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3.3 SRSD

4.3.1.2 Filmagens e Observações (segunda etapa)

Depois de construído o projeto, elaborado a pergunta de pesquisa e definido os objetivos, decidimos que a abordagem metodológica mais apropriada para a investigação seria a qualitativa e que usaríamos como método de pesquisa o estudo de caso. Este método foi selecionado por se tratar da “observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte de documentos ou de um acontecimento específico” (MERRIAN, 1998 apud BOGDAN & BIKLEN, 1999, p.89). Como instrumentos de coleta de dados decidi utilizar a observação participante combinada com a filmagem e a entrevista semiestruturada.

A observação participante é uma modalidade especial de observação na qual você não é apenas um observador passivo. Em vez disso, você pode assumir uma variedade de funções dentro de um estudo de caso e pode, de fato, participar dos eventos que estão sendo estudados. (YIN, 2001, p. 116) Depois do projeto pronto fui conversar com o professor junto com a minha orientadora e expressei o meu interesse em fazer a pesquisa tendo a sua aula como meu objeto de estudo. Mostrei um resumo do projeto, ele aceitou participar da pesquisa e logo em seguida combinei os detalhes da coleta de dados. Expliquei como seriam as observações e filmagens, a necessidade dele assinar uma autorização para o uso dos dados, além de detalhes como a quantidade de aulas observadas / filmadas e os dias e horários das aulas. O professor pôde decidir quando eu iria começar, mesmo porque era final de ano e naquele período o professor se ausentaria para ministrar aulas em um festival. Depois de discutido os obstáculos, decidimos que eu filmaria algumas aulas antes do recesso de fim de ano e outras após o recesso, já que por conta de uma greve de professores o semestre letivo havia sido alterado. Voltei para o campo no dia 04 de dezembro de 2013, quando fiz a primeira filmagem. Sucederam os dias 05, 16 e 19 de dezembro de 2013 e os dias 08, 09, 13 e 15 de janeiro de 2014, totalizando 8 (oito aulas filmadas). Cada aula tinha uma média de 2 horas, totalizando 16 horas filmadas.

O objetivo das filmagens era poder captar o máximo de informações possíveis sobre a aula. Isso era uma tarefa difícil, pois nas aulas existiam vários acontecimentos simultâneos, seja vindo do professor ou de cada um dos alunos. Só a observação participante não seria capaz de captar todas as informações desejadas já que era impossível observar as ações advindas de todas as direções e pelo fato de muitas vezes haver acontecimentos simultâneos. Além disso, podiam passar despercebido muitos fatos aos olhos do pesquisador no momento da aula.

A partir dessa reflexão, busquei com as câmeras ampliar o meu raio de observação. Dessa forma, foram fixadas duas câmeras em pontos diferentes da sala. Elas ficaram direcionadas de forma que com a soma das duas câmeras eu conseguisse registrar toda a sala. Com a segurança das duas câmeras registrando quase a totalidade da sala, fiquei livre para observar o trabalho do professor e os outros eventos da sala.

Ao realizar uma visita de campo ao local escolhido para o estudo de caso, você está criando a oportunidade de fazer observações diretas. Assumindo-se que os fenômenos de interesse não sejam puramente de caráter histórico, encontrar-se-ão disponíveis para observação alguns comportamentos ou condições ambientais relevantes. Essas observações servem como outra

fonte de evidências em um estudo de caso. (YIN, 2001, p. 115)

Fui rapidamente acolhido. Como falei anteriormente, nessa classe era comum a participação de pessoas que não eram alunos oficiais do professor e que não estavam sempre lá. Dessa forma, a minha presença foi muito natural. No início percebi algum receio por parte dos alunos com as câmeras, mas logo isso foi superado. Busquei participar o mínimo possível, o que foi muito difícil, pois o professor sempre buscava de uma forma ou de outra que os presentes interagissem e participassem e além disso, eu já tinha uma certa aproximação com a maior parte da classe. Em relação à observação participante é possível destacar que:

A sua participação exacta varia ao longo do estudo. Nos primeiros dias de observação participante, por exemplo, o investigador fica regra geral um pouco de fora, esperando que o observem e aceitem. À medida que as relações se desenvolvem, vai participando mais. Nas fases posteriores da investigação, poderá ser importante ficar novamente de fora, em termos de participação. Um investigador que participe demasiado poderá passar a ser um indígena (Gold, 1958), expressão utilizada em antropologia para referir os investigadores que ficam tão envolvidos e activos com os sujeitos que perdem as suas intenções iniciais. (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.125)

Participei observando / filmando oito aulas, apesar de que foi comum após findar o período previsto de observações, visitar as aulas do professor informalmente, sem as câmeras. No entanto, só serão considerados nesta pesquisa os dados de observação do período em que estavam sendo filmadas as aulas. Mas, é inevitável dizer que essas observações assistemáticas ajudaram na interpretação das aulas gravadas. Sobre isso a literatura diz que:

A etnografia em geral exige longos períodos de tempo no "campo" e enfatiza evidências observacionais detalhadas. A observação participante pode não exigir a mesma quantidade de tempo, mas ainda presume um investimento pesado de esforços no campo. Em contraste, os estudos de caso são uma forma de inquirição que não depende exclusivamente dos dados etnográficos ou de observadores participantes. Poder-se-ia até mesmo realizar um estudo de caso válido e de alta qualidade sem se deixar a biblioteca e sem largar o telefone, dependendo do tópico que está sendo utilizado. (YIN, 2001, p. 29- 30)

Após as oito aulas filmadas eu e minha orientadora decidimos seguir aos próximos passos da pesquisa.