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Velho Fonte: blog-do-pedrosa.blogspot.com.br

A ação repressiva sobre a comunidade, articulada a mando do Governo do Estado e executada pela Polícia Militar e pela Força Nacional, obteve repercussão nacional. Conforme pode ser visto no relato a seguir (blog.jornalpequeno.com.br/johncutrim/2012/07/26, acessado em 15/08/2013):

[...] A luta de resistência pela preservação do patrimônio histórico, cultural, ambiental e arqueológico da Vila Vinhais Velho [...] ganhou repercussão nacional nesses dois dias [...] As fotos das agressões às famílias do lugar, e ainda ao deputado federal Domingos Dutra (PT- MA), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, à professora da Universidade Federal do Maranhão [...] Antonia da Silva Mota e outras lideranças de entidades de movimentos sociais – que desde o ano passado estão engrossando a luta em defesa da preservação da vila – foram publicadas na mídia nacional, e motivos de matérias e comentários

nas redes sociais (blogs, facebook, sites, jornais eletrônicos) do Brasil e até do exterior.

Toda essa violência contra a comunidade tradicional chamou a atenção de diversos órgãos públicos, como a Secretaria Nacional de Segurança Pública, o Ministério da Justiça, a Procuradoria Geral da República (PGR), a Defensoria Pública da União (DPU), o Ministério Público Federal (MPF), a Presidência da Câmara dos Deputados, além de vários deputados federais e representantes de instituições engendradas na luta pelos direitos humanos.

O então deputado Domingos Dutra, em razão dessa operação policial, se juntou aos moradores do Vinhais Velho e aos representantes de movimentos sociais em uma vigília que ocorreu na Rua Grande – a principal rua da Vila Velha de Vinhais – na noite que sucedeu a essa intervenção da polícia. A vigília foi motivada pelo forte temor dos moradores que, ao avançar da noite, houvesse o regresso do batalhão de choque da polícia para promover o retorno da ação de despejo e a destruição das moradias.

Na manhã do dia 26 de julho de 2012 aconteceu o regresso das forças policiais, deflagrando novas ameaças e tentativas de intimidação aos moradores e aos militantes sociais presentes. Essa continuidade das ações ofensivas contra a vila promovidas pelo governo estadual levou Domingos Dutra a enviar um ofício à presidente, em exercício, da Câmara Federal, deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), informando que, em face às agressões ao patrimônio arqueológico constituído e à integridade física de gestantes, crianças e idosos, iria permanecer na Vila Velha de Vinhais, pedindo, em seguida, a adoção de providências que viessem a garantir a sua integridade física, em seu exercício pleno da atividade parlamentar e de presidente da CDHM da Câmara Federal (blog.jornalpequeno.com.br/johncutrim/2012/07/26, acessado em 15/08/2013).

Como resposta a solicitação do deputado, foi encaminhado pela Deputada Rose de Freitas o Ofício nº 1890/12 ao Ministro da Justiça e o Ofício nº 1891/12 à Governadora Roseana Sarney, requisitando, diante da gravidade

da situação, providências urgentes que garantissem a integridade física do deputado e das pessoas que se manifestam pacificamente no Vinhais Velho.

Também foi favorável aos moradores da Vila Velha de Vinhais a decisão judicial emitida pelo Desembargador Marcelo Carvalho Silva, da Segunda Câmara Cível, em 27 de julho de 2012, suspendendo as desapropriações e as obras de construção da Via Expressa nos trechos correspondentes a Vila Velha de Vinhais e entorno. A decisão favorável aos moradores da vila foi configurada em virtude da insuficiência de laudos técnicos apresentados que comprovassem tanto a necessidade de construção do trecho da Via Expressa sobre a comunidade do Vinhais Velho, como a extensão dos impactos causados por essa avenida na área atingida, conforme podemos comprovar abaixo (tjma.jus.br/27/07/2012, acessado em 15/08/2013):

Nas razões recursais [...] narra o agravante que propôs ação civil pública cautelar em face dos agravados, objetivando:

a) a suspensão das obras e desapropriações no trecho da Via Expressa que atinge a Comunidade de Vinhais Velho até que seja demonstrada tecnicamente a imprescindibilidade dos impactos à vila e ao Largo da Igreja de São João Batista, com a necessária autorização e definição de medidas mitigadoras e compensatórias;

b) a suspensão das obras que acarretam a supressão das áreas de preservação permanente até que sejam definidas, com precisão, o montante de áreas suprimidas e os locais para execução das medidas compensatórias, na forma da Resolução nº 369/2006 - Conama.

