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A Festa do Padroeiro São João Batista e a Semana do Município de São

5. A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO SOB O OLHAR DAS

5.3. A dinâmica espacial e social do pequeno município e as ruralidades

5.3.4. As tradições preservadas no pequeno município: as festividades e os

5.3.4.3. A Festa do Padroeiro São João Batista e a Semana do Município de São

A terceira festa mais importante do município de São João do Polêsine e com bem menos visibilidade externa que as outras duas é a Festa do Padroeiro São João Batista, realizada concomitantemente com a Semana do Município de São João do Polêsine (Figura 34). Esta festividade acontece anualmente na nas dependências da Igreja Matriz São João Batista, na sede urbana do município.

Figura 34 – Folder alusivo a Festa do Padroeiro São João Batista e a Semana do Município de São João do Polêsine

A Semana do Município conta com uma extensa programação, que envolve palestras e apresentações culturais, que ocorrem nas escolas do município, na Câmara Municipal de Vereadores e no Salão Paroquial. Já a programação da Festa do Padroeiro esta mais focada em missas, jantares, almoços, quermesse, baile e na tradicional fogueira de São João no ultimo dia de festividade, ocorrendo todas essas atividades no Salão Paroquial e em sua área externa no caso da fogueira. Contudo, destaca-se que

mesmo os dois eventos sendo anunciados como eventos concomitantes, as suas programações não se chocam, visto que as atividades da Semana do Município terminam quando começam as da Festa do Padroeiro.

Portanto, essa festividade que tem por objetivo homenagear o padroeiro do município São João Batista é muito anterior a realização da Semana do Município. Acredita-se que suas origens relacionem-se a escolha do Padroeiro pelos imigrantes italianos que colonizaram o local. Primeiramente São João do Polêsine era conhecido como Terras de Manoel Py, com a chegada dos primeiros imigrantes italianos foi trocado para Polêsine, devido a semelhança física com as planícies do vale do Rio Pó ao norte da Itália, o qual possuía uma cidade com este nome. Mais tarde com a escolha do Padroeiro a cidade passou então a chamar-se São João do Polêsine.

Contudo, não se tem certeza da data oficial da primeira festividade em homenagem ao padroeiro São João Batista, porém, de acordo com informações do coordenador da festividade, o Presidente do Conselho Paroquial, senhor Carlos Felice, estima-se que a comemoração esteja próxima a seu centenário. O informante acredita que esta festividade em homenagem ao padroeiro teve início logo após a construção da “igrejinha”, ocasião em que findada a obra, o Padroeiro foi escolhido pela comunidade.

A “igrejinha” citada pelo informante, refere-se a primeira capela construída pelos imigrantes ao chegar a localidade, em terras doadas pelo Tenente Coronel Manuel Py e sua esposa Maria da Glória, primeiros proprietários das terras do município na época. A construção da pequena capela de madeira foi iniciada no ano de 1897 e finalizada apenas em 1899, marcada por esforços e união da comunidade polesinense. Imagens de uma das primeiras festividades após o término da construção, podem ser conferidas na Figura 35, que mostra um grupo de músicos e pessoas da comunidade de São João do Polêsine, em frente a primeira capela, local que atualmente encontra-se a Igreja Matriz São João Batista e é realizada a Festa do Padroeiro.

Figura 35 – Dia de festividade em frente a primeira capela construída pelos imigrantes italianos

Fonte: Acervo de Giordano Ceretta, 2009.

Mesmo sem muitas informações precisas sobre a história da festividade no local, a qual possivelmente representa a festa mais antiga do município, o Coordenador da organização desta, salienta a importância de se preservar essa tradição, justificando a motivação: “isso ai é por causa do padroeiro” (Presidente do Conselho Paroquial, 52 anos).

A festividade simboliza a importância e o empenho da população da cidade em manter as tradições dos imigrantes italianos, e sua característica mais marcante, a forte religiosidade. Juntamente com todo o simbolismo dessa festividade, está também a geração de renda que é salientada nas palavras do Presidente do Conselho Paroquial: “mantendo a religiosidade e a tradição a gente faz com que gere renda pra nossa comunidade”.

