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1 ASPECTOS CONCEITUAIS DO DESENVOLVIMENTO

1.4 FINANÇAS SOLIDÁRIAS NO BRASIL

Segundo as diretrizes da II Conferência Nacional de Economia Solidária, (CONAES, 2010, p. 25):

Uma ação voltada à democratização do crédito deverá valorizar iniciativas existentes na área das finanças solidárias. No que se refere às agências de financiamento, devem ser estimuladas as cooperativas de crédito, as OSCIPs de microcrédito, os bancos comunitários, as fundações públicas e os fundos públicos de desenvolvimento, além dos fundos rotativos e os sistemas de moedas sociais circulantes locais, lastreados em moeda nacional (Real) e outros sistemas de moeda social como formas criativas de lastros. A democratização do crédito e acessibilidade, pelos empreendimentos solidários exige que se consolide e se amplie a presença de uma vasta rede destas organizações pelo país, criando um Sistema Nacional de Finanças Solidárias, o que requer um fundo de financiamento específico com controle social, como também o desenvolvimento de um marco legal apropriado, capaz de lidar com as questões tributárias, com o problema da capitalização das instituições, da captação de poupança, da cobrança, dentre outros.

COMPLEMENTAR Nº 9307, proposto pela Sra. Luiza Erundina, que estabelece: “a criação do Segmento Nacional de Finanças Populares e Solidárias e dá outras providências.” (PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR 93/2007).

No Brasil existem diversas iniciativas de finanças solidárias, (CONAES, 2010) entre elas, as feiras de trocas solidárias. Abaixo, um cartaz dessa experiência em Porto Alegre – RS.

Figura 6 – Cartaz original de Feiras de Trocas Solidárias Porto Alegre-RS

Fonte: CONAES, 2010.

As Feiras de Trocas Solidárias são espaços em que se organizam trocas de produtos, serviços e saberes por meio da cooperação entre os participantes, ao invés da acirrada competição do mercado. Para isso, utiliza-se uma moeda

social como ferramenta para facilitar as trocas durante a feira. A moeda social

substitui a moeda oficial em eventos e experiências nas quais as pessoas atuam como produtores e consumidores em circuito fechado, eliminando, assim, o obstáculo da escassez do dinheiro. Diferente da moeda oficial, a moeda social não tem juros, e, por isso, não oferece vantagens ao ser acumulada, promovendo, desse modo, a distribuição mais igualitária de

produtos, serviços e saberes (cf. cartilha do Programa Nacional de Apoio as Feiras de Economia Solidária).

O Eco banco é o mecanismo responsável por criar, regulamentar e operacionalizar a circulação da moeda social, que é gerada a partir de uma operação simples: produtores ou pessoas interessadas em participar das trocas solidárias depositam uma parte da sua produção e/ou de seus produtos no banco e recebem, no ato, a correspondente quantidade de moeda social, segundo uma tabela de valores pré-fixados pelo Eco banco. Já de posse da moeda social, os participantes da feira podem ter acesso a outros produtos e serviços disponíveis no local.

As Feiras de Trocas Solidárias apresentam-se como uma solução para facilitar o acesso de pessoas em situação de vulnerabilidade social ao consumo, além de proporcionar um ambiente pedagógico, tanto para produtores, como para os consumidores desenvolverem e praticarem os princípios da economia solidária: cooperação, autogestão, confiança mútua, preocupação ambiental e consumo consciente. Uma experiência bem sucedida desse tipo de iniciativa é a Feira de Trocas Solidárias do Centro de São Paulo- SP, gerida por um comitê, formado pelos integrantes da Associação Minha Rua Minha Casa, pelos alunos do Programa de Extensão de Serviços à Comunidade da Universidade de São Paulo e pela Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Fundação Getúlio Vargas.

Figura 7 – ‘Miruca’, moeda social utilizada na Feira de Trocas Solidárias do Centro de São Paulo – SP.

Além das feiras de trocas, existem, também, no Brasil, experiências com os “bancos de serviços solidários”(Banco de tempo).

O objetivo fundamental de um banco de serviços solidários (conhecido como “banco de tempo”) é propiciar a integração solidária entre os membros de uma comunidade por intermédio de troca de habilidades pessoais. Cada membro prontifica-se a realizar algum tipo de atividade para a comunidade. A partir da realização, ele recebe créditos equivalentes ao tempo de serviço prestado, ficando habilitado a demandar serviços dos quais tenha necessidade. Nesse caso, não há distinção em termos de qualificação do serviço prestado; ao contrário, as habilidades são valorizadas igualmente. Um determinado tempo de serviço prestado (geralmente a hora/ trabalho) equivale a um crédito, qualquer que seja o serviço.

