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3.2 A ESFERA DOS ARES: DINÂMICA ATMOSFÉRICA, RISCOS DE

3.2.1 FENÔMENOS MICROCLIMÁTICOS INTRAURBANOS:

A cidade gera um clima próprio (clima urbano), resultante da interferência de todos os fatores que se processam sobre a camada de limite urbano e que agem no sentido de alterar o clima em escala local. Seus efeitos mais diretos são percebidos pela população através de manifestações ligadas ao conforto térmico, à qualidade do ar, aos impactos pluviais e a outras manifestações capazes de desorganizar a vida da cidade e deteriorar a qualidade de vida de seus habitantes (MONTEIRO 1976, p. 134).

O clima urbano resulta da interação dos fatores citadinos com o clima regional e com o meio físico preexistente. Ele é um mesoclima que está incluído no macroclima e que sofre, próximo à superfície do solo, influências microclimáticas derivadas das estruturas artificiais próprias dos espaços urbanos (LOMBARDO, 1985).

Os parâmetros macroclimáticos de Aracaju demonstram um clima quente e úmido com influência da maritimidade. Diante desses aspectos, é importante ainda observar estudos e abordagens que enfatizem escalas de análise microclimática intraurbana na capital sergipana.

Observar e estudar o microclima de uma cidade é um desafio no qual se faz necessário verificar as características e fragilidades intraurbanas especialmente, no caso de Aracaju, diante dos eventos pluviométricos extraordinários e das enchentes, da verticalização, das mudanças climáticas e das ilhas de calor.

Em análise sobre o clima intraurbano de Aracaju, Pires & Pinto (2011) apresentam algumas barreiras artificiais das direções dos ventos, ou da circulação térmica, que têm favorecido para uma possível mudança no microclima local da cidade. A diferenciação térmica forçada corresponde aos efeitos produzidos por contrastes da superfície do tecido urbano (GAGO et. al., 2013).

Esse contraste térmico pode ser atribuído a vários fatores, dentre eles as diferenças na forma de ocupação do solo (urbanização). Assim, este tipo de

circulação pode levar a formação de ilha de calor, decorrentes das consequências prováveis da circulação térmica com a utilização do solo e formações de paredões (a verticalização da cidade) (Figura 30 e Figura 31).

FIGURA 30 – PAISAGEM DO CENTRO PARA O NORTE E NOROESTE DE ARACAJU

Fonte: Malta, 2018.

FIGURA 31 – VISTA DO CENTRO PARA O SUL DE ARACAJU

Fonte: Malta, 2018.

O processo verticalização que ocorre em Aracaju causa impactos socioambientais microclimáticos, como demonstra o estudo de Santos e Pinto (2016), que teve como objetivo analisar a urbanização e suas implicações no comportamento do clima urbano do bairro Atalaia. Para tanto, avaliou-se a expansão da malha urbana, o relevo, a verticalização e a retração/expansão da cobertura vegetal. Considerou-se fundamental também destacar a importância do desenho urbano no âmbito microclimático.

Os resultados do estudo supracitado constataram duas ilhas de calor, geradas principalmente pela concentração da malha urbana, diminuição da cobertura vegetal e o aumento de edificações verticais no Bairro Atalaia. Observou-

se ainda que a temperatura local diminuiu 4°C, onde houve a presença de corpos hídricos, área verde e ventos diretos na parte leste do bairro (Op. Cit.).

Em igual sentido, o trabalho realizado por Santos (2016) analisou contrastes térmicos, mais especificamente no bairro Atalaia, para verificar a urbanização e suas implicações no comportamento do clima urbano. O método de análise foi o Sistema Clima Urbano de Monteiro, com foco no canal denominado Conforto Térmico. Para tanto, observou-se a urbanização, a retração ou expansão da cobertura vegetal e albedo. Os resultados mostram uma correlação entre os valores de temperatura e albedo, já que em áreas onde houve aumento de temperatura os valores de albedo foram menos intensos. De acordo com os dados obtidos, percebeu-se um aumento da temperatura, devido ao adensamento da malha urbana, à diminuição das áreas verdes, ao crescimento de edificações verticais e ao aparecimento de ilhas de calor, afetando o clima local do bairro Atalaia.

