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Finais de semana perdidos

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Outro nome importante ligado aos códigos corretores de erros é Richard Hamming, o qual, em abril de 1950, publicou no The Bell System Technical Journal o artigo Error Detecting and Error Correcting Codes (HAMMING,1950), no qual conceitos fundamentais para a Teoria dos Códigos Corretores de Erros, como métrica, redundância, equivalência de códigos e códigos sistemáticos, por exemplo, foram primeiramente enunciados e abordados.

Neste artigo, Hamming explica que a motivação para o estudo apresentado foi a necessidade que ele verificou de se resolver o problema que inevitavelmente surge no processamento de uma dada tarefa por uma máquina como um computador, a saber, os eventuais erros que ocorrem na realização da tarefa. Sobre o erro presente em um cálculo realizado por um computador, ele afirmou:

[. . . ] uma única falha geralmente significa o fracasso completo, no sentido de que se ela é detectada nenhum cálculo pode ser realizado até a falha ser localizada e corrigida, enquanto que se ela escapa da detecção então ela invalida todas as operações posteriores da máquina. (HAMMING,

1950, p. 147, tradução nossa).

Dessa forma, o operador ou usuário de tal máquina se vê diante de um impasse. Se um erro ocorrer e for detectado, então a máquina não funciona até o erro detectado ser corrigido, tarefa que na época não era realizada em pouco tempo e sem pouco trabalho. Por outro lado, se um erro ocorrer e não for detectado, os cálculos realizados não serão úteis, pois foram afetados pelo erro que comprometerá o resultado final de todo o trabalho realizado.11

11 Situações semelhantes à descrita anteriormente, motivaram o meteorologista americano Edward Lorenz (1917 - 2008), a desenvolver, na década de 60, a teoria matemática que ficou popularmente conhecida como “Teoria do Caos”. Suas descobertas ocorreram quando ele percebeu que os valores armazenados em seus cartões de memória e os valores armazenados e utilizados por seu computador em seus cálculos, diferiam em apenas algumas casas decimais, mas que mesmo estas pequenas diferenças faziam com que as previsões de seus modelos climáticos fossem totalmente transformadas. O ponto aqui é o fato de como pequenos erros ou disparidades de valores na realização de cálculos nos computadores da

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Cabe aqui uma pequena pausa para salientarmos que as dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores nessa época mostram como eles foram pioneiros e geniais em suas pesquisas, visto que o computador era algo extremamente novo para eles – o primeiro computador utilizado nos Estados Unidos data de 1946 e foi construído na Universidade da Pensilvânia a pedido das forças armadas (BLAINEY,2011).

Figura 8 – Computadores da época: ENIAC à esquerda e MARK1 à direita.

Fonte: Google Images

A descrição de como o manejo dos computadores era trabalhoso e sobre como os erros afetavam este trabalho, pode ser vista na descrição a seguir:

[. . . ] quando se queria que um computador executasse alguma tarefa, eram necessários muitos cartões perfurados ou entregar uma fita aos operadores do computador, [...]. Isso era conhecido como “processamento por lote” era uma coisa aborrecida. Podia-se esperar por horas ou dias para obter os resultados; qualquer erro mínimo implicava recolocar os cartões perfurados para novo processamento e não se podia tocar e nem mesmo ver o computador propriamente dito. (ISSACSON,2014, p. 238, itálico nosso).

Também nos salta aos olhos o fato de que pouco tempo após a publicação do artigo de Hamming, no ano de 1955 “[...] funcionavam cerca de 250 grandes computadores em todo o mundo, alguns dos quais ocupavam a área de uma ampla sala de estar. Feito de meio milhão de conexões soldadas à mão e necessitando de pelo menos 18 mil tubos de vácuo [...]”. (BLAINEY, 2011, p. 230). Notando que estes eram os mais avançados computadores da época, para nós fica completamente justificada a crença e previsão, que felizmente posteriormente se mostrou errada, atribuída ao então diretor da IBM, Thomas

época causavam grandes erros, ou mesmo, invalidavam os trabalhos de quem sofria com os mesmos. Para uma introdução informal a este tema e ao resultado da descoberta de Lorenz ver o vídeo CAOS e EFEITO BORBOLETA, disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=C4eHJ8ZJgG4>

Jhon Watson (1874 - 1956) que teria afirmado, no inicio da década de 1940, que “no mundo inteiro não haveria mercado para mais do que cinco computadores”.12

Foi justamente neste novo e pouco explorado contexto que Hamming se encontrava em 1947 enquanto trabalhava com os computadores dos laboratórios Bell. Nesta época, a utilização dos computadores da empresa era obviamente limitada e disputada pelos pesquisadores da mesma, de forma que Hamming só tinha acesso aos mesmos nos finais de semana, e foi nestas pesquisas de “final de semana” que ele percebeu que as máquinas por ele utilizadas eram capazes de detectar os erros em sua programação, entretanto, isso não o ajudava em nada, pois as máquinas não possuíam a capacidade de corrigir tais erros.

Em entrevista dada em 1977, ele explica a situação em que se encontrava na época, e que em grande parte, foi um dos motivos que o levaram a trabalhar no desenvolvimento dos códigos corretores de erros. Ele afirma:

Em dois finais de semanas consecutivos eu fui e descobri que todas minhas coisas tinham sido descarregadas e nada tinha sido feito. Eu estava realmente aborrecido e irritado porque queria estas respostas e tinha perdido dois finais de semana. E então eu me disse “Maldição, se as máquinas podem detectar um erro, porque não podemos localizar a posição do erro e corrigi-lo. (MILIES,2009, p. 02).

Figura 9 – Richard Hamming

Fonte: Google Images

Vale notar que Hamming não era o único passando por situações como esta na

12 Na realidade, não existem evidências escritas ou em outras formas de registro de que Watson de fato tenha dito esta frase, porém a frase passou para a posteridade como sendo própria de Watson. Para maiores detalhes, ver a biografia de Watson The Maverick and His Machine: Thomas Watson, Sr. and

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