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III. REPRESENTAÇÕES DA CULTURA ESCOLAR DO ORATÓRIO FESTIVO

3.3 As Festas do Oratório Festivo Dom Bosco

O nome Oratório Festivo suscitava um espaço festivo. A principal característica da instituição era a animação, sendo assim, não se pode deixar de analisar as principais comemorações desse espaço educativo, que se desenvolviam através de brincadeiras e jogos sem deixar de lado as práticas educativas, religiosas e cívicas. Dentre as principais festas da instituição tinha-se a festa a Dom Bosco, juntamente com a comemoração da fundação da instituição, a celebração do aniversário da diretora, a festa de encerramento do ano letivo e por fim, o festejo do Natal.

Festas para Dom Bosco

Dentre as celebrações religiosas ocorridas no Oratório Festivo Dom Bosco, a festa do padroeiro São João Bosco foi a mais solenizada. O calendário religioso salesiano recomendava celebrar o dia 16 de agosto com muita pompa, honrarias e comunhões. Nesse dia, também se festejava o aniversário da instituição. Tão importante quanto as outras manifestações, a comemoração do dia de Dom Bosco era especial, porque se comemorava em

todas as Casas Salesianas com programação solene, com o intuito de evangelizar os participantes, mais ainda incutir nos alunos a memória do Santo.

As primeiras comemorações do Oratório Festivo Dom Bosco ao seu protetor aconteceram no ano de 1916 com a inauguração, “na sala de catecismo, do retrato de Dom Bosco ao som de cânticos sagrados”; a outra solenidade deu-se com a mudança para o lugar definitivo do Oratório Festivo, em 1919, quando foi colocado em “lugar de honra o retrato de Dom Bosco […]. Levado pelas meninas ao canto do Hino Salesiano foi recebido na sede com aplausos, flores e discursos”. (Anais…, 1925-1952, 2-3). Essas duas comemorações foram representativas, porque foi o primeiro símbolo do padroeiro dentro das “sedes” iniciais.

No calendário salesiano prescreviam-se, durante o ano, duas festas a Dom Bosco. No dia 16 de agosto celebrando seu nascimento e o dia 31 de janeiro relembrando a sua morte. Posteriormente entrou no calendário a comemoração de sua beatificação, em 1929, a canonização em 1934. Essas datas eram festejadas com missa, tríduo, novenas, comunhões, cânticos, doces, dramas, música e brincadeiras com a participação de beneméritos devotas e principalmente, muitas crianças e muita festa.

As grandes festas a Dom Bosco significavam comemorar o tríduo, ou seja, três dias com a participação de todas as alunas – internas, externas e oratorianas – professoras e auxiliares, beneméritos e devotos de Dom Bosco.

O dia da canonização de Dom Bosco deu-se a 1º de abril de 1934 decretado pelo Papa Pio IX. Em 23 de março houve na instituição uma novena “como preparação para o dia da sua canonização. Desse modo, às 16 horas, diante da relíquia, as internas entoaram hinos ao seu Patrono, seguindo-se as orações apropriadas”. (Anais…, 1934, p. 42). Com a consagração Genésia Fontes e sua “família espiritual” demonstrou o compromisso com a Congregação.

Uma relíquia significa o que Chartier (2002) alude por um ser ausente que se faz presente por um objeto que o representa. A relíquia de Dom Bosco era um pedaço de tecido da roupa de São João Bosco vindo da Itália, que foi colocado num recipiente de vidro para ser adorado com todo respeito e honra pelas alunas e devotos. Com ela realizava-se o ritual do “beijamento” da relíquia de Dom Bosco que acontecia da seguinte forma: depois da missa, em fila, as alunas uma a uma beijavam a caixa de vidro, a cada “beijamento” a auxiliar limpava o recipiente com o pano para dar seguimento ao ritual.

Destaca-se, como exemplo, a festa realizada em 1935, em comemoração a um ano de canonização do santo padroeiro. Ressalta-se a solenidade de um tríduo a Dom Bosco.

A convite do padre Carlos Costa um grupo de oratorianas do “Dom Bosco” e do N. S. do Rosário em número calculado de cem, tomou parte na comunhão geral das crianças segundo a ordem de S. S. Papa, na Catedral; entre estas, diversas receberam Jesus-Hóstia pela primeira vez. Nesse mesmo dia teve início na nossa capela, às 4 horas da tarde o tríduo de Dom Bosco, havendo prática pelo Revmo. Padre diretor e benção do S. S. Sacramento. Em seguida foi feita a admissão de sócias e aspirantes da “Companhia das Amiguinhas de Gemma Galgani” [em número significativo de sócias e aspirantes]. Depois da imposição de fitas as primeiras e cordões a segundas o padre diretor falhou-lhes sobre Gema contando algumas passagens da sua vida e incitando-as a praticar as suas virtudes.

