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A filosofia que alguns rotulam de mais elevada, outros consideram

No documento Buda - Dhammapada e Atthaka (páginas 92-95)

O LIVRO DAS OITAVAS

12.º “OS DONOS DA VERDADE” – CULLAVIYUHA SUTTA

I. A filosofia que alguns rotulam de mais elevada, outros consideram

desprovida de valor. Todos, porém, consideram-se autoridades. Com qual deles está a razão e a verdade?

Buda: – É só a sua própria filosofia que cada qual considera como a mais

elevada, ao passo que aos demais métodos não empresta valor algum. Deste modo é que surgem as disputas.

Se o mero criticar destitui os conceitos filosóficos de qualquer valor, então todas as suas filosofias não têm valor algum, pois todos vivem a criticar os conceitos alheios.

Extravagantes se mostram na prática de sua própria filosofia, tal como quando a expõem, porém todos os seus conceitos levam à mesma coisa.

O verdadeiro brâmane, porém, não copia os demais; tendo transcendido o hábito de disputar, a nenhuma filosofia, em particular, chama ele de “melhor”. Afirmam alguns devotamente: “A verdade é assim e assim. Eu sei! Eu vejo!” E sustentam que tudo depende de se ter a religião correta. Se, porém, eles realmente “soubessem”, não teriam necessidade de religião alguma.

O homem vê nome como nome e forma, mas, dizem os sábios, por pouco ou muito que consiga ver, não verá a pureza.

Nenhum filósofo querelante poderá alcançar a pureza por meio de sua doutrina pessoal; ele segue uma luz que ele próprio fabricou, por ele autoprojetada, e daí dizer ele que a “vê”.

O verdadeiro brâmane está além do tempo, não se baseia em conceito algum, nem se submete a qualquer seita; compreende todas as teorias correntes, mantendo-se, porém, desapegado de qualquer delas.

Liberto dos laços do mundo, embora viva ainda no mundo, segue o sábio, tranquilo, o seu caminho; livre de seitas, em meio aos sectários, livre de agitações, em meio aos agitados, admitindo o que o mundo comete.

Tendo transcendido, por compreensão, suas antigas imperfeições, sem adquirir outras novas pela correta vigilância, tendo abandonado o desejo e se libertado de dogmas e não se deixando mais influenciar por opiniões filosóficas, segue ele seu próprio caminho, sem se deixar impressionar pelo mundo, não se entregando jamais à censura.

Liberto de todos os conceitos baseados nas coisas vistas e ouvidas, aliviado, pois, de sua carga, não mais está o sábio tranquilo sujeito ao tempo, transcendendo tanto o desejo, quanto a abstinência.

14.º SERMÃO DA SENDA RÁPIDA – TUVATHKA SUTTA

Interrogante: – Ó grande sábio de linguagem solar! Fala-nos de estado de

tranquilidade e do estado de paz. Como é que vive o indivíduo disciplinado e cheio de paz, aquele que se libertou das coisas do mundo?

Buda: – É indispensável que arranque a ilusão pela raiz, não mais

raciocinando em termos de “eu”. É indispensável que se mantenha atento a todos os desejos egoístas que nele surjam.

Mesmo que já domine isto ou aquilo, oriundo de dentro ou de fora, é preciso que se abstenha de nisso depositar toda a sua confiança.

E, após haver dominado este ou aquele aspecto, não deve, por isso, comparar- se favorável ou desfavoravelmente em relação aos demais.

A paz vem de dentro. Que o indivíduo disciplinado, pois, não a busque fora de si mesmo. Cheio de paz, não mais pensa ele no “ego” e, portanto, não mais pensa no “não-ego”.

Da mesma forma como tudo é calmo nas profundezas do oceano, onde não se formam ondas, assim também o indivíduo disciplinado permanece calmo quando nele despontam as ondas do desejo para perturbá-lo.

I. – O Desperto proclamou o Dhamma (Ensinamento Purificador). Fala-nos,

agora, sobre a disciplina e a contemplação.

Buda: – Trate cada um de si; que não se dirijam as conversas para o tópico do

dia. Não sejais gananciosos. Não tenhais coisa alguma. Não desejais coisa alguma!

Não se queixe o indivíduo disciplinado nos períodos de adversidade, nem anseie pela mudança de circunstâncias que ele não tema.

Abstenha-se ele de acumular alimento, bebida ou roupas e não se mostre ansioso por não obtê-los.

Prefira o indivíduo disciplinado a conduta meditativa, em lugar da incessante atividade; comporte-se bem no lazer. Tendo optado pela quietude, seja ela a sua companheira.

Não deve ele dormir demais, e, sim, ficar em plena vigilância; abstenha-se ele da preguiça, da mentira, da frivolidade, das competições físicas, da luxúria. Não deve praticar magias, nem interpretar sonhos e presságios, nem praticar a astrologia.*

* Buda não aconselhava estas práticas no sentido de não se fazer uso profissional, isto é, tirar

delas algum proveito próprio.

Não façam, meus discípulos, predições baseadas no canto dos pássaros, não tratem as doenças por simpatias nem pratiquem o curandeirismo.**

** Idem.

O indivíduo disciplinado não se deixa abater pela censura, nem exaltar pelo louvor.

Livre-se ele da ambição e da inveja, da cólera e da calúnia, sempre pela compreensão.

O indivíduo disciplinado não deve ocupar-se de compras e vendas (especulações), nem descobrir falhas alheias.

No desempenho de suas funções, que nunca maltrate ninguém, nem defenda idéias por interesse.

E, ao pregar, que o indivíduo disciplinado não se mostre orgulhoso, nem fale por motivos pessoais, jamais usando palavras provocadoras.

Que não se deixe levar a mentir, nem a agir ilegalmente.

Não menosprezes o ganha-pão de ninguém, nem a inteligência, a virtude, ou as vitórias de quem quer que seja.

Saibas suportar com bondade a tagarelice dos estranhos. Não sejas irritável, pois o homem calmo não retruca.

Tendo compreendido os ensinamentos, cumpre agora aplicá-los. Achando, assim, a paz, siga ele os conselhos de Gautama.

Ó vencedor invencível que já despertastes para a doutrina visível! Trilha a senda do Mestre e procura honrá-la.

No documento Buda - Dhammapada e Atthaka (páginas 92-95)