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Em uma dessas cartas, ele descreve o seu itinerário de viagens pela Europa: Paro aqui (Londres) alguns dias para estar com o Barreto e sigo para Bordeaux. De ali vou direto à Itália enquanto o tempo não é muito quente e da Itália volto a fazer uma estação de doze a quinze dias em Carlsbad e depois seguirei para Alemanha e Suíça de onde voltarei para Paris a despedir-me dos filhos e seguirei para Espanha e Portugal de onde tomarei passagem para o Brasil (jun. 1893). (p.108)

Alguns trechos das cartas revelam a admiração do Conde pela cultura européia: Há quatro dias nos achamos aqui na cidade eterna (Roma), onde tudo é monumental, grandes palácios, grandes templos, grandes ruínas contendo riquezas indescritíveis... vou a Nápolis visitar o Vesúvio e as ruínas de Pompéia ... irei para Milão, Viena, Suíça e Carlsbad. (jul. 1893). (p. 110)

Irei a Paris dando concluída a minha visita ao norte da Europa, ... partirei para a Espanha e Portugal (ago. 1893). (p. 116)

Em 1895, ele voltou a Paris e Lisboa onde comprou dois casais de cisnes, um branco e outro preto para adornar o lago do Pinhal (BOTELHO, 2000). Esta parece ter sido a última viagem internacional do Conde. O lago para o qual foram destinados os cisnes ficava nos jardins que rodeiam a sede da fazenda Pinhal. Constituído de plantas vindas da cidade de Rio Claro e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, eles são inspirados nos canteiros de Versalhes. Os jardins constituem exemplos da influência européia no cotidiano dos Botelho.

Antônio Carlos faleceu na fazenda Pinhal no 11 de março de 1901, aos sessenta e quatro anos de idade, ao regressar de uma viagem de negócios do Rio de Janeiro. A biografia de Antônio Carlos revela a sua importância para a história de São Paulo e para o desenvolvimento da região de São Carlos.

Anna Carolina assumiu a liderança da família, conduzia a fazenda e os negócios com a ajuda dos filhos e sobrinhos. O seu sucessor político foi Carlos José, filho mais

velho. Antes de se envolver com a política, ele fundou o primeiro hospital particular em São Paulo, além de outros na capital. Conciliou as atividades de medicina e pecuária em sua fazenda Francisca do Lobo e na propriedade na cidade de Dourados.

Por volta de 1900, abandonou o exercício da medicina e dedicou-se à atividades relacionadas à agricultura e à política. Ocupou o cargo de Secretário da Agricultura, Viação e Obras Públicas no governo de Jorge Tibiriçá (1904-1908) e empreendeu inúmeras realizações, por exemplo: implantou núcleos coloniais em cidades do interior do Estado; foi o fundador do Jardim da Aclimação e do Zoológico de São Paulo. Construiu a Escola Agrícola de Piracicaba em terras doadas ao estado pelo Dr. Luiz Antônio de Souza Queiroz; foi membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; instituiu a Agência Oficial de Imigração e Trabalho para Registro de Contratos entre Trabalhadores Rurais e os Fazendeiros. Em 1906, iniciou o desbravamento das regiões Noroeste, Alta paulista e Alta Sorocabana até então inexploradas e habitadas por índios.

Os demais filhos de Antônio Carlos, com exceção de Martinho Carlos, dedicaram-se principalmente à agricultura. Dois dos irmãos de Antônio Carlos também tiveram uma atuação política, principalmente na cidade de São Carlos. Bento Carlos, irmão caçula de Antônio Carlos, que era republicano, teve várias gestões como vereador e foi presidente da Câmara Municipal. Investiu também no desenvolvimento da cidade sendo o maior acionista da Companhia de Luz elétrica e terminando, com recursos próprios, o Teatro de São Carlos. Paulino Carlos foi o fundador e chefe do Partido Republicano em São Carlos e Deputado Federal por várias gestões. Ocupou o

cargo de presidente do Banco de São Carlos fundado por seu irmão Antônio Carlos. Participou, com Antônio Carlos, da primeira constituinte republicana paulista.

Alguns dos genros também tiveram uma atuação política. Firmiano de Moraes Pinto, casado com Cândida, foi diretor do Banco União de São Carlos e teve uma intensa vida política ocupando os cargos de Prefeito de São Paulo, Deputado Provincial, Deputado Federal, Secretário da Agricultura e Secretário da Fazenda. Bento Bueno, marido de Antônia de Arruda Botelho, foi Deputado Estadual, Senador, Presidente da Câmara dos Deputados, Chefe de Política e Secretário do Interior e da Justiça no governo de Bernardino de Campos. Foi Comissário Geral de Imigração na Europa e Ministro do Tribunal de Contas do Estado.

Os casamentos dos filhos de Antônio Carlos também ilustram uma prática comum às elites dos oitocentos. Conforme Needell (1993), o matrimônio era uma forma de manter ou reforçar a posição econômica conquistada. Assim, o exame das árvores genealógicas das famílias da elite, como a da família Botelho, revela a importância dos laços familiares para garantir a permanência dos bens e da posição social alcançada (ver apêndice III). O próprio Antônio Carlos casou-se em primeiras núpcias com Francisca Coelho, filha de proprietários de terras na cidade de Piracicaba. Três irmãos dele casaram-se com as irmãs Coelho. O seu segundo casamento foi com a filha dos futuros Viscondes de Rio Claro. Os irmãos de Anna Carolina, conforme foi descrito anteriormente, também foram agraciados com títulos nobiliárquicos e eram todos fazendeiros.

Quanto aos filhos do Conde do Pinhal: Carlos José casou-se com a bisneta do barão do Passeio Público e marechal Visconde do Rio Comprido, Constança Maria de

Brito Filgueiras – cujo pai, Caetano Alves de Souza Filgueiras, foi professor da cadeira de Direito Romano na Faculdade de Olinda, poeta, autor do livro Idílios (Rio, 1872) e membro do Instituto Histórico, Geográfico e Etnológico Brasileiro; Elisa Botelho casou-se com Antônio Augusto Moreira de Barros, filho do conselheiro Moreira de Barros; Carlos Augusto casou-se com Maria Luíza, filha dos barões de Ataliba Nogueira; Sophia casou-se com Francisco Soares Brandão, filho do conselheiro Soares Brandão. O sexto filho do casal, Antônio Soares Brandão, casou-se com Lucilia Maria Gouvêa Carvalho Vieira, neta da irmã de Joaquim Nabuco. O conselheiro Soares Brandão e sua família mantinha amizade com Joaquim Nabuco. Também mantinham amizade com Washington Luís, futuro presidente da República, que se casou com Sophia Oliveira Barros, filha dos Barões de Piracicaba e sobrinha de Anna Carolina, Condessa do Pinhal. Anna Carolina casou-se com João Soares Brandão, irmão de Francisco Soares Brandão. Carlos Amadeu casou-se com a filha do deputado Cândido Lacerda Franco.

Devido a importância da família de Anna Carolina, “Condessa do Pinhal”, para a história de São Paulo, ao completar cem anos, no ano de 1941, toda a cidade de São Paulo movimentou-se para saudar aquela grande senhora dos velhos tempos da monarquia (veja figura 18). Ela faleceu aos 104 anos de idade, em cinco de outubro de 1945.