Segundo dia de tríduo. Às 6 ½ houve missa celebrada pelo padre diretor com cânticos e grande número de comunhões. Por motivo imprevisto o padre que fora chamado para fazer a prática [missa] à tarde não pode comparecer, rezamos algumas orações à Dom Bosco, cantamos a Ladainha de Nossa Senhora e canto ao Santo protetor. Depois seguiu-se o teatro somente para as oratorianas.

Último dia do tríduo. Às 6 ½ houve a celebração da Santa Missa pelo padre Moysés Ferreira, durante a qual foram entoados cânticos, foi regular o número de comunhões. E ao terminar a Missa, o celebrante disse algumas palavras, seguindo-se a benção do S. S. Sacramento. (Anais…, 1935, p. 24)

Evidencia-se uma festividade com programação ordenada distribuindo-se quatro missas durante os três dias, comunhão geral, primeiras comunhões, aceitação de sócias e aspirantes nas companhias da instituição. Contudo, o mais importante a destacar é que essas cerimônias a Dom Bosco auxiliaram na difusão de sua memória entre a população e as alunas da instituição.

Festa para Diretora

A festa para diretora Genésia Fontes realizava-se em 22 de setembro, dia de seu aniversário. As alunas, juntamente com as professoras e auxiliares organizavam uma programação para homenagear a “mãezinha” com uma “festinha” surpresa.

O cronograma da festa era composto por declamações de poesias, discurso feito pelas alunas, entrega de flores colhidas no próprio jardim da instituição, brincadeiras várias como quebra-bote, roda, corrida de saco e outros jogos. Além da parte religiosa com missa e bênção do Santíssimo Sacramento.

Segundo a documentação analisada, na comemoração do aniversário da diretora em 1939, houve apresentações especiais de civismo: o canto orfeônico, números de educação física e canto ao Hino Nacional – atos exigidos pelo órgão de Educação, competente aos estabelecimentos de formação naquele período.

Comemorando o aniversário da nossa querida Mãezinha, a Companhia “Amiguinhas da Beata Gemma Galgani” mandou celebrar na nossa capela uma missa com cânticos. Foi celebrante o padre diretor do Colégio Salesiano. Muitas oratorianas acercaram-se da mesa eucarística. À tarde no salão do externato, as educandas fizeram-se ouvir pela primeira vez números orfeônicos ensaiados e regidos pela ex-aluna Professora Dulcineia Santos, que se ofereceu para tal fim. Destacando-se o primeiro deles, que foi uma saudação a Mãezinha. As Companhias “Maria Mazzarello” e “Gemma Galgani” expressaram os seus sentimentos com belos discursos, tendo a primeira ofertado um mimoso presente à aniversariante. Em seguida, as educandas fizeram algumas demonstrações de exercícios físicos habilmente ensaiados e dirigidos pelas professoras Emídia e Dulcineia Santos, ex-alunas do Oratório e que foram promotoras das atividades desta tarde. (Anais…, 1939, p. 26-27).

Porém, o momento mais esperado entre as alunas, principalmente as externas era a “feijoada” que Genésia Fontes oferecia. Essa ocasião ficou tão marcada na memória das entrevistadas que relembraram através do sabor e cheiro a “deliciosa feijoada que mãezinha fazia” (NUNES, 2010). Todos os anos a diretora arrecadava entre as alunas uma pequena quantia para ajudar nos ingredientes. Algumas vezes, a comemoração acontecia dias após o aniversário, mas com muita diversão.

No dia 24 de setembro, a nossa mãezinha ofereceu almoço às externas ainda em comemoração ao seu aniversário, […]. No pórtico interno achavam-se quase 200 meninas que mui alegre e cordialmente foram servidas, não deixando de erguerem “vivas” à sua protetora e amiga. (Anais…, 1939, p. 27).

A euforia desses festejos só era superada pelas festas de encerramento e o Natal, pois eram épocas que as alunas ganhavam muito presentes, alimentavam-se bem e distinguiam-se através dos prêmios recebidos.

