar em si, nem muito nos outros fora da família.”

(MIRANDA, Camille Claudel: A arte de ser mulher. Disponível em:

http://www.fundamentalpsychopathology.org/anais, 2006)

Como já foi dito, este é um caso de devastação, onde a própria mãe de Camille parece ser uma mulher devastada. Devastação, talvez re-significada pela perda de seu primeiro filho homem, seu falo imaginário. Ela própria, sem referências de uma possível feminilidade. Mas, também é a Mãe do supereu arcaico, sem lei, e que neste espaço, sem lei, faz suas próprias censuras de interdição ou não ao gozo. É a historicidade do sujeito atualizada.

Para finalizar, a questão que Lacan coloca no texto Pensamento e Censura, no Seminário 16, sobre liberdade de pensamento. Diz ele: “Liberdade de pensamento: o que se deve entender por isso?”

Ele responde, então, que pensar esta liberdade objetivamente já não a coloca em liberdade alguma, pois quando a idéia de liberdade se apresenta, já traz consigo a noção de norma, a qual, normatiza o que seria liberdade de pensamento. Mas, ao mesmo tempo, a normatização traz consigo a possibilidade de “excessão, ou a de transgressão. É neste momento, portanto, segundo Lacan, que “a função do pensamento pode ganhar algum sentido, ao introduzir a idéia de liberdade”. Acrescenta, então, que é na utopia que o pensamento pode vir a ser livre, se, pensando na possibilidade de o mesmo vir a produzir uma reforma da

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