A presença da união da comunidade da cidade de São João do Polêsine é marcante na organização desta festividade também. Assim como na Festa Regional do Arroz, toda a organização da festividade, no que tange, as missas e a parte gastronômica, fica por conta dos integrantes do Conselho Paroquial da Igreja Matriz

São João Batista (Figura 36 – A, B e C). Segundo informações da organização da Festa, na edição de 2010, o Conselho Paroquial contou com o auxilio da Prefeitura Municipal de São João do Polêsine, devido ao evento ter sido realizado em conjunto com a Semana do Município, porém, este auxílio só ocorreu na parte de divulgação. A organização da festividade, portanto, é realizada pelos membros do Conselho paroquial, os quais convocam a comunidade a auxiliar nos preparativos.

Figura 36 – Imagens dos voluntários da comunidade trabalhando na organização da Festa do Padroeiro

Fonte: Michele Lindner, 2010.

Assim, a tradição também é mantida através das pessoas que trabalham na organização, pois segundo o coordenador da festividade, “a comunidade é pequena e fica praticamente os mesmos” (Presidente do Conselho Paroquial, 52 anos). As mulheres são encarregadas de produzir os doces, bolos e preparar a decoração da festividade, já os homens são responsáveis pelo trabalho mais “pesado”, pelas bebidas e pelo churrasco, já na hora de servir as mesas, não há distinção entre os gêneros.

Nessa festividade, diferentemente das outras não há a contratação de nenhum trabalhador temporário direto, porém como nos outros casos, toda matéria prima e produtos utilizados e comercializados na festividade tem procedência local, salvo casos que o município e a região da Quarta Colônia não produzem. Contudo, um dos grandes diferenciais nos almoços e jantares dessa festividade está nas doações, de acordo com informações do coordenador, muitos dos alimentos utilizados na preparação dos cardápios são doados por moradores do município de suas produções, como forma de colaborar com a festa. O cardápio também não difere muito das outras duas festas, tendo tradicionalmente, entrada com sopa de agnolini, seguida por risoto, bife a milanesa e saladas. Contudo, a parte gastronômica da Festa, conta com um jantar após a missa em honra ao Padroeiro São João Batista, no primeiro dia da festividade, e um almoço após a missa do ultimo dia. Nos outros dias de festividade são realizadas quermesses no Salão Paroquial após as missas.

Os alimentos comercializados na quermesse são os típicos das festas de São João em todo o estado do Rio Grande do Sul. Tratam-se de pinhões cozidos ou assados, pipocas, docinhos, rapaduras, bolos, cucas e o tradicional quentão, uma mistura de vinho quente, com cachaça, cravos e canela. A decoração do local, também é uma decoração temática dessas festas (Figura 37 – A), com “bandeirinhas” espalhadas por todo o Salão Paroquial, além da tradicional fogueira de São João (Figura 37 – B) no ultimo dia finalizando a festividade.

Figura 37 – Imagens da decoração e fogueira da Festa do Padroeiro São João Batista

Contudo, essa festividade apresenta um caráter mais local, não tendo a presença de muitas pessoas externas a região da Quarta Colônia de Imigração Italiana. Ela tem como público principalmente a comunidade do município de São João do Polêsine e famílias da região que vem para rever o local e seus parentes que ali residem, como é destacado pelo coordenador do evento:

- “[...] nessa aqui mais é familiares, muitas famílias como o lugar aqui é pequeno, então o pessoal aqui tem que sair para fora, então eles vem rever os seus familiares, então como eles tiveram de criança, tiveram participando desde crianças, agora eles saíram e eles procuram vir” (Presidente do Conselho Paroquial, 52 anos).

O informante também chama a atenção para a diminuição da participação dos mais jovens na festividade. Segundo ele, atualmente os jovens deixam o local assim que acabam o ensino médio e dificilmente retornam ao município para participar da festividade.

Contudo, essa festividade é mais um exemplo das permanências das tradições e da cultura rural desses descendentes de imigrantes italianos, que buscam manter e resgatar suas origens através desses eventos ocasionais, nos quais eles externalizam todas essa simbologia que ainda encontra-se muito presente no cotidiano da vida local. Essas manifestações das ruralidades presentes no município mantém viva e reforçam a identidade cultural desse povo, que trabalha e vive da agricultura e mantém em sua forte religiosidade um valor passado através de gerações.