Festas de Encerramento do Ano Letivo

As festas de encerramento do ano letivo na instituição ganharam vulto a partir de 1934. O evento realizava-se com banca examinadora, leitura de atas e promoção, distribuição de prêmios as melhores alunas e outros.

A avaliação das alunas realizava-se por meio de um certamen101 ponderado por bancas examinadoras compostas por integrantes renomados da educação sergipana. Em 1938 participou da “banca examinadora as professoras Leonor Teles de Menezes, Edite Menezes Hora e Esmeralda Batista Oliveira”, essa, professora primária das alunas internas no período. Assim, “às três horas da tarde iniciou-se o exame final das alunas Jovelina Guerra da Silva, Maria da Conceição Costa e Maria de Lourdes Pereira de Sá” (Anais…, 1938, p. 15).

Os critérios de avaliação das alunas internas e externas davam-se pelo desempenho dessas no curso de catecismo, Ensino Religioso e curso primário. O curso de catecismo dividia-se em catecismo menor, para meninas de 7 a 14 anos e catecismo maior, para meninas acima de 14 anos. Os outros critérios de avaliação eram a frequência, o máximo comportamento e aplicação.

Quanto às oratorianas (aquelas que frequentavam domingos e feriados) eram avaliadas em dia separado e por banca examinadora diferente formada, geralmente, pela diretora Genésia Fontes, a professora Áurea do Amorim, uma professora catequista ou do curso primário ou por um padre salesiano convidado.

O encerramento do ano letivo na instituição dava-se comumente no dia 8 de dezembro, a fim de celebrar o dia de Nossa Senhora da Conceição e ao mesmo tempo festejar o dia da fundação do primeiro Oratório Festivo criado por Dom Bosco em Turim, fato sempre lembrado as alunas. Assim:

[…] após a bênção do S. S. Sacramento, as educandas entraram no salão de teatro, marchando sob o som de um hino patriótico por elas entoado. Lida a ata de promoções pela professora do curso primário, a Diretora abriu a sessão, cantando todas, o hino do catecismo. Deu-se início ao certamen, saindo vencedora do catecismo Maior as educandas: Maria Trindade Campos, Maria José Góis, Jovelina Guerra da Silva, Josefa Germania Góis, Maria da Conceição Costa, Maria de Lourdes Sá e Maria de Lourdes Leite; e do Menor: Euridice Santos, Edna Dantas e Idalina Amalia Andrade. Foram distribuídos prêmios a vencedoras, assim como, as que se distinguiram no Curso Primário – Clotildes Campos Menezes, Maria José Góis, Euridice Barros e Iraci Torres e no Comportamento – Maria Jose Góis, Josefa Germania Góis, Julia de Souza Freitas, Maria de Lourdes Sá e Maria Iraci dos Anjos. Também foram premiadas em frequência e aplicação de

101

Essa prática era realizada nas Casas Salesianas entre as alunas e alunos nas festas de finais de ano letivo, na qual compareciam diretores das Casas, professores, alunos, pais e responsáveis e pessoas importantes da cidade convidadas a prestigiar o evento. Segundo um dos significados do dicionário Aurélio (1999, p. 447), o certame constitui um “ato público de certo relevo em que diferentes entidades competem ou concorrem para estabelecer uma graduação de valores”, ou seja, era uma disputa sobre um assunto literário, científico, desportivo. No caso dos Salesianos os alunos e alunas competiam o primeiro, segundo e terceiro lugares respondendo questões sobre catecismo e ensino religioso dos assuntos abordados durante o ano. Nas Casas Salesianas, além da distinção de melhor aluno ou aluna, também ganhavam prêmios como relógios de ouro, medalha de ouro, prata ou bronze, certificados e outros prêmios de valor, a depender do prestígio da Casa. O Oratório Festivo Dom Bosco adotou essa prática entre suas alunas tanto em assuntos religiosos, quanto para as alunas que terminavam o Curso Primário.

catecismo as oratorianas externas Maria José Santos e Regina Oliveira. Foi cantado o Hino Nacional e em seguida, a educanda Jovelina Silva, em nome das suas superioras e colegas, fez uma saudação à professora do Curso Primário que tanto se esforçara pelo aproveitamento das suas alunas oferecendo-lhe uma pequena lembrança. Retiraram-se do salão ainda cantando uma patriótica marcha. (Anais…, 1936, p. 43).