A demonstração dos requisitos para a concessão da liminar é evidente, mormente no que tange à ocorrência de iminente risco de dano irreparável, porque a obra está em pleno desenvolvimento, não se podendo admitir demora na prestação jurisdicional [...] Em face de todo o exposto, defiro a antecipação dos efeitos da tutela recursal como pleiteada, determinando a suspensão das obras da Via Expressa, nos trechos que atingem a Comunidade de Vinhais Velho e as áreas manguezais, ao menos até o final julgamento do presente recurso de agravo de instrumento. Determino a notificação pessoal dos agravados para cumprimento imediato da presente ordem judicial, sob pena de multa diária que arbitro em R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), a ser suportada por cada um dos agravados.

As seguidas decisões contrárias ao governo estadual e a persistência dos moradores e movimentos sociais em defesa da Vila Velha de Vinhais constituíram um forte entrave para a conclusão das obras da Via Expressa, subtraindo as possibilidades dessas se aprontarem na forma como desejava a então governadora Roseana Sarney, ou seja, integralmente até a data comemorativa pelos 400 anos de São Luís.

Como esperado, o Governo do Estado do Maranhão e os seus aliados na questão da Via Expressa não deixaram de expor a sua insatisfação para com a forma como o caso estava sendo conduzido pela Justiça. Para justificar a sua insatisfação, alegavam que os organismos públicos que estavam cuidando do caso estavam atendendo a fins políticos e, em face disso, tomando decisões equivocadas quanto à construção dessa avenida. Segundo as exposições dos aliados do governo, essas decisões tomadas pela Justiça – que, segundo a visão apoiadora do governo, em seu conjunto representaria interesses pouco relevantes para a sociedade maranhense – constituiriam a real ameaça ao patrimônio público, pondo em risco o volumoso investimento feito em proveito da Via Expressa e comprometendo o bom andamento de suas obras, em favor de ”brigas políticas” e de reivindicações de grupos “reduzidos” dentro de nossa sociedade. Sempre pondo em dúvida a profundidade dos vínculos histórico-culturais constituídos nos moradores do Vinhais Velho, o principal grupo “reduzido” em questão.

Ainda nessa visão, compartilhada por diversos veículos da imprensa regional, seria para se enaltecer os esforços engendrados pelo governo estadual e pela SINFRA para levar adiante o projeto de construção da avenida. A título de exemplo, reproduzirei abaixo o texto de autoria do jornalista Luís Cardoso (luiscardoso.com.br/28/08/2012, acessado em 15/08/2013):

Apesar de todos os esforços concentrados do Governo do Estado, através da Secretaria de Infraestrutura, de todos os trabalhadores que estão envolvidos na obra, dificilmente a Via Expressa será entregue no prazo estabelecido, no trecho que compreende a primeira etapa: do Jaracaty ao Cohafuma. A segunda etapa, até ao Maranhão novo, prevista para dezembro. Por únicas razões: embargos, embargos e embargos. Os trabalhos foram interrompidos por sucessivas vezes na Justiça, em órgãos de controle do meio Ambiente e, pasmem o senhores, até pela Prefeitura de São Luís. Na Justiça para atender as questões de um grupo reduzido de moradores que deseja preservar o que restou de nossos antepassados e seus terrenos avaliados para baixo pela Caixa Econômica Federal, conforme eles garantem Uma peleja judicial sem fim. Os órgãos que se arvoram de defensores do meio ambiente deram decisiva contribuição para que a obra fosse postergada. Os mesmo que não viram as derrubadas dos babaçuais do Sítio do Rangedor, de um lado a sede da Assembleia Legislativa, e de outro o hospital que a prefeitura da capital começa a construir. Sem falar nas edificações residenciais em dunas e nas margens das praias, jogando dejetos nos olhos dos banhistas todos os dias. A prefeitura de São Luís entrou na questão. Com objetivos políticos, embargou a obra várias vezes. E assistindo disputa, sem nada entender, a população aguardando a obra. E no centro, a Via Expressa sendo empurrada pra lá e pra cá. São Luís completará 400 anos no dia 8 de setembro. E provavelmente a Via Expressa será inaugurada, apenas simbolicamente no trecho programado. Avenida é de fundamental importância para a capital. Qualquer pessoa sabe da

necessidade da Via Expressa para o conjunto de obras da mobilidade urbana de São Luís, inclusive os magistrados, os ambientalistas e até João Castelo. A Via Expressa, portanto, é necessária. Mas lamentavelmente segue perseguida.