Estudos realizados por Anjos (2012) e Anjos etal. (2014 e 2017) apontam para a tendência da formação de Ilhas de Calor Urbano (ICU) em Aracaju, nas quais foram aferidos extremos máximos da intensidade da ICU de até 5,5ºC. Essas pesquisas analisaram as diferenças intraurbanas dos campos térmicos e higrotérmicos da cidade. As conclusões basearam-se na Rede Climatológica Urbana (RCU - ainda em fase de protótipo), que precisa ser aprimorada em pesquisas futuras com maior volume de dados.

No espaço urbano aracajuano, os impactos socioambientais têm se intensificado como resultantes da expansão urbana e do aumento populacional, a exemplo de outros centros de porte médio. Há que se referir às questões climáticas em cidades de grande porte como reais e concretas. O avanço desses processos tende a tornar o ambiente urbano mais frágil e suscetível às ilhas de calor e aos eventos pluviais extremos. Há registros de que em Aracaju ocorrem fortes inundações, devido às suas características socioambientais urbanos.

O estudo de Brazil (2016) destacou os riscos de inundações e eventos pluviais extremos em Aracaju como provenientes da dinâmica dos fenômenos naturais e sociais e suas inter-relações na produção dos espaços. Os resultados

alcançados demonstraram que a principal causa do impacto dos eventos pluviais extremos e da formação de risco a inundações em Aracaju/SE advêm das imbricações entre os ritmos do clima e os ritmos da urbanização na cidade.

A pesquisa apontou que o crescimento populacional atrelado à falta de planejamento (em relativo curto período), terminou por gerar uma Aracaju espalhada, sem compactação, com rupturas urbanas e infraestrutura problemática. O autor evidencia ainda a existência de uma relação entre pluviosidade torrencial e as condições de vulnerabilidade socioambiental no espaço urbano aracajuano, onde as populações residentes nos bairros com menor infraestrutura e renda são as mais afetadas pelas repercussões de intensas chuvas, estando subjugadas a uma maior condição de risco. A intensa ocupação das áreas de risco tem provocado maior potencial de danos relacionados aos episódios pluviais extremos e aos totais mais elevados de precipitação que ocorrem no primeiro semestre de cada ano.

“Assim, os eventos pluviais extremos que registrados na cidade de Aracaju estão concentradas no período de outono e inverno, entre os meses de março a julho, e ocasionam a condição de exposição a riscos para a população residente, variável conforme seu padrão socioeconômico” (BRAZIL, 2016 p.77).

As características do quadro macroclimático associadas aos processos de ocupação e impermeabilização do solo tendem a intensificar em Aracaju problemas relacionados a alagamentos. O impacto das precipitações e da temperatura constitui-se característica fundamental para o sistema climático urbano em Aracaju, dadas as consequências das alterações antropogênicas sobre a paisagem urbana. Experimentos teóricos e algumas questões de consistência trazem o debate da definição entre problemas e soluções, vulnerabilidades e potencialidades, orientados pela teoria do SCU – Sistema Clima Urbano de Monteiro (1976), redundando em artigo recente sobre a esfera dos ares, cujo título remete a Estudos empíricos de impacto meteórico: questões básicas de consistência em Aracaju-SE. Concluem os autores que:

“Aracaju encontra-se exposta a riscos ambientais, não só em relação a pluviosidade, mas apresenta carência no sistema de drenagem, deficiências de equipamento de proteção e monitoramento, alerta e prevenção a chuvas, susceptível a danos, promovendo enchentes e alagamentos e, pontualmente, favorecendo deslizamentos, incidindo diferentemente no espaço

em função das condições socioambientais” (PINTO e BRAZIL, 2017 p. 23)

Por condições infraestruturais da cidade ou por aspectos macroclimáticos, a esfera do ar na capital sergipana apresenta-se como um desafio ao planejamento urbano, quando verificadas as características intraurbanas frágeis e suscetíveis especialmente às enchentes.

A paisagem urbana de Aracaju, portanto, integra o trinômio das esferas de água, ar e terra, promovendo um panorama ambiental frágil e artificializado (conforme abordado nos tópicos anteriores). Nessa cidade, as esferas da água e do ar vêm sendo impactadas por processos interdependentes que interagem e delimitam condicionantes, também, no que se refere à ambiência terrestre.

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