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Finalidade da EJA

No documento Sim Não Quase sempre (páginas 46-50)

modo a readquirir a oportunidade de um ponto igualitário no jogo conflitual da sociedade”. 2

Segundo Andrade (2006), “(...) o parecer deixa claro, uma das finalidades básicas da EJA, ou seja, o fato desta modalidade de ensino, não mais poder ser tratado como uma função de suplência, constituindo-se a partir deste ponto uma modalidade da Educação Básica, nas suas etapas fundamental e média” (p. 1).

Assim, entende-se como segmento educacional com perfil próprio, possuidor de uma feição especial diante de um processo considerado como medida de referência.

Quanto à função qualificadora presente no Parecer, o documento aborda uma questão central: a necessidade de atualização permanente dos conhecimentos.

Segundo o Parecer 11/2000 da CEB,

Esta tarefa de propiciar a todos a atualização de conhecimento por toda a vida é a função permanente da EJA. Ela tem como base i caráter incompleto do ser humano cujo potencial de desenvolvimento e da adequação pode se atualizar em quadros escolares ou não escolares. Mais do que nunca, ela é um apelo para a educação permanente e criação de uma sociedade educada para o universalismo, a solidariedade, a igualdade e a diversidade. 3

No que se refere a esta função qualificadora há de se fazer uma ponte com um dos itens desta formação dos jovens e adultos, que tem suscitado algumas importantes reflexões, que é a revelação formação/qualificação profissional.

Sobre esta questão que envolve a EJA com o trabalho, Di Pierro et al. (2001) comentam que “(...) a entrada precoce no mercado de trabalho e o aumento das exigências de instrução e domínio de habilidades no mundo do trabalho” (p. 5) são fatos que passam a direcionar os adolescentes e jovens na retomada de seu processo escolar. Essa modalidade, que tem caráter de suplência, passou a ser parte significativa da população brasileira.

Os autores que tratam dessa questão sinalizam para três trajetórias escolares básica, que, em síntese, formam a clientela da EJA: “(...) os que iniciam a escolaridade básica já na condição de adultos trabalhadores, os adolescentes e adultos jovens que ingressam na escola regular e a abandonam por algum tempo, frequentemente motivados pelo ingresso no trabalho ou em razão de movimentos

2 Disponível em: <http://www.deja.pr.gov.br>. Acesso em: 12 dez. 2011.

3 Disponível em: <http://www.deja.pr.gov.br>. Acesso em: 12 dez. 2011.

migratórios e, por fim os adolescentes que ingressaram e cursaram recentemente a escola regular, mas acumularam grandes defasagens entre idade e série” (JOIA;

RIBEIRO, 2001, p. 6).

Há que se considerar, nessa análise, as finalidades da EJA que, apesar das ambiguidades, como comenta Martins (2005), e das contradições apontadas por Andrade (2000), o Parecer 11/2000 do CNE representou um importante avanço, sobretudo na superação da concepção de educação compensatória de pessoas adultas. Contudo, Di Pierro et al. (2001) sinalizam para o fato, de que estes avanços, tanto no tocante ao acesso, quanto às oportunidades de cursos “(...) não nega que há desigualdades educativas a serem enfrentadas” (p. 72), sobretudo no que diz respeito às questões curriculares e as necessidades de projetos autônomos para a modalidade da EJA.

Outro problema modal da Educação de Jovens e Adultos diz respeito à articulação entre formação geral e profissional, embora as motivações para que jovens e adultos participem de programas formativos sejam múltiplas e não necessariamente instrumentais, a melhoria profissional e ocupacional é o motivo declarado da maioria dos estudantes (Di PIERRO et al., 2001, p. 25).

Mesmo que nos últimos anos o trabalho tenha perdido sua centralidade, para as classes populares, trata-se de fonte exclusiva de manutenção dos meios de sobrevivência. Assim, o aumento de trabalho contemporâneo tem exigido, por parte das Políticas Públicas para a Educação, e seus atores, medidas claras e urgentes no sentido de promover a qualificação de jovens e adultos, com qualidade.

A participação no novo mundo do trabalho requer uma formação que inclua como elemento crucial o conhecimento científico/tecnológico, uma vez que a capacitação técnica se coloca como diferencial no enfrentamento do mercado de trabalho.

Isso não desqualifica a visão da politécnica, haja vista que a ênfase presente na concepção do trabalho como princípio educativo está na perspectiva do PROEJA, do PROJOVEM URBANO e de outros programas que ampliam as chances de escolaridade dos jovens e adultos. Isto significa dizer que a qualificação, como processo contínuo, não pode abdicar da formação geral que confere aos jovens e adultos, estatutos de cidadãos, trabalhadores sim, mas antes de tudo, cidadãos

portadores de direitos, entre os quais, os de receber educação de qualidade indiscutível.

Todas essas discussões mostram que a história da educação brasileira nos últimos 50 anos possibilita que se perceba a evolução da educação de jovens e adultos, que assume diferentes recortes ao longo desta trajetória. Além disso, permitem observar as tensões entre educadores, gestores e governos, enquanto forças que se confrontam no cenário educativo brasileiro, e lutam para ampliar o acesso e permanência desses sujeitos na escola.

As pesquisas sobre os motivos que levam esses jovens e adultos à escola apontam, predominantemente, por eles terem o desejo de recuperar o tempo perdido e precisar de uma qualificação imediata para atingir o mercado de trabalho.

Mas suas motivações incluem também maior vontade de entender melhor as coisas, de se expressar mais claramente, de “ser gente”, de não depender sempre dos outros.

Com relação aos adolescentes, o grande desafio é a reconstrução de um vínculo positivo com a escola e, para tanto, o educador deverá considerar em seu projeto pedagógico as expectativas, gostos e modos de ser característicos dos jovens. Sabe-se que toda experiência que tenha sido um fracasso gera, nos jovens e adultos, uma autoimagem negativa, levando-os à timidez, à insegurança e a muitos bloqueios. De acordo com a observação inclusa nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997),

Se a aprendizagem for uma experiência de sucesso o aluno constrói uma representação de si mesmo como alguém capaz. Se, ao contrário, for uma experiência de fracasso, o ato de aprender tenderá a se transformar em ameaça e a ousadia necessária se transformará em medo, para o qual a defesa possível é manifestação de desinteresse (BRASIL, 1997).

Em qualquer dos casos, será fundamental que o educador ajude os educandos a reconstruir sua imagem da escola, das aprendizagens escolares e de si próprios.

Um dos princípios pedagógicos bastante assimilados pelos professores da EJA é o da incorporação da cultura e da realidade dos alunos, como conteúdo e ponto de partida para as aulas. Somados a esses aspectos, lembra-se que a escola é um espaço propício para a educação da cidadania, isto é, nela se deve aprender a

cuidar dos bens coletivos, discutir e participar democraticamente, reconhecer direitos e deveres e desenvolver a responsabilidade pessoal pelo bem estar comum.

No documento Sim Não Quase sempre (páginas 46-50)

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