Souza (2000, p. 421) asseverou que “na tradição salesiana, os prêmios e entre eles, as notas foi uma prática normal na vida colegial dos alunos”. Os prêmios distribuídos as alunas do Oratório Festivo Dom Bosco variavam, tais como: revistinhas católicas, medalhas, balas, biscoitos, livros católicos, catecismo, terços, entre outros, sem esquecer que para aquelas que recebiam o diploma do Curso Primário havia a leitura em voz alta da „ata de promoção‟ pela professora, que no final tecia elogios às aprovadas. A premiação era uma forma de distinção entre as alunas, não pelo valor material, mas pelo valor simbólico conferido às ganhadoras (ou campeãs) quando recebiam uma medalha e eram aclamadas por todos.

Assim, a distinção, por meio dos prêmios, das notas e até mesmo os castigos eram formas de emulação para conseguir a “disciplina e torná-la aceitável e menos sofrida possível, a vida do internato” (SOUZA, 2000, p. 417).

Festas de Natal

Depois do encerramento do ano letivo davam-se as férias escolares no Oratório Festivo Dom Bosco e a festa seguinte era o do “Santo Natal”. Nesta pesquisa verificou-se que as alunas do Oratório Festivo aguardavam a festa do Natal com muita ansiedade e euforia, a menos que acontecesse algo que as deixassem tristes, tal como, os problemas de saúde da diretora que a obrigava a afastar-se para recuperação. Afora isso, os dias festivos corriam com muita animação, pois eram dois dias de descontração e movimentação na instituição, porque os beneméritos, pessoas amigas e familiares ofertavam presentes.

A diretora Genésia Fontes não deixava passar por menos o Natal em sua “Casa”. Fazia questão de proporcionar as alunas os principais símbolos representativos do período – Árvore de Natal, Presépio e a figura do Papai Noel – no sentido de cultivar em suas mentes o espírito natalino. No Natal de 1933, a diretora resolveu “fazer pedidos de prêmios para a „Árvore de Natal‟ aos comerciantes por meio de cartões”. Alguns deles “enviaram bons presentes [tais como] brinquedos, fazendas, objetos de utilidade [pente, escova, caneta, sabonetes, roupas, biscoitos e caramelos], doces e dinheiro” (Anais…, 1933, p. 40).

Sabe-se que os industriais das fábricas Confiança e Sergipe Industrial colaboravam doando muitas peças de tecidos de qualidade inferior como o morim. Na época, além desses artefatos, também ofertavam as “órfãzinhas” produtos de gêneros alimentícios. No Natal de 1933, a instituição recebeu “sacos de farinha, de açúcar, de feijão, uma barrica de bacalhau e ainda, de um incêndio que houve enviaram um fardo de carne seca” (Anais…, 1933, p. 41).

Portanto, os donativos recebidos pela instituição eram muito importantes para incrementar as atividades e distrair as alunas entre uma prática sacramental e outra. As variadas brincadeiras, a distribuição de lanches, doces e prêmios eram instrumentos relevantes para atrair e manter as alunas do início até o fim das atividades.

O Natal do Oratório Festivo festejava-se desde 1917. As comemorações começavam no dia 24 de dezembro no período da tarde e estendia-se até a noite do dia 25. Porém, foi a partir do ano de 1933, que as festas de Natal no Oratório tiveram maior relevância, principalmente nos jornais. Cita-se como exemplo o Natal realizado no ano de 1935.

Véspera de Natal de Jesus. Como sempre a nossa Mãezinha armou um artístico presépio, na capela, junto ao qual, colocou a Árvore de Natal, também por ela armada para as educandas. Às 20 horas teve início em uma das salas, a tradicional Chegança organizada por um grupo de oratorianas, e assistida pelas demais educandas e diversas pessoas. Em um dos intervalos foi servida uma merenda a todas as meninas externas e internas. Às 24 horas [houve] a Missa solene que foi celebrada em nossa Capela pelo padre José Ramos e foi cantada pelo côro do internato pela primeira vez. Ao “Glória” descerrou-se a cortina que ocultava o presépio [que estava todo iluminado]. Depois dessa Missa seguiu-se outra celebrada pelo mesmo sacerdote. Dia 25, às 13 horas dirigiram-se as educandas para a Capela, onde depois de rezar o terço foi feita a escolha dos presentes da Árvore, por meio de “pontos”. Inicialmente escolheram os presentes as alunas que tiveram maior número de pontos durante o ano. Depois se iniciou o leilão para as oratorianas que constou de fazendas, vestidos, brinquedos, perfumarias, objetos de utilidade e doces; prolongou-se até as 19 horas. Às 16 horas houve a bênção do S. S. Sacramento. (Anais…, 1935, p. 31-32).

