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5. Os Festivais de Ciranda

5.1 Festival de Ciranda do Bar Cobiçado

O primeiro festival de Ciranda foi organizado pela Emetur, em conjunto com o Bar Cobiçado e a Comissão Pernambucana de Folclore. Dona Duda, a fundadora da ciranda Cobiçada e proprietária do Bar Cobiçado, relembra que o primeiro Festival de Ciranda não constituía um concurso de ciranda. Neste primeiro ano, apenas ocorreram as apresentações de grupos de ciranda, mas as brincadeiras de Maracatu e Pastoril também marcaram presença na festa. Em suas palavras: “portas abertas para o Turismo” (DONA DUDA, 2007); a motivação principal que a moveu no evento foi a de poder divulgar ainda mais a Ciranda, principalmente como atrativo turístico.

No mesmo período em que ampliava número de grupos de cirandas na Região Metropolitana do Recife, ao inicio da década de 1970, iniciavam-se, também, os concursos de Ciranda, cujo principal objetivo, segundo seus idealizadores, era promover e incentivar novos grupos de ciranda.

Em matéria do Jornal do Commércio, lê-se: “Para fazer bonito, Duda convidou o mestre Baracho para ensaiar. ´Baracho aparecia só de vez em quando. Antes do festival, nós fizemos algumas cirandas, para treinar, e ele participou. Agora, bom mesmo, era Zé de Lima, que era daqui de Paulista, e cantava e fazia versos muito bem.´” (DONA DUDA, 2001)

No segundo ano do Festival, em 1971, foi realizado o primeiro concurso de Ciranda, acontecendo ainda no Bar Cobiçado. A matéria publicada no Jornal Diário de Pernambuco trazia a seguinte chamada: “Cirandeiros empolgam multidão no Janga” (CIRANDEIROS..., 1971, p.9 ). Ainda segundo jornal, com o público de mil pessoas, o evento durou quase 12 horas, com inicio às 9 da manhã e término às 21 horas.

Participaram do Festival daquele ano quatro cirandas: mestre Baracho, mestre Zé Grande, da Ciranda Ás de Ouro, mestre Gil, da Ciranda Dengosa, e mestre Custódio, da Ciranda do Janga. Todos os concorrentes foram considerados vencedores do certame, porém em categorias distintas. Mestre Baracho e mestre Zé Grande ganharam o prêmio de melhor improviso, e mestre Gil e mestre Custódio, de melhor instrumental e coreografia. Na comissão julgadora estavam Valdermar Valente, João Santiago, Jordão Emerenciano, Jones Melo, Sebastião Vilanova, Getúlio César, Evandro Rabelo e Padre Jaime Diniz (CIRANDEIROS, 1971, p. 9).

Note-se a participação dos pesquisadores de ciranda alguns deles citados ao longo desse estudo, como Diniz e Rabello, na comissão julgadora. Possivelmente estavam engajados na elaboração dos critérios de julgamento, uma vez que eram membros da Comissão Pernambucana de Folclore, uma parceira no planejamento e organização do Festival.

Os critérios de avaliação são divulgados pelos jornais, com destaque à categoria “melhor coreografia”. Nos estudos expostos no capitulo anterior, enfatizamos à característica de improvisação dos passos e da flexibilidade e espontaneidade que permitiria que passos diferentes entre os participantes da roda de ciranda, desde que seguindo o ritmo da música. Tendo em vista que o item coreografia é entendido como demarcação de passos, pode-se inferir o formato de concurso de ciranda acaba por promover de certa forma, a homogeneização daqueles que estão dançando.

No terceiro Festival realizado em abril de 1972, também no Bar Cobiçado, no Janga, foram erguidos dois coretos: um deles, para as apresentações e o outro, para os membros do júri, que àquele ano foi formado por Getulio César, Valdemar Valente, Elza Ribeiro, Olimpio Bonald e Padre Jaime Diniz, todos escritores e folcloristas, como ressaltamos.

Concorreram ao Festival de 1972, 6 cirandas: Mimosa, Imperial, Olinda, Dengosa, Nordestina de Olinda e Prata Fina. Nos três primeiros festivais não foram ofertados prêmios em dinheiro, mas troféus fornecidos pela Emetur e entregues pelo prefeito da cidade do Recife, na época, Augusto Lucena, não no bar Cobiçado mas no Pátio de São Pedro. João da Guabiraba (2007) concorreu e, como vice-campeão do concurso, relembra:

Foi a minha no primeiro festival, o cirandeiro que era Zé dos Passos era um cirandeiro antigo, eu não era nem cirandeiro eu butei um cirandeiro pra tocar na minha ciranda lá no Janga, [...] Nesse tempo era o prefeito Augusto Lucena e ele foi pra lá, [...] Vê a prefeitura de Recife foi quem patrocinou, e nesse tempo o prefeito Augusto Lucena, naquele tempo era ele que era o prefeito, ele elegeu o cirandeiro que ele tirou um improviso a favor do prefeito, ele inverteu o chapéu dele com o chapéu do prefeito, ai butou o chapéu dele no cabeça do cirandeiro e o chapéu do cirandeiro na cabeça dele, foi o verso que o cara tirou muito [...] eu sei que tirei o segundo lugar nesse tempo que o cirandeiro Zé dos Passos era um cirandeiro antigo que muito antigo a ciranda dele é muito antiga, e as moreninha que cantava muito bem, [...] só por causa de antiguidade, mas a minha foi mais bonita, mas a dele a antiguidade é posto.

O Festival no Bar de Dona Duda, como ficou mais conhecido, ocorreu até 1972, quando esta teve um problema de saúde e ficou impossibilitada de comandar o Bar e o festival. Daí, o motivo, como nos conta, do festival ser transferido para o Pátio de São Pedro, no bairro de Santo Antônio no centro do Recife. (DONA DUDA, 2007)

O Pátio de São Pedro foi o local escolhido pela Emetur para a continuação do Festival, naturalmente por ser o Centro Permanente de Turismo da capital desde 1970. Todas as noites ocorriam shows com apresentação dos ritmos pernambucanos, e fechando com a ciranda. Cristina (2007) enfatiza: “Todo santo dia tinha ciranda, o pessoal podia tá onde tivesse, quando dava na hora que o povo dizia vamo pro Pátio que tem ciranda, ai lotava isso aqui não cabia ninguém não.”

João Batista (2007) rememora o Pátio de São Pedro:

Consagrou-se como um point da cultura de vanguarda, a gente podia chegar ali e tinha pessoas que eram crânios, Cristina Tavares, Duda Quines, que hoje é correspondente da Globo, acho, em Portugal, Carlos Garcia do Estado de São Paulo, Paulo Brusky, Adão Vieira, Ipiranga Filho, você tava ali com as pessoas que estavam fazendo a cultura do estado acontecer. Tomando batidinha que naquela época era o tal.

É plausível supor que, devido à localização privilegiada, o Pátio de São Pedro tenha proporcionado um número maior de espectadores e simpatizantes – devido a essa platéia que se erguia nos dias dos Festivais. Os mestres cirandeiros por nós entrevistados enfatizam que o evento no Pátio possibilitou uma repercussão maior da ciranda e dos seus grupos.