Os primeiros Bancos de Tempo surgiram na Itália, no início da década de 90 e o maior número de experiências em atuação ainda se encontra concentrado na Europa, principalmente na Itália, Espanha e Portugal. A grande maioria dessas organizações conta com infraestrutura e apoio oferecidos por programas públicos, algumas vezes em parceria com ONGs, embora existam também alguns projetos privados.

A maioria deles se caracteriza por um mutualismo indireto, uma vez que não há transação direta entre os membros. “A unidade de troca é a hora, e todos os serviços são considerados de igual valor, não havendo qualquer tipo de escala de equivalência de serviços”. (SOARES, 2006, p. 147).

Ainda segundo Soares (2006), uma agência se responsabiliza por administrar um sistema de cadastramento de serviços oferecidos por membros do banco, por fomentar trocas desses serviços, (divulgando entre os membros os serviços disponíveis para troca e inserindo novos serviços, tanto pela capacitação de membros em novos serviços, como na busca de novos membros ao grupo) e por contabilizar as horas realizadas: a cada serviço prestado, é creditado, ao prestador deste, o valor correspondente em horas, e reduzido, em mesmo valor, os créditos disponíveis do tomador do serviço.

O funcionamento desse tipo de iniciativa pode ser centralizado em poucos indivíduos ou gerenciado coletivamente; é possível utilizar intensivamente tecnologia de informação (operacionalização complexa) ou basear o gerenciamento em quadros e cartazes (funcionamento mais simples).

Além das experiências solidárias apresentadas acima, o Brasil apresenta com pioneirismo o Banco Comunitário. Considerado um serviço sui generis de finanças solidárias para o desenvolvimento socioeconômico de territórios, e o objeto de estudo desta pesquisa, o Banco Comunitário está bem caracterizado e conceituado como projeto de apoio às economias populares de territórios com baixo desenvolvimento socioeconômico, tendo por base os princípios da Economia Solidária e oferecendo, à população excluída do sistema financeiro, quatro serviços: fundo de crédito solidário, moeda social circulante local, feiras de produtores locais e capacitação em Economia Solidária.

Segundo Joaquim Melo (idealizador do Banco Palmas, primeiro banco comunitário criado), em entrevista aos Mobilizadores do Comitê de Entidades no Combate a Fome pela VIDA – COEP (2008 apud SUNNET NOTÌCIAS, 2008).

Os bancos comunitários são serviços financeiros, solidários, em rede, de natureza associativa e comunitária, destinados a reorganizar as finanças locais, na perspectiva da economia solidária. É um conceito gigante, mas que exprime o que são esses bancos: eles têm natureza associativa e comunitária porque a propriedade de cada banco é de uma organização social local (uma associação de moradores, um assentamento, um grupo de mulheres...); trabalham em rede porque organizam as pessoas daquele município, daquele bairro, para comprarem e produzirem em função um do outro; são solidários porque para a pessoa ter acesso ao banco o que influencia não é o SPC [Serviço de Proteção ao Crédito], a Serasa, e sim a vizinhança, que vai falar se a pessoa é honesta ou não; e tem a perspectiva de gerar trabalho e renda (SUNNET NOTÍCIAS, 2008).

Além disso, é possível assumir essa tecnologia social como sendo possuidora de um destacado papel de promotora do desenvolvimento territorial, da organização comunitária, ao articular – simultaneamente – produção, comercialização, financiamento e capacitação das comunidades do território (SILVA JÚNIOR, 2007). Abaixo, a moeda social do Primeiro Banco Comunitário brasileiro, o Palmas, em Fortaleza – CE.

Figura 8 – Palmas, moeda social do Banco Palmas – Fortaleza-CE.

Fonte: Retirado de Banco Palmas.

Cabe aqui destacar as chamadas “tecnologias sociais”, pois o objeto de estudo deste trabalho se enquadra como uma dessas tecnologias.

Apesar de haver algumas contradições na literatura, pode-se compreender, de forma sintetizada, tecnologia social como: “[...] produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que represente efetivas soluções de transformação social” (RTS), 2006.

Compreender a aplicabilidade da tecnologia social nos diferentes territórios e identificar as adequações necessárias para a criação e manutenção dos Bancos Comunitários foi de fundamental importância para a pesquisa.

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