O Natal de 1943 foi relatado pelo jornal “Correio de Aracaju”:

Às 16 horas de domingo tiveram lugar as costumeiras festividades do Natal no Oratório Dom Bosco, nesta Capital.

Abrilhantaram-nas com as suas presenças, alguns sacerdotes do Colégio Salesiano e grande número de senhores e senhoras de nossa sociedade. Iniciaram-se as solenidades com alguns solos cantados pelo padre Rafael Cordahí e declamações pelas órfãs que ali se acham sob a direção da religiosa e incansável, D. Genésia Fontes.

Em seguida houve cantos, bailados, distribuição dos presentes de Natal às órfãs e doces às crianças que ali se encontravam.

Tivemos também a oportunidade de apreciar um animadíssimo “reisado” levado por alunas assistentes daquele benquisto estabelecimento de

assistência social. (Correio de Aracaju, ano XXXVIII, nº 3.547, dez./1943, p.4).

A programação do Natal na instituição pouco se alterou no decorrer dos anos. Era de interesse de Genésia Fontes promover a reunião das alunas nos dois dias de comemoração do Natal em seu estabelecimento. Tornava-se significante para ela, para instituição e o grupo de auxiliares, pois, disso dependiam também os beneméritos, a Igreja e as famílias. Compreende- se que dessa “forma de agrupamento humano” (ELIAS, 2001, p. 61) dependiam todos os envolvidos, pois, a interligação desses indivíduos – dentro de certos limites102 – permitiu a construção social do momento vivido.

Contudo, para atrair e conquistar as alunas, seus pais e responsáveis Genésia Fontes valeu-se de diferentes estratégias além dos jogos, prêmios e brincadeiras. Atrativos, tal como eram chamados de “cartões de pontos” ou “vales” e o “leilão de prenda”; valeu-se ainda das tradições culturais sergipana como a “Chegança”, o “Reisado” e o “Baile Pastoril”. Juntam-se a isso as “declamações de poesia, cantos, comédia […] e hinos populares apropriados como, Noite Feliz” e “teatrinhos, com cenas adaptadas ao dia” ou “algumas passagens da vida do Menino Jesus” focalizadas na máquina de projeções (Anais…, 1951, p. 31-32). Eram eventos que aconteciam antes e depois da missa e as alunas ensaiavam com as professoras e apresentavam com alegria.

Os “cartões de pontos” era como se fosse uma “moeda” que as alunas podiam trocar pelos brindes dispostos no leilão, eram uma estratégia utilizada nas práticas educativas salesianas a fim de atrair as crianças e mantê-las frequentando o catecismo aos domingos (prática oratoriana). (BOLETIM SALESIANO, n° 11, vol. III, ano IX, nov./1910, p. 282).

Na frequência aos santos sacramentos as alunas ganhavam “cartões” ou “vales” que lhes davam direito a trocá-los por coisas úteis, tais como cortes de tecido, perfume e sabonete, acessórios que para alguns da comunidade eram raros e caros. Esses suplementos ficavam disponibilizados no leilão organizado pelas dirigentes na sala de visitas ou no pátio das oratorianas em época de Natal.

102 O agrupamento de “indivíduos interligados” dependia um do outro para manter a configuração social.

Importante notar que o lugar social e específico que cada grupo ou categoria ocupavam, definiam sua força dentro dessa mesma configuração. Assim, a Igreja como força hierárquica na configuração – por ter um lugar próprio na estrutura social – dependia da disposição da diretora e de suas auxiliares para atrair as alunas e seus familiares ao estabelecimento e, não obstante dependia da doação dos beneméritos para ajudar nos gastos e com isso expandir as práticas sacramentais. ELIAS, Norbert. A sociedade da corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 61. Assim, cada seguimento específico interligava-se a cadeia conforme seus interesses.

O documento fotográfico a seguir aponta algumas alunas com os presentes trocados por “pontos” no leilão que ocorreu no Natal de 1939. Eram bonecas, cortes de tecidos, revista e outros, que, segundo Ramos (2010) “trazia alegria a todas”.

Infere-se, portanto que as festas e práticas auxiliavam na transmissão do catolicismo e na interação entre as famílias das alunas e pessoas da comunidade. Possibilitava às alunas

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