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3. Capítulo III Branqueamento de Capitais o caso de Cabo Verde

3.5. Financiamento do terrorismo

Segundo Galito (2013), o terrorismo surgiu talvez na agenda dos fóruns internacionais na década de trinta do século XX, pois, em 1934, a então Liga das Nações discutiu uma Convenção para prevenir e sancionar o fenómeno. Da Convenção surgiu um diploma que viria à luz do dia três anos mais tarde, mas que não chegou a ser aplicado. A partir da década de sessenta, e já sob a chancela da Organização das Nações Unidas (ONU), sur- giram catorze instrumentos legais de carácter internacional para erradicar este tipo de violência.

47 É difícil saber onde começou o terrorismo, mas a primeira referência escrita aponta para um grupo chamado Sicarii Zealots. Estes eram judeus extremistas separatistas que incutiam o terror para encorajar a mudança de conduta na sociedade judaica naquela época (48 A.C) contra o que entendiam como a imoralidade dos que apoiaram os invaso- res romanos. Com o passar do tempo, o terrorismo assumiu diferentes formas. Porém, enquanto protagonizada por agentes não estaduais, voltou a destacar-se no século XIX por causa dos Anarquistas. Por exemplo, na Rússia, em 13 de Março de 1881, o grupo

Narodnaya Volya, que significa “a Vontade do Povo”, ficou famoso pelo facto de os seus

membros se terem reunido para assassinar o Czar Alexandre II.

Em Portugal, o regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, que causou a morte ao rei D. Carlos I e ao príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, também foi perpetrado por anarquistas, “os conjurados”. Outros monarcas tiveram destino semelhante, no princípio do séc. XX, tal como o rei de Itália, Humberto I, morto pelo anarquista Caetano Bresci, a 29 de Julho de 1900. E, a 28 de Junho de 1914, o Arquiduque Francisco Fernando do Império Austro Húngaro e a sua mulher foram alvos mortais de um ataque de Gavrilo Princip, do grupo nacionalista sérvio “Mão Negra”, em Sarajevo, evento este que serviu de rastilho à I Guerra Mundial (Galito 2013).

Já no século XXI, destacaram-se as manifestações violentas da Al-Qaeda, organi- zação responsável pelo ataque de 11 de Setembro de 2001, nos Estados Unidos, e 11 de Março, em Madrid. A mesma organização poderá ter estado igualmente implicada nos atentados de 7 de Julho de 2005, em Londres, e de 26 de Novembro de 2008, em Mumbai.

Em Cabo Verde nunca foi registado qualquer caso relacionado com o financia- mento ao terrorismo, mas, dada a sua situação geográfica privilegiada, o arquipélago bem poderá vir a ser utilizado, quer como rota de passagem, refúgio e/ou treinamento de gru- pos terroristas.

De acordo com o Programa Nacional Integrado de Luta contra Droga e Crime em Cabo Verde (PNILD 2012-2016), existem indícios de circulação de fluxos de dinheiro de proveniência nacional e internacional. Estes fluxos poderão estar relacionados com ativi- dades, quer ilícitas (narcotráfico) quer lícitas, ligadas ao financiamento do terrorismo. O decreto-lei que cria a Unidade de Informação Financeira (UIF) permite a esta unidade tratar de casos de suspeita de financiamento de terrorismo, embora Cabo Verde ainda não criminalize o financiamento do terrorismo como um crime autónomo. Os principais ban- cos comerciais do país tomaram medidas para integrar as listas de indivíduos e entidades

48 que estão sujeitos ao regime de congelamento de bens nos seus sistemas de monitoriza- ção, muito embora, também, ainda não exista um quadro jurídico específico ou abran- gente que regule o cumprimento das Resoluções 1267 e 1373 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Apesar de Cabo Verde nunca ter sido confrontado com ataques ter- roristas, existem indícios de possíveis ameaças resultantes de grupos radicais que operam no país. Foram detetadas deficiências na monitorização do acesso e circulação em terri- tório cabo-verdiano de indivíduos que poderiam estar ligados ao terrorismo (incluindo

AQIM e Boko Haram).17

Cabo Verde ratificou, em 10 de Maio de 2002, a Convenção Internacional para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo. Em Cabo Verde a Lei nº 27/VIII/2013, de 21 de Janeiro, que pune o Financiamento do Terrorismo, foi publicada no Boletim Oficial nº 4, I Série, de 21 de Janeiro, tendo entrado em vigor no dia seguinte ao da sua publica- ção. E define organizações terroristas:

(...) grupo, organização ou associação terrorista todo o agrupamento de duas ou mais pessoas que, atuando concertadamente, visem ofender ou pôr em perigo a independência ou a integridade territorial do país, destruir, alterar ou subverter o Estado de direito democrático constitucionalmente consagrado, ou, ainda, criar um clima de agitação ou perturbação social ou forçar a autoridade pública a pra- ticar um ato, ou a abster-se de o praticar ou a tolerar que se pratique, ou a intimidar certas pessoas, grupos de pessoas ou a população em geral, mediante certos tipos de crimes descritos; estabelece a pena que vai dos 6 a 20 anos de prisão para quem promover ou fundar, chefiar ou dirigir, aderir a grupo, organização ou associação terrorista; de 1 a 8 anos para quem praticar atos preparatórios. (Lei nº 27/VIII/2013 de 21 de janeiro)

17Conforme o sexto relatório do acompanhamento de avaliação mútua 2013, do ponto de vista interno, a

instalação e o crescimento da comunidade islâmica no país, tanto de estrangeiros como de cidadãos nacio- nais, podem constituir-se numa ameaça à segurança e à estabilidade política, económica e social. A nível externo, é registada a tendência para a circulação internacional e regional de grupos terroristas, particular- mente os ativos no continente e na Sub-região Oeste Africana, com destaque para o Aquim (Al-Qaeda no Magrebe Islâmico) e o grupo Boko Haram, que atua na Nigéria, tendo em conta o crescente fluxo migratório com a sub-região, aliada ainda ao deficiente controlo efetivo das suas fronteiras.

49 Apesar de existir um baixo risco de ocorrerem atos terroristas em Cabo Verde, todavia, tais atos não devem ser negligenciados, devido ao modus operandi dos grupos terroristas, que têm na sua lista de potenciais alvos os hotéis e as representações diplomá- ticas.