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As ferramentas necessárias:

ELEMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM PROGRAMA DE PESQUISA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO

3. As ferramentas necessárias:

a seguir são elencados alguns elementos em vista do estágio atual, que permitam irmos avançando no rumo anteriormente apontado.

3.1. Constituir a agenda de pesquisa

•฀ Precisamos retomar e organizar uma agenda de pesquisa, que reflita a prioridade política estratégica colocada pelo movimento social frente às necessidades das lutas pela transformação social no país.

•฀ seria uma agenda dinâmica, inserida organicamente no movimento e mediada pelos coletivos da(s) escola(s) (vistas não como espaço físico, mas sim como espaços virtuais de articulação), que por sua vez se articularia com os demais coletivos e instâncias do movimento social.

•฀ Implicaria uma ação política, uma busca ativa desses coletivos tanto para dentro como para fora do movimento social. Implica em buscar ativamente articulação, diálogo e elaboração teórica. ou seja, não ser apenas um espaço que se abre às falas dos professores e pesquisadores externos, mas que sugere pautas, que questiona, que leva questões de pesquisa, que articula recursos e grupos de pesquisa, que busca incorporá-los mediante a criação de espaços e grupos de pesquisa... •฀ Também seria tarefa do coletivo discutir e estimular junto às coordenações dos

cursos internos dos movimentos que educandos assumam temas de pesquisa definidos como prioritários pela organização.

•฀ essa agenda não seria uma lista estática de temas. ela deveria ser considerada dinamicamente, levando em conta inclusive os enfrentamentos da luta de classes num determinado período. Por exemplo, nos próximos anos pode-se prever enfrentamentos diretos com setores específicos do agronegócio como o canavieiro e de oleaginosas (agroenergia), o setor florestal (eucalipto), a disputa pela biodiversidade (transgênicos) etc. então a prioridade dada às pesquisas tomaria em conta esses embates, estabelecendo ordem de prioridade.

•฀ a agenda deveria entrar em níveis mais avançados de detalhamentos para alguns dos temas que são mais candentes e prioritários na elaboração teórica da luta ou das necessidades de enfrentamento (muitas vezes ao nível tecnológico). Fazer um mapeamento dos conhecimentos necessários estabelecendo um planejamento, com objetivos, demandas organizativas que permitam ir cobrindo aspectos da agenda em grandes linhas ou dos pontos detalhados.

P A R T E I I - R E L A T O S D E E X P E R IÊ N C IA S E P R O B L E M A T IZ A Ç Õ E S 10

•฀ Ir alocando educandos ou constituindo grupos de pesquisadores e militantes sociais que se debruçariam sobre a temática e produziriam dados, reflexões, metodologias e materiais para discussão do tema. Também contribuiria para os educandos iden- tificarem temas de pesquisa. e ajudar a preencher as lacunas na reflexão.

3.2. Constituir junto à enFF e outras escolas de nível mais avançado, os coletivos de pesquisa

uma tarefa imediata seria instituir coletivos de pesquisadores e militantes sociais, nas escolas mais qualificadas dos movimentos sociais, que reúnam uma certa massa crítica de ativistas, dirigentes, e quadros do setor de formação. esses grupos de pesqui- sa seriam montados com formatos diferenciados dos grupos acadêmicos, que reúnam pesquisadores em tempo integral (“externos” ao movimento), com militantes sociais e ativistas da linha de frente, para cada uma das temáticas principais (constituindo linhas de investigação-ação) que permitiriam avançar na construção coletiva do conhecimento, ligado à práxis social e aos interesses do movimento social e da luta pela transformação mais ampla da sociedade.

É fundamental essa junção entre ativistas sociais, que estão organicamente ligados às estruturas dos movimentos sociais e que também militam nas linhas de frente, com pesquisadores externos, comprometidos com a causa da transformação social. Como já foi dito, não se trata de reproduzir grupos acadêmicos de pesquisa - como há tantos nas universidades brasileiras. aqui o objetivo é produção de conhecimento estreitamente vinculado às necessidades da luta de classes e à construção de elementos da contra-he- gemonia. e isso não apenas no campo das ciências sociais, senão que nos vários campos do conhecimento. É preciso que avancemos mais, mas o grupo de pesquisa é um passo necessário para uma grande caminhada.

3.3. estabelecer linhas de pesquisa e iniciar a formulação e articulação de pesqui- sadores

uma vez constituído um coletivo de pesquisa orgânico ao movimento, ele deve também buscar articular pesquisas realizadas fora dos movimentos sociais – junto a outros atores como as universidades, onG’s e instituições públicas (embraPa, IPea, FIoCruz...). Isso porque algumas questões que nos colocamos são muito mais amplas do que a questão agrária. dizem respeito à dimensão da luta mais geral pela transformação da sociedade. não vai se construir um gueto para o movimento social, ou a “ciência do movimento”. Isso vale tanto para os cursos que se tem em parcerias, como para os cursos “puros” que as universidades mantém. Por isso é fundamental buscar acessar pesquisas e informações que já existem, mas que não estão ao alcance dos movimentos sociais e que precisam se tornar públicas também nos momentos das lutas (mas não só).

II S E M IN Á R IO N A C IO N A L “ O M S T E A P E S Q U IS A ” 10

Podemos apresentar demandas que possam ser adotadas por estudantes de gradua- ção, de especialização, de mestrado ou doutorado que não são diretamente ligados aos movimentos. basta encontrar e articular professores que possam se somar no esforço de pesquisar temáticas de interesse, ainda que eles não adotem necessariamente a mesma metodologia das escolas ou dos cursos dos movimentos.

3.4. Como lidar com a pesquisa nos cursos formais do movimento social

a pesquisa tem que ser pensada em níveis, ainda que os princípios sejam os mesmos. não se pode considerar todos os níveis de ensino ou dos cursos como sendo o mesmo estágio e refletindo a mesma capacidade de elaboração. Temos a necessidade de pensar estágios diferentes com objetivos diferentes, com vistas à pesquisa. Para isso devemos ter claro que existe uma importante parcela dos edu- candos que estão em um estágio de iniciação à pesquisa. e não deve ser cobrado um aprofundamento inadequado, das questões analisadas e discutidas nos Trabalhos de Conclusão de Curso.

Por outro lado, há ativistas que têm condições de elaboração teórica muito mais aprofundada, condizente com seu grau de militância, com sua experiência e com sua capacidade de formulação e análise da realidade. Portanto, temos condições de exigir em graus diferenciados as reflexões e contribuições. nos estágios iniciais, podemos inclusive indicar a realização de atividades mais focadas no enfrentamento de questões concretas (como exemplo, no curso TaC - Técnico em administração de Cooperativas, realizado no ITerra - poderemos focar em problemas das cooperativas; nos de agroecologia – enfrentamento de gargalos tecnológicos simples).