Não deixa de ser estranho o teor da exposição do jornalista Luís Cardoso. Muitas das agressões ao meio-ambiente citadas por ele foram perpetradas pelo próprio grupo político ao qual ele estava prestando a sua solidariedade, inclusive a aludida devastação de babaçuais no Sítio do Rangedor para a construção da sede da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão. O Parque Santa Eulália – reserva que é uma das principais áreas de recarga de águas pluviais desta cidade – se encontra parcialmente ameaçado em virtude da construção da Via Expressa em sua área, motivando, nas palavras de Luís Cardoso, a ação de órgãos que se arvoram de defensores do meio-ambiente.

Contudo, não era a primeira vez que essa importante reserva para o ecossistema de São Luís se encontrava ameaçada por empreendimentos desenvolvidos a mando do mesmo grupo político ao qual Luís Cardoso prestou o seu apoio. No final da década de 1980, quando o Estado do Maranhão estava sob o governo de Epitácio Cafeteira – aliado do Grupo Sarney – a reserva esteve sob risco por motivo de um projeto residencial elaborado pelo governo estadual para ser construído em seu terreno. A despeito dos protestos de Luís Cardoso, houve, no período, bastante movimentação por parte de entidades atuantes em defesa do equilíbrio ambiental, conseguindo brecar o avanço do projeto – que atendia aos interesses dos investidores no ramo da construção civil e da especulação imobiliária – nos moldes desejados por Cafeteira, que punha sob ameaça o patrimônio ambiental ludovicense. Dessa forma, me parece que a alegação de Luís Cardoso encontra pouca sustentação em sua defesa dos interesses do governo estadual.

E foi nesse clima desanimador que a Avenida Via Expressa foi finalmente inaugurada – no trecho T1 a T2 (ver quadro 1, p. 44) correspondente ao Bairro Cohafuma – pelo Governo do Estado do Maranhão em oito de setembro de 2012. Uma inauguração “simbólica” de uma obra incompleta, que deveria ser a mais moderna avenida de São Luís e a cereja do bolo no que deveria ser uma dupla comemoração: dos 400 anos de fundação

desta cidade e da consagração do poder do grupo político que detinha o mando político neste estado há quase cinco décadas.

Pelo menos no que diz respeito à Via Expressa, as celebrações pelos 400 anos da cidade de São Luís tiveram um ar melancólico. Para além do trecho correspondente ao Vinhais Velho e ao seu entorno, a avenida apresentou diversos erros de execução em suas obras, com muitos serviços inacabados, falhas em terraplanagem em várias passagens, iluminação precária e afundamentos em alguns trechos (Ver Figura 17). E assim segue até o presente ano de 2015, com vários trechos apresentando graves problemas, impossibilitando o tráfego de automóveis nesses. Para exemplificar melhor os problemas que se sucederam mesmo muito tempo depois da inauguração parcial da Via Expressa, segue a reprodução abaixo (g1.com/02/03/2015, acesso 05/03/2015):

A recém-inaugurada Via Expressa, que liga os bairros do Jaracati e Maranhão Novo, em São Luís, sofreu com a chuva intensa deste domingo (1º). Em alguns pontos o asfalto cedeu e causou transtorno aos motoristas que foram obrigados a desviar. A Via Expressa tem 9 km de extensão e foi uma das principais obras de mobilidade urbana inauguradas recentemente. A avenida interliga Maranhão Novo, Vila Cristalina (Ipase), Recanto dos Vinhais, Vinhais Velho, Cohafuma, Sítio Santa Eulália e Jaracati. O investimento foi na ordem de R$ 125 milhões.