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3. Análise do comportamento térmico de edifícios

3.1 Fenómenos de transferência de calor

Energia térmica pode ser definida como sendo a quantidade de energia interna de um corpo passível de ser transferida devido a um diferencial de temperaturas. Ou seja, um corpo com uma determinada temperatura colocado numa zona com uma temperatura diferente da sua, irá ganhar ou perder energia. Esta energia térmica é normalmente designada de calor e o processo denominado como transferência de calor.

No caso de não existir uma alteração do estado físico, a variação de energia sofrida por um corpo, de massa m, é igual ao calor transferido Q, e pode ser calculada através da variação de temperatura T e

do valor de calor específico cp, através da seguinte expressão:

T c m

Q  p 

(1)

A transferência de calor entre zonas a diferentes temperaturas ocorrerá sempre no sentido das zonas com temperatura inferior, até que seja atingido o equilíbrio térmico. Essa mesma transferência poderá ocorrer através de diversos mecanismos, sendo estes a condução, a convecção e a radiação, dependendo se a transferência se der através de sólidos e fluidos, entre sólidos separados por fluidos, entre fluidos separados por uma superfície sólida ou entre superfícies sólidas separadas entre si por vácuo.

3.1.1 Transferência de calor por condução

A condução é o processo de transferência de calor que ocorre geralmente nos sólidos. Este mecanismo ocorre devido à transferência de calor efectuado ao nível molecular, ou seja, as partículas mais energéticas (localizadas nas regiões com maior temperatura) transferem uma fracção da sua energia (seja rotacional, vibracional e/ou translaccional) através do contacto com partículas menos energéticas, sendo criado assim um fluxo de calor através do corpo no sentido do gradiente (dT/dX) negativo.

A transferência de calor por condução pode ser descrita pela lei de Fourier: dx dT A Qcond 

s

(2)

em que:

Qcond - Quantidade de calor transferido por condução (W) Condutividade térmica do elemento (W/m2.ºC)

As – Área da superfície (m

2

)

dT/dx – Gradiente de temperatura

De notar o sinal negativo, pois como o gradiente de calor é negativo, este é essencial para que o calor tome um valor positivo.

No caso de os valores de temperatura serem constantes ao longo do tempo, por integração da equação 2, obtém-se: parede S S cond S S s cond

R

T

T

Q

dx

T

T

A

Q



1

2

1

2

(3)

onde:

TS1 e TS2 - Temperaturas das superfícies (ºC)

Rparede – Resistência térmica (ºC.W-1), a qual pode ser definida por:

s parede

A

L

R

(4)

em que: L - Espessura (m)

Assim, se a resistência térmica de um corpo for elevada, a transmissão de calor por condução será pequena e consequentemente a descida de temperatura através deste também o será, sendo por isso chamado de isolante, acontecendo o contrário no caso dos materiais denominados como condutores.

No caso específico em que este processo ocorre na envolvente de um edifício, este é normalmente considerado como unidireccional devido à altura ser geralmente bastante superior à sua espessura; porém, esta aproximação é inválida caso existam vigas ou pilares, elementos que por apresentarem baixa resistência térmica, possibilitam a transferência de calor noutras direcções.

3.1.2 Transferência de calor por convecção

O processo de convecção está associado ao movimento de um fluído devido a um diferencial de temperaturas, ou seja, o processo de transferência de calor é acelerado se um fluído mais frio entrar em contacto com uma superfície quente.

Este movimento pode ser provocado por agentes externos ou por diferenças de densidade resultantes do próprio aquecimento do fluído. No primeiro caso, a convecção é dita como sendo forçada, ao passo que no segundo é denominada como natural ou livre. Assim, um fluído em repouso macroscópico, pode ser induzido a movimentar-se no sentido ascendente através de uma diferença de temperaturas, que irá gerar um diferencial de densidades no seio deste.

Ainda que este processo seja matematicamente complexo, muito devido ao movimento do fluído que pode ser aleatório, foi criado um modelo simples para o cálculo da transferência de calor através deste fenómeno, que pode ser descrito pela equação 5, conhecida como lei de Newton para o arrefecimento:

) (        h A T h A T T Qconv c s c s s

(5)

s c fluído

A

h

R

1

(6)

onde:

Qcond - Quantidade de calor transferido por convecção (W)

hc – Condutividade térmica superficial por convecção (W/m

2

.ºC)

As – Área da superfície de contacto entre o fluído e o elemento sólido (m

2

)

Ts – Temperatura superficial do elemento sólido (ºC)

T∞ – Temperatura do fluído (ºC)

Rs – Resistência térmica do fluído (ºC/W

-1

)

De notar que a equação 5 é similar à equação 3 mas neste caso este coeficiente de condutividade térmica não é uma propriedade física como a condutividade térmica na Lei de Fourier anteriormente descrita, e irá depender de diversas propriedades físicas do fluído, do movimento que este efectua e até da geometria da superfície em contacto com este. Como exemplo, se o movimento do fluído for elevado, o valor de hc também o será e consequentemente a resistência do fluído à transferência de calor será

pequena.

3.1.3 Transferência de calor por radiação

Radiação térmica pode ser definida como sendo a energia radiante na gama de comprimentos de onda entre 0,1 e 100 m do espectro electromagnético, e resulta da emissão e propagação de ondas eléctricas ou fotões, devido a uma alteração na configuração electrónica dos átomos e moléculas. Esta energia radiante é emitida por qualquer corpo que se encontre a uma temperatura superior a 0 K.

A transferência de calor através deste mecanismo ocorre através de sólidos, líquidos e gases, e no vácuo, exceptuando nos sólidos e líquidos opacos a radiação térmica. Sendo a maioria dos gases pouco absorventes, esta componente não deve ser de todo descurada dos cálculos de calor total transferido, principalmente quando se têm superfícies separadas entre si por gases.

Esta energia radiante pode ser calculada pela lei de Stefan-Boltzman aplicada a um corpo real, a qual pode ser representada por duas expressões distintas, dependendo de como se efectua a propagação de energia:

1 – Se o corpo estiver a emitir livremente para o espaço:

4

S s

rad A T

Q

 

(7)

2 – Se o corpo estiver a emitir para outro:

) ( S41 S42 s rad A T T Q

  

(8)

em que:

Qrad - Quantidade de calor transferido por radiação (W) Emissividade do corpo (entre 0 e 1)

Constante de Stefan-Boltzman (= 5,67 x 10-8 W.m-2.K-4)

As - Área da superfície (m

2

)

Ts – Temperatura absoluta do corpo (K)

TS1 – Temperatura superficial do corpo emissor (K)

TS2 – Temperatura superficial do corpo receptor (K)

Analisando a equação, a energia emitida é proporcional à quarta potência da temperatura absoluta da superfície, fazendo com que este mecanismo tenha uma importância bastante maior em relação aos outros quanto maior for a temperatura verificada.

No caso dos edifícios, a radiação solar que neste incide pode tomar três comportamentos distintos: pode ser reflectida, absorvida e transmitida. No caso de ser transmitida, esta é transportada para o interior através de fenómenos condutivos, que por sua vez, poderão dar origem a mecanismos de convecção, tanto no interior como no exterior deste, criando-se assim um dinamismo entre os três modos de transferência de calor.

Figura 3.3 Esquema representativo da transferência de calor por radiação